domingo, 14 de abril de 2013

AMIGOS DO PEITO (78)

UM PROJETO, ALGO FEITO LÁ ATRÁS POR DUAS PESSOAS E AQUI RELEMBRADO HOJE

Hoje, voltando de Sampa recebo uma ligação na estrada e do outro lado da linha um jornalista de Bauru vendo se sabia quando foi que restauraram o último carro ferroviário do Projeto Ferrovia para Todos, o da composição da Maria Fumaça. Sabia, pois atuava nas hostes municipais nesse período e contei a ele mais ou menos isso: “Claro que sei. Foi em 2007 e desde então nenhum outro foi restaurado. O acervo só cresce, mas restaurar mesmo, aquele carro de passageiros de 1ª Classe, com estofamento em vinil plástico foi o último”. Ele retruca: “Mas por que disso? O que acontece?”. Minha resposta: “O que acontece não sei, o fato é que o Projeto está um tanto parado e se existe alguém que possa responder não sou eu. A composição continua circulando e querendo ampliar o trecho do seu percurso, mas nada mais foi restaurado. De minha parte acho que se firmassem o pé e restabelecessem o Conselho Deliberativo do Museu Ferroviário de Bauru tudo poderia ser facilitado, pois ele poderia ser um captador de recursos”. Sua última pergunta: “E por que esse Conselho não funciona?”. Minha resposta: “Também não sei e não tenho detalhes nenhum disso. O que sei é que poderia fazer a captação e até o acompanhamento em futuros restauros, pois acervo para isso é o que não nos falta”. E mais não me foi perguntado.

No resto da viagem vim relembrando a história daquele restauro, ocorrida em 2007 e contada aqui no blog num texto de 26/11/2008, que pode ser lido clicando no link a seguir: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=RESTAURO+CARROS+FERROVI%C3%81RIOS+-+. Nunca mais me esquecerei daquele restauro, pois conseguimos envolver muitos empresários e juntos com a Administração Municipal, entregamos um belo de um presente para a cidade. Tenho profunda admiração pelo Projeto Ferrovia para Todos e minha torcida é para que retorne à sua função original e precípua, que é a de restaurar, revitalizar e fomentar a ferrovia em Bauru. Diante de tudo o que vivenciei naquele restauro, algo me tocou profundamente e quero compartilhar, deixar mais uma vez registrado, como um dos momentos mais dignos de tudo o que vivenciei nos quatro anos que lá atuei.

Num momento em que parte considerável dos religiosos desse país tentam desmerecer e achincalhar o Movimento LGBT, com muito preconceito, racismo, homofobia, intolerância e desmedida raiva, preciso dar um breque em tudo e enaltecer duas pessoas, dois exemplos de dedicação, esmero, boa vontade e um olhar voltado para o bem comum. Que a história desses dois sirva de exemplo para tantos outros, principalmente os mais abastados de Bauru, que para ajudarem, precisam ver seus nomes citados a todo instante em placas e reverências mil. RENATO MUNHOZ e FERNANDO LIMA, eram em 2007, proprietários do Ateliê Estofaria Artesanal, localizado lá no alto na rua dos Andradas, vila Falcão, onde também um deles residia e tocavam como podiam uma coletiva firma. Não trabalhavam simplesmente com estofamento, pois existia um diferencial no que faziam. Com um olhar atento, desigual e antenado com novas possibilidades, a proposta era inovar, ousar e fazer diferente, algo artesanal e com um design mais do que próprio, só deles. Tentavam se firmar num competitivo mercado. Um dia fizeram um passeio na composição férrea da Maria Fumaça, gostaram e lá tomaram conhecimento de que o projeto estava restaurando um carro de passageiros, mas com dificuldades em encontrar parceiros para sua execução final. Foi o bastante para se oferecem em recuperar gratuitamente toda a parte de estofados do novo carro. A Prefeitura através da Secretaria Municipal de Cultura comprou todo o material e eles fizeram isso, mesmo com todas as dificuldades que viviam, tanto que logo a seguir tiveram que fechar o pequeno negócio. Foram mais de cinquenta estofados, exaustivo trabalho, intensa movimentação. Foram abnegados, incansáveis, de uma fibra inquestionável. Dentre todos os que nos doaram algo para aquele trabalho, vejo neles o mais valoroso, pois eram os que menos tinham e o fizeram com amor e carinho. Meninos de ouro.


Hoje, os vejo morando juntos, ali pertinho da Oficina Cultural, irmanados e felizes, mas além de relembrar a história do muito que fizeram pelo Projeto Ferrovia para Todos, quero demonstrar com tudo isso um algo mais e nisso não cometo exagero nenhum: os menos capitalizados ajudam muito mais projetos dessa natureza dos que os muito capitalizados. Renato e Fernando moram no meu coração de forma eterna, pelo muito feito e conto isso para todos que trombam comigo, pois são pessoas mais do que especiais. Humanas e sensíveis personagens dessa cidade, merecedoras de um reconhecimento que não tiveram, não por falha de ninguém, mas porque aquilo tudo acaba se esvaindo com o tempo. Restabeleço um pouco disso relembrando um bocadinho do que fizeram. Hoje quando vejo discussões homéricas sobre a falta de patrocínio para o centenário Noroeste continuar sobrevivendo, não consigo comparar ambas as participações, pois numa a transparência é exigida, noutra nem tanto. Ocorrendo transparência, isso sendo regra, com certeza, as parcerias virão e até de forma desinteressadas de publicidade, como no ocorrido com os dois amigos citados no texto. Ano passado estive num jantar na casa deles e também revivo a história aqui para deleite dos que não os conhecem: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=DOLOROSAS+DESPEDIDAS+E+DOIS+SHOWS+NA+SEQU%C3%8ANCIA++ 

5 comentários:

Anônimo disse...

Henrique
Renato é meu cabelereiro e maquiador qdo estou em cena nas peças de teatro que exigem excelência de qualidade em termos de maquiagem de envelhecimento, como o "La Vita Passa" ... e Fernando é ator na Cia de Artes "Celeiro da Arte" no novo espetáculo da companhia que estreia em julho de 2013....e começa a venda desses espetáculos nas escolas a partir de agosto do corrente ano....adoro esses dois....são meus amores....
Madê Correa

Anônimo disse...

http://www.campinasvirtual.com.br/abpf.html

Campinas Virtual | ABPF - Trem Maria Fumaça de Campinas
www.campinasvirtual.com.br

SILVIO SELVA

Anônimo disse...

caro Henrique
Que bom que ainda existem pessoas assim!!! Parabéns a eles!!!
Goiás Brasil

Anônimo disse...

Henrique

Estava lá na estação no dia em que foi entregue esse último vagão recuperado. Foi uma festa bonita, o pessoal da Lwart de Lençóis, acho que o da Copical, a madeireira lá dos altos do Vista Alegre e esses dois moços, que só hoje fico sabendo ao certo a grandiosidade do que fizeram. Doaram a sua arte, o seu tempo, o que sabem fazer e bem feito para que tudo pudesse de fato acontecer. Como é belo isso.

Só não entendo dos motivos de lá para cá mais nenhum vagão desses ter sido recuperado, sendo que tantos estão aí parados na estação. Passo em cima do viaduto no caminho ao Fórum e nas espiadas que dou para a linha ,uma dor me bate funda, pois vejo aquela fila de vagões, todos fora da estação e nada mais foi feito.

Qual a explicação que o pessoal da Prefeitura dá para isso, caro Henrique. O que dizem? Existe justificativa para isso.

Eu quero andar de trem.

Alvarenga

Anônimo disse...

Parabens a esse meu amigo de longa data! Renato Munhoz da Costa voce merece muito sucesso pois eu sei o quanto foi dificil o inicio... la em 1996! Saudades

Ori Silva