domingo, 30 de dezembro de 2007

UMA ALFINETADA (14)


A última do ano já saiu lá n'O ALFINETE de ontem e hoje sai aqui. Reflexões sobre o ato de voar e do assopro.



VOAR É SAIR DO CHÃO PARA MUDAR TUDO



Até parece que as pessoas perderam a vontade de voar. E é muito triste ver essa imensidão de pessoas, com suas asas mais do que prontas, porém com mêdo de tirar os pés do chão. Algo as seguram, sentem-se imobilizadas, pois voar implica riscos e no mundo atual, ninguém está mais disposto a arriscar nada. Eu não consigo acreditar num Deus que me impede de fazer coisas novas, inusitadas, de me ver alçando vôo, sendo feliz e fazendo muito mais gente feliz. Jesus era um revolucionário no seu tempo, queria mudar tudo e o que nos é apresentado hoje, serve ao interesse somente dos que não querem que ninguém saia voando por aí. E voar é ser feliz. Voar significa abandonar as certezas.

Todos nós estamos enfiados em vidas mais do que chatas, monótonas e sem grandes novidades. Muitos seguem falas ditas por seres que nos querem ver como dócil manada, calados e servis. Nada deve ser mais triste do que o caminho do matadouro. Não foi para isso que viemos a esse mundo. Viemos para aproveitar e usufruir disso tudo à nossa disposição. E se não o fazemos, os culpados somos nós mesmos que, damos ouvidos a quem nos coloca verdadeiras mordaças na boca e amarrações nos pés.

Parei para ouvir uma velha senhora essa semana, muito triste, resmungando que não soube aproveitar sua vida, deixando de fazer isso e aquilo. Estava claramente arrependida pela vida reclusa que havia levado. Hoje, já velha, a ficha havia caído. A tristeza era que, com o pouco de tempo restante pela frente, não via mais condições de tirar o atraso. Um arrependimento a remoia por dentro. Levou uma vida cheia de regras, condicionamentos, no recato e dando ouvidos aos outros, deixando de voar. Nas reclamações atuais percebe-se que, se tivesse voado, teria tido menos urticária, artrite e o grande mal desse século, a depressão e o stress.

E esse viver não se resume às nossas vidas pessoais. Cada país precisa viver, encontrar e reencontrar seu próprio destino. E para isso gosto decitar o caso da Bolívia. Esse país sempre foi dominado por uma elite corrupta e centralizadora. Um índio, vindo das camadas mais pobres assume a presidência e cumpre exatamente o que havia prometido em campanha. Ele propõe o vôo, que o seu país saia da letargia, da submissão e se rebele, se faça ouvir. É evidente que, os interessados em que o país continue calado, quieto, conduzido como gado, se alevantam e querem que tudo volte a ser como dantes. A situação fica tensa e perigosa. O projeto anterior determina que nada mude. O novo quer refundar o país e criar uma nação de iguais, onde quem nunca tinha batido as asas, passe a fazê-lo. Em outros países latinos algo muito parecido está em curso, sem se esquecer de que os meios têm que estar de acordo com os fins.

Eu misturo tudo, vida pessoal, religião, política e quero com isso mostrar que ficando indiferente, deixando a vida te levar sem nada propor, aí é que nada irá acontecer mesmo. Eu sei muito bem o que quero e se ainda não alçei vôo é porque também tenho meus mêdos, afinal vivo aqui e recebo influências de todos os lados. Da necessidade de mudanças, disso não tenho dúvidas. E isso já é um ótimo começo. E o voar coletivo é muito mais prezeiroso do que o solitário. Voemos todos.

Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, desejando a todos um ótimo ano novo, sem o bolor das certezas absolutas ou dos textos doutrinários

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