quarta-feira, 4 de abril de 2012

DICA (91)

EU, O FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA DE 2012 E UMA PEÇA ESPANHOLA
Eu sempre gostei demais de teatro, principalmente peças alternativas e independentes. Não tenho um hábito de comparecer em peças grandiosas, esses famosos espetáculos cheios de patrocínios mil, bancadas pelas leis de incentivos e afins. Prefiro as mais modestas e as de formação de novos atores. Não perco essas, principalmente quando encenam uma nova versão ou uma nova possibilidade de visão em cima de um texto conhecido. Bato palmas para muitos amigos, que corajosamente participam de cursos teatrais para adultos, numa maravilhosa forma de darem um novo direcionamento ocupacional em suas vidas. Mas quando me surgem oportunidades de participar de eventos grandiosos, bato cartão, como o fiz em Curitiba na semana passada, de 28 a 31 de março, quando lá presenciei a abertura no Largo da Ordem, centro velho de Curitiba do XII Festival de Teatro de Curitiba (http://www.festivaldecuritiba.com.br/).

Escrevo sobre isso e mais um pouco. Sabia da abertura e fui até lá. Peguei um discurso de uma assessora da ministra da Cultura e uma louvação dela justamente sobre os benefícios das leis de incentivo, a Rouannet, tão famosa e mal entendida, segundo ela. “Festivais iguais a esse e as Bienais do Livro de SP e do RJ não seriam possíveis sem a abrangência dessa lei”, disse. Entendo e concordo, mas continuo também sem entender e concordar com uma ainda muito injusta distribuição de verbas para os grandes espetáculos, os que possuem capacidade de buscar outras fontes de renda e que hoje, só acontecem por causa da lei. E se antes não precisam dela dessa forma tão dependente e hoje se mostram tão atrelados a ela, vejo algo de muito preocupante nisso. Parece-me que a lei é boa, mas já foi desvirtuada pelos abusos de uns e outros. Isso é latente e talvez resida aí o que a assessora diz serem os mal-entendidos da lei.

E o espetáculo inicial ali encenado para um público de seletos convidados, que eu consegui assistir em pé, esgueirando-se atrás da orquestra foi “LOS PÁJAROS MUERTOS”, realização da Cia La Verona, de Barcelona, Espanha, sob a direção e coreografia de Marcos Morau, com músicas de Ravel Tchaikovsky e do folclore espanhol, tocadas por uma Orquestra de Câmara de Curitiba. Arquibancadas circundando a fachada de uma antiga igreja, um cenário escolhido pelo grupo e um enredo dos mais tocantes. “Situada em um universo que representa a vida e obra de Pablo Picasso, a peça recita o desaparecimento constante dos homens que vieram para a vida do pintor, o destino inevitável dos personagens que acompanharam um dos homens mais proeminentes do século XX e compartilharam com ele os anos frutíferos desse século. Baseando-se em um pretexto de pintura, a peça entra em um campo alegórico de guerras, viagens e amores. Arte, Sexo e Morte constroem um painel de imagens evocativas da paixão com que o pintor trabalhou toda a sua vida. A peça é uma viagem pelos anos e nomes que compartilharam o tempo, as cidades e cafés com Pablo Picasso durante os 92 anos em que viveu o pintor”, descreve o texto do Guia Oficial do Festival.

Para mim foi tudo isso e mais um pouco. Tudo foi muito envolvente, calor apaixonante de uma luta dentro de um contexto desfavorável e tempos febris, de participações mais que emotivas. Num certo momento, quase ao final da peça, após toda a dramaticidade já ter sido encenada, umapersonagem sai detrás da igreja, com um calhamaço de papéis nas mãos, com nomes de pessoas diletas daquele século, todas envolvidas com vida de Picasso e lê seus nomes em voz bem alta, como que confirmando a importância de cada um no contexto vivido, jogando o papel para o alto. Foi emocionante e alguns nomes de brasileiros, como Jorge Amado, Leila Diniz e Vinicius de Moraes. Um apoteótico final. Ao término, todos aqueles papéis espalhados pelo chão, não resisti e vendo a segurança mais frouxa, adentrei o pátio e comecei a pegar alguns deles. Foi o que bastou para uma avalanche de pessoas fazer o mesmo e em fração de segundos, todo o espaço estava tomado de pessoas repetindo o meu ato, agachadas e buscando cada um pegar uma quantidade de papéis com os nomes. Será uma bela recordação daquele dia e espetáculo, que guardarei com muito carinho.

Tive o prazer de assistir outras peças, como também a um show de Toquinho, na Boca Maldita, centro de Curitiba, dia 30 de março, 12h, quando Curitiba fazia aniversário, mas o que me marcou mesmo foi ter presenciado, meio que de esgueio, de lado, sem ter uma visão total do palco aos espanhóis encenando, ao lado de um grupo de brasileiros, um emocionante espetáculo do que o teatro tem de melhor.

UMA DICA BAURUENSE PARA HOJE À NOITE: Recebo um e-mail em 29.03: "Oiii Henrique, como estávamos conversando, o Centro Acadêmico de Comunicação Florestan Fernandes, Cacoff, irá realizar no dia 04 de abril às 17h30, o lançamento da Revista Samuel em Bauru (www.revistasamuel.com.br) . E para acompanhar o lançamento, vamos realizar uma mesa para debater sobre a imprensa independente. Diante ao seu trabalho em seu blog, gostaríamos muito da sua participação. Há disponibilidade?". Era de uma estudante, a Aline Ramos. Viagem marcada para vender minhas chancelas no Rio de Janeiro, tive que abdicar e pedi mais informações, recebidas dessa forma: "Olá Henrique, o evento contará com uma Mesa de Comunicação mais o lançamento da Revista Samuel. Tema: Comunicação contra-hegemônica. Convidados: Haroldo Sereza (diretor de redação do site Opera Mundi) e Marco Escrivão (radialista formado pela Unesp). Data: 4 de abril, quarta feira, Horário: 17h30, Local: Central de Salas. Mais informações no evento: https://www.facebook.com/events/202119573234146/ Obrigada pela força, Aline Ramos". Imperdível, mas perdi.

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