MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (172 e 173)
Cada vez mais aprendo com os velhinhos, fonte inesgotável de muita sabedoria. Imaginem dois deles, cada um “ponta de lança” em sua especialidade, antagonismo de ideias e ações, tendo a possibilidade de um franco e revelador diálogo? Primeiro a clara constatação de que o adágio, “os opostos se atraem”, cai como uma luva para o nada casual encontro em Havana, final de março, entre o big boss da religião Católica, o Papa Bento XVI, antigamente chamado por Joseph Ratzinger e o da crença Comunista, o comandante Fidel Castro. Arrivistas torciam por um irremediável atrito, retreta entre a foice fidelista e o cajado papal, que para desgosto de uma malta de agourentos não se sucedeu. Imagina se o papa da religião mais famosa do planeta, em visita à Cuba perderia a oportunidade de estar frente a frente com aquele que dizem ser o maior enfraquecedor de crenças religiosas. Ambos deviam estar mais do que sedentos pelo encontro e o mesmo se fez, com um fraterno bate-papo. Provocações houveram, mas amenizadas e embutidas no contexto da prosa e com a devida galhardia, inerente à causa defendida por cada um. O papa deu o seu apoio na luta contra o cruel boicote norte-americano enfrentado pela ilha e Fidel lhe disse, que ambas as causas, a do cristianismo e a do comunismo são muito próximas, pois defendem o social, a igualdade solidária e o ser sempre na frente do ter. Fala carregada de muita ironia, mas sincera. As alfinetadas vieram quando o papa esboçou algo sobre a provável falta de liberdades individuais em Cuba. Na réplica, o que deve ter gerado uma antológica e prolongada discussão, Fidel retruca: “Mas para que serve mesmo um papa?”. Imagino o ganho que tiveram os privilegiados presentes diante desses impagáveis velhinhos. Eu, dias depois, conversando sobre o assunto com minha sogra, ela quase alcançando a faixa etária dos dois, com seus 76 anos, fervorosa na crença batista me diz: “Deveriam ser tão iguais, mas um deles me parece não estar cumprindo bem os ensinamentos de sua crença”. E me pergunto, qual deles, hem?
SINAIS DE FUMAÇA - publicado edição BOM DIA BAURU de 21.04.2012
Sábado retrasado, 7/4, deixei o estádio Alfredo de Castilho em estado de graça, pois o Noroeste havia saído na frente no quadrangular final da 2º Divisão do Paulista, quando ganhou de 1 x 0 do forte São Bernardo. De lá, querendo comemorar mais um bocadinho busquei a Ana, a alma gêmea e fomos conhecer um lugar irretocável, o Dr Beer, no final da avenida Elias Miguel Maluf. O lugar caiu no nosso gosto logo de cara e lá um músico, Marcos Félix nos encantou atendendo nossos pedidos com canções de Bosco/Blanc, Cazuza e Cássia Eller. Jogo ganho, cardápio bem elaborado, prato supimpa, preço honesto, boa música e com a melhor companhia desse mundo. Tudo de bom já me tinha acontecido. Que nada, faltava algo. Vi de longe um casal de amigos e fui cumprimentá-los. Na mesma mesa e ouvindo o animado papo sobre futebol, vila Falcão, família e botequins, um senhor se aproxima e confirma se sou quem sempre fui. Ao ouvir de mim a confirmação me abraça e diz algo a me fez sentar, tomar um ar, pedir para aumentar a refrigeração, o som e a dose da cevada. Ali diante de mim estava um senhor dos seus oitenta anos, Odair Castilho, que além de me informar ser leitor semanal dos meus textos do BOM DIA, sapecou essa: “Sabe aquele texto que escreveu anos atrás sobre uma conversa que havia presenciado na Praça dos Expedicionários, papo entre dois velhinhos”. “Sim, era sobre o Brasil ter perdido a oportunidade de eleger Brizola presidente”, confirmo. “Eu sou um daqueles senhores. Vim te falar que nossas convicções socialistas continuam inabaláveis, fazendo falta e que desde aquele artigo te leio toda semana, aliás, recorto e coleciono todos eles”, disse na sequência. O texto é o “Revivendo Brizola”, publicado aqui nesse Formador de Opinião em 18/04/2009, exatos três anos atrás. Confesso que me deu um branco, incontida alegria, vontade de cantar, dançar e acho que foi por sentir que meus sinais de fumaça não são em vão, pois alcançam quem os leiam em algum lugar por aí. Ganhei ali o dia, o mês e o ano. Obrigado, seu Odair.
Um comentário:
Existe uma enorme diferença entre ter idade e ser velho.
Fidel tem idade, o papa é um velho.
Idéias e ideais.
Gostei muito
Aurora
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