NO ESCURINHO DO CINEMA
Esse refrão é conhecido por todos, desde quando Rita Lee o eternizou numa de suas canções, caindo como uma luva toda vez que alguém quer produzir algo relacionado às salas de cinema brasileiras. A serventia é ainda mais valiosa quando o tema é o cinema erótico e as salas que, ainda resistem ao tempo e permanecem abertas com exibições diárias de filmes de sexo explícito e outros atrativos. É que naqueles espaços, no escurinho de suas salas acontece literalmente coisas imagináveis e outras um tantoinimagináveis. Aqui em Bauru, um deles resiste bravamente a toda a invasão proporcionada, primeiro pelos aparelhos domésticos de vídeo cassete e mais recentemente pelos de DVD.
O antigo cine Vila Rica, localizado na rua Gustavo Maciel, três quadras abaixo do Calçadão comercial é conhecido de todos, pois está aberto há mais de quarenta anos, sempre no mesmo local. Hoje, o nome foi mudado para Cine Shopping Atenas e está arrendado para um grupo de fora, sendo tocado exclusivamente com a temática erótica. Quem passa defronte a entrada só não se aventura a uma espiada nos cartazes e produtos expostos se já está habituado com aquilo tudo, pois do contrário, pelo menos uma viradinha de pescoço ocorre naturalmente. Muitos cartazes com mulheres nuas, colocadas de ambos os lados de uma porta que, permanecendo aberta 24h por dia, atraindo os interessados. Alguns minutos parados ali perto nota-se claramente como é o procedimento dos ainda clientes. Já na aproximação a preferência é por não ser visto, com olhadelas para os lados e ao se ver só, a entrada se faz de forma rápida e sorrasteira. Uma vez lá dentro, as opções são os filmes no telão ou cabines com um filme exclusivo, além dos produtos expostos para comercialização. Até as pedras do mundo mineral sabem que nesses locais rolam muito mais do que um mero filme de sexo. Rola exatamente o sexo. É isso que queria registrar.
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Aguardo mais de uma semana, ligo e a resposta é negativa, ninguém quer falar sobre o cinema pornô e qualquer coisa que tente fazer com gravador e máquina fotográfica é terminantemente probido. Insistir será pura perda de tempo. Por sorte encontrei vendo os letreiros, um velho conhecido, garçon de um restaurante da cidade que, meio sem graça topou me falar sobre o cinema: "Eu venho pouco, pois não tenho aparelho de vídeo em casa. Gosto de ver filme de mulher nua, mas vejo muitas outras coisas por lá. Acho até que a maioria vai para ver filmes de homem e de travesti. Já tentaram me apalpar lá dentro, mas quando disse não estar interessado, não fui mais molestado. O senta e levanta nas poltronas é muito grande. Fico na minha e só vou porque é barato e gosto muito dos filmes com mulheres brasileiras. Sou solteirão e tenho outros amigos da mesma idade (ele tem por volta de uns 50 anos) que também estão sempre por aqui. Estou desempregado e não tenho muitas opções".
manter as portas abertas". Mais não pergunto, pois ele não têm nenhum envolvimento com o Atenas.
Na ânsia de conseguir um depoimento de algum frequentador, abordo um que acabei vendo por lá nas minhas andanças pelas imediações. É um jovem, trabalha com artes, tem por volta de uns 25 anos, alto, loiro e não se intimida em responder umas perguntas a respeito. A única exigência é que não o identifique. Abaixo um resumo do que me relatou: "O que acontece lá dentro é o que sempre rolou em cinemas desse tipo. Rola sexo, não só oral. Rola de tudo. Eu vou para conhecer outras pessoas, curto aquele momento e depois vou embora. Na maioria das vezes não vejo a cara do outro, faço a abordagem sentando ao seu lado e o tocando. Faço tudo espontâneamente, sem envolvimento com grana. Durante o dia a frequência é maior, por causa do comércio aberto e a noite é mais nos finais de semana e na madrugada. Mulher mesmo não vai lá sózinho, as que vão, sempre chegam já acompanhadas. É um minoria que vai só para assistir filmes. Todo mundo sabe o que irá encontrar e se vai e para isso mesmo".
Henrique Perazzi de Aquino, escrito em 19/12/2007
5 comentários:
Olá Henrique,
Parabéns pela reportagem em defesa das nossas salas de cinema. Uma coisa que tenho notado nessas viagens todas é que muitos dos cinemas de rua foram comprados pela Igreja Universal... é uma pena.
Aproveito também a oportunidade para que não deixe de apoiar o Manifesto em defesa do IBRAM e do PL 7568/2006.
Conto com a sua colaboração. Caso seja possível, gostaria que também encaminhasse para os e-mail1s dos outros particpantes da oficina.
um abraço e até mais,
Paulo Lima - IPHAN
henrique,
e dizer que o Pelé vendia gibi velho na porta do Cine Bauru (r. 1o. de agosto), para comprar a entrada da matinê...Eu vi.
Abraços.
MURICY
Henrique,
Ficou classe a matéria. É do tipo que eu gosto: uma avaliação antropológica de um comportamento excluído. Demais, parabéns.
Vc poderia mandar alguma coisa pra colocar no próximo zine!
Ivan Meneses
vou com minha esposa moro em jau e kurto fantasias adoramos ir la
Vou aparecer por lá na quinta-feira. Estou indo de sp para bauru à trabalho.
Quero conhecer.
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