domingo, 21 de abril de 2013

FRASES DE UM LIVRO LIDO (68)

“PADRÕES DE MANIPULAÇÃO NA GRANDE IMPRENSA”, ENSAIO DE PERSEU ABRAMO
Publiquei um texto ontem, sábado, 20/04 no Bom Dia Bauru sobre as distorções que a mídia tenta impor ao resultado das eleições das urnas venezuelanas e cito esse livrinho, editado pela Editora Perseu Abramo (2009, 64 páginas) e ao ir às bancas hoje, vejo estampado na capa da revista semanal Época (Editora Globo), que o escritor peruano Mario Vargas Lhosa, assumido direitista, afirma que o Brasil não deveria reconhecer a eleição de Maduro e enumera imbecilidades só aceitas em histórias da carochinha. Uma vergonha para ele e para a imprensa que reproduz aquilo como algo sério. Daí, o livrinho escrito inicialmente ainda na era FHC, primeira edição de 2003, ser mais atual que nunca. Vejam algumas das frases selecionadas por mim:

- “A grande mídia brasileira é uma das mais competentes do planeta. (...) A mídia brasileira, tecnicamente, nunca fica a dever a qualquer grande jornal. (...) As campanhas publicitárias brasileiras são mundialmente famosas – e premiadas. (...) Azar o nosso. (...) A grande mídia constitui, hoje uma coluna de sustentação do poder. (...) Constrói consensos, educa percepções, produz realidades parciais apresentadas como a totalidade do mundo, mente, distorce os fatos, falsifica, mistifica – atua, enfim, como um partido que, proclamando-se porta-voz e espelho dos interesses gerais da sociedade civil, defende os interesses específicos de seus proprietários privados. (...) A revolução conservadora propiciada pela tecnologia introduziu pelo menos um novo padrão de manipulação, o que permite fabricar socialmente a amnésia, mediante a imposição da velocidade informativa (...), fazendo que rapidamente seja esquecido aquilo que havia pouco era considerado fundamental. A aceleração tecnológica do mundo prova-se um eficaz instrumento de dominação. (...) Nos ensinou a desmontar a notícia estampada nos jornais. Mostrou os artifícios que permitem aos jornais afirmar, em manchetes, o contrário do que realmente aconteceu. (...) É igualmente claro a determinação de manipular a notícia”. (...) ...se a grande mídia forma, hoje, uma espécie de Ministério da Verdade orwelliano, encarregado de manipular informações sobre a realidade, produzir amnésia e criar consensos, nós podemos, em contrapartida, confeccionar uma Grande Enciclopédia das Manipulações”, págs. 7 a 13, José Arbex Jr.

- “...distorção e pretensão de algumas empresas jornalísticas de se organizar e tentar assumir o papel de partido político. (...) Situa o jornalismo praticado pelo mercado como um instrumento de controle político das elites, contrário aos interesses maiores do povo brasileiro. (...) A motivação real não é o lucro, mas está no campo político, na lógica do poder.(...) É a adesão da imprensa brasileira aos valores do neoliberalismo e à participação da mídia no exercício do poder formal das elites dominantes. (...) A diversidade e a pluralidade de informações e opiniões deixam de ter seu espaço na sociedade, ela se transforma em autoritarismo. (...) Não existe mais espaço para que os veículos destoassem do pensamento único. (...) Nada mais atual do que a ocultação total, parcial ou de aspectos da realidade. (...) Manipulação que distorce a realidade, consome os veículos de comunicação todos os dias de maneira sutil, contida, outras, de modo escancarado, grosseiro e agressivo”, págs. 15 a 22, Hamilton Octavio Souza.

- “A maior parte do material que a imprensa oferece ao público tem algum tipo de relação com a realidade. Mas essa relação é indireta. É uma referência indireta à realidade, mas que distorce a realidade. (...) A maior parte dos indivíduos, portanto, move-se num mundo que não existe, e que foi artificialmente criado para ele justamente a fim de que ele se mova nesse mundo irreal. A manipulação das informações se transforma, assim, em manipulação da realidade. (...) No padrão de ocultação não há a menor chance de que o leitor tome conhecimento de sua existência por meio da imprensa. O fato real foi eliminado da realidade, ele não existe. (...) O órgão de imprensa praticamente renuncia a observar e expor os fatos mais triviais do mundo natural e social e prefere apresentar as declarações, suas ou alheias, sobre esses fatos. Freqüentemente, sustenta as versões mesmo quando os fatos a contradizem. (...) Se o fato não corresponde à minha versão, deve haver algo errado com o fato. (...) O leitor é induzido a ver o mundo não como ele é, mas sim como querem que ele o veja. (...) Alguns assuntos jamais, ou quase nunca são tratados pela imprensa, enquanto outros aparecem quase todos os dias. Alguns segmentos sociais são vistos pela imprensa apenas sob alguns poucos ângulos, enquanto permanece na obscuridade toda a complexa riqueza de suas vidas e atividades. Alguns personagens jamais aparecem em muitos órgãos de comunicação, enquanto outros comparecem abusivamente. (...) O leitor/espectador é induzido a acreditar não só que seja assim, mas que assim será eternamente, sem possibilidade de mudança. (...) A realidade real foi substituída por outra realidade, artificial e irreal, anti-real, e é nesta que o cidadão tem que se mover e agir. De preferência, não agir! (...) A distorção da realidade pela manipulação da informação é deliberada, tem um significado e um propósito. (...) São os proprietários das empresas de comunicação os principais – embora não os únicos – responsáveis pela deliberada distorção da realidade, pela manipulação das informações. (...) Os grandes e modernos órgãos de comunicação, no Brasil, parecem-se efetivamente muito com os partidos políticos. (...) Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com os seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam os seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal, e sobre ele exercem todo o seu poder. (...) As classes dominadas, portanto, tenderão a lutar pela transformação dos órgãos privados e estatais em órgãos públicos, sob formas de mecanismo que evidentemente ainda estão por ser engendrados e desenvolvidos. E finalmente, então, o jornalismo poderá se libertar do seu pior inimigo: a imprensa tal ela existe hoje”, págs. 23 a 51, Perseu Abramo.

- “Sem medo de exagerar, pode-se comprovar que técnicas jornalísticas e a experiência de profissionais regiamente pagos são utilizadas permanentemente para encobrir a realidade. (...) A manipulação é generalizada e constante, contando-se nos dedos os profissionais e veículos que têm procurado manter eqüidistância e interesses neutros. (...) Os editores esconem a verdade, isto é, os problemas, nas últimas quatro linhas – o que lhes permite fingir, que não estão deixando de noticiar nada, uma atitude hipócrita, pois eles sabem muitíssimo bem que a informação que impressiona o leitor é aquela estampada no título e no lide. (...) Diariamente, os jornais estão cheios desse truque de escondeção da verdade. (...) Nesses tempos de hipocrisia e cinismo, os de-fomadores de opinião encobrem até genocídios e depois, angelicalmente, escrevem ou fazem comentários indignados quando, em certa época do ano, aparecem os relatórios de organismos. Indignação, por que. São cúmplices do genocídio e de tudo o mais... (...) Sempre pareceu odioso os meios de comunicação ignorarem determinados fatos”, págs. 53 a 63, Aloysio Biondi.

3 comentários:

Anônimo disse...

Este é um ótimo livro, Henrique!

Em certo sentido, avant la lettre...

PEDRO POMAR

Anônimo disse...

PARAGUAI - Onde está a indignação da mídia e da direita brasileira com as fortes suspeitas de fraudes nas eleições paraguaias? E com as acusações de crimes que teriam sido cometidos pelo do presidente eleito?

Gilberto Maringoni

Anônimo disse...

Paraguai: venceu o que comprou mais votos

por DIALOGOS em abr 22, 2013 • 21:21

Martin Almada*



No bojo do triunfo da Associação Nacional Republicana (Partido Colorado), uma “sociedade anônima de delinquentes”, podemos afirmar que a sociedade política paraguaia é complacente com seus ladrões e verdugos e implacável com seus sonhadores

Em 22 de dezembro de 1992, descobrimos três toneladas de documentos da política secreta de Alfredo Stroessner que levou a hoje encurralar aos genocidas da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai (Operação Condor). Resulta paradoxal que estes arquivos tenham sido considerados desde o primeiro momento como um acontecimento histórico nacional e internacional que provocou inúmeras publicações. A Promotoria Geral não investigou o conteúdo deste arquivo até hoje, consolidando a impunidade.

Em 28 de agosto de 2008 a Comissão de Verdade e Justiça entregou aos Poderes do Estado o Informe Final com suas respectivas conclusões e recomendações. Antigos funcionários de destaque e repressores da ditadura stroessnista passaram a ser funcionários do Estado. Tampouco foram investigados pela Promotoria Geral os personagens da ditadura que atuavam através das seccionais do Partido Colorado governante durante os 35 anos da ditadura.

O terrorismo de Estado tem impressa as impressões digitais de Alfredo Stroessner e de seus sequazes. Hoje como ontem, os promotores, juízes, policiais e militares arremessam contra os defensores dos direitos humanos em vez de escutá-los e protege-los.

A eleição de 21 de abril de 2013 é simplesmente a legitimação do golpe de Estado ocorrido no 22 de junho de 2012. O triunfo dos nostálgicos da ditadura permitirá a reinserção do Paraguai no concerto das nações na qualidade de Cavalo de Troia para obstaculizar a Unidade Latino-americana.

No Paraguai, uma vez mais a esquerda foi derrotada. O novo “patrão” dessa sociedade feudal é Horácio Cartes que durante a ditadura e depois na democracia cconquistou uma imensa fortuna “não santa”. Competiu com ele pelo cargo presidencial Efraín Alegre, também de tendência de direita que, para fortalecer sua intenção de voto, se aliou ao partido criado pelo também golpista general Lino Oviedo. Esta aliança resultou num tiro pela culatra.

Como há um profundo descrédito no sistema político, grande parte da população compareceu a votar por que foi paga por seu voto utilizando para isso modernas tecnologias. Ganhou o que comprou mais votos ou seja, o que ocorreu em Assunção dia 21 de abril foi uma burla eleitoral.

Os graves problemas sociais não foram motivo de preocupação dos candidatos golpistas. Continuam os latifúndios, a corrupção, injustiça, o modelo político de propinas, continua em vigência a doutrina de segurança nacional, falta de atenção médica, educação. Stroessner e sucessores escravizaram o povo paraguaio por meio do analfabetismo etc. Ademais se seguirá aplicando a receita neoliberal do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. O Comando Sul estadunidense seguirá com suas manobras "anti-subversivas" em um país que se faz chamar democrático. É a prova de que o Condor continua voando.

Tampouco se preocuparam com o que ocorreu em Curuguaty, onde foram assassinados policiais e camponeses inocentes onde os conspiradores foram o Vaticano, os fazendeiros do gado e plantadores de soja vinculados às multinacionais como Monsanto, a petroleira estadunidense Dahiva e a multinacional canadense Rio Tinto Alcan, que explora o alumínio. A demanda por terra pelos sem terra permitiu a direita desalojar sem violência do poder a esquerda, com a cumplicidade do Congresso Nacional.

Só uma transformação radical da base cultural e moral da juventude permitirá ao Paraguai enfrentar o “retorno dos bruxos”.

* prêmio Nobel alternativo da paz, colaborador de Diálogos do Sul.

http://www.dialogosdosul.org.br/websul/paraguai-venceu-o-que-comprou-mais-votos/

POSTADO POR PASQUAL MACARIELLO - RIO RJ