ESCREVER DAQUELES QUE NÃO SAEM NAS MÍDIAS MASSIVAS
EU PROMETO...
A partir de 01/11, quarta-feira, o retorno (quase) diário do PERSONAGENS SEM CARIMBO - O LADO B DE BAURU. O último foi o de número 902. Rumo ao milésimo e um algo mais desta reunião de gente que faz e realmente acontece em Bauru. Um projeto reaquecendo o que gosto de fazer, escrever e dar a devida atenção para os que estão fora da mídia massiva, os qaue realmente merecem mais do que atenção.
CAUSO 1 - BATISTA SE APOSENTOU VENDENDO REVISTAS E AGORA VIAJA VENDENDO MAPAS
Não existe coisa melhor do que o sujeito se aposentar e conseguir descansar, pensar em outras coisas para fazer da vida. Isso o que todos esperam após algumas décadas de labuta e contribuição para a Previdência. Hoje, com esses insanos e cruéis golpistas nos governando, já estudam uma forma, não só disso não ser mais possível, como de diminuir o soldo mensal dos aposentados. Ou seja, se está ruim, com eles mais tempo no poder, tudo deve piorar, mais e mais. Conto a história de um entre tantos que, conseguiu o grande feito de se aposentar (oba!) em vida, porém, com alguns meses em casa, não teve outra solução, juntou a matula e continuou a labuta no que sempre soube fazer. Reencontro com ele na rodoviária de Bauru, ele voltando de uma de suas atuais viagens. Conto abaixo um bocadinho dessa história.
BATISTA é um sessentão, dos mais famosos vendedores de assinaturas de revistas do estado de São Paulo. Tem história no setor, tendo viajado boa parte do país, de cidade em cidade. Ouvir suas histórias é tomar conhecimento de como atuam os caixeiros viajantes do século XXI. Foi de vendedor a supervisor, comandando equipes e muitas vezes lotava seu carro e partia para um lugar distante, espalhando um em cada cidade, recolhendo esses no final do dia. Conseguiu se aposentar e morando lá nos altos do Mary Dota, viu sua renda diminuir e muito. Parado dentro de casa sentiu ser o momento de fazer algo e foi em busca disto. Se a venda de assinaturas já não era como dantes, hoje o faz com mapas. Vende desde os geográficos, dos estados e regiões brasileiras, o Mundi, rodoviários, cidades e hoje também o do corpo humano, muito vendido em academias. Tem uma promoção, espécie de combo quando levam três diferentes por preço com desconto. Não viaja mais de carro, pois o custo deste aumentou demais. Pela idade não paga mais passagem de ônibus e assim, quase todo dia está bem cedo na rodoviária, escolhe um destino e segue pra lá, carregado com um pacote de mapas a tiracolo. Outro lugar onde também bate cartão é no campo do Noroeste, onde não costuma perder jogos. Tenho dele inesquecível frase, dessas que você ouve e saca a profundidade, algo de um nato torcedor, sensível com tudo o mais à sua volta, amor em tempo integral ao time de sua aldeia: “Se ganhasse na loteria ia dar um jeito no Noroeste”. Quer um mapa, ligue para ele 14.998984790.
As histórias vão se sucedendo uma com a outra, se fundindo no encanto e na magia da luta, labuta diária, algo incessante, coisa de anos seguidos, ininterruptos. Basta você colocar o bloco na rua para se deparar com mais e mais e elas vem até você. Hoje estava lá acompanhando a fala do deputado federal Paulo Teixeira, PT/SP no acampamento prá lá do Mary Dota, perto do lago, o Estrela de David, reunidos após uma negociação com o prefeito bauruense e ao ver meu nome anunciado no microfone pelo próprio deputado, eis que alguém vem até mim e diz me conhecer. A fisionomia não me é estranha e quando ela conta de onde, as lembranças afloram na mente, algo de décadas atrás, que parecem estarem se repetindo no dia de hoje, tal a intensidade da forma como a revivi. Conto algo dela abaixo.
NILZA APARECIDA GODOI BUENO, 54 anos é dessas que, após anos de labuta e lida me reencontra e diz: “eu sempre tive um pé em casa e outro na rua”. Ela explica. Quando tomou consciência, sabia que só conseguiria sua tão suada casa, o canto definitivo para morar, com muita luta e persistência. Desde os tempos quando morava no bairro Vania Maria, mesmo após o casamento, sempre conseguiu conciliar as funções de dona de casa e de militância. Enquanto o marido pode trabalhar, fez isso e frequentou todas as reuniões de Associações de Moradores na Prefeitura e fora dela, sempre muito ativa. Quando ele teve um AVC, diminuiu o ritmo, mas mesmo assim, nunca conseguiu abandonar a labuta pela reivindicação dos seus direitos. Lembra com orgulho dos áureos tempos quando conseguia levar o Caminhão Palco para a região onde morava e alegrava todos com um pouco de música. Suas frases são simples, mas de muito efeito: “Sempre fizemos nossos corres”. Ela é dessas, de botar o barco no mar e navegar, sair por aí em busca de um ideal, sem descansar. Hoje está lá tentando conseguir sua casa junto a mais de quinhentas pessoas do Estrela de David, acompanha todas as reuniões e sempre pede a palavra, para sugerir, incentivar e mostrar o que está sendo feito. Completou dias atrás um ano e meio debaixo de lona, morando ali e sem nem pensar em desistir, pois crê que sua vez está chegando. Rosto queimado de sol, fisionomia de resistência estampada no rosto, ladeada pelo irmão e um vizinho, gesticula muito, fala alto, se movimenta e conhece todos, ou seja, continuará na luta até o dia em que conseguir definitivamente seu pedaço de chão para morar. “O movimento daqui é tão organizado e estou crendo muito, pois vamos conseguir sensibilizar o sr prefeito para viabilizar essa morada para nós”, conta com um brilho mais que especial nos olhos, por pouco não chorando
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