NO 20º LADO B, SEMANA DE ELEIÇÃO, O AO VIVO É COM MILTON DOTA, 80 ANOS DE OPOSIÇÃO EM BAURU
O LADO B – A Importância dos Desimportantes chega ao seu 20º Ao Vivo, desta feita entrevistando, na semana da eleição municipal, quando serão renovados os cargos de prefeito e vereadores nas cidades brasileiras, a um político que fez história em Bauru, MILTON DOTA. Ele, com 80 anos recém completado, era por mim há muito sondado para essa conversa e sempre me dizia, “quando quiser”. Deixei a data reservada justamente para a semana da eleição, pois ele teria muito o que contar sobre outras aqui realizadas, além da história de resistência de uma vida inteira.
Algo mais aconteceu. Não queria realizar o bate-papo no domingo, pois este o dia da eleição e as atenções estarão todas voltadas para o pleito, daí pensei em fazer no sábado, hoje. Ontem sexta, fui até sua casa para gravar o aperitivo, uma gravação de cinco minutos, que posto nas redes sociais como convite para a gravação definitiva. Chego lá e o percebo cheio de compromissos para os próximos dias. Ele me diz assim de supetão: “Por que não gravamos tudo já?”. Não tinha muito o que pensar, pois a oportunidade estava posta na mesa e ali diante de mim. Ele, grandalhão, cheio de ânimo para conversar e com tempo livre para fazê-lo. Assim foi feito, tudo de improviso, sem o preparo feito com os demais entrevistados, quando revi anteriormente algo da história pessoal, uma espécie de roteiro. Com DOTA não deu tempo. Foi no vapt-vupt, tudo feito ali na garagem de sua casa, seu local de trabalho, ao lado de uma mesa cheia de papéis, o jornal Folha de SP, que lê diariamente e quase colado no seu veículo, cheio de adesivos da campanha pra vereador do candidato Claudio Lago – aqui já entrevistado e no qual ele está envolvido até o pescoço.Aqui em Bauru não se faz necessário fazer uma apresentação de quem venha a ser Milton Dota, pois o danado está na lida desde os anos 60. Nascido em Avaí, veio para Bauru com 15 anos, já com a política no sangue. Participou na juventude do famoso Congresso Estudantil clandestino em Ibiúna, quando foi preso e passou quase dois meses trancafiado no presídio do Carandiru. Sua vida política se intensificou e nesse período o próprio Marighella aqui esteve tentando leva-los para a luta armada. Dota e seu grupo, mais ligados à igreja, moderados, preferiram aqui permanecer e fazer a luta ao seu jeito. Quando do golpe, foi logo a seguir um dos fundadores do MDB e assim prosseguiu sua luta até participar também da fundação do PSB. Nunca arredou pé da boa luta, foi vereador e presidente da mesma Câmara por um mandato. Tudo rende boas histórias.
De seu relato, algo grandioso e aqui descrito em detalhes na entrevista de pouco mais de uma hora. No acirramento da questão em cima do mandato de Dilma Rousseff, quando muito abandonavam o PT, ele e outros fizeram o caminho contrário e se filiaram ao partido. Sua justificativa é das mais plausíveis e ele a conta em detalhes. Enfim, ele acreditava estar no PT o único reduto no momento, onde se poderia efetuar uma resistência e luta contra tudo o que estava se formatando de conservadorismo no país. Veio, se filiou e hoje é um dos quadros mais aguerridos. Aqui abro um parênteses para relatar algo, esse Ao Vivo deste mafuento HPA não tem o caráter de contestar nada e sim colher os depoimentos. Fiz isso com os 20 aqui entrevistados. A intenção é contar algo da história de todos, colher a opinião de cada um e mesmo quando em alguns momentos possa ter fatos, ocorrências onde ocorra divergências, não ocorra atritos e sim obter o relato, o seu entendimento e não o do entrevistado. Dota gosta de algo da vida política de Jânio Quadros, de Pedro Tobias e num certo momento, cita até Fernando Collor, o suposto caçador de marajás, como personagens que tentaram algo contra as injustiças.
Dota falou tão francamente e de uma forma tão gostosa de ouvir, que o bate papo deve merecer ser visto com a devida atenção, pois revela alguém que, não desiste da luta, insiste em continuar em sua trincheira e já diz preparar seus sucessores. O relato pode ser assistindo no link aqui publicado já junto deste texto: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/4011198168910162.
Abaixo alguns dos textos publicados por este escrevinhador das insignificâncias, recolhedor de relatos de ilustres Lado B destas plagas, todas fazendo parte do acervo do blog Mafuá do HPA, com um texto diário publicado desde 2007:
- Em 07.07.2008 escrevi: “UM ENCONTRO NADA CLANDESTINO – (...) Histórias como essa rolaram de mesa em mesa. Cada um tendo a sua para contar. Numa outra roda, o professor e militante da esquerda católica, Isaías Daiben, relembra fatos do seu período estudantil, ao lado de Milton Dota, advogado com reconhecido passado na defesa dos Direitos Humanos e de perseguidos políticos. “Essa minha geração, a que está aqui, não aguenta essa música do Zeca, a tal de deixar a vida te levar. Uma (*) para isso”, soltando um palavrão e gesticulando para as duas universitárias. “Veja essa geração de meninos, suas inscrições nos muros. Eles estão querendo nos dizer algo. Tem um que grifa o seu nome pela cidade toda. Encontrei um desses e perguntei dos motivos de fazer isso. Me disse que queria destruir a cidade. Quando lhe disse que também queria, ficou sem entender, mas ambos estamos sem espaço de expresssão e indignados”, reflete o professor. Passando a bola para Dota, esse relembra fatos vividos no famoso Congresso de Ibiúna, do qual esteve presente e de quando, chamado a delegacia, para liberar um militante, quase acabou ficando por lá: “Por pouco não me atraquei com o delegado e talvez fosse morto ali mesmo. Foi por pouco. Sai dali e fui ao jornal, conseguindo uma manchete na capa do dia seguinte denunciando o fato. Não foram tempos fáceis”.
- Em 26.10.2016 escrevi: “A CIA DO TIJOLO, FACE EM PLENA EFERVECÊNCIA NA CIDADE E O DISTANCIAMENTO DOS PREFEITÁVEIS EM RELAÇÃO À CULTURA – (...)Querem mais? Teve muito mais. Na apresentação de segunda duas pessoas foram convidadas para dar depoimentos num dos intervalos da peça, MILTON DOTA, DARCY RODRIGUES e PAULO NEVES. Na apresentação de terça, ARTHUR MONTEIRO e ROQUE FERREIRA. Arthur não falou de si, mas de um rico personagem que Bauru teve o privilégio de viver entre nós, o militante ALBERTO PEREIRA, que dentre tudo o que fez na vida, foi um dos participantes da Coluna Prestes. Roque também não falou de si, mas de um agrupamento dos ais significativos na cidade, o dos FERROVIÁRIOS e contou histórias, relembrou fatos marcantes da resistência dessa categoria profissional. Foi um momento mágico, envolvendo Bauru com todos os demais lembrados pela peça, desde Frei Tito a Iara Iavelberg, companheira de Carlos Lamarca. Aqui um pouco mais da peça: http://teatrojornal.com.br/2013/08/obra-de-lorca-sustenta-musical-da-cia-do-tijolo/. E para os curiosos, onde certamente não deverão estar nenhum dos prefeitáveis bauruenses, recomendo adentrarem o facebook da troupe: https://www.facebook.com/ciadotijolo/.”.
- Em 21.07.2018 escrevi: “ALMOÇO ASSEMBLÉIA GERAL ASSENTAMENTO AYMORÉS – (...) Ontem conheci um pouco mais das dificuldades de quem ali reside e dos endividamentos para continuidade de seus projetos de vida. Na busca coletiva por soluções, sempre a melhor saída. Quando se busca uma saída pelo modo individual, sempre mais difícil, dolorosa, mas quando se pensa pela cabeça de todos, as saídas se mostram sempre com melhores resultados. Circulando pelo local ontem com Milton Dota, ex-vereador bauruense e antigo militante das causas sociais, ele observava a terra árida da região e me mostrava um outro lado da questão. "Imagina se ao invés dessas terras todas divididas em pequenos lotes, fosse feito algo como uma grande cooperativa, com os mesmos proprietários dos pequenos lotes administrando o coletivo. Poderiam plantar, por exemplo, duas ou três culturas, dessas que o resultado final se dá em diferentes meses do ano. Venderiam o ano todo, poderiam adquirir maquinário de foma coletiva e a terra estaria toda ocupada, gerando mais possibilidades do que tudo individualizado. Cada um com seu lote, geram cada um problema dentro da dificuldade de cada um. Falta isso nos movimentos atuais, esse pensamento coletivo, a união dos lotes todos gerando algo coletivo e não individualizando as ações", me disse”.
- Em 13.05.2019 escrevi: “CONTINUANDO COM O TEMA FUTEBOL, AGORA SOBRE ALGO DA ALDEIA BAURUENSE - LEILÃO DA PANELA - A notícia da semana é que está marcado um leilão para venda do Ginásio Panela de Pressão, pertencente ao Esporte clube Noroeste, o centenário time desta aldeia bauruense, hoje na 3ª Divisão do Paulista de Futebol. Com dívidas de anos, adquiridas também através de ações trabalhistas, muitas injustas, fruto de jogadores com passagens ínfimas, diminutas e valores estratosféricos, incentivados e incrementados por ilegítimas arestas na legislação, o valor alcançou cifras altas, impagáveis dentro da atual situação. Daí, a atual diretoria incentiva a colocação do Ginásio à venda para quitar tudo e o clube passar a despertar interesse para se tornar empresa. "Panela - O que pode render boas discussões são os assuntos mais prementes da cidade. Ontem, o experiente advogado e ex-presidente do Legislativo Milton Dota lançou um alerta sobre o leilão do ginásio Panela de Pressão. Segundo ele, que ao lado do ex-vereador José Queda ajudou na intermediação da cessão do terreno do complexo Alfredo de Castilho da RFFSA ao Noroeste, a escritura de toda a área prevê claramente a inalienabilidade e impenhorabilidade. Em seu entendimento, não se pode levar o Panela e demais equipamentos a leilão", nota da Coluna Entrelinhas do Jornal da Cidade - Bauru SP, edição de domingo, 12/05. Quem estiver disposto a procurar os srs Cláudio Amantini, ex-presidente do Noroeste e o ex-deputado federal Tidei de Lima, ambos participantes ativos do contrato de venda do conglomerado do estádio para o Noroeste pode tomar conhecimento de detalhes sobre o que Milton Dota afirma na nota. A coisa é muito mais antiga, desde a cessão do terreno e depois quando da compra do estádio sua confirmação, nada pode ser vendido. O que estaria sendo tramado nos bastidores para legalizar esse leilão? Como tudo é possível nessa terra dita e sacramentada como "Sem Limites", creio eu, esquentar, requentar, rever e reinventar algo do que estaria sacramentado é fichinha. Primeiro a Panela, depois o estádio, já do time, sem nenhum problema ele se transformar em empresa, mas que isso ocorra sem maculações de grande monta.
- Em 01.11.2019: “DOIS BARDOS COMUNISTAS FAZENDO ANOS NO MESMO DIA - Darcy Rodrigues e Milton Dotta, com direito a discurso deles, poesia de Tatiana Calmon Karnaval e fala emocionada de Roque Ferreira. Eis o link: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3002695826427073/ -Aniversário do Satanás e do Capeta, Darcy Rodrigues e Milton Dotta, 79 anos dos dois gramulhões da política BAURUENSE, ambos nascidos em Avaí, vermelhos até a medula, agora no Bar do Genaro, junto de amigos. Outro dia escrevi algo insignificante, de pequena monta, mas citei algo abominável para alguns, a palavra COMUNISMO. Ela estava embutida dentro de um texto maior, porém, foi o suficiente para alguns surgirem assim do nada, gente que nunca vi na vida e tentando demonstrar da perversidade desse regime político. Tive que subir nas tamancas e fazer, como sempre o fiz e farei, a defesa contra gente que mal sabe o que venha a ser o comunismo, nunca leu Marx, entende quase nada sobre o assunto, mas se vê no direito de meter a colher na panela alheia e espinafrar o que é contrário aos seus interesses bestiais. Perdemos nos últimos tempos essa capacidade de aceitar o outro, ainda mais quando esse outro é algo hoje sendo apresentado como não só o antigo "comedor de criancinhas", mas algo mais abominável, de impossível convivência. E desde sua criação, a do marxismo, o comunismo convive entre nós, pelo bem, pelo mal, sempre visto como algo transformador, nunca como hoje, algo a ser eliminado, como algo repugnante. (...)”.
- Em 31.10.2020 escrevi: “80 ANOS DE MILTON DOTTA - DIA PARA RELEMBRAR ALGUÉM DE GRANDE PORTE E ENVERGADURA - 80 anos não é pra brincadeira, ainda mais quando se é oposição na maior parte do tempo de vida, combatendo não só as mazelas destas plagas, mas as nacionais, federais e institucionais. Pois este senhor, MILTON DOTTA está hoje completando data redonda e cheio de gás, com a cabeça em pleno funcionamento, não tendo mudado um milímetro de como sempre a colocou em funcionamento. O gajo não muda, inflexível e arrebatador, pois sabe muito bem se posicionar e dali não arreda pé. Foi assim a vida inteira e relembrando seus feitos, onde já se meteu, algo para louvar, render baita homenagem por serviços prestados em prol da coletividade. Dotão é gente de fibra, desses que, desde muito moço se colocou ao lado da defesa intransigente das grandes questões nacionais e por ela fez a trajetória de toda uma vida. Incansável em tudo o que faz, possui dentro de si a sensibilidade de enxergar no próximo não algo a ser vilipendiado, ultrajado e oprimido, mas ajudá-lo a ser mais e mais, crescer e vicejar. Essa luta pelas igualdades sociais tem seu preço, Dotta pagou todos os seus ao longo do tempo e isso contarei em breve num bate papo com ele, em mais um Ao Vivo Lado B, pois ouvi-lo é também saber algo mais da história de Bauru, uma ainda não revelada, muito menos contada pelos nossos livros. Dotta sabe muito dos acontecimentos nestas plagas e memória viva, hoje merece o fraterno abraço deste escriba e também amigo, grato por tudo o que ele sempre nos proporcionou de resistência e luta. Bravo guerreiro...”.
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