19º AO VIVO LADO B COM O ARTISTA, JORNALISTA E DESCONFIADO ESSO MACIELEu comparo os aqui já entrevistados, Duílio Duka, Oscar Sobrinho, Maria da Paz, Cristiane Ludgerio, Lázaro Carneiro, Moreira, Dulce, Celsão, Zanello a Sócrates, Moisés, Jesus, Zé Pilintra, Exu e tantos outros. São todos entidades mitológicas desta aldeia bauruense. Eu só volto aqui a cada domingo, sempre com um novo nome, pois sempre estive empenhado em retratar os brasileiros subalternizados, para mim, os mais valorosos, suas histórias, causos, brincadeiras, vadiações, vagabundagens, enfim a trajetória de toda uma vida. O convidado para o bate papo deste domingo, ESSO MACIEL, por exemplo, é nosso Madame Satã, Lázaro poderia ser comparado com João Antonio, Moreira com Lima Barreto, Cristiane é para Bauru muito mais do que uma Ru Paul e assim por diante. A intenção denominando-os de DESIMPORTANTES tem motivo, justa causa, diria, pois o que vale mesmo é abalar todas as hierarquias que inferiorizam os saberes populares. A historiografia oficial menospreza a todos, pois dá importância para outra vertente, a que venceu e até hoje se sobressai na transcrição feita pela mídia massiva. Voltar aqui a cada domingo trazendo uma nova história, ressaltando a história de alguém que muito esgrimou para chegar até aqui é deixar registrado algo, contar uma história pouco lida. Não sou o único, nem faço tudo da melhor forma, mas faço e assim deixo algo registrado. Isso que conta.
ESSO MACIEL está beirando os 80 anos. Um cidadão na contramão de muita coisa envolvendo o slogan principal a nortear Bauru, “Cidade Sem Limites”. Esso sem foi um cara sem limites e daí, ser martírio. Deu muitos murros em ponta de faca, enfrentou moinhos aos borbotões, tudo por causa de suas escolhas. Esso é homossexual assumido e assim tocou sua vida, paparicado por alguns e estocado por outros. Chega até aqui, fez suas escolhas, preferiu depois de muitos quilômetros rodados ter uma vida apartada, meio que de lado de tudo o mais. Lá na rua Campos Salles, vila Falcão, seu canto está atrás de um muro com heras por todos os lados e cães também, o amor de sua vida. Escolheu viver com os animais, depois de muitas desilusões e não se arrepende. Ali detrás do muro que o separa da rua ele faz de tudo ao seu modo e jeito. Ele conta um pouco disso tudo num bate papo de uma hora, pouco para tanta coisa, sua infância com as primeiras revelações, o trabalho na Prefeitura de Bauru por décadas, o artista plástico reconhecido e as andanças de uma vida inteira reveladas e registradas, segundo seu vontade, algo que, segundo ele, não o fez até agora.
Eu muito já escrevi dele no meu blog, com textos publicados no www.mafuadohpa.blogspot.com, desde 2007 e aqui escolho trechos de alguns para apimentar o que virá com a conversa gravada:
- Escrevi em 07/03.2011: “ESSO MACIEL, RESISTINDO À SUA MANEIRA A PASSAGEM DO TEMPO - Durante o Carnaval é impossível fazer uma desassociarão da festa com o que representa um bauruense do alto dos seus 70 anos, Esso Maciel. Ele encarna o que essa festa possui de mais significativo e autêntico. Vê-lo nas ruas nos dias atuais é a constatação de estar diante de um menino, com um esbelto corpo, andando sempre muito à vontade, com roupas a fugir do trivial e um discurso voltado para o novo, o que virá. Sempre chamou muito a atenção em tudo o que fez na vida. Isso desde sempre, foi a irreverência em pessoa quando funcionário público e um maldito como jornalista e poeta. Fama de criador de caso, ele já se acostumou com isso, hoje tira de letra e continua a fazer as coisas como sempre fez, sem pedir opiniões e medir as consequências. Aderiu a algo praticado insistentemente no dia a dia, o denominado Bloco do Eu Sózinho. Nos Carnavais sempre esteve presente com alegria, rebeldia e irreverência, mas só, fazendo uma festa só sua. Um bardo a navegar por portos nunca dantes navegados. Vive recluso, isolado de muita coisa a lhe fazer mal, em sua casa, encravada no meio da vila Falcão, um bairro que nunca conseguiu abandonar. E continua tocando sua vida como sempre fez, marcando presença onde acha que deva estar. E comparece, altivo e feliz, fazendo o que gosta. Esso é um resistente. Esso é um menino num corpo envelhecido. Esso é um poeta posto em marcha lenta. Esso é a cara dos que não se entregam facilmente. Esso é tudo isso e muito mais e só por isso merecedor dos píncaros da glória”.
- Escrevi em 24/07/2011: “UMA MERECIDA FESTA PARA ESSO MACIEL - Esso é uma pessoa especial. Passando dos 70 anos continua um meninão, desses a aprontar com a vida. Leva a sua cheia de privações, num refúgio criado por ele mesmo, um canto onde existe um mundo particular, só seu. Lá nos altos da Vila Falcão, ele e seu caos veem a vida passar e não se importam com o que acontece nas ruas, o importante é que todos ali, ele e os cães possam continuar fazendo tudo como no dia anterior. Uma repetição feita com gosto, uma vida dedicada nos que realmente não lhe traem, esses seus verdadeiros e únicos amigos. São quase 30 no total. Sai pouco de casa e quando o faz, ainda choca algumas pessoas. Finge não perceber e cada vez sai menos. Diz-se doente e não se trata, deixa a vida lhe levar. Com o que ganha, uma merreca de aposentadoria, come mal e porcamente, mas não deixa que nada falte aos seus animais. A festa que lhe fizeram na sexta, 22/07, o fez sair dessa rotina, primeiro a gravação do primeiro programa da série “Primeira Pessoa”, entrevistas filmadas em forma de vídeo, algo profissional, com esmero e cuidado, merecia mesmo ter um nome de peso no pontapé inicial. O nome é Esso, o peso é sua importância no cenário bauruense, pois na verdade está fino como um fio de cabelo, pesando pouco mais de 50 quilos. Um faquir, admirável e desprendido engolidor de espadas, espadachim de uma causa perdida, mas nem por isso fechado em copas. Na gravação estava todo maquiado, falante como nunca, solto como uma pluma e foi ótimo, pois disse tudo em tão poucas palavras. Roberto Pallu, um cinegrafista mais do que profissional soube captar um Esso em ponto de explosão. Com três câmeras gravando ao mesmo tempo, pegou-o em todos seus ângulos e o resultado foi algo único, belo, forte e para ser guardado. Gostei demais. (...)”.
- Escrevi em 11/02/2013: “O BLOCO DO EU SOZINHO EM BAURU É O ESSO MACIEL E SÓ - Adoro reverenciar a irreverência e criatividade do Carnaval carioca em vários quesitos. Um deles é algo a resistir bravamente. Acreditava que só lá ainda persistissem os foliões que, predispostos a bolar uma fantasia única, só para ele, depois desfilando com ela garbosamente pelas ruas e praças. Necessariamente não desfilam em blocos e escolas de samba, mas o fazem no espaço dedicado aos que circulam nas ruas. Na metade do século passado esse tal BLOCO DO EU SOZINHO (foto ao lado) era muito comum, depois foi amainando até quase desaparecer. No Rio devem perdurar alguns pelas ruas, aqui em Bauru, até tempos atrás conhecia dois, hoje somente um, ESSO MACIEL. É dele que falo. Um retinto senhor, nada comum, 72 anos, morador da vila Falcão, aposentado como servidor público municipal, onde atuou por muitos anos lotado no Gabinete de vários prefeitos. Figura marcante, homossexual assumido, muitos o evitaram e até hoje o evitam, pois sempre teve uma personalidade forte. Um diferenciado poeta, seguidor dos Dizzie Croquetes, permanece vestindo a indumentária desses e com elas sai vestido pelas ruas bauruense em cada carnaval. Nesse ano foi visto em três momentos. Primeiro no baile de quinta à tarde na Associação do Aposentados, depois no desfile do bloco Bauru Sem Tomate é Mixto (com X mesmo) e por fim ontem, no primeiro dia do desfile das Escolas de Samba e Blocos no Sambódromo. (...)”.
- Escrevi em 25/02/2014: “ESSO MACIEL, UMA VIDA DEDICADA ÀS ARTES E SUA DESPEDIDA DO CARNAVAL (será?) - (Texto publicado no jornal mensal Metrópole News, de Vinicius Burda, edição de fevereiro 2014): Eu se pudesse largava tudo o que estou fazendo e ficaria horas e horas escrevendo só sobre meus amigos, temas que gosto, histórias recolhidas por aí, mas as ditas “obrigações do dia-a-dia” me fazem correr atrás do que dizem ser “o prejuízo”. E vou na onda, sobrando algumas poucas horinhas para escrevinhações desses. As faço a toque de caixa. Hoje de um dileto amigo, ESSO MACIEL. Quando da realização do 4º SLAM – Festival de Poesia do Minuto em 26/08/2013, uma contundente declaração de outra amiga, Mariza Basso: “Foi a última aparição da Onça, conforme anunciado pelo seu criador Esso Maciel. Esso há muitos e muitos anos veste a pele da Onça geralmente para sair no carnaval, ontem no SLAM poético realizado no Museu Ferroviário de Bauru, a Onça Morreu! Esso deu um show de disposição e talento com seu jeito irreverente e polêmico. Um amigo querido fiel há muitos anos, meu primeiro ídolo teatral. Vida longa ao Esso!”. Isso teria que ser matéria de capa de todos os jornais locais, dar na TV, o rádio divulgar como algo a enlutar essa cidade. A Onça do Esso pendurou as chuteiras. Não vi uma linha em lugar nenhum. Essa foto da Mariza, a última de Esso como Onça já é histórica. Saúdo meu amigo Esso, aroeira pura nesse varonil torrão cheio de contradições homéricas. Dele, esse vídeo, também gravado por Mariza no último ato:http://www.youtube.com/watch?v=n6A9zBhHcko. Esso é uma pessoa especial. Passando dos 70 anos continua um meninão, desses a aprontar com a vida. Leva a sua cheia de privações, num refúgio criado por ele mesmo, um canto onde criou um mundo particular, só seu. Lá nos altos da Vila Falcão, ele e seu caos veem a vida passar e não se importam com o que acontece nas ruas, o importante é que todos ali, ele e os cães possam continuar fazendo tudo como no dia anterior. Uma repetição feita com gosto, uma vida dedicada nos que realmente não lhe traem, esses seus verdadeiros e únicos amigos. Foram 30 no total, hoje não passam de dez. Sai pouco de casa e quando o faz, ainda choca algumas pessoas. Finge não perceber e cada vez sai menos. Doente, magro, não se trata, deixa a vida lhe levar. Com o que ganha, uma merreca de aposentadoria, come mal e parcamente, mas não deixa que nada falte aos seus animais. (...)”.
- Escrevi em 13/07/2014: “EU E OUTROS TIRANDO UMA BOA LASQUINHA DA MELHOR “BICHA VÉIA” DE BAURU E ADJACÊNCIAS, O INTRAQUEJÁVEL ESSO MACIEL - Inquieto, sou desses sempre a procurar por onde é que as coisas continuam a acontecer. Ontem em Bauru, circularam pela cidade bolivianos e peruanos, perdidos após desencontros na Copa do Mundo, vagando de um lugar para outro, acabaram aportando no nosso albergue, depois contaram suas histórias para a TV e o jornal. Logo em seguida bateram asas, não de volta para seus países, mas para São Paulo e se possível, o Rio, ou seja, queriam continuar no furdunço, na agitação, no esfrega e em contato com gente. E fazem sem nenhuma grana nos bolsos. Encantadora história, gente em movimento, não em busca da satisfação que vêm do vil metal, mas de uma inexplicável satisfação interior, inebriante necessidade de estar onde as coisas estão acontecendo. A história deles se mistura exatamente do mesmíssimo jeito de como busco esse lado onde tudo acontece de um jeito mais ouriçado. Conto algo a seguir de ontem à noite. Pelo facebook fico sabendo que na casa/estúdio de MARIZA BASSO estaria ocorrendo a gravação de um mini curta metragem, com nada menos que ESSO MACIEL, o intrépido e muito querido guerreiro da não mesmice bauruense, cujo nome estava mais do que decidido “BICHA VÉIA”. Aquilo me fermentou por dentro e disse para mim mesmo: Preciso espiar isso pessoalmente. Contato com KYN JUNIOR, também no elenco de gravação e recebo autorização para lá comparecer. Na hora aprazada, lá estou e me deparo além desses três já citados, mais três, JOSÉ VINAGRE, encarregado da gravação em vídeo, EZEQUIEL ROSA, o insuperável maquiador e ALEXANDRA AYELLO, uma espécie de faz tudo na produção. De Ezequiel consigo a melhor definição para o que estaria ocorrendo por ali: “A cidade pode ferver em outros lugares, mas aqui é o melhor fervo dessa cidade na noite de hoje”. Concordei e fiquei fotografando tudo e a todos. (...)”.
- Escrevi em 05/07/2015: “ESSO MACIEL, O DESABAFO DA ONÇA SEM O SEU BLOG E SE DIZENDO PERSEGUIDO. (...) Eis o depoimento: “As pessoas me atacam gratuitamente. Fui fazer a vacina de idoso na última quarta no mesmo lugar que faço todo ano. As enfermeiras me olhando com ódio, agressivas. A paranoia começou. ‘Nós não vamos atender’, me disseram. Perguntei dos motivos e ouvi: ‘Voce é aidético e tem lugar especifico para atender pessoas assim. Tem que ir para o hospital e não aqui’. Elas nem sabiam se era ou não e não sou. Não arredei pé, escandalizei até que foram no computador e localizaram minha ficha. Tomei a vacina, mas cheguei em casa e me prostei. Mijava sem levantar, virava o corpo no penico. Sou um velho com mais de setenta anos. Pingava água na garganta com um conta gotas para não morrer de inanição e mal conseguia cuidar dos cães. Vivo para eles. Não quero que me passem por maluco, não sou. Tenho testemunhas de tudo. Dá a louca nas pessoas quando diante de pessoas iguais a mim. A Tatiana agora está acreditando em mim, pois coloquei a caçamba na calçada e deu a louca em alguns vizinhos. Publique isso para mim, pois estou impedido de postar lá no meu blog. Armaram contra mim, mudaram minha senha. Os viados de Bauru não querem que eu continue falando deles debochadamente com faço. Não posso perder cinco anos de publicação. Não posso passar nervoso como venho passando. Analgésico não posso tomar de jeito nenhum. Tenho toxoplasmose no olho, tenho que aguentar a dor gritando e sem tomar nada. A esofagite me mata, isso me emagrece demais e daí pensam que sou aidético, mas sou uma onça casta. Na hora em que estou ruim a espiritualidade abaixa em mim e me transforma. Lembra daquela minha alegria lá na festa do final do Festival de Teatro? Não era alegria, era performance da onça. Eu não aguento mais o ser humano. Quanto mais quero morrer, mais eu vivo. E se vivo é para continuar cuidando dos meus cães. Lá na festa tava cheio de viados, de tudo quanto é lugar do mundo. Eu sou um deles, estava feliz, os artistas colombianos se deram muito bem comigo, o Julio Hernandez me amparou o tempo todo, mas alguns debocharam de mim e também do Manuel Hernandez de Bauru. Até que não agenteI mais e desmaiei nos braços do Julinho. Estou vivo e danço. A realidade é essa. Ligo a onça e danço quando sinto algo de ruim, dou uma rugida bem forte e mostro o pau. Não era alegria, era revolta ou as duas coisas juntas. Onça é macho, ela não fica indiferente, nem quieta. Não vivo preocupado com sexo. Agora levantei de novo, mais de três dias em coma e já consegui lavar a sujeira de casa. Não posso continuar tendo esses surtos. Quero que saibam disso e me ajudem a continuar escrevendo eu mesmo no meu blog. Isso é a minha vida e quero que todos saibam quem eu fui, quem eu sou, o que fiz e preciso deixar isso registrado para que no futuro saibam disso. Quero salvar tudo o que já escrevi e ver como posso continuar escrevendo. Devo salvar tudo e passar para o papel ou para um CD? Eu até pago para alguém que conheça disso tudo me auxiliar. Faça isso por mim”.
- Escrevi em 17/06/2019: “DAS MARAVILHAS QUE É TER UM AMIGO A FUGIR DO TRIVIAL - Eu tenho vários assim, que não são nada normais. Aliás, a normalidade é mesmo uma nhaca. Ser normal é não mijar fora do penico, é seguir regras previamente estabelecidas e delas não sair por nada neste mundo. Ou seja, o cara passa a ser um chato de galocha. Fujo dos chatos. Prefiro os que vivem nas vicinais e tangentes da vida. Escrevo de um, o artista plástico e funcionário público municipal aposentado, Esso Maciel. Uma pessoa a dispensar apresentações. Já escrevi muito dele por esses espaços todos dos quais disponho e em todos, sempre reverencio sua autenticidade e coragem em ser o que sempre foi na vida, um sujeito morando ali sózinho na rua Campos Salles, vila Falcão e senhor de si, fazendo o que quer de sua vida sem dar importância para tudo o mais à sua volta. Paga o preço por ser e agir desta forma, mas já passou do tempo em que se preocupava com essas coisas miúdas. Hoje sua maior preocupação reside em como tratar bem sua prole de cães. Faz de tudo e mais um pouco por esses. Se desdobra e para eles não falta nada. Para si, falta muita coisa, mas seus queridos animais nada falta. Assim toca sua vida. (...)”.
- Escrevi em 20/02/2020: “ESSO MACIEL, SEUS CÃES, LIXO, HOMOSSEXUALIDADE E VIZINHOS - Esso foi servidor municipal lotado no Gabinete de antigos prefeitos. Cumpriu sua missão, se aposentou e foi cuidar da sua vida. Sempre bonitão, nunca escondeu de ninguém sua homossexualidade e assim tocou sua vida, aberta e dentro dos limites estabelecidos por ele mesmo. Fez e aconteceu nessa cidade, sempre muito falado, porém respeitado, pois nunca misturou alhos com bugalhos. Morador da vila Falcão, rua Campos Salles, fez de sua casa o lar de cães desamparados e do bom trato com as plantas. No muro fronteiriço de sua casa um hera de grandes proporções toma conta de tudo e no portão de entrada, inscrições feitas por ele, artista plástico renomado, deixando bem claro ser ali a residência desse diferenciado cidadão. Vive praticamente isolado do mundo, num casulo só seu, um oásis só dele e assim tenta ir levando a vida adiante, sem interferir na vida de ninguém. A pessoa por ser diferente de todas as demais à sua volta já merece um olhar de esgueio, ele sabe disso, mas nem por causa disso pretende mudar algo. Só quer ser feliz ao seu modo e jeito. Ele só quer paz para cuidar de seus cães, cuidar de suas plantas, da saúde e continuar fazendo o que gosta, assistir bons filmes, ir à feira aos domingos, circular livremente pelas ruas do bairro onde sempre morou. Nos últimos tempos isso tudo está um bocadinho mais complicado. Esso é acumulador e isso não vai mudar na cabeça de um senhor beirando os oitenta anos. Hoje tem em sua casa/quintal aproximadamente quarenta cães. Alguns ele pegou na rua, outros vieram de formas inusitadas e outros, os mais recentes são despejados do alto do muro para dentro de seu quintal. Seu salário, como tudo neste país, está retraído e mal dá para a sua alimentação, assim ele conta com ajuda de várias pessoas, dentre elas Tatiana Calmon Karnaval e outros. Seu problema hoje não são os cães, o amor de sua vida, mas a incompreensão de vizinhos e gente que mal o conhece, mas o julga. Impossível, por exemplo, seu lixo não exalar mau cheiro, pois ali resíduos dos seus animais, folhas, etc. Alguns vizinhos reclamam e ali na calçada, são jogados outras espécies de lixo, não provenientes de sua casa. Ele não quer discutir com ninguém, quer tocar sua vida, mas nem isso deixam. Brigam com ele, o impedem de continuar deixando o lixo em sua própria calçada, fazendo com que o deixe quase duzentos metros adiante. Diz ter sido agredido, ultrajado, ofendido e por fim com algo repugnante: "Viado tem mais é que morrer. Merecem mesmo umas balas. (...)".
Foram muitos mais textos, escritos, relatos, confissões e declarações feita por mim a ele, mas deixo o algo mais para o que vem com a conversa dominical. Estejam lá e confiram do que essa dupla é capaz.
EIS O LINK PARA ASSISTIR O AO VIVO INTEIRO: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3995996577096988
ESSO MACIEL é meu dileto amigo, de longa data. Escrever sobre ele sempre me é difícil, pois trata-se de pessoa por demais sensível. Vive só a bastante tempo, hoje beirando os 80 anos, além da reclusão os problemas advindos das escolhas feitas vida inteira. Prefere se manter distante da maioria das pessoas, pois nelas não mais acredita. Não enxerga fantasmas, mas os pressente e daí, sua defesa é o ataque. Fala de forma enfática e quando no bate papo, não se deixa ser conduzido. Ele impõe o seu jeito, determina como deve ser e assim aceitei e deu tudo certo. Não o enxergo e sei ele, mesmo parecendo, não ser uma figura e pessoa exótica. Ele é assim, sempre foi e o mínimo que as pessoas devem fazer para com ele é respeitá-lo. Tem opinião mais que própria. Se recusa a tocar em certos assuntos, pelos quais não vê mais vantagem na abordagem. Ele falou bastante e falaria muito mais. O deixei a vontade, poderia ter tocado em alguns tópicos, somente enfocados superficialmente, mas como ele determinava o que queria dizer, creio o resultado foi até melhor do que se imaginava. Ele confiou em mim, abriu as portas de sua casa e dos que me diziam: "mas como, você vai na casa dele. E os riscos?". Tatiana Calmon, frequentemente com ele me dá a resposta mais precisa: "Esso não sai de casa, só para buscar alimentação. Se existem riscos, é de você para ele, quase inexistente dele para ti". Fui até sua casa, pois Esso não faz uso de aplicativos no seu celular. O gravei ao vivo e ficou ótimo o registro, essa minha avaliação.
Um comentário:
Caríssimo Agapeá,
Parabéns, por seu generoso e luminoso garimpo na biografia de Esso Maciel!
Lava a nossa alma.
No passado, quando mantinha, em Bauru, o Blog do Garoeiro, na mesma sintonia dessa sua oportuna inspiração - Lado B - A Importância (esmagada) dos Desimportantes - veja o que postamos:
São livres
Esso Maciel - Blog do Garoeiro, Bauru, SP – Segunda-feira, 9 de janeiro de 2012.
E entendo que os loucos, sim, chegarão ao infinito.
Que para os inocentes se abrirão as portas todas e eles poderão escolher.
Os bobos e os tristes possuem a verdade
e em cada gesto seu não há cadeias e palcos.
Entendo que a vida pode se abrir toda
como uma flor,
ou um sexo entregue,
à volúpia dos que ignoram.
Eles passam sorrindo, os encantados.
Eles chegam sem perceber muito,
a não ser o necessário
para perceber a rosa.
Posso amá-los muito mais
do que ao meu belo vizinho
inteligente e assaz,
escondendo hostes atrás dos olhos dissimulados.
E por isso amo porque sei
de cada passo e de cada cicatriz escancarada para a imensidão
entendo que os loucos, sim, chegarão
enquanto nós os veremos passar cantando.
E cantaremos também a canção ensinada
com aquele sorriso que tal
e o olhar certo para o momento azado.
Abraço,
Garoeiro - professor Jeferson Barbosa da Silva
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