sábado, 1 de fevereiro de 2014

MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (263, 264 e 265)


MISSIONÁRIOS AO AVESSO publicado hoje, 01/fevereiro/2014
Tomo conhecimento de algo, que ocorrendo em algum lugar distante, incerto e não sabido, traz reflexos para todo o país. Um conceituado dirigente de agremiação política partidária, presidindo a mesma, conversando com outro da mesma linhagem, ambos em partido dito de esquerda, diz para esse, desculpando-se, pois terá que confrontar o preceito ideológico que sempre seguiu, tudo porque sua igreja não permite que assim proceda. Portanto, votará contra o que sempre defendeu, tudo para não ficar mal com os seus da igreja. Cai o pano. Para os que ainda não perceberam, de uns tempos para cá é assim que se processam as decisões a envolver as questões de igreja no meio político. Ela passa a ser mais forte que tudo e todos. Esses se vergam, desmerecendo a luta de toda uma vida, mas nunca para os ditames religiosos. Hoje, esse está acima do bem e do mal. Pode parecer pouca coisa, mas isso é assustador. Reflete bem como está sendo e como serão agravadas as relações políticas com todos os que estão atuando no campo político hoje sob as bênçãos de origem religiosa. Eu sou de um tempo em que a religião sabia muito bem até onde podia atuar, “cada um no seu quadrado”. Não se metia no campo da política. Hoje, não só se mete, como dá ordens, impõem regras. Retrocesso latente. Isso se deu e hoje, está mais do que com as asinhas de fora, depois que a religião passou a funcionar para “reter os homens numa aquiescência servil e numa imaturidade atemorizada”. As igrejas deixaram de lutar pela plena emancipação do homem, mas pelo seu sucesso enquanto pessoa, isolada. Ele vitorioso, mas pouco se importando com o restante à sua volta. Qual delas hoje ainda possui discurso de libertar o ser humano da ignorância e da opressão? Nenhuma. A religião tornou-se mero instrumento de poder de alguns, os seus líderes. O serviço humanizador, sem jamais impor suas condições ou buscar poder e prestígio, hoje é algo do passado. Daí, as distorções dela estar acima de tudo, mera consequência. E deve piorar. Algo precisa ser feito e já.

CRITICAR É MAIS DO QUE PRECISOpublicado edição de 24/janeiro/2014.
Todo e qualquer cidadão ao adentrar a vida pública deve estar mais do que ciente de que, a partir daí sua vida será muito mais exposta. Uma natural fiscalização, feita por quem se encontra do outro lado da questão. Primeiro conferindo se tudo está sendo feito a contento. Não existe nada mais natural que isso. Quem não aceita essa condição, ou está contra os preceitos do jogo democrático, é muito mal informado ou, na pior das hipóteses tem algo a esconder e daí é que a fiscalização se faz mais do que necessária mesma. Sendo a pessoa jornalista, essa função de acompanhar é elementar e sabendo de algo, criticar de forma veemente, isso passa a ser condição sine qua non de sua profissão. Deve ser uma maravilha viver somente sob a áurea de elogios. Criticar, porém, é preciso, necessário. A crítica tem várias funções para o homem público. Ele pode estar munido das melhores intenções, mas nada como alguém receber um toque vindo de alguém enxergando tudo do lado de fora. Nesse toque, algo que sirva para um reposicionamento de conduta. Esse vale muito mais do que um elogio comprado, feito por asseclas regiamente instruídos para assim agirem. Bajular, além de feio, algo imprestável. Imprensa não foi feita para bajular ninguém, muito menos homem público. Quem assim o faz trabalha no desvio da função. Millôr Fernandes tem uma frase lapidar sobre o tema. “Imprensa é oposição, o resto é balcão de secos e molhados”. A função da crítica é o mínimo do mínimo dentro de qualquer regime democrático. Aos que tentar calar a voz desses, a certeza em andarem de marcha a ré. Impossível não fazer comparações com a história do menino vivendo num país onde nada mais podia ser dito. A lucidez veio de sua boca, quando num desfile apontando para o rei disse: “O rei está nu”. Calando a crítica o que se quer é que ela não mais exista e a unanimidade é a pior coisa que se pode querer ter. Eu quero poder continuar criticando, sempre que assim achar necessário. Não o faço às pessoas, mas sim à suas ações enquanto públicas.

REMINISCÊNCIAS RELIGIOSAS E A USURA publicado edição 07/janeiro/2014.
Se quiser acusar uma fé religiosa de usura não faça explicitamente ao sionismo judeu, sem antes conhecer um pouquinho mais da formação de outras. O protestantismo é muito mais merecedor da pecha. O judeu é um grupo historicamente excluído e não conseguindo seu sustento na iniciativa pública, a busca na privada. Acabaram se fechando em si. O protestantismo, como sabemos, nasce de ramificação católica e quando o fez foi para justificar, entre outras coisas, o lucro. Os católicos de uma forma geral, o povão na época, ainda condenavam a usura. Já o Vaticano, a sua instância maior, eram os maiores acumuladores de capital na Idade Média. Pregava-se a virtude da simplicidade, mera teoria, sendo contumazes acumuladores. São contradições que precisam ser explicitadas para um melhor entendimento da formação das religiões. “Lembra-te que tempo é dinheiro. (...) Qualquer lazer é desperdício. (...) Um bom pagador é senhor da bolsa alheia. (...) Fazer com que pareça um homem bom e honesto, isso aumentará seu crédito. (...) A virtude só é válida enquanto benéfica ao indivíduo. (...) Quanto mais dinheiro houver mais produzirá ao seu investimento”, essa última célebre frase descrevendo o moto contínuo, atribuída ao prócer norte-americano, Benjamin Franklin, todos de protestantes e unindo a religião com a acumulação especulativa. Desde sempre, o EUA foi predominantemente protestante. Sem tirar nem por, o dinheiro acima de tudo. Pensamentos do mesmo teor eram difundidos por boa parte da Europa quando da criação da concepção protestante. Esse o motivo, por exemplo, para não ter encontrado nenhum obstáculo na moral do povo inglês. Os mentores do protestantismo já tinham incutido a ética da acumulação na mente do povo. Ao contrário da França, quase toda católica. Ali sim encontrou grandes obstáculos. E os encontra até hoje, quando lutam pela manutenção de direitos trabalhistas em detrimento de lucros e dividendos nessa linha. Hoje, o papa parece ter redescoberto que a usura é um mal.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de salientar que a Igreja, principalmente a Católica no passado sempre se meteu na política. Ela nunca esteve fora do jogo político, perdeu o poder de mando nas Revoluções Burguesas, mas continuou mamando nas "tetas"do Estado, apoiando o veladamente ou abertamente, quando necessário.
Oscar Fernandes da Cunha

Anônimo disse...

Henrique. Bom texto. Contem uma critica importante a ser feita para os nossos quadros, ja que os de direita usam a religiao para manter tudo na mais perfeita ordem do individualismo e do capitalismo selvagem. Assim como usam outras organizaçoes tambem.

Ja os nossos vereadores, prefeitos, deputados, senadores, Ministros e primeiro escalao e, claro, Presidenta, precisam aprender a receber nossa critica fraterna.

Um forte abraço,

Joao Andrade