BATTISTI, CARTA CAPITAL, MINO, FEBEAPÁ E MEU NOME NO EDITORIAL DA REVISTA
Não escondo de ninguém minha profunda admiração por Carta Capital, Mino Carta e a defesa da verdade factual empreendida pela revista. Sou leitor mais do que assíduo, desses a instigar textos, provocar respostas, elogiar nos acertos e cutucar nas discordâncias. Quando saiu a edição da semana passada, nº 563, com título de capa, "Battisti a risco - O STF começa a reparar um clamoroso erro jurídico e histórico", não me contive enviei mais uma carta à revista. Ela saiu publicada na edição que chega às bancas hoje, sábado, a de nº 564, "Energia - A tragédia da privatização". Eís sua íntegra:
"Dificilmente me posiciono contra o que leio em Carta Capital. Com referência ao caso Battisti, o posicionamento é polêmico, talvez pelo fato de ser uma das únicas vezes em que bate com o de Gilmar Mendes, o presidente do STF. Entendo muito bem o que se passa, todos os detalhes me são muito claros. O reú virou um suposto "guerrilheiro esquerdista" por interesse e vislumbra possibilidade de burlar a aplicação da lei contra seus crimes. Não o vejo como alguém a buscar a solução dos problemas deste mundo, lutando pelos fracos e oprimidos, e sim meramente pelos seus. Da provável decisão do STF pela extradição só um problema, e não analisado na última edição da revista: O STF comandado por Gilmar Mendes quer decidir tudo, uma espécie de reinado acima do próprio rei e isso fere a soberania nacional. Traz preocupações, porque certamente voltará à carga em repetidas atitudes, quando, com certeza, a revista se posicionará contrária. É um perigo para a nação permitir calada que decisões, que constitucionalmente são de outra alçada, sejam submetidas ao STF. A rédea nesses casos pertence ao presidente da República e isso precisa continuar sempre bem claro".
A repercução extrapolou a publicação da carta. Mino Carta, o melhor jornalista em atividade no Brasil foi além, comentando três delas no editorial da revista ("De pax tucana e Febeapá"), publicadas sobre o tema, na seção específica da revista. É a segunda vez que tenho meu nome citado em editorial de Carta Capital, um luxo só. Ainda mais porque quando se refere a mim, diferente dos demais, usa a expressão: "do leitor e amigo Henrique". Das três, ele mesmo comenta: "uma a favor, outra contra, outra a meio caminho, digamos assim". Esta última, a minha. Jocosamente faz alusão ao Febeapá - Festival de Besteira que Assola o País, para comentar sobre as confusões a que todos estamos se submetendo para defender ou atacar a decisão sobre o detento italiano em solo brasileiro. Faz parte do jogo e não me furto a continuar debatendo sobre o instigante tema, exaustivamente. Se querem saber de quem tenho medo atualmente no país, uma dessas pessoas é Gilmar Mendes, pois por atitudes anteriormente tomadas, assume algumas de direto confronto com a nação e à própria Justiça. Muito poder em suas mãos é algo preocupante. Temo pelo pior. Mino em sua resposta ainda acredita que "os poderes são iguais e independentes entre si". No papel é isso mesmo, lindo e maravilhoso, mas na prática, o buraco já se mostrou mais embaixo. O faz de forma irônica, claro, mas o faz. Ele brinca comigo, num "tu quoque?". Refúgio ou não, asilo ou não, não gosto nem um pouco de me posicionar ao lado de personagens da cena nacional, aqueles de pensamentos retrógrados, que tanto infelicitam esse país (histórico de 500 anos). Reside aí o meu pé atrás. Muitos aí estão usando Battisti para bater em tudo o que defendemos a vida toda e isso não farei nunca. Outra coisa é o debate ideológico que Gilmar e colunistas mil estão a fazer, tendo o assunto como pano de fundo. Mesmo que nesse caso encontre argumentos fortes para mudar de lado prefiro não o fazer completamente, pois não conseguiria nem ao menos compartilhar de um debate franco e aberto com alguns que apunhalam a soberania dessa nação de forma desmedida, cruel e sanguinária. Minha opinião foi externada de forma clara, com um senão, esse ressaltado. Mais detalhes no site da revista: http://www.cartacapital.com.br/
De Mino, só elogios. Fui o responsável pela sua vinda à Bauru em 2006 (apoio irrestrito de Vinagre, o Secretário Municipal de Cultura na época e do Sindicato dos Jornalistas), para a abertura do OLA - Observatório Latino Americano em Bauru, numa noite de casa cheia, memorável e inesquecível. Acho até que, nesse momento, poderíamos pensar no seu retorno, pois acaba de lançar um livro dos mais interessantes, o "Crônicas da Móoca - Com a benção de São Gennaro", coleção Paulicéia, Editôra Boitempo SP. Mino é daqueles que diz o que pensa, sem trélelé, ou seja, necessita "inventar seus próprios empregos", pois seriam pouquíssimos os habilitados a lhe oferecer algum hoje em dia. Da noite do OLA em Bauru, volto em breve, com um relato minucioso daquela inesquecível palestra. Para Mino, retorno a consideração, do também amigo do lado de cá.
4 comentários:
Henrique
Penso igual a ti. Queria muito me posicionar favorável à extradição do italiano, mas também tenho dificuldade em me posicionar ao lado de pessoas que fazem uso disso para cutucar e espezinhar toda uma causa, uma luta de um vida toda. Não é o caso da revista, mas precisamos estar atentos com alguns outros tantos articulistas.
Manuel Soares - Ribeirão Preto
Tem momento em que acho que o melhor e mais acertado é a extradição e em outros, como nessa justificativa apresentada por você, chego a compreender os motivos pelo asilo.
O que você diz também é verdade, Battisti não é um reevolucionário na acepção da palavra. Ele se tornou revolucionário quando percebeu que pegaria cana dura. Mino segue nessa linha.
Acho que também poderia ser citado no Febeapá.
Paulo Lima
Outro assunto meio correlato.
Voce acha justo essas enormes indenizações que os ex guerrilheiros estão recebendo por serviços não executados.
Eles defendiam uma causa e sabiam dos seus riscos. Hoje todos se tornaram milionários.
É justo isso. É justo a nação arcar com isso.
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Resposta para esse Anônimo que usa as palavras Assunto Correlato:
Acho muito justas as indenizações. Na maioria dos casos não ocorreu ação milionária nenhuma. São reparações, que demoraram para ser decididas. Umas mais, outras menos. Por exemplo, a do governador Serra, demorou só três dias e sua grana estava na mão. A do seu Arcôncio demorou décadas. Esse tipo de coisa eu combato. Cada caso é um caso e os valores também são específicos. Discutível também o percentual que cada advogado recebe do anistiado. Sendo uma pessoa ligada à causa, esse valor deveria ser o mínimo possível. Cada cabeça uma sentença. No mais é uma discussão que está sendo feita em local impróprio. O assunto abvordado no texto é outro. Demoramos muito para sanar nossos erros no período militar e muitos deles ainda não foram sanados. Muita água ainda precisa passar por debaixo dessa ponte. Nossos irmãos latinos (argentinos, principalmente) resolveram mais rapidamente suas pendências com o período militar. Ainda pisamos em ovos, o que acredito ser uma fraquesa do nosso povo.
Henrique, direto do mafuá.
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