AS AMIZADES FACILITAM A CAMINHADA - O CASO DE REGINÓPOLIS Caminhar sozinho é uma coisa e em grupo outra. Tem quem prefira continuar insistindo na caminhada sozinho. Os motivos são muitos e vão desde a dificuldade de relacionamento, até o desencanto em tentativas anteriores. O fato é que, mesmo com algumas experiências não muito bem sucedidas, para a obtenção de sucesso em empreitadas variadas, nada melhor do que fazê-las coletivamente. Uso um esdrúxulo exemplo para comprovar meu dito. O ditador do Zimbábue, 93 anos, Robert Mugabe, 37 anos no poder foi defenestrado por um golpe de estado militar e pelo simples fato de ter perdido a noção do autoritarismo e do isolamento político. Não querendo ninguém além de sua esposa (e só ela) na linha sucessória, demite todos os próximos com condições de assumir o poder quando do seu falecimento. Nos preparativos para lhe passar o poder, algo familiar, ao estilo de algumas empresas, do patriarca para a esposa, eis que esses, antes todos se beneficiando das benesses do poder, mas agora alijados de qualquer possibilidades, insuflam os militares para fazer o serviço sujo e desta forma destituir o idoso presidente. Militar faz serviço sujo para civis em variados lugares. Aqui já o fizeram e lá no Zimbábue acabaram de fazer. Se o gajo tivesse mantido suas relações cordiais com os outros se beneficiando das benesses deste pobre estado africano, creio eu, tudo continuaria como dantes. Sairia um, entraria outro, sem eleições no meio.
Não me recriminem pelo sórdido exemplo. Estou um tanto sórdido e desiludido nos últimos tempos. Queria mesmo com esse texto reforçar algo sobre amizades e isolamentos e o fato de tudo ocorrer com mais tranquilidade quando junto de outros. Eu mesmo, aos 57 sou um assumido dependente dos amigos. Não vivo sem estar rodeado de muitos amigos (as), enfim, eles me conduzem para meus caminhos e também para os descaminhos. Toco minha vida ao lado desses e ontem, quando promovi a exposição de fotos lá na Feira do Rolo, a "O Que Você Veio Buscar na Banca do Carioca na Feira do Rolo?", na verdade, aquilo tudo foi uma imensa reunião de amigos. Fátima Guermandi, uma dileta amiga de Pirajuí me ensinou a repetir uma frase e dela faço uso sempre: "boi preto anda com boi preto". Na manada toda seguindo por uma caminho, nada melhor do que um seleto de grupo de amigos seguindo no sentido oposto. Aquilo lá na feira foi uma saborosa reunião de "bois pretos", os que remam contra a maré diante dessa imensa manada de verde-amarelos esmerdalhando com o que ainda resta deste país. Eu conheço a maioria dos que lá estavam e deles não me separo, aliás, faço coisas para me aproximar mais e mais. Diante deste atual estado predatório neoliberal, se não fosse eles, estaria irremediavelmente danado, desesperançoso de tudo o mais. Aquele conglomerado de gente ajuda a seguir tocando o barco no meio desta tempestade. São energizadores, eles para comigo e eu para com eles.
Escrevo disso e me lembro de algo solicitado a mim, coisa de uns dois meses atrás pelo amigo, o cartunista Fausto Bergocce, reginopolense hoje radicado (exilado seria o termo mais correto) lá em Guarulhos, na grande São Paulo. Ele vive na cidade grande, mas de tempos em tempos não aguenta e volta pra sua Reginópolis, onde reencontra amigos, anda a pé de bar em bar, senta na praça, ouve os passarinhos, põe o pé no rio Batalha, revê antigas namoradas, toma café na padaria da praça, conversa fiado, imita passarinhos e faz algo mais do que saboroso: se reune com amigos. Fausto está entusiasmado por ter descoberto um grupo de amigos, desses que ao menos uma vez por semana deixam suas casas e sentam em bares da cidade, cada vez num diferente e falam mal de tudo e de todos, resolvem os problemas todos da cidade, do estado e do país. Só pelo fato de deixarem seus afazeres, criarem um grupo e se bandearem pra rua já é grande feito. O que discutem eu não sei e nem perguntei isso pro Fausto (não quero me decepcionar). Os grupos onde ainda consigo me relacionar se reunem para propor a transformação deste mundo em algo mais palatável, pois vê o atual falido e crê que outro é possível. Já o grupo de Reginópolis não sei o propósito. Talvez o façam só para cervejar, falar de sexo, drogas e rock and roll, criticar a política local, enfim, escrevo essas besteiras todas pelo simples fato de gostar de quem ainda consegue se reunir em grupos e saracotear pra lá e pra cá. Ruar, no bom sentido do termo. Quando ele me enviou uma charge com eles reunidos, veio com um pedido: "Olá Henrique, taí a arte da Turma das Quintas....com Nando, Nadir, Fernando, Dirceu, Orlando, João Garcia, Reinaldo, Josè Yunes, Polegada, Dário, Reinaldo e Munir...e quem mais vier! Se você puder, faça um belo texto (como é de seu estilo), pra essa bonita confraria de amizade. Como o nome diz “ Turma das Quintas “, ele costumam se reunir em vários bares da cidade, pra trocar boas conversas e tomar muita cerveja!!!".
Eu como me reúno sempre que posso, divulgo o grupo de Reginópolis e cito só um dos muitos onde me encontro, o bloco farsesco, burlesco e algumas vezes carnavalesca, o Bauru Sem Tomate é MiXto. A gente quer barbarizar estruturas falidas e denunciamos isso, mas cada grupo tem lá seus interesses e motivos. O da Turma das Quintas só indo lá pra saber e pelo visto, cerveja não vai faltar. Só como informação: Reginópolis fica 90 km de Bauru.
Nenhum comentário:
Postar um comentário