BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS DO LADO B DE BAURU (03)
ESSO MACIEL, UMA VIDA DEDICADA ÀS ARTES E SUA DESPEDIDA DO CARNAVAL (será?) - (Texto publicado no jornal mensal Metrópole News, de Vinicius Burda, edição de fevereiro 2014):
Eu se pudesse largava tudo o que estou fazendo e ficaria horas e horas escrevendo só sobre meus amigos, temas que gosto, histórias recolhidas por aí, mas as ditas “obrigações do dia-a-dia” me fazem correr atrás do que dizem ser “o prejuízo”. E vou na onda, sobrando algumas poucas horinhas para escrevinhações desses. As faço a toque de caixa. Hoje de um dileto amigo, ESSO MACIEL. Quando da realização do 4º SLAM – Festival de Poesia do Minuto em 26/08/2013, uma contundente declaração de outra amiga, Mariza Basso: “Foi a última aparição da Onça, conforme anunciado pelo seu criador Esso Maciel. Esso há muitos e muitos anos veste a pele da Onça geralmente para sair no carnaval, ontem no SLAM poético realizado no Museu Ferroviário de Bauru, a Onça Morreu! Esso deu um show de disposição e talento com seu jeito irreverente e polêmico. Um amigo querido fiel há muitos anos, meu primeiro ídolo teatral. Vida longa ao Esso!”. Isso teria que ser matéria de capa de todos os jornais locais, dar na TV, o rádio divulgar como algo a enlutar essa cidade. A Onça do Esso pendurou as chuteiras. Não vi uma linha em lugar nenhum. Essa foto da Mariza, a última de Esso como Onça já é histórica. Saúdo meu amigo Esso, aroeira pura nesse varonil torrão cheio de contradições homéricas. Dele, esse vídeo, também gravado por Mariza no último ato:http://www.youtube.com/watch? v=n6A9zBhHcko.
Esso é uma pessoa especial. Passando dos 70 anos continua um meninão, desses a aprontar com a vida. Leva a sua cheia de privações, num refúgio criado por ele mesmo, um canto onde criou um mundo particular, só seu. Lá nos altos da Vila Falcão, ele e seu caos veem a vida passar e não se importam com o que acontece nas ruas, o importante é que todos ali, ele e os cães possam continuar fazendo tudo como no dia anterior. Uma repetição feita com gosto, uma vida dedicada nos que realmente não lhe traem, esses seus verdadeiros e únicos amigos. Foram 30 no total, hoje não passam de dez. Sai pouco de casa e quando o faz, ainda choca algumas pessoas. Finge não perceber e cada vez sai menos. Doente, magro, não se trata, deixa a vida lhe levar. Com o que ganha, uma merreca de aposentadoria, come mal e parcamente, mas não deixa que nada falte aos seus animais.
A Secretaria Municipal de Cultura lhe fez certa vez uma justa homenagem com a gravação de um histórico vídeo sobre sua vida, o projeto “Primeira Pessoa”, sendo ele o primeiro retratado. Na película está fino como um fio de cabelo, pesando pouco menos de 50 quilos. Um faquir, admirável e desprendido engolidor de espadas, espadachim de uma causa perdida, mas nem por isso fechado em copas. Na gravação estava todo maquiado, falante como nunca, solto como uma pluma e foi ótimo, pois disse tudo em tão poucas palavras. Roberto Pallu, um cinegrafista mais do que profissional soube captar um Esso em ponto de explosão. Com três câmeras gravando ao mesmo tempo, pegou-o em todos seus ângulos e o resultado foi algo único, belo, forte e para ser guardado. Algo para ser guardado, de alguém cuja posteridade está mais do que garantida.
Durante o Carnaval é impossível dissociá-lo da festa. Ele encarna o que essa festa possui de mais significativo e autêntico. Vê-lo nas ruas nos dias atuais é a constatação de estar diante de um menino, com um esbelto corpo, andando sempre muito à vontade, com roupas a fugir do trivial e um discurso voltado para o novo, o que virá. Sempre chamou muito a atenção em tudo o que fez na vida. Isso desde sempre, foi a irreverência em pessoa quando funcionário público e um maldito como jornalista e poeta. Fama de criador de caso, ele já se acostumou com isso, hoje tira de letra e continua a fazer as coisas como sempre fez, sem pedir opiniões e medir as consequências. Aderiu a algo praticado insistentemente no dia a dia, o denominado Bloco do Eu Sózinho. Nos Carnavais sempre esteve presente com alegria, rebeldia e irreverência, mas só, fazendo uma festa só sua. Um bardo a navegar por portos nunca dantes navegados. E continua tocando sua vida como sempre fez, marcando presença onde acha que deva estar. E comparece, altivo e feliz, fazendo o que gosta. Esso é um resistente. Esso é um menino num corpo envelhecido. Esso é um poeta posto em marcha lenta. Esso é a cara dos que não se entregam facilmente. Esso é tudo isso e muito mais e só por isso merecedor dos píncaros da glória.
Esso abriu uma exceção. Mesmo debilitado, doente de verdade, promete que se levado numa cadeira de rodas desfilará esse ano, talvez como uma despedida, no bloco “Bauru Sem Tomate é Mixto”, sábado de carnaval, descendo a Batista a partir do meio dia. É mais uma oportunidade de presenciarmos sua onça em ação. Ele merece todos os aplausos possíveis e imagináveis na festa desse ano. Será a madrinha do bloco, sua fonte eterna de inspiração.
OBS FINAL: O bloco carnavalesco (burlesco e farsesco) BAURU SEM TOMATE É MIXTO, uma reunião não sei como ainda possível hoje em dia, da necessária (e tão em falta) irreverência, cortará a Batista em toda a extensão do Calçadão da Batista no próximo sábado, 12h, da praça Rui Barbosa até a Machado de Mello, destilando uma contundente crítica a algo que merece ser criticado, espezinhado, repudiado, repelido e mordazmente enfrentado. CONTAMOS COM TODOS POR LÁ. Venham de onde vierem, do jeito que vierem, o bloco é a oportunidade de se manifestar e festar, sempre ao nosso modo e jeito. É só assim que sabemos fazer.
Um comentário:
Henrique
Esso Maciel, Eni Cesarino e derrubarem a estátua, vocês são mesmo de amargar. O nome do bloco devia ser Tudo Junto é MiXturado.
Vocês são muito mais necessários do que possam imaginar.
João Pedro Soares
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