SEU TENTOR, DESENGRIPADOR DE MÁQUINAS DE ESCREVER
Essa história começa quando meu pai, Heleno Cardoso de Aquino, 81 anos, ao ser cobrado por ter parado com suas escrevinhações, estar sem nenhuma atividade, responde de imediato: “Pois vamos consertar a velha máquina de escrever, que voltarei a escrever diariamente nela”. Ela estava a alguns anos esquecida nos fundos de uma prateleira, cheia de poeira e quase travada pela falta de uso e lubrificação. Quem poderia executar o serviço de limpeza e reparos? Foi quando nos lembramos do seu Tentor, um senhor, que faz isso há décadas e décadas em Bauru. Mas ele ainda estaria em atividade?, foram alguns questionamentos a serem respondidos. Sim, estava e quem desvendou e nos passou seu endereço atual foi seu Jacy, um amigo do meu pai e assim como ele, ex-vicentino.
Célio Tentor, 72 anos está instalado na vila Cardia, rua Rio de Janeiro nº 4-28, bem atrás da Baurucar e sua loja está aberta, segundo um horário que depende das condições do proprietário. “Procuro abrir todos os dias, mas como sou sozinho, tem dias que preciso ir ao médico, pagar contas e fazer outras coisas. Quer dizer, abro quando posso, mas continuo em atividade”, é o que nos diz esse abnegado senhor, trabalhando no mesmo ramo há 64 anos e em atividade desde 1945.
“Faz dez anos que não bato máquina, mas quero voltar a fazê-lo e quero ver se consegue consertar essa aqui”, foi a fala de Heleno no balcão da Oficina Técnica Tentor. “O senhor tem muita pressa?”, foi a resposta. “Para tudo existe um jeito. Existem outras na fila e a sua está meio ruinzinha. A limpeza geral sairá por R$ 60 reais, já incluído todo o reparo e ajustes. Com mais R$ 5 reais já sairá com uma fita nova, duas cores, vermelha e preta. Semana que vem, está bom?”, veio na seqüência e os acertos foram feitos.
Irresistível foi permanecer por ali mais um tempo ouvindo as histórias de alguém que trabalhou quase uma vida inteira, principalmente com máquinas de escrever. “Ontem trabalhei até mais de dez da noite, mas não faço isso todo dia, depende do movimento e da saúde. Faço de tudo um pouco, veja ali, aquele é um mimeógrafo e aquelas são máquinas de calcular. Conserto isso tudo. Muitos ainda se utilizam disso em seus locais de trabalho e já sou bastante conhecido na cidade. Só na Gerson França fiquei em três endereços diferentes, nas quadras um, cinco e seis. Fiquei mais dois anos em Jaú e outro tanto em Lençóis Paulista. Depois, quando voltei, fiquei um certo tempo na rua Primeiro de Agosto e na Eduardo Coutinho. E agora estou aqui, longe do centro, mas perto de casa”, conta.
Quando ele toca no ponto da saúde, é impossível não perceber que está mancando de uma das pernas. “Na verdade precisaria operar, colocar uma prótese importada, R$ 15 mil reais cada. Acho caro e vou adiando, tomando remédios e em alguns momento tudo complica, engripa igual algumas máquinas velhas”, me diz. Mas nem tudo são lamentações, pois num canto do salão um vistoso motor de pesca. “Pescava muito mais que hoje. Tenho meu cantinho e gosto muito de pesca. Ainda vou, mas quase não entro mais no rio. Estou até querendo vender o motor. Posso até vender, mas não abro mão de continuar descansando na beirada dos rios”, conclui.
O salão é uma peça única, com um pequeno banheiro e entulhado de peças e mais peças, muitas dele, algumas esquecidas por clientes e outro tanto deixadas ali para conserto. Quando lhe pergunto se pretende parar, sua resposta é rápida: “Não, pois irei fazer o que? Gosto disso aqui e mesmo com outros dois locais na cidade onde se pode consertar máquinas, sou muito conhecido e consigo uma boa renda. Circule pela cidade e olhe você mesmo se ainda não existem muitos locais que usam máquinas e as calculadoras. Alguém precisa continuar consertando isso. Estou aqui para isso”.
Seu Tentor continua lá no seu canto, resistindo ao tempo e as modernidades tecnológicas. Dá graças por existirem pessoas iguais ao meu pai, resistentes às mudanças, pois querem continuar atrelados a instrumentos do passado, sem nenhum interesse por ingressarem num mundo de algo desconhecido totalmente por eles. Deu para perceber que ainda existe um fiapo (grande, viu!) de mercado para esses comércios e como ele mesmo disse, alguém precisa continuar mantendo isso funcionando. Ele é um desses únicos profissionais, dentre muitos que talvez não tenham ninguém a executar sua função quando se forem. A resistência continua e suas portas permanecerão abertas enquanto encontrar forças para tanto.
Essa história começa quando meu pai, Heleno Cardoso de Aquino, 81 anos, ao ser cobrado por ter parado com suas escrevinhações, estar sem nenhuma atividade, responde de imediato: “Pois vamos consertar a velha máquina de escrever, que voltarei a escrever diariamente nela”. Ela estava a alguns anos esquecida nos fundos de uma prateleira, cheia de poeira e quase travada pela falta de uso e lubrificação. Quem poderia executar o serviço de limpeza e reparos? Foi quando nos lembramos do seu Tentor, um senhor, que faz isso há décadas e décadas em Bauru. Mas ele ainda estaria em atividade?, foram alguns questionamentos a serem respondidos. Sim, estava e quem desvendou e nos passou seu endereço atual foi seu Jacy, um amigo do meu pai e assim como ele, ex-vicentino.
Célio Tentor, 72 anos está instalado na vila Cardia, rua Rio de Janeiro nº 4-28, bem atrás da Baurucar e sua loja está aberta, segundo um horário que depende das condições do proprietário. “Procuro abrir todos os dias, mas como sou sozinho, tem dias que preciso ir ao médico, pagar contas e fazer outras coisas. Quer dizer, abro quando posso, mas continuo em atividade”, é o que nos diz esse abnegado senhor, trabalhando no mesmo ramo há 64 anos e em atividade desde 1945.
“Faz dez anos que não bato máquina, mas quero voltar a fazê-lo e quero ver se consegue consertar essa aqui”, foi a fala de Heleno no balcão da Oficina Técnica Tentor. “O senhor tem muita pressa?”, foi a resposta. “Para tudo existe um jeito. Existem outras na fila e a sua está meio ruinzinha. A limpeza geral sairá por R$ 60 reais, já incluído todo o reparo e ajustes. Com mais R$ 5 reais já sairá com uma fita nova, duas cores, vermelha e preta. Semana que vem, está bom?”, veio na seqüência e os acertos foram feitos.
Irresistível foi permanecer por ali mais um tempo ouvindo as histórias de alguém que trabalhou quase uma vida inteira, principalmente com máquinas de escrever. “Ontem trabalhei até mais de dez da noite, mas não faço isso todo dia, depende do movimento e da saúde. Faço de tudo um pouco, veja ali, aquele é um mimeógrafo e aquelas são máquinas de calcular. Conserto isso tudo. Muitos ainda se utilizam disso em seus locais de trabalho e já sou bastante conhecido na cidade. Só na Gerson França fiquei em três endereços diferentes, nas quadras um, cinco e seis. Fiquei mais dois anos em Jaú e outro tanto em Lençóis Paulista. Depois, quando voltei, fiquei um certo tempo na rua Primeiro de Agosto e na Eduardo Coutinho. E agora estou aqui, longe do centro, mas perto de casa”, conta.
Quando ele toca no ponto da saúde, é impossível não perceber que está mancando de uma das pernas. “Na verdade precisaria operar, colocar uma prótese importada, R$ 15 mil reais cada. Acho caro e vou adiando, tomando remédios e em alguns momento tudo complica, engripa igual algumas máquinas velhas”, me diz. Mas nem tudo são lamentações, pois num canto do salão um vistoso motor de pesca. “Pescava muito mais que hoje. Tenho meu cantinho e gosto muito de pesca. Ainda vou, mas quase não entro mais no rio. Estou até querendo vender o motor. Posso até vender, mas não abro mão de continuar descansando na beirada dos rios”, conclui.
O salão é uma peça única, com um pequeno banheiro e entulhado de peças e mais peças, muitas dele, algumas esquecidas por clientes e outro tanto deixadas ali para conserto. Quando lhe pergunto se pretende parar, sua resposta é rápida: “Não, pois irei fazer o que? Gosto disso aqui e mesmo com outros dois locais na cidade onde se pode consertar máquinas, sou muito conhecido e consigo uma boa renda. Circule pela cidade e olhe você mesmo se ainda não existem muitos locais que usam máquinas e as calculadoras. Alguém precisa continuar consertando isso. Estou aqui para isso”.
Seu Tentor continua lá no seu canto, resistindo ao tempo e as modernidades tecnológicas. Dá graças por existirem pessoas iguais ao meu pai, resistentes às mudanças, pois querem continuar atrelados a instrumentos do passado, sem nenhum interesse por ingressarem num mundo de algo desconhecido totalmente por eles. Deu para perceber que ainda existe um fiapo (grande, viu!) de mercado para esses comércios e como ele mesmo disse, alguém precisa continuar mantendo isso funcionando. Ele é um desses únicos profissionais, dentre muitos que talvez não tenham ninguém a executar sua função quando se forem. A resistência continua e suas portas permanecerão abertas enquanto encontrar forças para tanto.
8 comentários:
Carissimo Henrique,
Adoro histórias como essa.
Profissões que têm tudo para desaparecer e no entanto permnacem.
Nunca deixe de procurar esses assuntos.
Acho mesmo que você tem em mãos um livro.
Uma hora nesse livro estará parte da história de uma cidade.
Tambem eu deveria andar aqui por São Paulo buscando essa gente que realiza coisas que ninguem mais faz.
Grande abraço, minha mãe começou com alegria.
Ignácio de Loyola Brandão
Caro Henrique:
Vc deveria, dentro das possibilidades, fazer algo com os velhos futebolistas de Bauru. Luis Marini, Zeola, etc
henrique,
gostei muito da homenagem que prestou ao meu amigo Célio,
companheiro de pescaria (conhecido como Pinguim - a piteira) e casado com
a minha amiga e ex-aluna Sônia (fiz parte de sua banca de doutoramento).
Continue.
Sugestão pergunta: está salvando em CD's ?
Abraços.
MURICY
Esse mafuá está lisonjeado, pois a TV PREVE acaba de produzir uma matéria com o Tentor lá no seu local de trabalho e convidaram meu pai para participar da mesma. o interesse veio da Mara, lá da TV e surgiu após leitura do texto aqui publicado. Portanto, verei amanhã, meu pai e seu Tentor na TV.
Henrique, direto do mafua
Meus caros
Lisonjeio renovado, pois acabo de receber email da Cristina Camargo, do BOM DIA Bauru, confirmandoque fez matéria com o seu Tentor e suas máquinas de escrever, devendo a mesma ser publicada na edição do próximo domingo, dia 04/10.
Esse mafuísta não cabe de tanto contentamento.
Henrique, direto do mafuá
Pois é a matéria no jornal BOM DIA, inspirada nesse texto, de autoria da amiga Cristina Camargo saiu publicada na edição do dia 04/10, domingo, com direito a foto e chamada na capa.
Num dos trechos faz uma citação a esse blog: "Foi justamente por meio da internet que o trabalho do Célio chamou a atenção. Ele virou personagem do blog do Mafuá do HPA, mantido pelo historiador Henrique Perazzi de Aquino, colunista do BOM DIA. Depois disso, deu entrevistas, pode contar sua trajetória e brincou: Fiquei famoso".
Eu, cá do meu canto, aqui nesse desorganizado mafuá, fico contente com tudo isso. Sigo em frente, remando...
Henrique, direto do mafuá
Parabéns pela matéria. Por meio dela descobri aonde estava o "seu" Tentor.
Grande Henrique,
Célio tentor, foi paitrao,trabalhe t com ele de 1987 a 1992,fomos a.muitos jogos do norusca juntos, sempre tinha jogo fora, no outro dia ele deixava entrar mais tarde no trabalho, qdo nan me levava até o local onde a caravana na sangue rubro saia.
Foi viajem no tempo essa sua matéria, me traz grandes recordações.
Parabéns!!!
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