segunda-feira, 7 de setembro de 2009

MEMÓRIA ORAL (71)

PARADA DA DIVERSIDADE DE BAURU E SUAS POSSIBILIDADES
Voltei à Parada, que nesse ano, pelo menos aqui em Bauru foi tentada uma coloração diferente, não sendo somente a festa nas ruas, com a realização da 1ª Semana da Diversidade de Bauru, uma iniciativa dos seus idealizadores, Marcos Souza, o Markinhos e Rick Ferreira, também proprietários da boate GLS Labirinthus Lounge Mix. De quarta até sábado, 02 à 05/09, debates e palestras ocorreram ampliando a discussão do tema da construção de políticas públicas para minorias. Louvável, pois numa iniciativa única no Brasil, algo foi feito para não deixar que a Parada se transforme somente num carnaval fora de época. No caderno especial que o BOM DIA colocou nas ruas lá está: “O pioneirismo de Bauru ao politizar o evento contribuirá bastante para a conquista de ainda mais respeito a todos os cidadãos, independentemente de raça, identidade sexual, idade e condição social”. Não consegui falar com nenhum dos dois, pois o assédio era grande e para eles, o corre-corre não teve fim.

Fui à Parada e não participei dos prévios debates, mas sinto sua repercussão pelo que ouço e leio sobre o assunto. Ouvir gente a favor no dia e no local do evento é algo fácil, pois a alegria está estampada na fisionomia dos participantes. Encontro um posicionamento ótimo para iniciar o debate nas palavras do militante comunista Marcos Paulo, que num texto pela internet afirma: “Sou contra o orgulho hetero, orgulho gay, machismo, feminismo e etc, porque estamos dividindo o mundo em setores, tribos e não percebemos isso, por isso a segmentação é ruim, se criou um abismo, e cada segmento só pensa em sua "causa", quando o que se deveria combater é a raiz de todos os problemas que é o mesmo, o estado opressor burguês e clerical, porque a consciência revolucionaria independe da origem, raça ou gênero, tanto um rico, pobre, hetero, gay, branco, negro, podem ser reacionários ou revolucionários. Da forma que está, vamos sempre continuar a fazer reuniões, congressos, conferências, paradas e não vamos mudar nada, porque o estado sempre estará aí desta forma sem ser destruído porque o individualismo e a falta de consciência de classe torna as pessoas cegas e uma luta que era para ser séria se torna algo vazio, alienatório e de manobra, sem contar demagogias mil que são feitas. A verdade é que se junta milhares para se fazer festas seja para marchar por Jesus ou pela diversidade, e para combater o estado, para fazer revolução, parar a locomotiva capitalista sectária, não junta nem dez. As pessoas se deixam levar por uma grande comoção e ficam cegas diante dos fatos”.

Essa longa fala, muito coerente, serve para outro amplo debate, talvez na continuidade do ocorrido. O fato é que nesse domingo, tudo desembocou na realização da 2ª Parada, ocorrida na Avenida Nações Unidas, entre a Praça da Paz, local da concentração e a Parque Vitória Régia, local de encerramento e de shows variados. Das 12h até o arroz secar, o local foi palco de um congraçamento, reunindo mais de 15 mil pessoas (estimativa dos jornais), onde não se presenciaram incidentes. Isso já é conhecido de todos, em eventos GLS, a violência praticamente não ocorre. O que atrapalhou o evento desse ano e diminuiu a expectativa de participação foi a chuva, chegando bem no meio do período de concentração. Dispersou, de início os curiosos e quando parou, todos os que haviam procurado por abrigo voltaram para o palco dos acontecimentos. Até a saída do cortejo teve que ser antecipada.

Alegria foi a grande marca na rua. Com quatro trios elétricos, todos revestidos de faixas, como a instalada no caminhão da CUT pedindo aprovação de leis contra a homofobia e a no da Labirinthus, com a frase “A homofobia gera violência. Diga não aos políticos homofóbicos”. Marcaram presença na avenida Leo Áquila, Dimmy Kieer, Esso Maciel, Tito Pereira, Vagner Silvestre, Vinagre, Pedro Valentim, Michelly e Nicole, e outros. Pela Prefeitura, o comando esteve sob a batuta da Secretaria do Bem Estar Social, comandada por Marlene Tendolo. A ausência, já nem tanto sentida, foi a da Secretaria de Cultura, que mais uma vez, não marca presença e não diz a que veio. O militante Pedro Valentim aproveitou para alfinetar: “Do jeito que está, a Cultura Municipal está ficando sem sentido, fazem tudo por ela. Está ficando obsoleta como um cargo da Câmara. Estou entrando com uma representação para extinguir o cargo de fotógrafo da Câmara. Ele está vago desde o começo do ano e se mostrou inócuo. Não existe mais a necessidade desse cargo”.

Fiz três fragrantes do comércio realizado no local. Num deles, o comerciante conhecido como Au-Au, conhecido da maioria dos eventos na cidade, quando interpelado se fazia fiado, foi rápido e dentro do espírito da coisa: “Não, hoje só Viado”. Num outro, um jovem, recém saído da universidade, Marcelo usou da criatividade e imprimiu junto com amigos adesivos coloridos e em cima do tema. Vendidos a R$ 1 real, renderam uma boa grana (comprei o com frase: “É melhor ser alegre que ser triste”). Sentado diante do conhecido Restaurante Convívio, aberto desde 1975, “seu Roberto” (ele odeia ser chamado dessa forma, diante de 53 anos e após décadas no local), fez algo que comerciantes não gostam muito, bebeu com seus clientes desde a abertura até a última gota e diante da verdadeira passarela que foi transformado o asfalto defronte seu estabelecimento, numa mesa rodeado de amigos (dentre eles o pai do prefeito Rodrigo Agostinho, seu Ronaldo) disse: “Lá atrás existia os Fiscais do Sarney, hoje aqui estão reunidos os Fiscais da Parada”. Parece que gostaram do que viram, tudo dentro do clima.

Quem abriu a festa foi a Escola de Samba Ouro Verde 100% e integrantes da Associação das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Bauru, seguida dos trios elétricos e os foliões. Se tudo começou com chuva, ela parou logo depois (segundo uns foi enviado um e-mail para São Pedro e ele prontamente atendeu) e a partir daí a festa se agigantou. O baticum dos momentos da descida reforçam a necessidade de que algo seja feito para alegrar as massas. Eventos onde o povo possa se reunir, extravasar sua alegria, por para fora a tensão contida do dia-a-dia. Se o evento foi comercial ou não, não acho uma questão primordial, pois se não foi bancado pelo setor público, o lucro é inerente ao mundo capitalista que vivemos. Ninguém vai mudar um conceito ou um preconceito no grito, numa parada, geralmente se pode ter uma reação inversa, o aumento do ódio. Cuidados foram tomados e expressados a todo instante, do início na concentração até a festa no Vitória Régia, já noite, quando Monique Evans junto de drags famosas encerrou o evento. Encerrou é modo de dizer, pois pelo visto, tudo teve continuidade noite adentro.

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela matéria...
Mais uma vez Bauru promove um evento com muito objetivo, organização, e sucesso!
A única vergonha é a Secretaria da Cultura se omitir do evento.No ano passado o Secretário saiu no caminhão de som, e o "BUFÃO"(Secretário da Cultura) nem na Nações apareceu, isso é preconceito e incapacidade...
Quando será que a atual administração vai tomar providências??? A Cultura de bauru esta na lama...
Vamos fazer um movimento pela cultura das outras cidades...

Anônimo disse...

Perdi. Gosto da festa. Já das discussões, detesto. Sou adepto de ver o povo na rua em plena euforia. E viva a diversidade, sem grandes aprofundamentos filosóficos.

Andrade
simpatizante

Anônimo disse...

Tem que ser macho para organizar um festa deste porte em nossa cidade e os meninos juntos com os demais organizadores estão de parabens, vc como sempre com sua incrivel lente deveria trabalhar como fotografo na camara um abraço Ines Faneco

Anônimo disse...

Uma pena aquilo tudo ter durado somente um dia.
Gosto muito disso tudo e do astral dos GLS.
Marcelo

Anônimo disse...

Henrique

Esse é mais um dos eventos que ano passado foi totalmente realizado pela Secretaria de Cultura e nesse ano nenhum funcionário da Cultura estava a serviço no local. Tudo as outras secretarias vão fazendo no lugar dessa. Ela vai ficar inoperante e inservível. Será que isso não foi combinado. Não existe mais o que dizer da atuação da secretaria hoje, pois não faz mais nada. A cidade sai perdendo com isso, mais uma vez.

Paula Landi