quinta-feira, 7 de maio de 2015

ALGO DA INTERNET (102)


REDES SOCIAIS NA SUA VIDA, POR KERCKHOVE E ZUCKERBERG – INTERPRETAÇÕES NECESSÁRIAS
Participei do XIV Congresso Internacional IBERCOM – Comunicação, Cultura e Mídias Sociais, na Categoria Ouvinte, de 29/03 a 02/04, na ECA USP – São Paulo e na abertura, manhã de 31/03, uma conferência com DERRICK DE KERCKHOVE, da Universidade de Toronto – Canadá, com o título “RUMO A UMA CULTURA DE TRANSPARÊNCIA”. Com o fone tradutor no ouvido fui anotando algumas de suas considerações, ótimas para ampliação de um sério e contundente debate. É o que faço agora, passados mais de um mês:

“Vestindo a internet estamos todos dizendo adeus à privacidade. Essa troca íntima entre a mente e a esfera de Dados terá um resultado catastrófico para o ser humano. Estamos diante da cultura da vergonha. Você é somente um item dentro de um amplo sistema e daí a pergunta: como você vai ser útil dentro desse grande grupo? (...) Aqueles que estão nos controlando possuem interesses específicos. E nem sabemos direito quem de fato está nos observando. Essa é a absoluta perda da privacidade. Hoje você vê que tudo está disponível para os olhos de quem tiver interesse. E qual o limite do uso dessa informação? Necessário buscar uma forma de proteção em diferentes níveis. O ideal, porém difícil de conseguir, manter certa proteção da privacidade. Mas isso acontece de fato?

O regime utilizado é o da Total Transparência: tudo o que faço vai ser conhecido. Ao colocar algo na rede temos que estar cientes disso. Fazer um uso responsável dessa informação unilateral, a repassada e a recebida. (...) Existe também uma Nova Responsabilidade: como sabemos a resposta teríamos que ter outro nível de responsabilidade diante do que sabemos. (...) A informação hoje é tanta que você não consegue mais se esquecer dela. A internet nos expos tudo e o tempo todo. O que acontece em qualquer lugar do planeta nos é íntimo. Antes, sem a rede social, escolhíamos navegar pelas próprias emoções. Hoje não mais. (...) Conheço dois tipos de pessoas felizes, as mais felizes do mundo, o italiano e o brasileiro. Aqui não existe a rabugice o tempo todo. Porém estou vendo esse tipo d felicidade diminuir. É um estresse acumulado por mais tempo. Já vivemos uma espécie de renascimento baseado na religião, não a nossa necessariamente.

Por quanto tempo podemos tolerar isso do acúmulo de imagens no cérebro o tempo todo? Qual a medida de sentimento que podemos transportar? Vejo três pilares de uma nova ética sendo formatada. Primeiro o uso ilimitado dessa informação, depois que o google não deve ser encarado como o quartel general da informação mundial, mesmo ele conhecendo todas nossas preferências e por fim, o individuo tem que ter o direito de mandar no acesso à sua informação. Se o Governo sabe tudo o meu respeito, eu também devo ter o direito de saber tudo do Governo, um direito mútuo. Uma simetria entre essas informações. (...) A transparência vai definir o conceito ético do futuro. A internet é carregada de emoções e ainda não sabemos ao certo o ponto de destino de tudo o que acontece dessa extensão do nosso físico. (...) O indivíduo que não está protegido, talvez também não esteja totalmente desprotegido. Daí digo que SOU UM RATO NUMA GAIOLA DE EXPERIMENTAÇÃO”.

Presenciei isso e semana passada o jovem MARK ZUCHERBERG, 30 anos, dono da empresa FACEBOOK esteve na Cúpula das Américas do Panamá, com livre circulação entre todos os presidentes dos países participantes. Leio na Carta Capital, o texto “O GOLPE DO FACEBOOK”, do ótimo jornalista Antonio Luiz M.C. Costa e dele, querendo misturar os assuntos, reproduzo algumas das frases por mim ali destacadas:

“Aparentemente , a aura libertária, democrática e revolucionária da internet foi pouco abalada pela revelações de Edward Snowden e Julian Assange. (...) O ciberespaço continua a ser visto pelos usuários como um playground barato e inofensivo e seus empreendedores como gênios simpáticos e filantrópicos. Seria mais sábio vê-lo como a versão atualizada da Terra dos Brinquedos do Pinóquio, de Carlo Collodi (ou a Ilha dos Prazeres da versão Disney), para onde crianças ansiosas para escapar do trabalho e dos estudos são levadas para uma sucessão de diversões gratuitas e inesgotáveis, mas ao cabo de algum tempo se veem transformados em burros e nessa forma postos a trabalhar por supostos benfeitores revelados como exploradores inescrupulosos.

Quando esse dia chegar (...) terá controlado corações e mentes de forma mais completa do que Wall Street e Hollywood jamais sonharam. (...) O facebook não é uma instituição de caridade. (...) Além de condicionar a maneira de navegar na internet, o Facebook lucrará ao dispor dos dados pessoais e coletivos sobre esses usuários para vende-los a empresas ou disponibilizá-los ao Estado e monopolizar a atenção desse público melhor que qualquer rede de TV. (...) Empresas e celebridades que chegaram a criar um público considerável na rede de repente descobriram que teriam que pagar para que seus ‘amigos’ continuassem a ver suas mensagens. (...) Nunca as pessoas foram tão transparentes para governos e empresas – e, ao mesmo tempo, nunca essas instituições foram tão opacas para o público. (...) As leis dão ao Facebook, como entidade privada, o privilégio de proibir conteúdos como bem entender.

Quem quiser levar espetáculos, notícias, publicidade, educação, serviços ou vendas às massas terá que se entender com ele e aceitar suas condições. (...) O Facebook se tornou a principal fonte de notícias para uma fatia assustadora de público: 67% no Brasil, 57% na Itália, 50% na Espanha, 37% nos EUA. Acreditar que isso não afetará os conteúdos é mera ilusão. (...) ‘Um esquilo no seu jardim pode ser mais relevante para seus interesses atuais do que gente morrendo na África. O público não quer ouvir seus problemas alheios e sim de seus gostos e decisões cotidianas’, Zuckerberg. (...) Mais Beyoncé e menos Boko Haram. (...) Depende apenas de Zuckerberg decidir se é mais lucrativo manter cada um em sua zona de conforto ou influenciar sutilmente suas opiniões na direção mais conveniente aos interesses dos controladores da rede. (...) Confiar numa empresa como essa para prestar um serviço essencial é tão sensato quanto entregar a gestão do Banco Central ao Goldman Sachs, a Petrobras à Exxon ou a polícia e a Justiça a uma empresa de mercenários”.

Juntemos tudo e pau na jaca...

Um comentário:

Anônimo disse...

Tudo isso que o cidadão falou no congresso, venho dizendo e muito mais, há tempos(e não precisa de fone tradutor), mas quando se entra num vício desses fica difícil sair e absorver conversas quando além do telefone a pessoa fica também digitando no computador rs.

Camarada Insurgente Marcos