BIENAL DO LIVRO, CORREDOR A CORREDOR
Sábado, 23/08, um grupo de bauruenses, aproximadamente 20 pessoas, a maioria ligados às Bibliotecas Públicas Municipais, saem por volta das 5h30, lotando um micro-ônibus, com destino a capital paulista, ou melhor a Bienal do Livro, lá no Anhembi. A motivação é grande, mas a sonolência também, tanto que a viagem ocorre de forma quase imperceptível, com quase todos dormindo. Na segunda parada, ocorre uma nova destinação de roteiro. Tudo começaria no Museu da Língua Portuguesa, junto à Estação da Luz. Percorro aquelas instalações, a saudosa estação e o Parque da Luz contando histórias mil daqueles locais para o meu companheiro de viagem, o filho, Henrique Aquino, 14 anos. Numa das filas sou surpreendido por um caricaturista de rua e tenho a cara retratada. Bela recordação, com verruga e tudo.
Eram 12h30 quando somos deixados defronte as bilheterias da Bienal. Muitas filas, afinal, estávamos no penúltimo dia do evento e por mais que alguns ainda se surpreendam, livro atrai muita gente. Logo de cara a percepção de que o público cresce a cada minuto. A primeira providência é darmos uma boa lida no jornal da Bienal, com edições diárias e buscar orientação: por onde começar? Ao olhar para os lados, notamos a dispersão do grupo. Nada mais justo, afinal cada um possui uma expectativa própria e permanecer juntos seria um sofrimento para todos. Iniciamos a maratona, eu e o filho, tendo exatos seis horas e meia para vasculhar aquela imensidão à nossa frente.
O informativo nº 11, o penúltimo, informava existir “uma atividade cultural a cada três minutos”. São quadras, com denominação por letras, de A até O. Decidimos circular uma a uma, procurando não desviar nas sete avenidas que as cortam. Tento contar a relação dos expositores e acredito ter chegado a 320 estandes, isso sem contar os da Praça de Alimentação e os Espaços Literários. É muita coisa para tão pouco tempo, pois cada quadra deve ter lá seus 100 metros. A maratona exige dedicação e persistência. O acordo feito foi percorrer tudo e depois, sobrando tempo, voltar naqueles locais que mais despertaram nossa atenção. Antes de tudo, nada de almoçar, seria perda de tempo e esse não teria como ser recuperado. Optamos por um lanche, vapt-vupt. Os preços estavam bem próximos dos das refeições, mas demoravambem menos.
Logo de cara, um jovem vendedor tenta nos empurrar uma assinatura da revista Época, no estande na editora Globo. Ouvimos durante um certo tempo, mas quando o rapaz, querendo demonstrar esperteza, pergunta se havíamos assistido ao último Fantástico e ouve um sonoro "NÃO", vem com essa: “Ah, já sei, preferem o Pânico?”. Foi o que bastou, pegamos uma revista cada e fugimos sem olhar para trás. Ouvir aquilo numa Bienal do Livro e logo na entrada era para ser uma ducha de água. Não foi, pois logo a seguir, um xará nosso, Henrique, no estande da Secretaria Municipal de Cultura paulistana, nos fala da cultura na capital. “Aqui você não vivencia cultura gratuita diariamente só se não quiser ou não estiver interessado. Temos opções para todos os gostos”, diz. Pedimos uma sacola cada e vamos juntando os folhetos, folders e catálogos de todos os lugares por onde passaríamos.
Na Câmara Riograndense do Livro paro e explico ao filho, que em Porto Alegre existe uma das mais antigas e charmosas Feiras do Livro do país. Continuamos juntando material. O filho fica fascinado com a Comix Book Shop, onde a variedade de mangás é avassaladora. Ele como adepto do segmento cultura japonesa, quer permanecer ali um tempo além do possível. Voltaremos para compras (confirmada depois). Ao passar diante da editôra Abril, sou obrigado a repetir algo, sempre dito por mim: “Em casa, revista Veja nem de graça”. Na Ática e na Scipione, muitos livros já lidos por ambos e como já os temos (sim, alguns livros são meus e dele, posse dupla), principalmente os da série Reencontro, a visita serviu para diagnosticar os que faltam na coleção. Muitas editoras famosas à nossa frente, numa apresentação de cair o queixo. Foi ótimo circular entre os livros da Paz eTerra, Martins Fontes, Rocco, Cia das Letras e tantas outras. Repetindo o cantor Roberto Carlos, na pieguice que lhe é peculiar, não resisti: “São tantas emoções”.
Mesmo com unidade do SESC em Bauru, não resisto e compro quase uma dezena de CDs da coleção, “Por seus autores e intérpretes”, vendidos a R$ 1 real cada. Aqui ganho nova sacola. Na Melhoramentos, rimos ao observar o apuro de um cansado Ziraldo, flexionando os dedos, diante de uma interminável fila de autógrafos. Muitas outras editoras com espaços magníficos, como a Cortez, Loyola, Saraiva, Moderna, Nova Fronteira, Record e no estande da Brasiliense, a saudade em rever os livros de uma série que fez minha cabeça, “O que é”. Tiro uma foto do vendedor da Caros Amigos, que esteve em Bauru na última feira acontecida na cidade, na USC, três anos atrás. “Claro que me lembro, nos colocaram num calabouço, amplo, mas um porão”, relembra ele. Na Panini, o filho esquece da vida e o deixo lá por meia hora. Um imenso Hulk, deixa claro que os super-heróis fazem sucesso até ali. Maurício de Souza causava congestionamentos com um lançamento de um gibi em formato de mangá.
A Imprensa Oficial distribuia cartões com frases de Machado de Assis, como essa: “O melhor dos bens é o que não se possui”. Trouxe grande quantidade, para mim e amigos. No espaço dedicado às editoras universitárias, lá está a nossa EDUSC. Numa espécie de outdoor, a famosa frase de Monteiro Lobato,“Um país se faz com homens e livros”, na estande da editora Globo está a chamar a atenção de todos. “Quem não recebeu o toque até agora, diante de todo esse incentivo recebido aqui, dificilmente fará parte do clube”, me diz um senhor postado diante da tela. Na última rua, passamos mais tempo dentro do estande da Cosac Naify, onde clicamos ao lado de uma foto montagem com Pablo Neruda. Mais papéis para nossas bolsas. Numa aglomeração logo adiante, o ex-secretário Gabriel Chalita e seus livros de auto-ajuda.Tomamos o sentido contrário e damos de cara com o candidato Geraldo Alckmin em plena campanha. Fugimos dali, voando. Logo a seguir o simpático jornalista Domingos Meirelles autografando seu livro sobre a Revolução de 30. Mergulhamos profundamente nos livros de bolso da gaúcha LP&M, quando avisto o senador Suplicy. Tietagem explícita e peço uma foto junto a ele.
Primeira etapa encerrada, o peso carregado só aumenta, começamos a repassar os lugares mais atraentes. Paradas rápidas para comer algo e uma vontade de começar tudo novamente, mesmo com os pés manifestando vontade de engriparem. Seguimos em frente e vamos, pouco a pouco, trombando com o pessoal de Bauru, mas nada de parar. Cada um continuava envolvido em suas buscas pessoais. Quando o relógio nos alerta faltar meia hora para a despedida, o último corre-corre. Na hora marcada, todos se reencontram como num passe de mágica. Ninguém atrasa. Às 19h caímos na estrada e foi aí que Elizeth Barro, a responsável pela Biblioteca Central de Bauru anuncia em alto e bom som, com um livro nas mãos: “Vocês talvez não saibam, mas encontrei um livro infantil com ilustrações de alguém entre nós”. Aplausos gerais para Nilson Batista Jr, da Gibiteca. O sono bate em todos e antes da meia noite estávamos batendo em Bauru. Eu, com três sacolas, querendo chegar logo em casa para mergulhar naquilo tudo.
2 comentários:
Tietagem com o Suplicy e a Elza Soares eu aceito, mas cuidado com os políticos de Bauru, que hoje te abraçam e amanhã te apunhalam.
FRP
HENRIQUE,
leio todos...mas, como ex-membro do CODEPAC e um dos responsaveis pelo tombamento do Aero Clube, gostaria de ver uma Memória Oral sobre as doações e suas reservas aos herdeiros dos doadores.
Abraços e continue.
MURICY
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