Conto algo desta aproximação. Aqui na minha lembrança, atualmente bem reavivada com essa reclusão, pois tudo volta a passar na minha cabeça como um filme velho e sendo revivido. Ainda dos meus tempos deixando a molequice descobri O Pasquim e logo depois, Movimento, Folhetim, Coojornal e tantos outros. Até o dia em que descobri um tesouro - ou o caminho dele. Existia uma banca, que até hoje funciona na cidade, hoje mais como loja dessas de tem tudo, mas ainda vendendo jornais e revistas, ali na praça Machado de Mello. Ele recebi os jornalões de longe e me encantei com o Jornal do Brasil. Nem sei se ainda vinham de trem, mas seu horário de chegada na cidade era sempre lá pelas 15h30 e 16h. Corria para buscar o jornalão carioca e aos domingos colecionava, tendo muitos recortes até hoje guardados de matérias lá publicadas. A Revista de Domingo era um deleite para meus olhos, boca e coração. E o que dizer do Caderno Ideias? Por ele circulava a verdadeira e original Cultura deste país. Foi naquelas páginas que descobrir Carlinhos Oliveira, com sua coluna e jeito de escrever a me encantar. Colecionava os tijolões com os artigos semanais do Brizola, que apreciava por demais da conta.
O papel e impressão do JB era diferente dos demais, cheirava jornal de fato, tinha outro visual, aparência mais antiga, algo me ligando com aquilo e a pegada, confesso, arrebatadora. Sinto muito falta dessas leituras hoje e para matar saudade comprei outro dia pela Estante Virtual - e ainda não li -, o livro da Belisa Ribeiro, "Jornal do Brasil - História e Memória: Os Bastidores das edições mais marcantes de um veículo inesquecível" (Record, 2015). É o jeito encontrado por mim para matar saudade de tudo aquilo. Eu nas idas ao Rio, chegando quase sempre de ônibus, viajava na maionese só de imaginar o que se passava ali naquele predião da Av. Brasil 500, bem ao lado do terminal. Eu que lia o jornalão lá de Bauru, quando diante do lugar onde era feito, me arrepiava todo.
O papel e impressão do JB era diferente dos demais, cheirava jornal de fato, tinha outro visual, aparência mais antiga, algo me ligando com aquilo e a pegada, confesso, arrebatadora. Sinto muito falta dessas leituras hoje e para matar saudade comprei outro dia pela Estante Virtual - e ainda não li -, o livro da Belisa Ribeiro, "Jornal do Brasil - História e Memória: Os Bastidores das edições mais marcantes de um veículo inesquecível" (Record, 2015). É o jeito encontrado por mim para matar saudade de tudo aquilo. Eu nas idas ao Rio, chegando quase sempre de ônibus, viajava na maionese só de imaginar o que se passava ali naquele predião da Av. Brasil 500, bem ao lado do terminal. Eu que lia o jornalão lá de Bauru, quando diante do lugar onde era feito, me arrepiava todo.
Conto algo também sobre essa saudosa banca, de seu proprietário, cuja imagem e semblante não me saem da memória, mas seu nome já me escapou. Quem ali trabalhou por muito tempo foi o Toninho, esse que hoje é presidente do Conselho Deliberativo do Noroeste, foi também da Alto Astral. Eu molecote, ele um pouco mais velho, lembro muito deles dois me atendendo. Era ali que buscava o meu Pasquim e ia buscar o JB. Ficava na maior frustração quando, por algum problema de percurso, o danado não chegava. Nunca tive o mesmo apreço pelo Globo, que não teve a mesma regularidade na cidade e naqueles tempos, nem a mesma importância. Eram tipo água e vinho, bem diferentes, sem comparação.
Conto mais deste amor pelo JB. Quando os jornais não mais vinham para cá, acabei descobrindo onde era a distribuidora dele em SP capital, ali perto de onde ficava a sede da Record, lá pelos lados do Aeroporto de Congonhas e um funcionário de lá guardava as edições dominicais para mim. Em cada ida, passava lá e trazia de baciada, volumes imensos que, voltando de ônibus, eram devorados ali mesmo na viagem - como dormir com aquilo tudo ali ao lado?. Esse funcionário me acompanhou por outros dois endereços. Devia me achar muito louco em juntar as edições dominicais velhas. O fazia com uma sofreguidão quase perdida nos dias de hoje. Talvez resista em duas publicações, a Carta Capital e a Piauí, nada mais.
O tempo vai passando e muita coisa vai sendo apagada de nossa memória, que guarda somente alguns detalhes, não todos - por sorte não perco todos. No meu caso, impossível não associar esse amor com os jornais com essa banca da estação férrea, naqueles tempos o local de maior movimentação da cidade, antes até da inauguração do terminal rodoviário. O dono já me conhecendo, me passou seu telefone e ligava antes só para saber se o jornal havia chegado no dia e não perder viagem. E com ele em mãos, esquecia até dos jogos dominicais de futebol na TV. Quantas vezes não passei lá, comprei o jornal e o levei num embornal para o campo do Noroeste, pois ia e voltava de ônibus ver os jogos do meu time. Essas lembranças todas me voltam à mente, neste momento, quando a Folha de SP dá mais uma pisada na bola e desta forma, me afasto cada vez mais dos jornalões.
Sei não, mas creio ser inevitável não só a decadência, como o fim do ciclo deles, pois pararam no tempo e no espaço, perderam muito da credibilidade e sobrevivem pelo que um dia representaram para legião de ávidos leitores, como este que vos escreve cheio de saudade. Algo eu faço questão de afirmar por aqui: igual ao JB, creio que no Brasil, nem a Folha SP nos seus melhores dias chegou perto. O jornalão da condessa e do Nascimento Brito era phoda!!! E banca tão versátil como a da praça Machado de Mello, tô pra conhecer outra igual.
FRASES DE UM LIVRO PRA LÁ DE INSTIGANTE - "DE PERNAS PRO AR - A ESCOLA DO MUNDO AO AVESSO", EDUARDO GALEANO
Tem livros que só de bater os olhos já dá para se ter ideia de que é pra lá de instigante, provocante e altamente cheio de boas sugestões pra não sairmos da lida e irmos logo pra luta, confronto, pois do contrário nada acontecerá de bom pro nosso lado, o dos interesses populares. Eduardo Galeno, o escritor uruguaio que sempre fez a minha cabeça e a colocou pra funcionar, escreveu este livro em 1999 e ele sai publicado no Brasil pela gaúcha L&PM. Escolho algumas frases pra levantar o astral dos ainda dispostos a ir à luta:
- "As possibilidades de que um banqueiro que depena um banco desfrute em paz o produto de seus golpes são diretamente proporcionais às possibilidades de que um ladrão que rouba um banco vá para a prisão ou cemitério".
- "A economia mundial é a mais eficiente expressão do crime organizado. Os organismos internacionais que controlam a moeda, o comércio e o crédito praticam o terrorismo contra os países pobres e contra os pobres de todos os países, com uma frieza profissional e uma impunidade que humilham o melhor dos lança-bombas".
- "Os assaltantes que, à espreita nas esquinas, atacam a matonaços, são a versão artesanal dos golpes dados pelos grandes especuladores, que lesam multidões pelo computador. Os violadores que mais ferozmente violam a natureza e os direitos humanos jamais são presos. Eles têm as chaves das prisões".
- "A classe média continua vivendo num estado de impostura, fingindo que cumpre as leis e acredita nelas e simulando ter mais do que tem, mas nunca lhes foi tão difícil cumprir esta abnegada tradição. Está asfixiada pelas dívidas e paralisada pelo pânico, e no pânico cria seus filhos. Pânico de viver, pânico de empobrecer, pânico de perder o emprego, o carro, a casa, as coisas, pânico de não chegar a ter o que se deve ter para chegar a ser".
- O poder, que pratica a injustiça e vive dela, transpira violência por todos os poros. (...) O pecado está na derrota, não na injustiça. (...) A liberdade de trocar de país é um privilégio do dinheiro".
- "O direito do patrão de despedir o trabalhador sem indenização nem explicação se chama flexibilização do mercado de trabalho. (...) o saque dos fundos públicos pelos políticos corruptos atende ao nome de enriquecimento ilícito".
- "A América Latina continua doente de racismo: de norte a sul, continua cega de si mesma. Nós, os latino-americanos da minha geração, fomos educados por Hollywood. (...) Em nossas sociedades, alienadas, adestradas durante séculos para cuspir no espelho, não é fácil aceitar que as religiões originárias da América e as que vieram da África nos navios negreiros mereçam tanto respeito quanto as religiões cristãs dominantes".
- "A maioria dos intelectuais das Américas tinha certeza de que as raças inferiores bloqueavam o caminho do progresso. (...) Nas Américas, a chamada democracia racial é uma pirâmide social. E a cúspide rica é branca ou pensa que é branca. (...) O racismo e o machismo bebem nas mesmas fontes e cospem palavras parecidas".
- "Pobres contra pobres, como de costume: a pobreza é um cobertor muito curto e cada qual puxa para um lado. (...) A lei é como uma teia de aranha, feita para aprisionar moscas e outros insetos pequeninos e não os bichos grandes. (...) Os delinquentes ricos escrevem o roteiro e dirigem os atores. (...) Os numerosos ninguéns, os fora de lugar, são economicamente inviáveis".
- "Nunca falta uma guerra ou guerrinha para levar à boca dos telespectadores famintos de notícias. (...) Boa parte da opinião pública norte-americana padece de uma assombrosa ignorância a respeito de tudo o que ocorre fora de seu país, e teme ou despreza o que ignora".
- "Não é preciso ser um expert em politicologia para perceber que, em regra, os discursos só alcançam seu verdadeiro sentido quando entendidos ao contrário. (...) Obediente às ordens do mercado, o Estado privatiza. Não seria o caso de desprivatizá-lo, estando o Estado como está, nas mãos dos banqueiros internacionais e dos políticos nacionais que o desprestigiam para depois vendê-lo, impunemente, a preço de banana?".
- "O direito ao trabalho já de reduz ao direito de trabalhar pelo que querem te pagar e nas condições que querem te impor. (...) Encontrar trabalho, ou conservá-lo, ainda que sem férias, sem aposentadoria, sem nada, e ainda que seja em troca de um salário de merda, é algo para celebrar a um milagre. (...) Os países tremem ante a possibilidade de que o dinheiro não venha, ou de que o dinheiro fuja".
- "A salvação do meio ambiente está se tornando o mais brilhante negócio das mesmas empresas que o aniquilam. (...) Em nome da estabilidade democrática e da reconciliação nacional, promulgaram-se leis de impunidade que desterraram a justiça, enterraram o passado e elogiaram a amnésia. (...) Em nome da liberdade de empresa, da liberdade de circulação e da liberdade de consumo, torna-se irrespirável o ar do mundo".
- "Nesta civilização onde as coisas importam cada vez mais e as pessoas cada vez menos, os fins foram sequestrados pelos meios; as coisas te compram, o automóvel te governa, o computador te programa, a TV te vê. (...) Até algum tempo atrás, o homem que não devia nada a ninguém era um virtuoso exemplo de honestidade e vida laboriosa. Hoje, é um extraterrestre. Quem não deve, não é. Devo, logo existo. Quem não é digno de crédito, não merece nome ou rosto: o cartão de crédito prova o direito à existência".
- "A maioria, que se endivida para ter coisas, termina não tendo outra coisa senão dívidas para pagar dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que só pode materializar delinquindo. (...) A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo ao desuso imediato. Tudo munda no ritmo vertiginoso da moda, posta a serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos e são substituídas por outras de vidas não menos fugaz".
- "Por mais que cada cidadão compre, sempre será pouco em relação ao muito que é preciso vender. (...) Se todos consumíssemos como consomem os espremedores do mundo, ficaríamos sem mundo. (...) São muitos os cidadão que perdem a opinião por falta de uso".
- "A história oficial, memória mutilada, é um longa cerimônia de autoelogio dos mandachuvas do mundo".
Eu cada vez me guio mais somente por leituras dessa natureza, pois quero cada vez mais permanecer em estado de revolta contra tudo o que sei fazem contra nós. Galeano é um dos que leio e faço questão de divulgar, levar a mensagem adiante. DÓI DEMAIS A GENTE SABER DAS COISAS TODAS...
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