segunda-feira, 30 de novembro de 2020

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (85)


EU E AMIGA COLOMBIANA MORANDO NA REGIÃO – OS GRUPOS ARMADOS E A MILÍCIA GANHANDO CORPO
Troco ideias com amiga colombiana morando aqui na região de Bauru. Ela cada vez mais apreensiva pela situação de seu país e a sua, pois não emite mais nenhuma opinião sobre seu país pelas redes sociais. Me diz ter muitos parentes por lá e teme por eles todos, daí, conversa somente com conhecidos e me pede, a mantenha anônima. Diz mais: “O Brasil pode se transformar em algo igual à minha Colômbia”. Leia o diálogo abaixo e tire você mesmo suas conclusões:

Ela: Você lembra da nossa conversa na época que estava para se realizar o acordo de paz na Colômbia com as FARC? Veja como o genocídio está sendo consumado. Cada vez que vejo as informações de como o governo colombiano descumpre sabota e tenta desmontar o acordo de paz e de como os ex-combatentes e líderes sociais que participam do processo estão sendo sistematicamente assassinados, eu lembro da nossa conversa em Botucatu.

E me envia este link de matéria bem elucidativa de como anda a situação política atual em sue país, a Colômbia: https://l.facebook.com/l.php... 

Eu: O atual governo é genocida, aliado de Uribe. Santos, mesmo de direita, me parece menos perigoso, mais democrático. O que me diz?

Ela: Nada a ver. Santos perdeu, e o atual governo é um títere de Uribe! É Uribe mesmo governando por trás. A conta de líderes sociais assassinados está em auge na Colômbia. As massacres voltaram a ser o pão de cada dia nas regiões. Os grupos armados de direita, aparentemente desmobilizados, se reorganizaram sob novos nomes e estão no controle das regiões. As eleições foram fraudadas e há abundante material provatório. O governo está todo envolvido no tráfico de drogas, etc.

Eu: E como está a vida dos exilados ou mesmo os que se afastaram do país? Você continua não podendo emitir opiniões, por receio do que possa acontecer aos seus que lá se encontram. Imagino a vida de jornalistas por lá como deve estar...

Ela: Eu uso as redes sociais, mas não me exponho mais do que isso. O jornalismo independente com muitas dificuldades e o jornalismo ainda um pouco decente, banido dos grandes veiculos da mídia.

Eu: Ares mais arejados como aconteceu com a Bolívia, Argentina e mais recentemente com as mudanças já previstas no Chile precisam se estender para o restante do continente. 

Ela: Na Colômbia estamos longe de respirar eses ares. É uma pena, mas é a realidade. E muito do modelo colombiano está sendo exportado para outros países entre eles o Brasil. Quando tiver tempo, acompanhe as notícias sobre o processo de paz e lembre da nossa conversa e as coisas que eu disse a você que aconteceriam com esse processo.

Eu: A Colômbia sofre nas mãos de gente como Uribe faz tempo e pelo que vejo, se nada for feito aqui no Brasil, chegaremos em algo igual, pois os milicianos são espécie de grupos armados de direita, de igual teor, sempre a serviços da direita mais perversa.

Ela: Isso mesmo.

Eu: Milícia são também grupos armados e a serviço da direita. O Brasil ainda está em tempo de reverter, pois quando se instalarem de vez, será tarde demais. A luta dos povo latinos é incessante.

Ela: Bom, tenho que sair agora. Mas espero que acompanhe um pouco a situação da Colômbia. Ela é um bom espelho e uma boa fonte para compreender o que está a se passar nos demais países da região. Abraços e boa sorte no seu trabalho. Quando quiser, me envie mensagens. Eu respondo.

Eu: Veja o resultado das últimas eleições municipais. Nenhuma cidade de nossa região optou por propostas de cunho social, transformadoras, de esquerda e todas as cidades optaram por algo bem conservador e dando cada vez mais vez e voz para os possuidores de atitudes de perseguição aos adversários. O que hoje acontece na Colômbia, se nada for feito, já está sendo implantado aqui no Brasil. A mídia massiva favorece muito isso.

Ela: É um projeto, um só e o mesmo, para a América Latina toda. Quando vejo estes resultados, eu olho para os países vizinhos e suas realidades. É olhar para o Chile e sua história, especialmente sua história recente, para a Argentina, para o Equador, para a Bolívia, para a Venezuela. É importante encontrar os padrões que guiam os fatos e encontrar onde estão os processos sociais e políticos que fazem um contrapeso e desafiam esse projeto neoliberal e imperialista que está sendo aplicado na nossa América Latina. E você apontou bem: a mídia!! A mídia está jogando um rol muito importante na condução do "pensamento" da população via da manipulação da informação, da forma tendenciosa de apresentar os fatos e uma série de estratégias. A mídia literalmente está alterando a balança do poder no nosso continente e não só aqui.

PÓS ELEIÇÃO - O QUE VEM PELA AÍ
QUEM ACEITARIA ESTAR NESSA COMPOSIÇÃO TÉCNICA?
Enfim, algo deve estar começando a se movimentar nos bastidores da cena bauruense, a tal da composição técnica que a prefeita eleita de Bauru, jornalista Suéllen Rosim disse estar gestando nesse período de transição e que será a mola mestra de seu Governo a partir de janeiro 2021. 

A pergunta que não quer calar e das mais estimulantes nas rodas de conversa é: quem terá coragem de participar dessa equipe de ponta? A pergunta não tem nenhuma carga de preconceito, mas leva muito em conta o isolamento dela em toda sua campanha, sem nenhuma aliança além do seu próprio partido, o Patriota e o lema "deus e família acima de tudo". Como fez de sua campanha um mundo à parte, renegou tudo à sua volta, onde agora iria buscar essa equipe técnica? Na igreja? Nos apoiadores de Bolsonaro? Nos amigos do seu vice? No seu círculo de amizades e conhecidos? Veremos.

O Patriota é limitador, disso não tenham a menor dúvidas. Pode até nessa altura do campeonato, abrigar novos adeptos, pois como se sabe, muitos se aproximam nessas horas, mas mesmo assim, muitos destes devem estar a pensar: "Me aproximo ou não? E se coisa não vingar e ficar naquele lenga lenga do que foi explanado na propaganda eleitoral, tudo superficial, quem se queimará serei também eu?". Isso tudo está sendo colocado como fiel da balança e daqui por diante deve ser levado muito em consideração na hora de aceitar ou não convite para trabalhar na nova administração.

A conferir...

domingo, 29 de novembro de 2020

CARTAS (222)



A VIOLA ESTÁ EM CACO – INOLVIDÁVEL TRABALHÃO PELA FRENTE
Não tenham dúvidas, a viola está em caco. Bauru na estaca zero, pois as duas candidaturas chegando ao 2º Turno são pérfidas, horrorosas. Tudo bem, tenho certeza disto, mas quem mais acha isso? A maioria da cidade decididamente NÃO, pois descarregaram seus votos em propostas conservadoras, pueris, vazias e estéreis. Tenho, com um pintor, revelador diálogo, algo a lhes contar, alguém que me prestou um serviço necessário no Mafuá, se tornando meu amigo, pessoa boa, evangélica, simples até não mais poder, sem vícios – não fuma, não bebe, não trai, não mija fora do penico, não trepa fora do que lhe diz seus ensinamentos religiosos, porém também nada lê e só se informa assistindo a TV Record e pelo que lhe indica a igreja, através de links repassados via celular. Ele, neste momento, representa não só este segmento, mas o da periferia, se posicionando contra o candidato oficial do momento, este onde toda nossa mídia massiva joga pesado para ganhar – tal do menos pior.

- Seu Henrique, ela vai ganhar, todos ao meu redor já decidiram. Nem vejo mais a TV no horário eleitoral, pois já sabemos em quem votar no domingo. Ele representa o novo, o diferente, algo pelo qual não vemos e nem enxergamos no outro candidato. Onde moro, lá nos altos do Bela Vista, perto do Assentamento Cannã, ali a conversa é só essa. Em todas as rodinhas só se fala dela. Nosso bairro vai votar em bloco, poucos se mostram diferentes.
Ouço o que me diz e me ponho a matutar com meus botões, enfim, quem mais me ouve neste cruel momento? Eu, eu e eu. Nós, os ditos progressistas e de esquerda perdemos e feio. Pouco ou nenhum avanço, pois regredimos ao que já tivemos. O conservadorismo avançou e nada de braçada diante de tudo o mais. E pra pior, pois o status quo da cidade, o que representa a elite e seus interesses está por um fio para perder a hegemonia. Contra nós, os ditos progressistas e esquerdistas estes possuem uma forma de jogar, sempre muito eficiente, mas agora se viram perdidos e estão quase desmoronando, sem saber como reagir diante de uma força da qual não sabem explicar direito de onde surgiu, como foi construída e está chegando lá. Eles, os capôs destas plagas perderão mais do que todos. E estão feito baratas tontas, iguais as que despontam por todos os lados ao acender a luz durante o meio da noite no abandonado Mafuá.

Ouço nas rodas de conversa que, Raul, o candidato de todos os interesses de mercado destas plagas demonstrou interesse em chegar no 2º Turno tendo como adversária a Suéllen, nova, despreparada e sem sal, nem açúcar. Na verdade, acreditava levar no 1º Turno, mas diante da impossibilidade, imaginava que seria difícil derrotar Gazzeta no 2º Turno, pois todos estariam unidos contra ele, como já ocorreu na eleição passada. Só que a coisa tomou proporções inimagináveis e ela não só chegou lá, como o ultrapassou. E hoje, dizem e percebo isto nas conversas com quem de fato decidirá a eleição, a periferia bauruense. Ele, Raul e todo e establishment deve estar suando frio. O que o pintor me afirmou na conversa ao pé de ouvido deverá se impor sobre todas as demais forças políticas até então atuantes é algo novo, pior que tudo o que já tivemos, mas eleições são assim mesmo, estão sempre nos apresentando novidades, as piores possíveis.

Estejamos todos preparados, pois se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Bauru num beco sem saída. Creio já deva ir abaixando as calças. Gonzaguinha profetizou lá atrás, algo mais que necessário: “Começar de novo e contar contigo, vai valer a pena...”. Com as calças arriadas ou não é começar tudo de novo ou se entregar ao que vem por aí. Resistirei enquanto viver e o trabalho será insano, mas necessário, se quisermos todos continuar vivendo de cabeça erguida.

O FATO MARCANTE DA VÉSPERA DA ELEIÇÃO
Ocorreu num dos lugares mais inusitados para ocorrências dessa natureza, mas se deu, de fato e de direito. A USP, Faculdade de Odontologia perdeu ao longo do tempo aquele poder de antanho de ter estudantes se posicionando politicamente, atuantes e fazendo e acontecendo na cidade. Triste sina, desembocando no seu famoso Diretório Acadêmico, prédio vistoso ali na rua Rio Branco, onde um dia assisti Adoniran Barbosa se apresentar, está sendo vendido, pois não existe mais organização estudantil por lá. Nem lá e nem na maioria das escolas, vide a ITE também sem Diretório Estudantil e com sua Casa dos Estudantes permanecendo lacrada como elefante branco ali nos altos da rua Campos Salles. Deixo o comentário das demais instituições, públicas e privadas pra outra oportunidade.

Dito isso, me redimo e ontem, antevéspera do pleito em Bauru pelo 2º Turno, quando o roto está concorrendo com a esfarrapada, eis que o desGoverno Dória ameaça fechar de vez o HC - Hospital das Clínicas, o imenso elefante branco ali ao lado das instalações do Centrinho, dentro do terreno pertencente à USP. Um bafafá foi criado e, pasmem, para surpresa geral uma movimentação estudantil se agigantou e tomou as dores pelo não fechamento. O que já era alvissareiro se tornou de proporções grandiosas quando na tarde de ontem o então candidato, o Raul das elites e da mídia massiva lá esteve junto dos filhos na tentativa de abiscoitar vantagens de última hora. Foi rechaçado pelos estudantes e um deles, pelo que se diz e vi num vídeo tentou lhe entregar um pacotinho de ração - não entendi o significado, depois alguém me explica - e ele, numa reação intempestiva arremessou um copo de água que estava em suas mãos na direção do rapaz. O vídeo viralizou, assim como a ação dos estudantes.

Das duas uma. A ação dos estudantes foi mais que válida e delas, hoje pela manhã, passo pelo local e tiro fotos de todos os cartazes ainda lá ficados no muro da USC e no caso do candidato Raul, mais uma vez, esse midas ao contrário, pelo visto, onde tudo que toque, acaba se transformando em caca. Novamente usam o vídeo para desancar o candidato das elites de Bauru, nessa desenfreada luta hoje ocorrendo na praça bauruense, entre a Zona Sul, quase toda apostando fichas no que melhor lhe representa e a periferia, desassistida desde muito tempo, acreditando que alguém se apresentando como sua algoz, possa ser a salvadora de sua lavoura.

O ocorrido diante dos muros da USP é só mais um capítulo dessa trama que deve ter fim hoje quando as urnas forem abertas. Se de tudo, isso servir para levantar o ânimo dos estudantes daquela instituição de ensino, creio que o objetivo terá sido suplantado. Já do resultado do pleito, tanto faz, como tanto fez, cada qual representa algo a mais do retrocesso pelo qual Bauru está enfurnado e hoje, só mais um capítulo, algo a mais. 

Das opções que Bauru faz neste momento, algo de um futuro nada auspicioso para os próximos anos. Agora, ver estudantes rebelados, revoltados, irados e propositivos, isso não tem preço.

MINHA INDUMENTÁRIA DE VOTAÇÃO
Guardo tudo em dois invólucros ganhos muito tempo atrás. Ali naqueles compartimentos plásticos, todos meus comprovantes eleitorais. Não me pergunte o ano, mas são de muito tempo atrás. Hoje, ao sacar meu título de eleitor para o mesário, um deles, conhecido de outros lugares, brinca e diz, ter colinhas dos tempos do zé gaia, hoje sem validade. Rimos e só aí me dei conta. Fui guardando essas e hoje representam preciosidades. Nelas duas boas recordações, os nome de Roque Ferreira e Roberto Felício, ambos baluartes de luta de memoráveis tempos, além é claro, Lula, Genoíno e Mercadante. Vale o registro.

CENA MUITO RECORRENTE NO/DO DIA DO PLEITO
Hoje, domingo, 11h da manhã, restaurante Bom Prato fechado e quem necessita de se alimentar faz fila defronte algo que será distribuído como almoço pela igreja católica localizada na praça Rui Barbosa. Essa talvez seja a maior preocupação que os dois candidatos na disputa hoje para chegar à Prefeitura Municipal devam ter e já irem pensando no que fazer daqui por diante, pois o número de gente necessitando de auxílio, inclusive para se alimentar diariamente, tem aumentado e muito nos últimos tempos.

O INEVITÁVEL RESULTADO - E AGORA BAURU?

EM BAURU DEU O QUE TINHA QUE DAR, NENHUMA SURPRESA - A Zona Sul, o lado opulento e cheio de pompa votou no candidato deles, Raul, mas não foi suficiente para elegê-lo prefeito, pois a periferia, o lado volumoso dos votos já havia se decidido pela candidata Suéllen. Algo ficará marcado e diferente de outras eleições: os Donos do Poder local estão desorientados e talvez demorem bocadinho de tempo para voltarem a ter chão. Como já escrevi, eles derrotam fácil a esquerda, mas isso surgido neste pleito é a novidade bolsonarista, negativista, precarista e fundo do poço tomando forma e com isso, os vetustos importantes destas plagas ainda não sabem como lidar. A maioria da nova Câmara e os que se dizem importantões de lá, Meira, Chiara, Segalla e Telma estavam todos perfilados com Raul. Não vai ser fácil. Faltará grana, insolvência à vista e gente sem nenhum preparo no comando da cidade, enfim, gente vindo não se sabe de onde para os cargos mais importantes. Não que o outro candidato fosse melhor. Longe disso. Bauru cada vez mais conservadora. O povão vergou os poderosos, mas nem isso será grande feito, pois a escolha de qualquer forma não propiciará alteração de lado. Talvez dos artífices, com novos personagens adentrando o campo de jogo. Temo muito pelo lado igrejeiro que virá com tudo isso. Quando a vi agora falando em escolher qualificados para cada função, temo também por estes, pois ao aceitarem, podem se queimar num curto espaço de tempo. Será ver para crer e isso não se trata de achismo, pois ambas campanhas não representam nada novo, só velhacaria, velha política na sua essência e num momento onde os cofres estarão mais que vazios. O povo não confiou nos candidatos que meu segmento político atua e daí, temos que recomeçar um intenso e exaustivo trabalho de “ir lá onde o povo está” e a partir daí, irmanados buscar essa mudança de mentalidade. Do contrário, a decrepitude só aumentará. Nem Suéllen, nem Raul podem se dizer vitoriosos deste pleito, pois ambos foram suplantados pela soma dos brancos, nulos e abstenções. Ou seja, existe uma massa aí fora clamando por algo diferente, mas precisa ser convencida da existência de outras alternativas viáveis. Serão anos de intensa luta contra a implantação do projeto conservador embutido por detrás do discursinho oco, vazio da agora prefeita. Estarei onde estive na maioria dos anos de minha vida nestas plagas, na oposição e propondo o diferente. Não aposto no quanto pior melhor, mas o que vem pela aí não é nada alvissareiro. Estejamos preparados com todos os unguentos imagináveis em busca de proteção, pois daqui por diante é o que mais Bauru precisará.

sábado, 28 de novembro de 2020

REGISTROS LADO B (22)



22º AO VIVO LADO B COM O MÚSICO LUARAUL LUAL, ANDANTE E ALGO DAS ESTRADAS DA VIDA
Amanhã é dia de pleito eleitoral, segundo turno em Bauru e diante de duas propostas muito parecidas, escolhas feitas antecipadamente por Bauru, pouco existe a discutir e acrescentar ao que virá pela frente, daí nada melhor do que mudar de assunto e ir ter com a vida ali da dobrada da esquina. Da eleição, uma certeza, a escolha será entre o roto e o esfarrapado, retrocesso para esta cidade e quando nada mais existe a mudar na vontade do eleitorado, este mafuento segue o jogo, vida adelante, propiciando algo de quem sempre viveu nas entranhas, nas rebarbas destas plagas e com sangue, suor e lágrimas construiu algo sólido, consistente e cheio de garra, fibra. A amostragem disto será dada com o bate papo com LUARAUL LUAL,o novo nome artístico de alguém que aos 14 anos botou pela primeira vez o pé na estrada e foi ser gauche na vida. Se descobriu cantante e acompanhado de sua mochila conheceu este país em histórias cheias de garra, impulso por deixar uma vida modorrenta e conhecer, não só outras paragens, como essa irrefreável busca pelo ar respirável que só a liberdade de quem sair pela aí, sem eira nem beira, sem rumo, destino certo consegue.

LUARAUL, que até meses atrás era o conhecido RAUL MAGAINE, cover do Raul Seixas, sua expressão também física, pois com a barba e o jeitão do cantante baiano, ela sai pela aí, rodando o mundo, se apresentando em lugares pouco imaginados, oferecendo sua arte e com ela conseguindo o seu sustento. Essa liberdade corajosa de sair de uma rotina pré-estabelecida, adentrar outro mundo, o de grandes possibilidades, mas todas para serem conquistadas, possíveis ou não, é algo para poucos. Conhecer como se deu essa possibilidade, as escolhas de uma vida inteira traz junto de si uma mensagem subliminar de grande valia e é isso que estaremos conversando, não revelando, mas descrevendo, mostrando que, neste mundo tão cheio de conformismo, existem saídas, elas não são fáceis, confortáveis, mas quem opta por elas, pode conseguir resultados inolvidáveis. Luaraul é destes. Ele foi e voltou, sempre continuará indo, algumas vezes voltando, noutras se perdendo pela aí. Histórias como a dele são inebriantes, pois mostram para uns tantos como este mafuento, que as recolhe, mas não possui a mesma coragem para fazer o mesmo. Eu só me encanto, reconheço o valor destes, busco também caminhos alternativos, reconheço todos, valorizo, mas como aos 60 anos, pouco fiz ou caminhei por estes caminhos, minha parte é a de contar, ouvir, relatar e tentar passar pra frente algo de positivo destes tantos que buscam levar suas vidas de outras formas, fora do padrão convencional proposto pela sociedade de consumo onde vivemos e sobrevivemos.

Leio um livro neste momento, “Itinerário de Pasárgada”, do poeta Manuel Bandeira e lá, sua mensagem principal por mim absorvida é a de em passagens emocionantes, relembrar os momentos em que se deparou com as pessoas mais simples impregnando-se “do realismo de gente do povo”. As leituras, trombadas com pessoas de grande valia para a formação do ser humano sensível, diferenciado, as que agiram sobre sua formação de escritor. Bandeira se delicia trazendo à memória as amizades que mais lhe deram alegrias. Luarual tem muito disso na vida de quem o conhece e deles desfruta suas histórias, vivências transcorridas. Impossível permanecer indiferente. Adorável quem não demonstra receio em viajar sobre seu passado e, ao fazê-lo, fornece um saboroso testemunho e imprescindível para a compreensão da trajetória de quem ousou, fez e aconteceu, tudo propiciado pelas brechas permitidas. Histórias de ousadia me encantam e a deste entrevistado é recheada de algo assim. Na sequência algo que já escrevi dele pelas redes sociais e meu blog, o Mafuá do HPA:

- Em 25.07.2019 escrevi: “RAUL MAGAINE HÁ 23 ANOS NA ESTRADA POR RAUL SEIXAS - Conheci uma pessoa mais que incrível meses atrás na Feira do Rolo, mais precisamente cantando numa manhã dominical no palco do Bar do Barba. Foi empatia a primeira vista, pois além da simpatia, a percepção de estar diante de alguém, reunindo histórias para dar com pau, ou seja, vivência estradeira como poucos. Isso estava mais do que escrito na própria fisionomia dele e já no primeiro dia, tirei muitas fotos e o testei quando dizia para os que ouviam sua cantoria: "Peça qualquer uma do Raul que toco na hora". Escolhi Ouro de Tolo e ele lascou assim de bate pronto, de memória, como o fez com todas as outras, motivo de pedidos vindos de todos os lugares. desde então fiquei de escrevinhar algo dele, incluí-lo no rol destes personagens. Missão cumprida no dia de hoje. RAUL MAGAINE é seu nome artístico e quando lhe perguntam seu nome ele o repete, daí nem sei se o de batismo é também Raul, mas como esse cantante estradeiro já incorporou Raul Seixas em tudo, desde a fisionomia, vestes e trejeitos, não vejo como não ser a própria reencarnação do roqueiro. Esse Raul nasceu em 1983 e segundo me conta, aos 6 anos teve contato com o original Raul, quando soube de sua morte e surgiu uma paixão nunca mais abandonada. Aos 12, foi embora de casa, sendo hippie, artesão e comedor de pó de estrada, lá pelos lados do Paraná. Deu prosseguimento pela devoção, hoje resumindo tudo numa curta frase: "Raul é para mim o início, o meio e o fim". Artesão, tatuador e músico, violinista dos bons, está pronto para reverenciar os 30 anos da morte do ídolo tocando dia 1/8, aniversário de Bauru no parque Vitória Régia num Tributo a Raul Seixas, subindo no palco por puro amor, sem cobrar cachê. Conta já ter concluído exatos 23 anos com Raul, mais que sósia, já tendo gravado CD e DVD só com músicas dele, se apresentado praticamente pelo estado todo e tendo o prazer de já ter tocado para os Pholhas e Kid Vinil. Um bom contador das muitas histórias vividas reverenciado seu mestre, levando a mensagem dele por onde ande. "Suas canções e sua filosofia de vida me fizeram evoluir e ser hoje o que sou. Já são seis anos de meu retorno à Bauru e continuarei enquanto viver sendo o próprio Raul". Para quem o conhece ou já o viu tocar e cantar, sem sombras de dúvidas, ele diz e pratica isso por onde ande. Toca Raul!!!”.
No link a seguir um bocadinho da nova fase, mais autoral deste ousado Luaraul, cantor, produtor, compositor e arranjador musical, “Me olhando de dentro para fora... Minha alma diz o que quer...(Luaraul Luar)”:
https://www.facebook.com/raul.magaine.9/posts/3473411529443531 

EIS O LINK DO 22º AO VIVO LADO B: 

CONSIDERAÇÕES FINAIS MAFUENTO HPA:
Luaraul, Magaine ou mesmo Evérton, esse andante de 38 anos, oito filhos, já tendo comido muito pó de estrada, hoje está contido - pela pandemia - e se reciclando, buscando quando tudo isto acabar, o reencontro num novo momento, nova roupagem e após, 24 anos de estrada, sempre se virando ao seu modo e jeito, seguidor de uma filosofia como a de poucos neste mundo, "eu quero o suficiente para sobreviver, não quero e não preciso nada mais, pois se tiver mais, terei sobra e com sobra problemas. Se tiver de menos, aí sim me preocupo, pois terei que correr mais atrás". Gente como ele toca essa cidade pra frente, suando muito a camisa, além de embalar os sonhos de gente como eu, eternos sonhadores e com os pés nas nuvens, buscando sempre algo novo. Lindo vê-lo dizendo em alto e bom som ele querer ser lembrado pelo que é. "Ninguém te conhece pelo seu nome, portanto fui Raul e agora sou Luaraul Lual", diz. Um orgulho poder contar seu relato, um dos reais protagonistas de boas histórias destas plagas - das ruins temos gente demais, das boas nem tantos. Imenso prazer em estar aqui, já por 22 semanas e a cada novo Bate Papo, um novo personagem, uma nova abordagem, uma vida intensa e pulsante. Isto é o Lado B - A Importância dos Desimportantes.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

DIÁRIO DE CUBA (206)

CANSEI DE ESCREVER DE ELEIÇÕES, QUERO FALAR DAS RUAS E DE GENTE*

*eu só ando com gente assim, de luta...

1.) SIVALDO E A CIA DE DANÇA NÃO PARAM EM FINAL DE MANDATO – AMANHÃ ELES EM ARARAS E NUM EVENTO DE GRANDE MONTA

Essa história eu tenho que contar. A gente sabe que, nesse período de fim de feira de ano e de mandato, quando o prefeito não foi reeleito, muitos se fecham em copas, apreensivos, preocupados e procurando ver como irá ficar daqui por diante a coisa pro lado onde atuam. Tem quem não ligue pra essas coisas e continue em plena atividade. A tal da Cia Estável de Dança, ano que vem comemorando dez anos de existência, capitaneada pelo diretor Sivaldo Camargo é dessas poucas com agenda ainda permanente, não só de ensaios, mas também de apresentações e isso em plena pandemia. 

Menos de um mês atrás eles abriram o FICO, festival anual de teatro, maioria das apresentações não presenciais, mas eles, ali na lida e no palco, para restrita plateia e trazendo para Bauru algo inolvidável, a SÃO PAULO CIA DE DANÇA no teatro Municipal de Bauru. Falar e escrever destes é algo que abdico, preferindo citar o link do site deles e daí, com uma breve consulta a verificação de quem são: http://www.spcd.com.br/ e https://www.facebook.com/spciadedanca.


E amanhã, sábado, 28/11 a São Paulo Cia de Dança foi convidada para algo grandioso, a reinauguração do Teatro Estadual de Araras SP (http://teatroestadualdeararas.org.br/), o único mantido pelo Governo do Estado de SP no interior. Pelas fotos do teatro dá para ver a imponência da edificação, obra de nada menos o arquiteto Oscar Niemeyer. Foram alguns anos no restauro e amanhã, final da tarde o ato público de reabertura, quando eles foram convidados para a apresentação de gala. Daí vem o envolvimento com a nossa Cia de Dança. Pois, eles também foram convidados e para fazer a abertura do evento, antes da apresentação da São Paulo Dança. Um luxo de inolvidável importância, ainda mais neste ano, com tudo o que está a acontecer com os eventos culturais. Um reconhecimento de grande monta.
O convite chegou e a Prefeitura Municipal, como não poderia deixar de ser estará disponibilizando um veículo para o translado do corpo de bailarinos de Bauru. As verbas para qualquer tipo de atividades estão suspensas neste final de ano e uma vaquinha foi feita para custear as despesas de estrada e do bailarinos com alimentação. Uma movimentação entre conhecidos e o valor é levantado em tempo record, viabilizando a viagem. Desta forma, amanhã, sábado, 8h da manhã o corpo de baile da Cia Estável de Dança estará pegando estrada, participando durante o dia de oficinas, sempre produtivas e às 18h se dará o evento, com autoridades estaduais presentes e Bauru marcando presença. Ontem, quinta, todos que viajarão fizeram exames de Covid – todos negativos -, exigência dos organizadores para a viagem e apresentação.

Escrevo este texto orgulhoso pelo belo trabalho que a Cia bauruense desenvolve, que o Sivaldo com seu jeito resolutivo segue tocando o barco, sempre adiante e os resultados são estes, amanhã mais uma apresentação do espetáculo Morte e Vida Severina, desta feita num palco de reconhecida história e para um público abrangente. Hoje, tem algo mais da apresentação no site da Prefeitura, do teatro de Araras, da São Paulo Cia de Dança e no facebook da Cia e do Sivaldo, https://www.facebook.com/sivaldo.camargo/posts/10225242484592221

Abaixo parte do release da apresentação de amanhã: “A Companhia Estável de Dança de Bauru se apresenta junto com a São Paulo Companhia de Dança na Reinauguração do Teatro Estadual de Araras, abrindo a apresentação na reinauguração do Teatro Estadual Maestro Francisco Paulo Russo, dia 28 de novembro às 18 horas, com a Coreografia “Morte e Vida de Severina” de Arilton assunção, a coreografia comemora os oito anos de criação da Companhia.


A Coreografia “Morte e Vida Severina” tem concepção composição coreográfica e coreografia de Arilton Assunção, criada especialmente para a Companhia que conta hoje com 12 bailarinos no seu elenco. A coreografia é inspirada no Poema “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto, publicado em 1955, a obra relata de forma a dura trajetória e o sofrimento enfrentado pelos retirantes nordestinos representado pelo personagem Severino. O trabalho coreográfico faz uma releitura, colocando-nos como Severinos na vida, utilizando os corpos como elemento para a narrativa desta história, que hoje se mostra muito atual pelo momento que estamos passando. Morte e Vida Severina tem a intenção de levar ao público uma reflexão sobre a luta pela sobrevivência e o descaso público com essas pessoas - Companhia Estável de Dança de Bauru: Diretor Artístico e Professor: Sivaldo Camargo. Elenco: Amanda Lopes / Ester Canno /Julia Soares / Julia Zanini Marcela Victória /Mariela Mira /Victória Carvalho/ Taina Fernanda / Thiago Ruela". 

2.) A CARA DA RESISTÊNCIA QUE PRECISAMOS É IGUAL A DA BAURUENSE ROSÂNGELA, LUTANDO PELO BRASIL DE VERDADE NO SUL DA BAHIA
Rosângela Sanches Stucheli é bauruense e quando moça conseguiu dar o salto que mudou sua vida. Bateu asas da cidade, se foi pra Europa, mais precisamente para a Suíça, onde se casou, reside, criou seus filhos e acompanhou seu marido em incursões mundo afora, algo pertinente ao seu trabalho. Morou uns tempos na Venezuela e de lá conta histórias de quem vivenciou tudo o que aconteceu naquele país. Hoje, com o marido aposentado, conseguiram realizar o sonho de toda suas vidas, a de dar mais atenção a um lugar que sempre frequentaram e conseguiram juntos levantar uma casa num pedaço do paraíso terrestre, Sul da Bahia e ali passam, exilados da esbórnia mundial, num cantinho só deles. Sua história a defender o que querem fazer com as terras por todo o país é a que devemos todos, povo brasileiro empreender, na defesa do que é nosso, de fato e de direito. Ela passa neste momento por algo bem com a cara deste país e num relato, conta tudo em detalhes, algo que acontece lá no sul da Bahia, mas aqui também, ou seja, a sacanagem está ocorrendo por todos os lados e se a gente não estiver unido, coeso e pronto para os enfrentamentos, a dominação será definitiva. Sua história, eu aqui conto e ao reproduzir sua foto, toda encharcada de chuva, maquiagem borrada, empunhando as armas que possui, um cartaz e um grito na garganta. Sintam o seu drama e constatem se o que ela passa lá, não é muito parecido com muita coisa que passamos aqui. Na sequência seu texto entre aspas:

"O Porto de Minérios da Bahia Mineração nasce velho e coloca o Brasil em rota de morte no século XXI. Litoral norte de Ilhéus, 25 de novembro de 2020. Soubemos ontem na imprensa, e viemos aqui hoje no Km 10 da BA 001 entre Ilhéus a Itacaré, no início do próximo verão turístico baiano, para dizer ao Governador Rui Costa e investidores da Eurasian Resources Group – que não, o Porto Sul é um mensageiro da morte em nosso litoral e na região como um todo, mas nós queremos é VIDA no Sul da Bahia. Segundo os blogs, os investidores Eduardo Ledsham, Benedikt Sobotka e Erick Gaustad, da direção brasileira e internacional da Eurasian Reosurces Group, vieram inaugurar uma pequena estrada de terra que liga a BA 001 ao Rio Almada, que passa há alguns metros para oeste do litoral. A localidade fica entre o distrito de Aritaguá e a comunidade da Juerana. Segundo a comunicação do governo, no entanto, vieram marcar o início das obras do Porto Sul, para gerar 400 empregos diretos com 2,5 bilhões de reais. O porto não existe no local, mas muitas placas anunciam as obras iniciais de algo que se anuncia velho, portador não de esperança, mas de uma espantosa destruição de um santuário na América do Sul – a Lagoa Encantada.

O governador baiano, que veio para celebrar com investidores do Cazaquistão o início das obras, curiosamente, chama-se Rui Costa. O lugar, no entanto, pertence à Costa do Cacau – ou melhor, ao Sul da Bahia, um dos litorais do planeta mais abençoados por metro quadrado em biodiversidade – e portanto com um enorme potencial da nova e tão elogiada BIOECONOMIA. Seja na academia ou nas agências multilaterais de desenvolvimento do século XXI, esta abordagem econômica associada à conservação e restauração da natureza, que aqui chama-se Mata Atlântica e pode se integrar aqui à conservação dos manguezais, os corais, as restingas praianas, meio milhão de hectares de sistemas agroflorestais que unem cacau, seringueiras, açais, pupunhas, cupuaçu, mangostão, graviolas, coqueiros e mais de uma centena de culturas alimentares tropicais – desde o aipim e mandioca a baunilha, pimenta do reino, abacaxi, mamão, abóbora, piaçava, hortaliças, inhames... Bom, uma centena de economias que valem muitas vezes mais do que o pobre escoamento de ferro para a Ásia, sem impostos e sem benefícios permanentes para o lugar.
O Sul da Bahia, mais do que um lugar, é um furacão imenso de riqueza tropical no meio do Brasil. A região tem também Jorge Amado e Adonias Filho, dois filhos ilustres que lideraram a Academia Brasileira de Letras e o gosto popular da literatura sobre o cacau e sua cultura tão singular. Personagens se misturam com a história da Bahia e do Brasil. Terras do Sem Fim, São Jorge dos Ilhéus, Chão do Cacau, Gabriela... sim, é desse lugar que estamos falando. A região é tão singular que o juiz da província Baltazar da Silva Lisboa, estudioso das matas e das leis no primeiro império, auxiliando José Bonifácio de Andrada e Silva, contribuiu para mapear o uso de madeiras nobres que aqui habitam, com riscos de extinção. Sim, entre o final do século XVIII e o início do século XIX. Jacarandá da Bahia, Pau Brasil, Jequitibá Rosa, Guanandi, Vinhático, Biribas, Patizeiros, Massarandubas, Piaçavas, Condurus, uma infinidade de árvores e palmeiras que impulsionaram a economia colonial e podem estar nas futuras florestas restauráveis da Mata Atlântica do futuro. Neste lugar temos onça pintada, mico leão da cara dourada, mutuns do sudeste, macaco prego do peito amarelo, robalos e guaiamuns, corais e baleias jubarte. Tudo junto com a pesca, o turismo, o cacau e o chocolate que ressuscitam a economia local.

Falando da história regional, a passagem pelo princípe Maxiliano de Wied e dos naturalistas Johanes Baptist Spix e Von Martius, nas primeiras décadas do século XIX, e os estudos contemporâneos da Ceplac e do Jardim Botânico de Nova York, no final do século XX, contribuíram enormemente para a compreensão do bioma Mata Atlântica e a sua defesa, desde leis de proteção das matas e das suas árvores denominadas madeiras de lei, até a constituição de 1988 e em seguida a Lei da Mata Atlântica, em 2005. O lugar escolhido para a visita do governador e dos investidores fica a 10 Km do distrito industrial de Ilhéus, base de uma economia de alimentos locais como o chocolate e de computadores, e ao lado do Rio Almada, DENTRO de uma Área de Proteção Ambiental de 147 mil hectares – a Lagoa Encantada. O micro território desta Costa do Cacau é também um corredor ecológico que visa sustentar dezenas de espécies ameaçadas de extinção na fauna e flora, ao mesmo tempo em que dialoga com a economia criativa, da pesca, do turismo, agricultura e indústria de baixo impacto ambiental. O evento vai ocorrer nas margens da rodovia turística BA 001, entre Ilhéus e Itacaré, divulgada para o Brasil como estrada parque, com muitas passagens para animais silvestres. A fama da estrada ganhou corpo com imagens de primatas cruzando a estrada em redes entre as árvores. Embora sem cuidados governamentais desde que foi pavimentada em 1998, o lugar escolhido por investidores da Eurasian Resources Group – ERG para escoar minério de ferro entra em choque com uma natureza e comunidades onde vivem pescadores, artesãos, pequenos empresários de restaurantes, hotéis e pousadas, agricultores, executivos de empresas informática e de chocolate, em um raio de 50 quilômetros. O anuncio de investimento de 2,5 bilhões com o porto ignora que a costa, com cerca de 65 quilômetros, vai ser atingida em cheio no que é a sua melhor vocação – ser um Silicon Valley da biodiversidade e da qualidade de vida nos trópicos da Bahia.
O movimento Sul da Bahia Viva reúne pessoas diversas que amam a região com tudo o que ela possui de recursos, símbolos, ativos e potencialidades. Somos um grupo que atua em diferentes lugares – artistas, escritores, pesquisadores, produtores e produtoras rurais, promotores de cultura, palhaças e palhaços, terapeutas, cozinheiras e cozinheiros, marceneiros, empresários de turismo, pescadores e seus familiares, muita gente, diversas cabeças e um coração coletivo que vê o território como um LUGAR, na melhor expressão dita por Milton Santos em suas aulas de geografia.

O nosso manifesto quer alcançar a todas as pessoas lúcidas, para se juntar em um amplo movimento que não se esgota em resistência a uma insanidade de investimentos privados estranhos ao que somos. Pelo contrário, queremos promover um mundo de prosperidade aqui neste lugar, com centenas de milhares de pessoas trabalhando, e muitos bilhões de reais de receita anualmente com tudo o que temos aqui. Não é destruindo a costa do cacau que promoveremos riqueza. O Porto Sul promove morte – de peixes, florestas, animais, rios, economias e culturas bem plantadas nesta região. Dizer não ao Porto de Ferro da Bahia Mineração é dizer sim a esta terra que nos acolhe e nos provê água, clima, comida, paisagem, bem estar. Falamos também com o povo do alto sertão – desde Caetité, Guanambi, Pindai... agricultores e moradores das cidades que dependem das raras águas de suas serras e montanhas para sobreviver. A Bahia Mineração e o governador desconhecem a tragédia de uma futura barragem de rejeitos que nos lembra de Mariana e Brumadinho – do Rio Doce e do Rio Parauapebas, do São Francisco ? nós lembramos de cada imagem da destruição deste negócio sujo. O nosso destino é o Sul da Bahia cheio de vida. O movimento Sul da Bahia Viva reúne centenas de cidadãos preocupados com a sustentabilidade da região e questiona a viabilidade econômica, social e ambiental do Porto Sul desde 2008, quando ele foi anunciado pelos investidores e políticos baianos. Saiba mais em nossa página: https://instagram.com/suldabahiaviva".

O que o Brasil não precisa são Notas de Repúdio e sim, de ação, mobilização e pressão, povo nas ruas em tudo que se faça, pois do contrário, perderemos sempre. Unidos teremos alguma chance, desunidos, nenhuma.

3.) OS ESCRITOS DE SILVIO SELVA SÃO PARA LER, REFLETIR, GUARDAR E COLOCAR EM PRÁTICA
Pra quem não o conhece, SILVIO SELVA é funcionário público municipal, um dos técnicos mais respeitados do Teatro Municipal, marxista desde moleque, stalinista declarado, artista plástico de grande monta e uma espécie de faz tudo, bom de cozinha e também de música, pois durante seis anos foi o responsável pela marchinhas do bloco carnavalesco farsesco, burlesco e algumas vezes carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é MiXto. Silvão é conhecido pavio curto, boa gente, mas é melhor não o provocar, pois quem o fizer pode se arrepender. Diz a lenda que ele anda pela rua com um taco de beisebol amoitado na mochila, pronto para tascar na fuça de quem o admoestar. Dentre todas essas virtudes, o danado tem outra, escreve bem pra caceta. Já escrevi disso aqui, que se fosse editor iria juntar seus escritos e publicar um livro de suas máximas. Ele as produz a todo instante. Bate a ideia ele a posta e assim cai no mundo. Dessas pessoas insubstituíveis dessas plagas e numa lista de cem, seu nome conta lá com louvor dentre as que precisam ser conhecidas nesta terra “sem limites”. Dele, um textão publicado três dias atrás, mais um dentre tantos que me tocou profundamente (ui!) e assim, sem seu consentimento, aqui reproduzo e espalho ao vento, pois o que ele escreve é ao estilo Charles Bukowiski, pura poesia. No cabeçalho de sua página do facebook lá está sua máxima preferida: "artista, operário da arte, alguém que não tem medo de ousar, aprender e passar conhecimentos". Leiam o textão abaixo, prendam a respiração e podem ir até o fim, pois é coisa sentida, dessas que vai saindo assim de um vez e ao final, algo para ser guardado a sete chaves:

“Pra quem ainda não sabe. Sou ferrenhamente marxista. E para marxistas, não existe trabalho por amor ou amor ao trabalho. Pessoalmente, acho isso ridículo e é patético. O trabalho é definido por Karl Marx como a atividade sobre a qual o ser humano emprega sua força para produzir os meios para o seu sustento. Acabou. Sem poesia, sem papinho de barzinho depois da apresentação. Isso não é pra mim. Depois que acabou, pegar o dinheiro e planejar o próximo. Ou executar.

Prestei concurso para o teatro porque não queria mais dar aulas. Não foi por amor ao teatro. Não gostava de dar aulas e iria enfartar se continuasse. Tenho ódio de classe e dar aula de arte pra classe-média aumentava isso. Gosto é de dormir. Adoro dormir. As vezes, a cremosa vinha aqui, a gente até disputava lugar na cama pra ver quem dorme mais. Amooo dormir.

Entre meus amigos grosseiros, eu digo que isso de amor é coisa de quem não precisa vender. Eu não compro uma caixa de lápis por 500 contos por amor. Faço isso porque vendo uma aquarela por 200 contos. Se usasse lápis da kalunga, teria que fazer edital e separar moedas. E isso de “não faço arte por dinheiro”, certeza que não precisa se sustentar ou comprar leite pras crias. Não de quem precisa trabalhar.

Sou de origem pobre. Pobre mesmo. Casa rachada com goteira. Um par de sapatos com papelão dentro porque o prego furava o pé. Criado sem pai e mãe. Primeira vez que entrei numa escola de artes, foi quando a classe média tá se formando. Quase 22 anos, antes disso, o curso de Desenho Artístico e Publicitário do Instituto Universal Brasileiro. E insisti porque sabia que conseguiria mais do que conseguiria fazendo curso de mecânica e até isso me serviu, pois me ensinou a ser soldador e fazer esculturas em metal. Trabalho, sustento, mais-valia.

Há uns 15 anos, um cara me pede uma escultura. Mas faz questão da nota. E dá o exato valor que eu teria de fazer. Foi um absurdo. Ainda hoje, uma de minhas maiores vendas. Pegou a escultura, jogou (jogou) na carroceria da camioneta e ligou para o contador. O amigo que estava ao meu lado pergunta se não falaria nada. Eu disse que agradeci e só. Se quisesse cagar em cima, o fizesse. Pagou. Acabou. E não cagou em cima.

Já vendi luminária enferrujada que a esposa do cliente passou purpurina dourada pra combinar com uma cadeira com folha de ouro. Que se dane. Manoo, se quiser encomendar 40 luminárias minhas, pagar e depois espalhar bosta em cima. Eu ajudo a juntar bosta.Mas, não vou ficar lembrando, curtindo trabalhos que fiz. Nem lembro. Uma vez, postei um vídeo em câmera lenta. O som ficou horrível e a bailarina foi reclamar das imagens. Eu disse que só filmei em câmera lenta pra mostrar o efeito pra outra cliente e não pra divulgar sua coreografia. Então, se você quiser mandar imagens, vídeos, críticas sobre como seu trabalho é maravilhoso e que a pessoa deve amá-lo como você ama. Sinto muito, não espere de um marxista. Muito menos um ortodoxo.

Como diz minha filha: “todo trabalho é interessante, mas só pra quem se interessar por ele...” Então, se eu não me interesso por um trabalho que você fez. Não leve para o lado pessoal. Eu sequer me interesso pelos trabalhos que eu fiz... Me interessa a venda. E pra isso, ainda hoje, estudo muito e pesquiso pra caramba. E o dinheiro que vou usar pra comprar mais material pra vender mais vem daí. Pois Arte é trabalho. Como varrer um chão. Como montar um computador. Ou carregar uma caçamba de terra. Amor é algo muito abstrato para algo tão concreto quanto o trabalho. Amor é outra coisa e geralmente, termina em adultério, homicídio ou separação. Cruel né? Mas, se você me acha cruel, precisa conhecer a Vida...”.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (139)


BAURU MOSTRA A TUA CARA – PARODIANDO O BRASIL E CAZUZA
Guardião, o super-herói bauruense está mais do que atento na eleição do próximo domingo, 29/11, quando no segundo turno será decidido quem será o prefeito (a) de Bauru nos próximos quatro anos. Ele, intrépido defensor das causas impossíveis, defendendo algo tão surreal hoje em dia, pois mesmo diante de tanta indicação do caos se aproximando, o povo faz o opção exatamente pelo seu algoz, não se cala e diante do provável e único cenário que nos espera enquanto destino futuro diz:

“Não existe do que reclamar. O que ocorre em Bauru neste momento é o que a cidade quis. Ela teve em suas mãos e através do voto a possibilidade de escolher e o faz, demonstrando o que quer, como pensa e age. Alguns ainda esperneiam, se debatem nas cordas do ringue, mas não existe como negar, o desejo da maioria está sendo atendido e se afunila neste 2º Turno algo bem com a cara desta cidade. Não tem como tapar o sol com a peneira, a Bauru que foi às urnas e estará novamente indo no próximo domingo é conservadora e está dominada por essas ideias. Pode – e deve – estar sendo iludida, ludibriada, mas não deixa de expressar por A + B o que quer, como quer e com quem quer. As duas candidaturas chegando na reta final representam bem o que vos digo, sem tirar nem por, essa a cara de Bauru. Circule pelas suas ruas, converse com o povão, foram essas duas candidaturas as que motivaram a maioria e se hoje existe alguma decepção, tenham certeza, isso representa a minoria, pois a maioria está muito bem representada pelo voto dado”, começa sua explanação, num tom de revolta e ciente de que, diante dos fatos, pouco ou quase nada poderá ser feito neste momento.

Disse mais: “Pedem minha opinião e não nego. Estes dois que aqui me publicam mensalmente queriam saber a opinião do Guardião e estou sendo bem claro, límpido e transparente. Bauru merece tudo o que está em curso e também tudo o que virá pela frente. Sinais foram emitidos do que está por detrás de cada um dos que chegam com chances de ganhar o pleito e no frigir dos ovos uma só constatação. Ambos levarão a cidade para algo já visto no desgoverno do atual presidente da nação, um conservadorismo desvairado e insano, mas tudo foi decisão popular, pelo voto e se assim querem, assim será. Se eu e alguns acham que foi um erro, representamos a minoria, pois a maioria está contente e vejo isso no semblante de quem está prestes a referendar tanto um como o outro. Nítido também, os perdedores – ou parte destes – tentando escolher o menos ruim, o que menos mal trará para a cidade e nele descarregar seu voto. Talvez sejam o fiel da balança do voto, mas mesmo estes, se conseguirem seu intento, sabem de antemão que, tudo o que possuem de ideal, de esperança de mudança, de arejamento para Bauru não ocorrerá, pois os planos de governos apresentados são claros, pregando o contrário de avanços na questão social, dita progressista. O Brasil hoje se mostra conservador e Bauru vai, ou melhor, está na onda”.

Guardião diz não estar sendo duro, só tentando demonstrar que a vontade popular está sendo demonstrada e ela aponta pela Bauru que se quer daqui por diante. “Ouço dizer que, teremos pela frente, o pior que já tivemos. Balela, tudo o que é ruim, pode piorar, basta ocorrer opções neste sentido. E quem me diz que Bauru não opta pela caos em plena consciência ou ao menos uma leve noção de que, se chegamos aqui aos trancos e barrancos, piorando melhora? Uma tese maluca, mas exequível. Por fim lhes digo, de que adianta reclamar neste exato momento? De pouca valia, pois como aqui já disse, tudo não passa da vontade popular sendo colocada em prática. Desgraça pouca é bobagem e o melhor mesmo, em caos como este, todos estarem preparados e não se surpreender com mais nada daqui por diante. Querem isso e isso terão. Ponto final”, encerra a conversa e fica só observando o movimento das pessoas se atirando do alto do precipício, ar de desalento, mas sem nada mais poder fazer.
OBS.: Guardião é obra do traço divinal do artista Leandro Gonçalez, com pitacos escrevinhativos deste mafuento e criador de caso, no caso o HPA. Para os próximos dias um lançamento em HQ dos mais inolvidáveis, um novo gibi na praça tendo como pano de fundo mais uma história do Guardião, pelo traço de quatro artistas, cada qual desenhando uma parte. Aguardem, pois o falatório por aqui em dezembro será em alto e bom som.

SOBRE A MORTE DE DIEGO MARADONA
Lindo texto da professora catarinense Elaine Tavares, o que de melhor encontro para expressar como me sinto neste momento. A charge de ilustração é do amigo reginopolense Fausto Bergocce - HPA:

REQUIEM POR DIEGO - Hoje foi um dia que chorei um bocado. Cada vez que entrava na internet e via algum escrito sobre Diego Maradona. Uma sensação de perda, profunda e dolorida. O Maradona era um cara especial. Um tipo que tendo ficado famoso poderia ter simplesmente vivido sua fama, sua grana, tornando-se um babaca, como tantos que conhecemos. Não é fácil sair da pobreza, conquistar o mundo e não se perder. Diego perdeu-se em muitas coisas. Álcool, drogas, mulheres. Sabe-se lá que dores o atormentavam. Sabe-se lá se foi apenas deslumbramento. O pequenino de Lanus aproveitou a vida à larga. Teve seus ataques, mostrou sua sombra, expôs os demônios. E ele poderia ter ficado nisso. Mas, não. 

Diego decidiu caminhar pelas estradas conflagradas. De repente, lá estava ele com Fidel, o demônio comunista. Declarava seu amor à Cuba e tatuava-se com a cara do Che, seu irmão geográfico. E amou Chávez, e amou o bolivarianismo, e se misturou com as gentes sofridas desse imenso continente. Diego latino-americano, Diego cubano, venezuelano. E ficou feliz com Mujica, com Lula, com os Kirchner, com Evo. Maradona caminhava pelas nossas estradas, sonhava os sonhos da gente, de uma Pátria Grande, de uma Abya Yala soberana. Diego era parça.

Diego Maradona já era um saco de pancadas pela forma como vivia. Não precisava achar mais motivos para ser demonizado. Mas não se achicou. Mostrou-se na sua inteireza, como um sujeito político, como um homem engajado, e levantou as bandeiras que acreditava serem necessárias para as gentes latino-americanas. Diego foi pura paixão. Pelo futebol, pela Argentina, por Nuestra América. Por isso essa tristeza. Encantou um irmão. Cheio de defeitos, de ambiguidades e contradições, mas absolutamente certo acerca do que deveria amar.

Não é sem razão que hoje choram os amantes do futebol, os argentinos, os cubanos, venezuelanos, bolivianos, uruguaios, equatorianos, colombianos, paraguaios, peruanos, brasileiros, salvadorenhos, guatemaltecos, nicaraguenses, enfim, todos os que aprenderam a amá-lo, em campo e fora dele.

Diego foi um deus do futebol, e poderia ter ficado ali, naquele pedestal inútil de conversinha mole. Mas não, ele desceu, fez-se irmão, parceiro, amigo. Fumava charuto cubano, usava boné com estrela, sapateava na cara dos que apenas o queriam como um macaquinho amestrado.

Diego viveu. Atormentado, sofrido, mas também alegre, pleno, cheio de amor por esse mundo ainda não-visto, ainda não-constituído, mas que caminha em cada um de nós que coloca seu tijolinho na luta pelo mundo novo. esse meio-dia que virá.
Que as nossas lágrimas lavem todas as suas trapalhadas e que ele possa entrar no céu dos bons, abençoado pela Compadecida de Suassuna. E que lá de cima, com seus parceiros de vida que também já encantaram, sopre segredos para que possamos enfrentar melhor a caminhada.

Gracias, gordo, gracias... por ter escolhido nossa gente em vez de ficar na indiferença".

E AQUI AINDA TEMOS BOLSONARO
Quando tento comparar o que está rolando aqui em Bauru na sua eleição para o 2º Turno e o Brasil, chego na conclusão mais básica, simples, elementar: o povo brasileiro gosta e escolheu mesmo sofrer, padecer no paraíso. Temos um país de inolvidáveis possibilidades, mas escolhemos péssimos administradores, ou melhor, na maioria das vezes, aturdidos por tanta coisa à nossa volta, tanta necessidade, iniquidade, que deixamos de atinar direito o que venha a ser o certo e o errado e daí, optamos exatamente por aquele que vai completar a nossa destruição enquanto povo, nação e indivíduo livre, soberano. Foi assim, ou melhor, é assim com Bolsonaro. Pior escolha não poderia ter ocorrido e a destruição ainda está em curso, sem data para terminar seu percurso devastador. Aqui em Bauru, até tínhamos opções, algumas muito mais salutares, mas a opção do povo bauruense foi por duas totalmente no desvio, cujos discursos foram bem claros, "vamos jogar contra os interesses do povão". E mesmo assim, o povo se iludiu e votou neles. Não tem do que se decepcionar, pois as escolhas foram nítidas, claras, evidentes e o que vai acontecer daqui por diante é o mesmo que está acontecendo com o Brasil, uma destruição com cartas previamente anunciadas. Eles, os tais dois candidatos, assim como Bolsonaro não enganaram ninguém, sempre disseram a que vieram e se o povo assim quis é porque quer algo assim no comando de suas vidas. Não existe ilusão, muito menos decepção. Sejamos ao menos sensatos, a chance de optar existiu, mas a preferência recaiu sobre estes, hoje bem a cara deste país e Bauru não foge à regra. Regredimos e muito, ou melhor, poucas vezes na nossa história - a bauruense e a brasileira, optamos por algo em outro sentido.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (143)

DUAS HISTÓRIAS QUE VALEM MUITO A PENA - RECOLHENDO E REPASSANDO*

* As histórias que, verdadeiramente me arrebatam, me fazem parar tudo o que faço para escrevê-las.

01.) FUNILEIRO ADELINO CONSEGUINDO DAR A VOLTA POR CIMA*
Gosto demais da conta de seu Adelino Silvestre, funileiro de considerada estima por todos que o conhecem, com oficina bem ali atrás de onde estava a Baurucar, hoje sede da Polícia Civil, bairro da vila Cardia. Desde o primeiro momento quando o conheci, além de se tornar seu fã, só levo carros lá. Ouço de muita gente algo assim: “o gostoso de levar carros lá na oficina do seu Adelino não é nem ter o carro reparado por ele, mas desfrutar de suas conversas”. A cada retorno algo novo, arrebatador, envolvente. Já contei algumas delas aqui, como a de quando chegou a ter 16 funcionários na oficina, mas estava enlouquecendo e preferiu levar vida mais tranquila, com poucos e assim tocar a vida. “O que vale a pena mesmo não é a correria, é a qualidade de vida”, repete. Eu o tenho como um dos sábios destas plagas. 

Estive por lá hoje resolvendo uns problemas na porta do carro e ele me conta a última de sua vida. Adelino, como eu, somos diabéticos e tomamos alguns cuidados especiais, até para não irmos antes da hora. Com a pandemia, mais apreensão e cuidados. No caso dele, tudo agravado por ter descoberto algo novo, quase derrubando-o, um câncer de próstata. Desde quando foi avisado, já no consultório o “baita negão”, hoje beirando os 76 anos, baqueou e foi preciso ser amparado. Desde então padeceu de um novo mal, a depressão. Cada vez mais isolado e sem pegar serviços, ia se fechando em copas. Clientes se avolumavam na porta de sua oficina e eram recusados. Alguns não aceitavam e faziam contato, ele se esquivava de tudo quanto é jeito e seguia as novas recomendações médicas, mas nada que recomendasse o isolamento completo. 

Semanas atrás algo ocorreu e tudo mudou. Seu funcionário liga da oficina e diz ter lá um cliente o aguardando e este já avisa, não iria embora enquanto ele não ali estivesse. Disse que não iria e pela insistência, o cara não se identificando e nem querendo atender telefone, acaba cedendo e foi ver, mesmo contrariado, de quem se tratava. Estava pronto para negar o serviço, pois para ele estava tudo acabado, sem vontade de prosseguir. Chegou lá e o funcionário disse que o tal cliente o esperava no escritório. Estranhou, pois as portas estavam fechadas. Abriu e deu de cara com a cena mais inesquecível de sua vida. Lá dentro, doze pessoas, todos amigos, ali reunidos para demovê-lo da ideia de se entregar. Cada um estava ali motivado e decidido a devolver Adelino para a vida normal de trabalho e atividades. Ele me diz nunca ter chorado tanto em sua vida como ali diante de todos. Ouviu apoio de todos os lados. Um deles lhe disse que não levaria seu carro amassado para outra oficina e perguntando quanto tempo demoraria, quando ouviu que em tempos normais faria em uma semana, mas nas condições atuais, a perder de vista. O amigo lhe entregou as chaves e disse: “Pois tem um mês, até dois, mas quero que você resolva isso para mim”. Outro lhe perguntou se estava com problemas financeiros e lhe entregou um cheque em branco: “Gaste, resolva seu problema e nem me diga quanto e se não gastar, rasgue e estamos conversados”. Ele rasgou.

Seu problema era outro. A doença, a simples notícia de que tinha um câncer o demoliu, estava prostrado, mas aquilo tudo ali na sua frente o fez ver que deveria resistir, persistir e insistir. Buscou forças lá no fundo e voltou ao trabalho. As notícias médicas são alvissareiras e ele está medicado, se tratando e com grandes possibilidades de reverter o mal que lhe acomete. Da depressão, me disse hoje: “Com o trabalho aqui resolvi meu problema da tristeza. A alegria está aqui e todo dia me aparece um, hoje foi você. Ontem sonhei contigo, sabia que ia aparecer por aqui. Quando vi teu carro chegando fiquei muito alegre”. Eu só não abracei e beijei seu Adelino, por causa das precauções todas, mas ele sentiu-se beijado, abraçado e amado. Eu prometi fazer o mesmo que todos os seus amigos fazem regularmente com ele, passar lá, mesmo que não tenha nada para fazer nos seus carros, mas só para bater papo, colocar as conversas em dia e ouvir a boa prosa, a do rei dos funileiros bauruenses, seu Adelino, imperador da lanternagem. Suas histórias renderiam mais que um livro e algo já lhe prometi, ele não vai escapar, será um dos próximos entrevistados semanais no meu projeto Lado B. Para quem ainda não o conhece, tenham certeza, ele vai te arrebatar...

02.) TUNISIANO MAHER RECEBE CLIENTES NA RUA NO HABIB'S

Adoro escrever sobre pessoas, mais ainda descobrir histórias por onde circule. Saio pouco nestes tempos exigindo reclusão e assim mesmo, com o freio de mão puxado, das poucas escapulidas, sempre consigo captar algo. Por causa disto, sempre ando com caneta e algum papel nos bolsos. Desta feita o que me salvou foi um santinho eleitoral, ainda guardado na carteira - nem sei como - e usado para anotar algo do personagem aqui registrado. Era o único papel à mão no momento. Sem ele não me lembraria de alguns detalhes ali ouvidos e que, certamente esqueceria até o momento de escrevinhar este texto. Foi tudo tão rápido, um sotaque, uma fila e o interesse, conversa de minutos e um registro fotográfico.

MAHER tem 29 anos, tunisiano de nascimento, pais do norte africano, beirando e beijando o mar Mediterrâneo e quase todo dominado pela religião muçulmana. Inquieto, deu sempre o seu jeito e saiu pela aí. Trabalhou em seis diferentes países, como o Egito e uma mais longa experiência em Dubai, sempre trabalhando no que encontra pela frente. Chega, tenta se adaptar e quando não o consegue ou mesmo sente faltar aquele algo mais, reúne seus pertences e parte para outro lugar. Com o Brasil não foi diferente. Veio pela primeira vez, não deu muito certo, escapuliu para outras paragens, porém voltou e desta feita, já por aqui há mais de cinco anos, acabou descobrindo Bauru. Hoje é o recepcionista dos clientes que chegam de carro e se postam numa fila na beira da calçada no Habib's da Nações. Ele se aproxima do carro na fila e antecipa o pedido, falando um português quase sem sotaque. Poucos o percebem estrangeiro, assim como poucos puxam conversa. Destes, ele muito receptivo, fala o que pode, diante da fila, por ali sempre grande. Maher se esforça e ao final agradece por ter com ele conversado, fazendo questão de também reverenciar seu deus antes da despedida. Queria saber mais, ouvir mais, enfim, conhecê-lo de fato, mas o momento era pouco propício e se quiser saber algo mais de sua peregrinação mundial terei que lá voltar, entrar na fila e recolher novas informações. Enfim, sua história é contagiante, pois é um dos tantos cidadãos do mundo e por essas coincidências malucas da vida acabou aportando em Bauru.

ASSUNTO DESAGRADÁVEL - O SEGUNDO TURNO DA ELEIÇÃO BAURUENSE

LEIAM A REFLEXÃO DO SILVIO DURANTE SOBRE OS DESTINOS DE BAURU PÓS VOTO NO PRÓXIMO DOMINGO - Assisti ontem o horário eleitoral e as duas entrevistas para a TV Tem, lá algo bem nítido, ela não nada, mas nada a ver com Bauru e ele, mesmo tendo, representa tudo aquilo que combato e continuarei combatendo vida afora. Ontem circulei em dois bairros bauruenses e lá percebi que, mesmo sem tomar conhecimento de nada sobre os antecedentes dos dois, o que representam, onde se situam e o baú de maldades embutido em cada proposta, o povo parece já ter decidido e quando isso ocorre, nem sempre o que vem pela frente é o mais recomendável, vide o padecimento que o país foi submetido com a escolha deste que hoje nos governa, o miliciano presidente. De algumas escolhas, muito padecimento depois, mas neste caso, em ambas vamos padecer e muito. Estejamos preparados, Bauru segue seu caminho, sua sina e o que prescreve algo criado para nos guiar, "cidade sem limites":

𝐏𝐨𝐫𝐪𝐮𝐞 𝐒𝐮𝐞𝐥𝐥𝐞𝐧 𝐑𝐨𝐬𝐢𝐧 𝐯𝐞𝐧𝐜𝐞𝐫á 𝐚𝐬 𝐞𝐥𝐞𝐢çõ𝐞𝐬 𝐞𝐦 𝐁𝐚𝐮𝐫𝐮 𝐝𝐢𝐚 𝟐𝟗 𝐝𝐞 𝐧𝐨𝐯𝐞𝐦𝐛𝐫𝐨 - Qual sua decisão quando se depara em uma prateleira de mercearia com dois produtos iguais em embalagens diferentes. Alguns se orientam por preço, outros podem se orientar pela marca mais conhecida e outros ainda vão preferir pegar qualquer um que estiver mais fácil ao alcance das mãos. É essa a escolha que Bauru terá de fazer dia 29 de novembro. São dois projetos políticos iguais no conteúdo, mas muito diferentes na forma. Ambos se colocam de forma servil aos interesses daqueles que realmente comandam a cidade: os oligopólios empresariais, aliados ao truste do setor imobiliário. Para este segmento minoritário da população (estamos falando de umas poucas centenas de pessoas) qualquer um dos candidatos, seja o 25 ou o 51, terá apenas de desempenhar o papel de administrador temporário de seus negócios que se referem ao uso da máquina e poder público para continuar o ciclo secular de dominação e garantia de seus privilégios. Mas por que, afinal se são iguais, Suellen Rosin vencerá dia 29 de novembro?

𝑰 – 𝑺𝒖𝒆𝒍𝒍𝒆𝒏 𝒓𝒆𝒕𝒊𝒓𝒂 𝒐 𝒄𝒂𝒓á𝒕𝒆𝒓 𝒄𝒐𝒎𝒃𝒂𝒕𝒊𝒗𝒐 𝒆 𝒂𝒏𝒕𝒊 𝒓𝒂𝒄𝒊𝒔𝒕𝒂 𝒅𝒂𝒔 𝒎𝒐𝒃𝒊𝒍𝒊𝒛𝒂çõ𝒆𝒔 𝒆 𝒍𝒖𝒕𝒂𝒔 𝒏𝒆𝒈𝒓𝒂𝒔.
Primeiramente, Suellen carrega em si os traços biológicos de um dos setores mais oprimidos da sociedade de classes: é mulher negra. Isso a coloca em uma posição de destaque que a direita retrógrada quer confiscar para si, retirando o caráter combativo que tal condição natural inflige ao indivíduo. Para a direita retrógrada, Suellen representa aquilo que a mulher deve continuar sendo: um ser dócil, não contestador da ordem, conivente com as instituições estabelecidas, silenciosa diante de temas polêmicos, não questionadora do patriarcado e muito menos da sociedade de classes que sustenta o machismo e o racismo. Suellen não é o perfil de jovem negra militante anti racista, que está participando de protestos contra violência policial, que está nas ruas em marchas contra discriminação e nas redes sociais alertando pessoas e grupos sobre a necessidade de garantir direitos de cidadania para pretos, pardos e índios. Ao contrário, Suellen passa longe desse tipo de mulher negra combativa e isso é ótimo para construir uma contra narrativa que desconecte a mulher negra de sua tarefa política emancipatória.

𝑰𝑰 – 𝑺𝒖𝒆𝒍𝒍𝒆𝒏 𝒇𝒖𝒏𝒄𝒊𝒐𝒏𝒂𝒓á 𝒏ã𝒐 𝒄𝒐𝒎𝒐 𝒐 𝒄𝒆𝒏𝒕𝒓𝒐, 𝒎𝒂𝒔 𝒄𝒐𝒎𝒐 𝒖𝒎 𝒅𝒆𝒔𝒗𝒊𝒂𝒅𝒐𝒓 𝒅𝒆 𝒂𝒕𝒆𝒏çõ𝒆𝒔
Os donos do poder querem que o ideal de mulher encarnado por Suellen seja o ideal a ser seguido pela maioria das pessoas do sexo feminino que uma hora ou outra podem se deparar com o discurso do feminismo libertário e passar questionar a lógica social de dominação sobre a mulher. Se Suellen não representaria um “freio” na primavera feminista (se é que se pode deter isso...) ela seria ao menos uma estrela guia a ser mirada no céu pelas demais mulheres, para que olhando para cima, não vejam as flores da primavera florescendo a seus pés, ao menos durante um bom período. Em nenhum momento de sua campanha ou de sua trajetória política vimos Suellen fazer coro com as pautas de libertação da mulher. Ao contrário, seu partido está posicionado no espectro político que mais se opõe a políticas de promoção da igualdade de gênero.

𝑰𝑰𝑰 – 𝑨 𝒗𝒊𝒕ó𝒓𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝑺𝒖𝒆𝒍𝒍𝒆𝒏 𝒊𝒏𝒕𝒆𝒓𝒆𝒔𝒔𝒂 𝒎𝒖𝒊𝒕𝒐 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒂𝒐 𝒎𝒂𝒄𝒉𝒊𝒔𝒎𝒐 𝒅𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒂𝒐 𝒇𝒆𝒎𝒊𝒏𝒊𝒔𝒎𝒐.
Suellen será vitima de um machismo político que irá cair pesadamente nas próximas candidatas que se dispuserem a disputar a prefeitura. Será o mote ideal para erguer um discurso anti mulheres na política. Ela irá enfrentar um período de orçamento municipal baixo, de pandemia em retomada, um cenário nacional em recessão e desemprego por conta do desastre que está sendo o governo Bolsonaro (do qual seu partido é base de apoio) e mesmo com esse cenário de calamidade social, ela não irá enfrentar os grandes problemas da cidade, mantendo o status quo e aumentando os níveis de pauperização do povo. A culpa será jogada em suas costas e não só: todo gênero feminino será imputado como naturalmente não apto à vida política. Mas por aqueles que a atacarão, não será dito uma única palavra sobre a conjuntura nacional e estadual que engendrarão seu fracasso administrativo, ao contrário, a direita retrógrada não hesitará em colocar em sua responsabilidade individual os desastres de sua administração ruim e isso virá acompanhado de uma avalanche de comparações e menções jocosas acentuando sua falta de experiência e juventude (e aqui entra em cena o preconceito geracional contra jovens na política).

𝑰𝑽 – 𝑨 𝒃𝒖𝒓𝒈𝒖𝒆𝒔𝒊𝒂 𝒍𝒆𝒈𝒊𝒕𝒊𝒎𝒂𝒓á 𝒔𝒆𝒖 𝒅𝒊𝒔𝒄𝒖𝒓𝒔𝒐 𝒅𝒐𝒎𝒊𝒏𝒂𝒅𝒐𝒓 𝒄𝒐𝒎 𝒂 𝒗𝒊𝒕ó𝒓𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝑺𝒖𝒆𝒍𝒍𝒆𝒏.
É o candidato Raul quem tem o fenótipo mais parecido com a burguesia brasileira: homem, branco de meia idade, hétero, cristão e com discurso empreendedor. Seria um desperdício queimar essa ficha e a burguesia não vê problemas nenhum em momentaneamente promover uma ruptura na sequência de homens brancos que sucederam a cadeira do prefeito de Bauru. Preservar a imagem do ideal de político é uma forma de dizer subliminarmente as pessoas que uma grande desgraça poderá ocorrer se este padrão de escolhas for interrompido. A narrativa será usada, de modo semiótico, para engrandecer a figura branca, masculina envelhecida diante da figura feminina, negra inexperiente, puxando pela memória do povo um falso passado de glória da cidade com prefeitos que fizeram muito pelo município dos quais todos eram homens, brancos e seniores. Neste caso, preservar a imagem que é a cara da burguesia seria por si só um ataque ao elemento estranho à este padrão.

𝑽 - 𝑺𝒖𝒆𝒍𝒍𝒆𝒏 é 𝒖𝒎𝒂 𝒄𝒂𝒏𝒅𝒊𝒅𝒂𝒕𝒂 𝒅𝒆 𝒅𝒊𝒓𝒆𝒊𝒕𝒂 𝒂𝒐 𝒑𝒂𝒔𝒔𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝑹𝒂𝒖𝒍 é 𝒐 𝒄𝒂𝒏𝒅𝒊𝒅𝒂𝒕𝒐 𝒅𝒂 𝑫𝒊𝒓𝒆𝒊𝒕𝒂.
Leia de novo este título e entenderá como o uso do artigo define o sentido da frase e o compromisso político com cada candidato. Embora ambos estejam servindo ao mesmo senhor (e este não é o povo), a diferença substancial entre um e outro está justamente no nível de envolvimento que cada um tem com as estruturas de poder existentes na cidade. Suellen é um nome novo que conhece a cidade na maior parte devido a exigência do trabalho remunerado que exercia como jornalista. As experiências com voos solos na política brasileira demonstram que uma queda abrupta de alguém com perfil de uma pequena aeronave monomotor causa menos prejuízos que a queda de um airbus. Raul tem negócios milionários na cidade, que envolvem ramos da iniciativa privada e poder público, além de laços quase pessoais com representantes de setores economicamente produtivos, logo, seu conhecimento da cidade se dá por outros meios do que aqueles que Suellen estabeleceu. Para a direita retrógrada, uma crise política só lhe é tolerável se não refletir em uma crise econômica e isso seria muito pior para seus negócios se ocorrer com um governo de Raul do que com Suellen.
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Por estas e outras acredito que Suellen vencerá dia 29 de novembro (não consideramos aqui o envolvimento de Suellen com o setor religioso neopentecostal da cidade, cuja força política é incontestável nas eleições). Suellen irá vencer, Raul não irá ganhar e o povo de Bauru irá perder!
Acatando correções, sugestões e reflexões para construir um mundo melhor. Não importa em quem você vai votar: o que importa é como você vai se organizar para enfrentar quem for eleito!
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