quinta-feira, 20 de novembro de 2025

 DIA CONSCIÊNCIA NEGRA

quarta-feira, 19 de novembro de 2025


DA AÇÃO POLÍTICA ATUAL DESCONECTADA DAS NECESSIDADES – CABO HELINHO LOUVANDO SEU PARTIDO, O PIOR E MAIS CONSERVADOR NO MOMENTO POLÍTICO BRASILEIRO

Antes de mais nada, se faz necessário lembrar algo sobre o que representa hoje o Partido Liberal (PL), consolidando-se com suas ações como o maior partido de direita, conservadora e pró-evangélica neopentecostal do Brasil. Desde 2021, com a filiação do ex-presidente Jair Bolsonaro, a legenda passou por uma mudança radical em sua orientação ideológica, antes mais ligada ao Centrão e a alianças pragmáticas. A atuação do PL se manifesta em pautas conservadoras e na busca por uma maior influência política no Congresso Nacional e também por atuar única e exclusivamente para dizer “amém” para tudo o que Jair Bolsonaro impõe. Um dos filhos do ex-presidente declara dias atrás, que o PL deve atuar exatamente assim e quem estiver incomodado que saia. Ou seja, não produz nada para o país e sua função, única e exclusivamente é seguir cegamente o quase detento.
Dito isso, aqui em Bauru, com a cidade tendo que resolver vários problemas ao mesmo tempo, como essa esdrúxula taxa do lixo e privatização da coleta, além dos vários empréstimos, seguidos e sem ação condizente, em proposituras da incomPrefeita Suéllen Rosin, um novato vereador, conhecido por seguir cegamente Jair Bolsonaro, tem a pachorra de propor algo totalmente sem sentido: “Uma Moção de Aplauso incomum, direcionada aos candidatos do Partido Liberal (PL) de Bauru em 2024, na pessoa de seu presidente, Airton Iósimo Martinez, foi a polêmica do dia na sessão de ontem da Câmara de Bauru. O propositor, vereador Cabo Helinho (PL), justificou a Moção “pelo comprometimento com a democracia e dedicação ao serviço público na eleição de 2024”. A propositura acabou se transformando em um debate político”, Entrelinhas, do Jornal da Cidade.
A moção é não só inconsistente, como totalmente sem sentido. O vetusto vereador, parece nem um pouco preocupado com as importantes decisões que, os vereadores bauruense terão pela frente e sua preocupação é enxugar gelo, passar o pano para os do seu time. Pior que tudo, como bolsonarista raiz, cego até a medula, não enxerga nada de errado nas ações golpistas de seu mentor e quer empurrar goela abaixo uma explícita bajulação para um condenado, alguém que encaminhava o país para uma ditadura e político sem noção de como comandar uma nação. O PL, cabo Helinho e todos nesta sigla são plenamente dispensáveis no mundo político, pois só atuam pelo retrocesso. Essa Moção é a absoluta demonstração da FALTA DO QUE FAZER. E quando faz, só iniquidades. Antigamente, existia no país uma DIREITA, com algum diálogo e também defesa dos interesses do país, hoje com a ultra-direita fascista, isso se tornou impossível. Jogam descaradamente contra os interesses do país. Tudo por Bolsonaro.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

FRASES (263)


PODERIA CONTINUAR DIZENDO DAS ABERRAÇÕES DO DESGOVERNO SUELLISTA BAURUENSE, MAS HOJE QUERO E VOU DIVAGAR UM POUCO
Não tem como pegar leve com quem hoje desgoverna Bauru. As péssimas notícias são diárias. E cada uma pior e mais estarrecedora que a anterior. A taxa do lixo quando da privatização vai ser arrebatadora, ou seja, contundente no bolso dos contribuintes bauruenses. Nenhuma surpresa para alguém nos governando de costas para a população. Na sequência, a incomPrefeita anuncia seis áreas públicas, todas sendo colocadas à venda, só para fazer caixa, pois se endividou tanto que, agora não sabe mais nem como fechar o caixa no final do mês. Dizem que o Natal pode ser periclitante, daí quer se desfazer de bens, só para fazer caixa. Tudo já é um horror, mas ao ligar a TV hoje, o anúncio de que, a administração dela foi condenada pela incompetência em não concluir as obras iniciadas e nunca concluídas, hoje abandonadas, do estádio Olímpico da vila Nova Esperança. O crime começa com todo o investimento e equipamentos esportivos abandonados. Tem outra obra na mesma situação, a da Estação da Cia Paulista, ali na Julio Prestes com Rio Branco, onde um dia dizem seria reaberto e colocado pra funcionar o Museu Histórico. Depois teve outro pedido de empréstimo, a bagatela de R$ 111 milhões, para obras nunca definidas. Dá para continuar essa relação, pois elas só demonstram a incompetência administrativa fundamentalista em curso. Encerro aqui a ladainha, com a frase repetida por mim a todo instante e em todo lugar: essa administração, mais dia menos dia, terminará num plantão policial. Sem palavras.

Vamos ao que interessa. Por estes dias termino a leitura de dois livros e quero tecer alguns breves comentários de cada um deles. Ler me distrai de perder a calma com a barbaridade administrativa em curso na cidade de Bauru. Desde o falecimento do cronista Luis Fernando Verissimo queria reler um de seus livros. Inicio um, crônicas escritas de 1991. Trata-se do “ORGIAS”, editora L&PM RS, 144 páginas, algo que fui lendo em drops, uma por dia. Terminei anteontem. Um prazer ler alguém tão magistral na formatação e ajuntamento das palavras. Seleciono algumas frases para exemplificar o primor da observação:

- Sei que as pessoas falam, mas o que posso fazer? Em Porto Alegre falam de todo mundo.
- Cansada de assistir à História no Jornal Nacional em vez de fazê-la.
- A imprensa brasileira, em vez de cumprir seu legítimo papel numa sociedade democrática, que é o de dar a previsão do tempo e o resultado da Loteria, insiste em perscrutar as ações dos políticos, como se estes fossem criminosos comuns, não qualificados, e em difamá-los com mentiras.
- ...esperamos que o político, abjetamente, deixe de dar um emprego para alguém do seu sangue e dê para o parente de outro, às vezes um completo estranho, cuja única credencial é ser competente ou ter passado num concurso.
- A vida é uma bola, há os que a dominam no peito e põem, maciamente, na grama, e há os que a aparam com o nariz e chutam a grama.
- Já que o Brasil vai pra lá mesmo, o melhor é ir na frente e pegar mesa de pista.
- Você não pode viver solialisticamente num país capitalista, mas deve ter sempre em mente que existe a alternativa.
- Deus, o primeiro autocrata, fez o mundo como bem quis, sem ouvir as bases, sem plebiscito. O que, pensando bem, foi a nossa sorte, pois, se o Criador tivesse optado pelo método democrático, o universo não estaria pronto até hoje e estaríamos perdendo todos os bons seriados na TV.
- Mas e se a liberdade foi mal distribuída e meu vizinho tem um latifúndio de liberdade enquanto que a minha é a de um quintal de liberdade, liberdade mesmo que tadinha? Não é feio sugerir um reestudo da divisão.
- Mas eu desconfio que a única pessoa livre, completamente livre, é a que não tem medo do ridículo.

Hoje, terça, estava tão acabrunhado com a perda do querido Jards Macalé que, sentei à tarde no Mafuá, sozinho, eu e meus livros, pego um sobre ele, o trazido do Rio, lá da livraria Folha Seca, coleção Álbum de Retratos – Jards Macalé, escrito pelo João Pimentel, ano 2017, 128 páginas, com fotos e um belo texto revendo toda a vida deste irreverente cantante e poeta carioca. Só saio do sofá, depois de devorar o livro de cabo a rabo. Dissequei o Jards. A concepção dessa coleção, 24 volumes, que tenho inteira foi a de reunir, em livro, o acervo pessoal de fotografias de determinadas personalidades das artes e da cultura do Brasil, indo do cinema à música, do jornalismo à poesia, sempre com outras personalidades escrevendo os breves perfis dos fotografados. Neste do Jards, uma viagem desde sua infância.

Dos textos selecionados, começo com quando ele rebate e se defende de ser intitulado maldito. “Maldito está no Aurélio: Diz-se daquele ou daquilo a que se lançou a maldição, condenado; ou pernicioso, execrável. Funesto; e mais, muito mau, perverso, malvado, maligno”. Pesado, não? Pimentel no texto o define de outra forma: “Contestadores na forma, no conceito: artistas que não fizeram concessões, não subiram degrau por degrau a escadinha fácil do sucesso. E aí é fácil identificar Macalé, Jorge Mautner, Luiz Melodia, Walter Franco, Itamar Assumpção, Tom Zé, que em comum tem o fato de serem geniais, intuitivos, sensíveis, absurdamente criativos e, mais que tudo, autênticos”. 

De todas suas letras, escolho essa, a da letra Mal Secreto, parceria com Waly Salomão: “Não choro/ Meu segredo é que sou rapaz esforçado/ Fico parado, calado, quieto/ Não corro, não chorro, não converso/ Massacro meu medo, mascaro minha dor/ Já sei sofrer/ Não preciso de gente que me oriente”.

Tem outra poesia, muito marcante, a de Olho de Lince, também em parceria com Waly Salomão: “Quem fala que sou esquisito, hermético/ É porque não dou sopa, estou sempre elétrico/ Nada do que se aproxima nada me estranha/ Fulano sicrano beltrano/ Seja pedra seja planta seja bicho seja humano/ Quando quero saber o que ocorre a minha volta/ Ligo a tomada abro a janela escancaro a porta/ Experimento tudo nunca me iludo”.

Amanhã, dependendo da aberração produzida pela nossa nada dileta alcaide, volto à carga descarregando um caminhão de aporrinhações, despejo novamente meu caminhão de bostas frescas na porta de entrada do Palácio das Cerejeiras, com endereço, CEP e tudo, repetindo sempre os dizeres, renovados de alguma forma: “Não vejo a hora disso tudo terminar num plantão policial”.
Nada como fechar este texto com a refelexão proporcionada pela tira de Miguel Rep.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

CHARGE ESCOLHIDA À DEDO (225)


"O CRIME É TÃO ORGANIZADO QUE TEM ATÉ RELATOR"*
Charge da Laerte, sempre ótimo.

* A instigante frase foi lida por mim dias atrás, revelando uma verdade enfronhada, engruvinhada com o poder estabelecido hoje no estado mais rico da Federação, publicado nas redes sociais por Maysa Leal e aqui utilizada como título para as escrevinhações a seguir:


1.) COMPARO O FILME "O AGENTE SECRETO" COM O QUE GOSTO DE FAZER
Ele diz numa das falas deste trailler de seu filme: "Eu acho que nós temos as melhores caras do mundo. A quantidade e a variedade de caras, de rostos que tem no filme, isso é muito importante". Sempre gostei exatamente disso, de expor as muitas caras, os rostos das pessoas e assim, no meio delas, deixar registrado que somos assim e pronto.

Neste exato momento, colho depoimentos para um trabalho sendo feito no distrito rural de Tibiriçá e lá, o que mais gosto de fazer é enquadrar o rosto das pessoas e elas dizerem a que vieram, contando suas ricas histórias de vida. Com este enquadramento muito próximo, olho no olho, mostramos nossas caras e isso, para mim, é a essência do que faço. Não faço com a qualificação do cineasta Kleber Mendonça Filho, mas este seu dizer me anima a continuar, pois se lá no filme deu certo, comigo também pode dar. Enfim, sou do time dos que gosta mesmo é de trabalhar com estes rostos e vivências todos, demarcando quem de fato merece estar do outro lado do foco de nossas lentes. "O Agente Secreto", um filme sobre tempo e memória. Como a ideia nasceu? Kleber Mendonça Filho, diretor do longa-metragem, revela curiosidades criativas sobre o filme. Eis o link dele falando sobre isso: 
HPA, desejando bom dia e boa semana para tudo, todas e todos

2.) CONVERSANDO A GENTE TENTA SE ENTENDER
"Em um táxi no Rio de Janeiro, o motorista me disse que era castrista. Falei "eu também sou". Ele disse: "tem mesmo é que matar as cobras". Respondi que depois que fizeram a limpa, a situação nunca voltou ao que era. Ele: "nós precisamos de um presidente assim no Brasil". Eu: "Sim! Aliás, falta é a coragem dele para enfrentar o verdadeiro inimigo que ameaça o Brasil". Ele: "será que Castro vai conseguir ser eleito?". Falei: "Infelizmente não tem como porque Fidel Castro já morreu. Ele tinha a coragem para enfrentar quem se curvava ao imperialismo dos Estados Unidos. De vez em quando também fazia a limpa nas cobras que pediam invasão estrangeira no próprio país. Por isso que digo que sou castrista: Fidel Castro era o cara! E digo mais. Em tempos de ameaça de agressão à Venezuela, também sou chavista. E aqui no Rio, eu seria brizolista porque se não tivessem desmontado os escolões, agora teríamos mais Estado nos bairros, mais educação pras crianças e menos traficantes e milícias". Um silêncio reinou a partir de então. A última palavra que ele disse foi: "a corrida terminou"", THOMAS DE TOLEDO.

3.) O DETALHE DA CONVERSA COM O LEONARDO
Ser noroestino, na sua acepção, é algo para ser entendido andando pelas ruas e conferindo in loco algo disto, desde a vestimenta às conversas. Cruzo com o eterno jornalista Leonardo de Brito, que por anos atuou no Caderno de Esportes do JC, depois algumas rádios, sendo seu forte a escrita. Porreta no que faz e fez bem feito. Paramos para conversar diante do caixa de um supermercado e ele desabafa: "O Noroeste é outro, o futebol é outro e acompanho aqui de longe todas as transformações, essas SAFs tomando conta de tudo. Veja no caso bauruense, fizeram uma grande festa para apresentar o projeto novo, lindo, tudo novo, até com hotel na parte interna e convidaram muita gente, mas nem eu nem o Jota Martins (radialista e comentarista esportivo de velha cepa) fomos convidados. Nós temos história noroestina. Dói ser deixado de lado". No futebol de hoje, com este próximo campenato paulista diminuido, espremido e com menos datas, tudo dói, mas o reclamo do Leonardo cala mais fundo que tudo.

4.) NÃO ESCAPA UM - TEM MUITOS MAIS PREFEITOS ATUANDO DA MESMA FORMA E JEITO 
Rodrigo Manga, agora afastado prefeito de Sorocaba, desviava dinheiro do setor de Saúde, Transporte e Lixo.
A ficha só aumenta.
Afastado do cargo de Prefeito de Sorocaba, a investigação identificou que Rodrigo Manga cometeu possíveis irregularidades em contratos da área da:
Saúde
Transporte público
Coleta de lixo
Serviços de engenharia
Vigilância patrimonial
Os investigadores encontraram indícios de uma "contabilidade paralela" que evidenciaria o esquema de corrupção.

Marcos Antonio Ferraz, página Somos Mídia.

5.) A FORÇA DE UMA CAMISETA COM MARX NA ESTAMPA CIRCULANDO PELAS RUAS BAURUENSES
Usei essa camiseta com estampa do Marx por dois dias seguidos. Me espanto toda vez que a coloco. Tempos atrás, estava com ela e recebemos a visita da amiga professora e fotógrafa, Lais Akemi em casa. A danada sabia algo de russo e me traduziu o escrito. Fiquei maravilhado, pois tínhamos uma vizinha aqui ao lado e que sabia russo. Hoje ela se foi, está dando aulas em Poços de Caldas e no sábado cedo, visto a velha camiseta que, tempos atrás, ganhei de meu filho. Ele a usou por um tempo e me presentou. É das minhas preferidas. Fui com ela até a padaria, bem cedo, estávamos com visitas em casa. Chego e uma senhora muito simpática, mais de 70 anos, moradora aqui pertinho, com uma tatuagem linda na canela, sempre que chego vem comentar sobre minhas camisetas. Pergunta quem é. Este o mote para iniciarmos uma longa conversa, tudo presenciado pelo dono da padaria, até bem pouco tempo bolsonarista, hoje já não sei mais. Contei a ela que tempos atrás, uma vizinha nossa me vendo com a camiseta, sabendo russo a traduziu para mim. Falamos um pouco de Marx, ele alemão, daí o estranhamento dela do russo na legenda. Digo dele ser o mentor da Revolução Russa. Ela fala de Lenin, digo que ambos são mentores da teoria a perdurar e instigar leituras e ações até nossos dias. Valeu muito a pena, pois ver a fisionomia de espanto do dono da padaria não teve preço.

Hoje, ela ainda estava limpinha e fui com ela no velório do seu João Félix, 76 anos, petista bauruense/nordestino falecido ontem. Sou novamente abordado por causa da camiseta. Enquanto uns se contorcem na fisionomia contrariada, outros se aproximam para conversar. Eram duas senhoras e uma delas me vendo com Marx na estampa, me diz fazer parte hoje de algo cada vez mais raro. "Nem Che a gente vê mais", citamos na conversa. A delícia da conversa foi quando me disse que conheceu a Rússia. Pergunto se é de Bauru e se foi em alguma excursão. Disse morar aqui faz tempo, mas viajou através de uma excuusão saindo de Sampa. Contou detalhes de Moscou e de Stalingrado, não tendo viajado numa época fria e gostou muito. Na Praça Vermelha, lhe mostraram umas luzes acesas num certo ponto do palácio e disseram que quando acesa, era sinal de que Vladimir Putin estava lá trabalhando. Travamos um longa conversa.

Seu nome, Deusa Trindade Morales e ao saber meu nome, me pergunta se era o escritor. Confirmo rindo, pois ela me lia nas cartas publicadas pelo JC. Me faz relembrar de seu marido, Edmur Morales, já falecido e de quando viajavam por aí e no retorno enviavam cartas para o caderno de Turismo do jornal, em espaço próprio de relatos de viagens. Lembro dessa seção, aúreos tempos quando o JC existia. A acompanhando, outra simpática senhora e depois das apresentações, uma baita surpresa. Ela, Maria Aparecida Cardoso, mas todos a conhecendo por Cidinha. Conta que, por muito tempo foi secretária particular de Milton Dota, principalmente no seu período como político. Digo que, teria enorme prazer em ouví-la, relatos de suas histórias. Ela não se faz de rogada e me diz: "É só ligar, eis meu número". Elas foram ao velatório Terra Branca por outro falecido, mas ao ver a bandeira do PT sob um caixão, se aproximaram para assuntar quem era. Deram comigo, eu e Marx no peito.

Pronto, a tal da camiseta havia surtido efeito e em dois momentos estabeleceu conversações proveitosas. Marx tem dessas coisas, algo muito positivo, como o destes dois momentos e também, outros não tão alvissareiros, quando se depara com a desaprovação de quem, com certeza, nunca o leu, mas o detesta mesmo com superficial ou nenhum conhecimento da teoria proposta por ele. Achei por bem chegar em casa, após um dia atribulado pelas ruas e contar o ocorrido, pois a estampa marxista, desta feita, trouxe e rendeu papos mágicos. Ninguém, dentre os do rolê estão dispostos a discutir a teoria marxista no momento - o que é uma pena -, mas só de alavancar conversações e possibilidades disso ter prosseguimento, um encanto. Ao chegar em casa, por volta das 22h, chegou a hora de colocar a já suada para lavar e depois guardá-la por mais um tempinho, até vestí-la novamente e sair para uns bordejos pela aí. Desta feita, rendeu.
Cidinha e Deusa, a conversa por causa da camiseta do Marx.

domingo, 16 de novembro de 2025

MEMÓRIA ORAL (325)


VENÂNCIO, O AGRICULTOR FAZENDO A DIFERENÇA NO DISTRITO DE TIBIRIÇÁ, PLANTANDO EM UM ALQUEIRE MAIS DE 100 ESPECIALIDADES DE FRUTAS DO MUNDO INTEIRO
Começo contando uma história pouco usual e reconhecidamente das mais interessantes, instigantes e diria mesmo, arrebatadora e a demonstrar com muita limpidez, uma rica particularidade do procedimento do ser humano diante do mundo onde vive. Um casal, sai em busca de um local melhor para viver, após uma vida inteira residindo em Curitiba/PR e o faz, após recomendação médica. A esposa precisaria de novos ares e sair de uma cidade grande, indo em busca de local mais arejado e tranquilo. Percorrem estradas e mais estradas, muitas delas pelo interior paulista. Passam por Bauru e até então nada os havia tocado. Seguem em frente, seguindo placas indicando 250 km até Araçatuba, 120 para Lins, outro tanto para chegar na divisa com estado do Mato Grosso do Sul. Saem de Bauru e logo no começo uma placa indicava, 10km até Tibiriçá. Mas o que seria este lugar? A pergunta que faz para si mesmo é só uma: só indo lá e conhecendo pessoalmente.

Foi o que fizeram. E assim, José Venâncio da Silva, 74 anos ou simplesmente, Venâncio como gosta de ser chamado, aportou junto da esposa e pela primeira vez no distrito rural de Tibiriçá, algo em torno de uns 15 anos atrás. Não teve para tanto a indicação de nenhuma pessoa, tudo ocorrendo por obra do acaso. Chegaram, assuntaram o que viram, rodaram suas ruas e se a primeira impressão é a que fica, gostou. Perguntou na praça principal, obtendo ali mais informações sobre o lugar. Na conclusão de ambos, este poderia ser o lugar que tanto procuravam. Começaram a se informar sobre algum pequeno pedaço de terra disponível. Disseram de um e para lá se dirigiram, olharam, viram das suas possibilidades, num canto do denominado Pé Vermelho, o conjunto de casas situado à direita de quem chega em Tibiriçá, mas precisamente, o último antes de adentrar a efetiva zona rural. 

Conversaramn com o proprietário, este desconfiado, querendo e sugerindo que, se o negócio fosse feito, queria pagamento à vista. Se entenderam e para resumir e finalizar essa introdução na transformação na vida de Venâncio dali por diante, em apenas mais dois dias já era proprietário do alqueire de terra, num lugar que até então nunca havia ouvido falar. A área era constituida de uma modesta casa na frente e pouca plantação no restante. Para o casal era o suficiente, ou seja, exatamente o que buscavam. Ali, a possibilidade de colocarem em prática tudo o que vinham acumulando de conhecimento na área de botânica, meio ambiente e uma vida totalmente diferente da vivida até então. O passo seguinte foi arregaçar as mangas, ir à luta, conquistar a confiança dos moradores e iniciar o novo modal de vida. 

Passados os quase quinze anos da chegada, nenhum arrependimento e a total transformação do lugar. Com um lema dentro de si, algo como uma filosofia de vida, "gratidão por tudo o que tem recebido", Venâncio olha para trás com orgulho. Deixou Curitiba, onde ainda mantém um pé fincado numa atividade empresarial, da qual não gosta de falar, pois gosta mesmo é de ser reconhecido como agricultor. Quando perguntado sobre sua profissão, responde sempre de forma impositiva: "Sou agricultor. Pouco importa o que já fui um dia. Hoje estou aqui e pronto. Fui bancário por muito tempo, depois comerciante, mas para mim isso é coisa do passado. O que vale é isso aqui a me mover". O casal tem três filhos, dois morando no exterior, um na Austrália e outro na Inglaterra. O mais próximo está em Brodowski, local visitado com certa frequência. 

O mais impressionante da transformação na vida do casal é ver o estado, encontrado pelo local adquirido, onde também residem e como está hoje. Venâncio sempre gostou de plantas, verde e principalmente frutas. Em Tibiriçá teve a possibilidade de juntar tudo e mais que isso, colocar em prática, no pequeno pedaço de terra, tudo o que até então, não conseguia expandir de forma prática, primeiro por falta do espaço físico e depois por só ter tido o impulso para tomar a atitude que tiveram, quando diante da necessidade dos problemas de saúde da esposa. E, a partir de então, foram sendo plantados mudas e mais mudas, muitas delas conseguidas ao longo do tempo, outras pelo simples fato de ouvir falar e ir atrás. "Tomo conhecimento de uma muda rara de fruta, um agricultor como eu, mas em Divinópolis/MG. Consigo o contato, ligo e acertamos de ir buscar no dia seguinte. Ele ainda me pergunta o horário que irei chegar. Digo cedo e ele quer saber, o significado deste cedo", conta. Chegou lá antes do sol raiar e desta forma e jeito foi conseguindo algo único e surreal. Cada planta possui uma procedência parecida e história dentro de sua cabeça. Não existe identificação das plantas, tudo dentro de sua cabeça.

Circulo com ele toda a área, ele com uma pequena faca nas mãos e diante de cada fruta, a corta e me oferece. Impossível não ficar impressionado, pois a variedade é realmente única. Fui anotando os nomes das muitas frutas, a maioria provada ali mesmo. Cito algumas: sapoti, limão australiano, bacupari, amora paquistanesa, achachairo boliviano,  mangustão amarelo, manga manteiga, maracujá pérola do cerrado, canisteo do sul do México, cereja do Rio Grande, sapota peruana, marangue do sudeste asiático, manga chok jambo, abacate da Guatemala, cabeludinha, olho de dragão chinês, abiu roxo e tantos outros. Inclusive, o abiu, que disse num primeiro momento, parecido com figo, me diz: "Não tem nada a ver. Prove". Provei, a fruta tem algo a amarrar levemente a boca, doce, suculenta, carnuda e algo que nunca até então tinha provado.

Venâncio é o tipo de pessoa que não se abre facilmente. Ele precisa primeiro conhecer um pouco mais do oponente está ali diante dele. Já no primeiro contato, diz algo bem esclarecedor de sua personalidade: "Você disse que viria na parte da tarde, não marcamos hora, daí te espero faz tempo. Gosto de marcar hora e da pessoa chegar no horário". Estava me esperando do lado de fora de sua casa. Aprendi, ou seja, melhor assim. Depois de quase uma hora circulando pela sua plantação, comendo tudo o que me foi oferecido, nenhuma à venda. Consome e doa tudo. A única que revende é o palmito pupunha, nada mais. E conta mais sobre o procedimento do lugar, onde o terreno pode não estar muito limpo, pouco rastelado, pois diz tudo ali ser reaproveitado pelo próprio solo, desce cascas de árvores e bagaços das frutas. Em quase toda a área, uma folhagem seca cobre o solo e isso, segundo ele, é fonte de riqueza para o lugar. Tudo devidamente reaproveitado e assim vejo isso ali acontecer na exata acepção da palavra. 

Circular com ele pelo local é mais que uma aula sobre botânica e aproveitamento do solo. Mesmo já tendo passado dos 70 anos, pela continuidade do trabalho ali existente, algo oxigenador e também recarregador de baterias, afirma tudo necessitar de continuidade e perseverança. "Por aqui, todo dia tem trabalho e o lema é não reclamar da vida. Eu pergunto sempre para ela e a resposta recebida é um puxão de orelha contínuo", me diz e lhe pergunto quem lhe disse isso, quem lhe chamou a atenção. Ele: "Ela, a natureza". Ali percebi definitivamente da simbiose com a natureza, algo realmente colocado em prática. Venâncio respeita os sinais dados pela natureza e assim tocam a vida. Num certo momento, comparo o que ali vi com a terra que o famoso fotógrafo Sebastião Salgado, comprou décadas atrás em Aimorés, vale do Rio Doce/MG, área totalmente devastada, pelada e depois de alguns anos, com o verde predominando. Ele ri, concorda e diz, que o que Salgado fez foi algo em grande proporção e na dele, muito pequena. Porém, a similaridade está estabelecida e constatada, querendo e, é claro, podendo, tudo pode acontecer.

Continuei ouvindo nomes de mais especialidade ali plantadas, como a árvore couve, a fruta santol, laranja boliviana e poucas na qual já conhecia. Vivem ali o casal, três cachorros e alguns moradores lhe prestam serviço, como quando da saída, um deles me esperava na modesta porteira, fechada impreterivelmente às 17h, para tudo recomeçar no dia seguinte. Confesso, é muita coisa para ser assimilada e compreendida assim de uma só vez. Venâncio é um visionário, diria mesmo, um realizador, destes dispostos a mudar o estado vigente. Tem quem colecione livros e discos - como eu -, outros gostam de juntar coleções variadas em estantes e tem, gente como ele, diante de um pedaço de terra pra chamar de seu, vão atrás de sementes raras, as fazem frutificar e assim se dão por felizes, satisfeitos e com aquela fisonomia de ter realizado algo de bom pro mundo. 

Grandioso lugar, único na região, grandiosa pessoa, com quem, ganhando sua confiança, um ótimo papo e além de tudo, podendo até trazer na algibeira, frutos variados para seu consumo, sem ter que dispor de nenhum real em sua compra. Essa história não se encerra por aqui, pois além de contar algo de cada planta ali existente, tem isso da motivação que o faz seguir adiante e isso só é alcançado após várias incursões. Viajado, conhecedor de estradas, lugares e pessoas, um autoditada, que não gosta de falar de seus estudos, mas sim do que faz atualmente. Vive num local simples, casa levantada segundo sua concepção arquitetonica, sem grandes arroubos, dentro deste distrito rural de Bauru, Tibiriçá, cheio de histórias arrebatadoras. Essa a de hoje, mas por lá muita gente com outras tantas, cada qual com seu apreço e valor.

COMO NÃO QUERER ESCREVER E CONHECER LIVRO ESCRITO COMO TESE UNIVERSITÁRIA PELO AMIGO SILVIO DURANTE? PESQUISA MAIS QUE RELEVANTE SOBRE A COLOSSAL HIDRELÉTRICA DE ITAIPU
Recebo do professor Silvio Durante uma indicação para escrever algo sobre livro de sua autoria. Leio, me entusiasmo e publico o texto enviado a mim por ele:

"Meu caro Henrique, boa tarde! Minha dissertação de mestrado foi publicada como livro recentemente. Infelizmente tenho pouquíssimos exemplares impressos, que serão todos doados para bibliotecas públicas e universitárias. Mas se eu te emprestar um exemplar para leitura, você poderia fazer uma postagem/resenha dele aqui nas suas páginas e no Mafua do HPA? A aquisição é apenas pela plataforma virtual UmLivro.com (Link: https://loja.umlivro.com.br/o-canal-de-desvio-do-rio-parana--itaipu-na-cobertura-do-jornal-o-globo--1975-78--7417345/p ) Se estiver afim de uma boa leitura, me fala onde posso deixar o livro pra você. Um abração, Henrique!

No instagram, fiz esta postagem do livro, explicando um pouco do que se trata a pesquisa: "O Canal de desvio do Rio Paraná: Itaipu na cobertura do Jornal O Globo (1975-78) é um trabalho realizado no PPGHis da UNILA, sob a orientação do historiador Dr. Paulo Renato da Silva (@pauloparesi). Belamente produzido pela editora Diálogo Freiriano, versa sobre uma etapa construtiva da colossal usina hidrelétrica de Itaipu, na época a maior obra do Brasil e uma das maiores do mundo. Tido como obra crucial pelos generais da ditadura militar do Brasil e do Paraguai, o Canal de Desvio é uma etapa pouco conhecida do empreendimento e o livro mostra como o Jornal O Globo apresentou ao país tanto a obra, quanto seus proponentes e, em menor monta, os trabalhadores barrageiros. Alias, à estes "homens de aço" dedicamos não apenas páginas do livro, mas toda esta obra em si, pois do esforço destes operários, espremidos entre a lama do Rio Paraná e as enormes máquinas das escavações, ergueu-se a imensa detentora dos maiores recordes energéticos do mundo, a usina de Itaipu, que no idioma dos parentes guaranís significa "a pedra que canta"".

Valorizando quem pesquisa, quem produz e insiste em trabalhos elucidativos, o livro do Silvio se enquadra nisso tudo, daí eis minha crontruição para que, interessados o busquem pelo canal Loja.umlivro. Uma delícia observar amigos sendo, fazendo e acontecendo.

sábado, 15 de novembro de 2025

ALFINETADA (259)


PORQUE NÃO DÁ PARA FICAR COM MUITA AMENIDADE POR AQUI
Sou questionado por um dileto amigo dos motivos de ficar sempre batendo na mesma tecla, com a maioria de minhas publicações e escritos versando sobre o momento político brasileiro. "Você não te mmedo de se tornar chato, sempre falando da mesma coisa?".

Respondo aqui e agora, não precisando nem de colocar aspas no escrito.

Não. O momento exige que continuemos atentos. Estamos no meio de tentativas sucessivas de golpes sobre os costados do que nos resta de democracia e se ficarmos desatentos, sem ligar pra coisa, eles passarão com um trator e com a pá escavadeira sobre nós. Não dá para ficar postando amenidades. Eu adoro escrever sobre amenidades, ficar tergiversando, enfim, futilidades também devem fazer parte de nossas vidas.

Primeiro os malucos tentaram dar um golpe violento e com sangue, o nosso sangue. Para continuar no poder, iriam matar o presidente eleito, o ministro mais virulento do STF e até o vice-presidente eleito, ele nem tão incisivo no processo. E a partir daí, estaríamos todos calados, contidos, diminuídos e oprimidos dos pés à cabeça. E como querer se manter indiferente a isso tudo.

Não dá para brincar, os golpistas não recuam de suas pérfidas intenções. O que gente como eu quer é somente que continuemos caminhando dentro deste atual Estado Democrático de Direito. E os golpistas querem exatamente o contrário. Os fdp deram um golpe no mandato de Dilma Rousseff quando a sacaram do poder com uma pífia justificativa e apartir daí, impulsionaram a abertura do esgoto brasileiro. Tudo de ruim despontou a partir daí. Surgiram tipos inesperados e com ele, o pior de todos, Jair Bolsonaro e tudo o que conhecemos.

O país foi envolvido pela narrativa destes, que conseguiram dominar o meio virtual  a partir daí, nos enfiaram a todos numa viagem quase sem volta. A narrativa destes foi tão convincente, principalmente para a grande maioria da população, os menos escalrecidos e estes compraram a ideia de serem eles os salvadores da pátria. Foi e é uma merda. Mentira em cima de mentira a desconstrução nacional. 

E até hoje, mesmo a narrativa sendo parcialmente derrubada, os golpistas assassinos continuam dominando a nação. Hoje, infelizmente, por causa do momento conseguido por eles, nossos parlamentos continuam dominados pelos priores políticos que poderíamos ter, a maioria fundamentalista e bolsonarista. Dê uma espiada rápida na composição da Câmara de Vereadores de Bauru, na Assembléia Legislativa paulista, no Congresso Nacional e também no Senado Federal e sem nenhuma surpresa, a constatação de que os golpistas continuam com muita vantagem. Possuem maioria em quase tudo. E obstruem tudo o que encontram pela frente e que não diga respeito aos interesses lá deles.

Já tentaram algo muito além do frustrado golpe. Tem novidade a cada raiar de novo dia. Eles não sossegam um só instante. Nos querem ver derrotados definitivamente e se possível, enterrados vivos. Basta ver a fala deles todos nas várias comissões onde participam e dão opiniões, não só despropositadas, descabidas, como virulentas, sem sentido e também inconstitucionais, a maioria criminosas. Como pegar leve com estes? Impossível. Eles não nos dão trégua. E por que deveríamos pegar leve com eles e fingir que nada está acontecendo? 

Eu escrevo bem menos do que gostaria, pois tenho meus dias tomados por muitas obrigações. Escrevinho como posso, nos intervalos e sempre movido pelo que ouço, vejo e leio. Já quero vir aqui e soltar logo os cachorros, me mostrar útil. Dar o meu quinhão para irmos levando este barco adiante e derrotarmos o fascimo. A maldade está nos rodeando e na nossa espreita. E eles não nos querem bem. O negócio deles não é democracia, não é seguir legislação existente, mas a deles, a da espoliação e acumulação. 

Aqui mesmo em Bauru, quem acompanha os trabalhos da Câmara de Vereadores, percebe nitidamente como se dá a maioria das ações dos vetustos edis. Muito pouco de interesse público e como, a maioria está aliado cegamente com os interesses da prefeita fundamentalista, votam de costas viradas para os interesses do povo e da cidade. Não estão nem aí e só mudam de opinião ou de voto quandoi pressionados. Sem pressão, irão nos apunhalar mais e mais. Em Brasília a mesma coisa. Veja agora no exemplo do que o Derrita foi fazer dentro da Câmara dos Deputados, deixando temporariamente o governbo paulista só para fazer vingar algo em prol do crime organizado. Como se mostrar indiferente a isso? Aqui em Bauru, Suéllen traz secretários de fora com o intuito de agilizar e fazer vingar mais rapidamente algo como as privatizações, empréstimos vultuosos e projetos envolvendo terceirizações, sempre sem muita discussão e debate, tipo "passar a boiada". Se bobear, perderemos todas. Eles são bem organizados na defenestração do que nos resta e ficar escrevinhando coisas leves, enquanto estão os verdugos tramando e nos enfiando goela abaixo a destruição da cidade, do estado, do país e do planeta. Daí, daqui de minha trincheira, esgrimo com minhas parcas armas e sigo escrevinhando duramente contra estes todos. 

Minha resposta é essa. Sou assim, serei assim enquanto tiver forças. Não quero e nem tentem mudar como faço minhas coisinhas e toco minha vida. 

LINIKER É A CARA DO BRASIL - FELIZ COM SUA VITÓRIA NO LATIN GRAMMY 2025
Ela desfere um sonoro diário tapa na cara da escancarada hipocrisia brasileira. Beleza pura.

Comentários:
- "Arrisquei as ler alguns comentários sobre suas premiações! Fiquei enojada e enjoada, pelo nível de RACISMO, ÓDIO, HOMOFOBIA e tentativas de DESQUALIFICAÇÃO da artista! Não sou conhecedora de duas composições, porém, todas as vezes que a vi, demonstra um CARINHO e SENSIBILIDADE extremos, com seu público! Triste realidade, num país em que os grandes talentos são medidos pela cor da pele!  LINIKER é uma grande referência e representa os seus, quando comemoramos a Semana da Consegui Negra!", Maria Luiza Carvalho.

- "Maravilhosa! As críticas maldosas são das pessoas pequenas, de pensamentos pequenos e corações umbralinos!", Rosangela Silva.

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

COMENDO PELAS BEIRADAS (169)


AMANDA FINALMENTE FOI CONHECER A CIDADE DO RIO DE JANEIRO, SEU RELATO É MAIS QUE IMPRESSIONANTE
Trabalhei no Rio, amo a cidade, conheço algo de suas entranhas, tudo por causa dos tempos quando fazia chancelas. O subúrbio carioca é encantador. Depois me casei com um carioca, Ana Bia, da Tijuca/Grajaú/Andaraí e acabei por me aprofundar mais e mais exatamente nas entranhas do Rio. Volto pra lá regularmente - ia mais no passado - e em todas, poucas vezes fui à praia e aportei na Zona Sul. Não que não goste de perambular por Copacabana ou Ipanema, mas a preferência vai do seu centro velho e daí para cima, adentrando um lugar onde, hoje precisa saber por onde se pisa - nada diferente de Bauru. Da última vez que lá estive, escolhi a Gamboa para perambular e tirar fotos. Por estes dias, quem por lá aportou foi a escritora das quebradas desta insólita Bauru, AMANDA HELENA. Ela o fez de forma garbosa, pomposa, chegou por via áerea, juntando caraminguás, pois não se envergonha de explicitar, é bacharel em Direito, mas ganha a vida mesmo com suas faxinas. Passou uma semana e adentrou a cidasde exatamente por este lado, que a maioria dos turistas fogem, o subúrbio, seus bairros populares e dali extraiu um depoimento deste para endoidecer gente sã. Me atenho com ela para nos contar de um lugar em especial, a ROCINHA. Depois de tudo o que a gente vê e lê através da mídia massiva, desdizendo de lugares populares, todos ditos como "perigosos" e redutos do "crime organizado", ler seu relato é mais que um alento. Já estou marcando uma conversa pessoal, com muito mais detalhes, talvez até grave com ela, desmistificando o que se tem como verdade absoluta. 

"A Rocinha foi o lugar que eu mais gostei de ir. Amei a Lapa. Você está muito mais seguro dentro da Rocinha do que em Copacabana e na praia de São Conrado. A Rocinha respira turismo, 70% dos mototáxistas que sobem lá é com gringos. Tem hora que você pode filmar numa boa. Sim, tem hora que você meninos com fuzis nas mãos. Aliás, estou com o telefone de três motoqueiros que fazem tour na Rocinha e eles super respeitam quem vai lá pra conhecer. Fui até convidada para ir naquele baile famoso que acontece lá. Descobri que indo com gringo sai super caro e indo com morador, preço muito em conta. Os meninos trabalham como mototáxi fazendo turismo e possuem outro emprego fixo, como o que me levou, trabalhando num restaurante em Ipanema. Muito bacana eles. O Saara perto da feira da Rocinha não chega nem no pé. Tudo mais em conta, marmitex a R$ 12 reais e coxinha por R$ 5 reais, mais o refresco dá R$ 6 reais. Você come bem e barato. Pra mim foi o melhor rolê, só comparado com a Lapa.

Lá tem todas as regrinhas deles. Lá você não pode tirar gráu de moto, não pode empinar moto. Vi que eles tem uma cadeia particular, eles trancam no quartinho. Ou o cara fica uns dias ou leva porrada. Temas as coisas que você tem andar miudinho pra viver bem lá do jeito deles. E todos já sabem que é assim, todo mundo obedece e segurança lá, garanto pelo que vi, muito mais que em Copacabana. Agora, da próxima vez que eu for, já penso em voltar ano que vem. Fui no morro do Pinto, sózinha, para conhecer o Bar do Omar, um local famoso da esquerda. Eu nem sabia que esse bar era tão famoso. Eu vi o dia que ia ter samba, não sabia que era um bar da esquerda, o Omar maravilhoso, peguei amizade com a cozinheira lá, além do samba raiz mesmo. Um morro maravilhoso, super calmo, tranquilo.

Olha, vou falar pra você, ouço dizer tanto de Copacabana e Ipanema, achei bem próximas as prais, você vai andando e daqui a pouco está no Leblon. Tudo bem pertinho. Foram essas as praias que eu menos gostei. Gostei também muito da Tijuca. Tinham umas praias que são super mal faladas, como poluídas, ali na Baia de Guanabara, a do Flamengo e outra, que eu e minha amiga fomos caminhando e encontramos, a da Glória. Essa passou por uma processo de revitalização. Nessa da Glória você não vê gringo, só carioca mesmo. Achei até que os cariocas vão lá pra fugir dos gringos, um sossego. É do ladinho da Marina da Glória. Gostei também da praia Vermelha, que é ali no pé da Urca, linda, pequenininha, maravilhosa. Essa coisa de Copacabana é ilusão, não vi nada demais, só vi tudo muito caro. Muito influencer, não gostei dali. Então das próximas vezes, vou sempre pra outros lugares. Copacabana, Ipanema e Leblon estão riscados da minha próxima vez. Agoras, tem muita coisa boa cultural em Copacabana. Fui conhecer o Beco das Garrafas, um dos berços da Bossa Nova. O Cazuza fala Duvivier e fui conhecer. Fiquei na Carvalho Mendonça, esquina com a Duvivier. Andando ali, eu a primeira vez que fui ao Rio, começo a lembrar de um monte de música. Estou ainda emocionada, amei o Rio de verdade. Você tendo jeitinho, não gostar de ostentar e for com o chinelinho no pé, vai longe, com humildade e de boa. E não ir besta, não entrar nessa de comaprtilhar bebida com os outros, para não levar uns boa noite cinderelas e ligeiro, como a gente tem que ir em qualquer lugar do mundo. A gente turista tem que andar ligeiro em tudo.

O que você quiser me perguntar, estamos aí. Faltou lugar que eu queria ir. Eu ia lá na quadra da Portela, num dia que estava tendo ensaio de rua, mas acabou não dando certo de ir. Ali você pega metrô e vai pra tudo quanto é canto, tudo de boa. Faltou ir no Cacique de Ramos. Fui na intenção do circuito samba e praia. Nem Cristo Redentor eu queria conhecer, pois para mim o Redentor é igual a qualquer Cristo aí de cemitério aumentado. Só andei mesmo de bondinho, porque fiz uma trilha lá perto e para descer paguei R$ 20, enquanto no rolê toda sai por R$ 150, num passei que não dura nem dez minutos. Desci no bondinho, deu exatos dois minutos. Isso é outra coisa que não tenho tesão nisso. Cheguei lá, o meu sonho era conhecer a Lapa e a Rocinha. Eu enlouqueci naquela Lapa, parecia que estava dentro do filme Hilda Furacão, daqui hpa pouco olho e um mural feito com Madame Satã. A gente enlouquece naquilo lá. A Escadaria Selaron parece que você está na Torre de Babel. As construções da Lapa são muito bonitas, amo essas construções de época, pois hoje está tudo virando um grande cemitério. Os condomínios são cemiteriais, tudo reto, com a mesma cara e com uma muralha em volta. Um monte de túmulo de vivos. E a Lapa é maravilhosa, só tem que andar ligeiro, não ficar marcando com o celular,mas tudo tranquilo, tudo de boa, pois aqui em Bauru mesmo não dá para se fiar de dar bobeira num lugar desconhecido. Apaixonei pela Lapa, comi num chinês, R$ 20 contos, um pratão bem arregado, lotado de comida e com preço em conta. Tudo muito em conta ali na Lapa nos botecos chineses. O que os olhos não vê, o coração não sente. Foi tudo ótimo sabe. Aí chego num samba lá na rua do Ouvidor, uma parte da velha Guarda da Portela, aí você imagina que a Amandasurtou, né! Sambão de raiz, coisa bonita de se ver. Apaixonei pelo Rio, disse Meu Deus, nunca imaginei que fosse amar tanto".

Digam, não é admirável a sensibilidade da Amandinha nessa sua viagem. Escolheu dois lugares admiráveis, dentre os que mais gostou, a ROCINHA e a LAPA. Soube escolher muito bem e como turista, soube pisar, respeitando os lugares por onde passou. É exatamente por isso que, sempre que posso estou envolvido em projetos, andanças e furdunços junto dela, minha baita amiga, digna representante das "quebradas dos mundaréu" bauruense.

continuando com as denúncias do que acontece em Bauru
QUAL A INTENÇÃO DE SUÉLLEN ROSIN EM TRAZER OS IMPORTADOS PARA BAURU?
Eu não tenho nada contra um prefeito trazer pessoas de fora para atuar em secretarias e locais chaves dentro de uma administração municipal. Até porque, no passado já tivemos atuando aqui em Bauru, gente da estirpe de um médico como Davi Capristano, que ajudou em muito a implantar nosso sistema de Saúde. Trazer gente qualificada para uma atuação dentro de uma linha que vai trazer benefícios para a cidade é sempre salutar. Já, trazer gente de fora como Suéllen Rosin fez com a Secretaria da Saúde, a tal chegou, nunca disse a que veio e de uma hora para outra foi defenestrada e se foi sem dizer adeus. Hoje a mesma situação ocorre em dois locais chaves do mandato de Suéllen, na presidência do DAE e agora, mais recentemente com o Meio Ambiente. Estariam estes três citados aqui numa MISSÃO ESPECIAL? E que missão seria essa? Isso tudo, pelo que se observa faz parte de um PLANO, pois assim como a alcaide estes aqui citados são do staff do GILBERTO KASSAB, o prócer e mentor da política praticada por Suéllen Rosin. Por essas e outras, não me canso de repetir, isso tudo ainda vai terminar num Plantão Policial. É aguardar para ver...

de onde surgiu essa personagem...
PERCEBAM, SUÉLLEN TRAZ PRA BAURU UMA PESSOA ESPECIFICAMENTE COM A FUNÇÃO DE PRIVATIZAR COLETA DO LIXO, ORIUNDA DE UM GOVERNO COMANDADO POR UM CORRUPTO, O PREFEITO DE SOROCABA
ENTENDAM E PERCEBAM O QUE ESTÁ EM CURSO

A Bauru de Suéllen Rosin importa personagens, como já tivemos uma hoje, felizmente, ex-secretária municipal de Saúde, só para aqui chegar e implantar algo surreal. Muito estranho isso, não?!? O texto do Fernando Redondo é minucioso:

Há personagens que não chegam a uma cidade – pousam em missão. Cilene Bordezan é um desses casos.
Antes de ser apresentada aos bauruenses como “técnica” e “especialista em resíduos”, ela passou pela gestão do prefeito Rodrigo Manga, em Sorocaba. Manga, hoje, é alvo de operação da Polícia Federal, afastado do cargo por 180 dias, investigado como líder de organização criminosa dividida em dois núcleos: o financeiro – com esposa, cunhada, pastor, operador empresarial e contratos de publicidade usados para lavar dinheiro – e o político, envolvendo ex-secretários de Saúde e Administração na negociação de contratos e propinas.
Nada disso coloca Cilene como partícipe do esquema. Não é essa a afirmação.
O fato é outro – e é político: ela vem de uma gestão que agora é sinônimo de suspeita, dinheiro turvo e promiscuidade entre púlpito, contratos públicos e caixa 2 de igreja. E desembarca em Bauru com um propósito muito claro, verbalizado na própria Câmara Municipal: como disse a vereadora Estela Almagro, Cilene “veio para privatizar a coleta”.
É nesse contexto que se deve ler a cena descrita pelo jornalista Nelson Itaberá na reunião da Comissão de Justiça: uma secretária do Meio Ambiente que, “com boa dose de prepotência e arrogância”, assusta até a base governista ao defender um contrato de 30 anos, estimado em R$ 4,8 bilhões, enquanto a Prefeitura esconde dados essenciais do estudo da FIPE e a tarifa do lixo simplesmente dobra ao longo da concessão.
Repita devagar:
– hoje, o gasto com o lixo gira em torno de R$ 54 milhões por ano.
– no desenho da concessão, a contrapartida municipal no primeiro ano já salta para R$ 119 milhões – sendo R$ 90 milhões destinados ao manejo de resíduos (via tarifa) e R$ 29 milhões para limpeza pública.
E o governo acha perfeitamente normal abrir um contrato de R$ 4,8 bilhões sem “abrir o jogo”, sem apresentar o estudo completo, sem destrinchar item por item – varrição, bueiro, ecoponto, cata-galho, recicláveis – AOS VEREADORES (da base) e à população. Normalíssimo???
Na propaganda oficial, o "filminho" é bonito: “Investimentos e Viabilidade Econômica”.
R$ 80 milhões de investimento inicial, R$ 580 milhões em 30 anos, “impacto fiscal” de 4% da receita corrente líquida. Parece música de elevador de shopping: suave, agradável, ninguém presta atenção na letra.
Devemos fazer a pergunta que a Prefeitura tenta evitar: quem vai pagar essa conta?
Spoiler: você, eu, o sujeito que mora na periferia, a família que mal consegue fechar o mês.
A estrutura pensada pela secretária é simples – e cruel. A tarifa será cobrada na conta de água do DAE, vinculada ao consumo em metros cúbicos. Traduzindo: quanto mais água você consome, maior a tarifa de lixo. A própria apresentação oficial fala em 40% do valor da água. Nos números levados à Câmara, o valor mínimo começa em algo entre R$ 1,12 e R$ 1,34 por m³ na fase inicial e salta para R$ 2,24 a R$ 2,68 por m³ na fase plena. Em bom português: DOBRA!!!
A cereja do bolo?
Mais de 65% das casas consomem entre 20 e 30 mil litros de água por mês. Some a isso a fala anterior da própria Cilene, de que a cobrança ficaria entre R$ 12 e R$ 15 na conta do DAE, para chegar, na prática, a um custo que pode superar R$ 26 já no início e continuar subindo ao longo de 30 anos. É matemática, não ideologia.
E ainda falta a parte mais indigesta: os dados que não aparecem.
A Comissão de Justiça cobra o estudo completo da FIPE — sim, a mesma FIPE que protagonizou o embrolho da concessão da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), com apontamento de direcionamento; a mesma que hoje está à frente da revisão do Plano Diretor “nada participativo”. E, apesar desse histórico nada animador, o governo não abre planilha, não apresenta modelo detalhado, não mostra curva de risco, não exibe simulação por faixa de renda — nada que permita ao Legislativo exercer a função elementar de controle.
E fica a pergunta que ninguém fez — mas deveria ecoar pelo plenário:
quanto a FIPE recebeu pelos estudos da concessão da coleta?
Enquanto isso, a secretária aparece na Câmara com uma apresentação magra, um filminho besta e um mantra repetido até a exaustão: “é obrigatório”. Como se isso bastasse para justificar um contrato de R$ 4,8 bilhões sem transparência, sem debate e sem contas abertas.
“É obrigatório. Se não fizer, Bauru será punida pelos órgãos de controle.”
Aqui entra o truque retórico.
Sim, o Marco do Saneamento e as normas da ANA exigem que o serviço de manejo de resíduos sólidos seja remunerado por taxa ou tarifa. E sim, há risco real de o município deixar de acessar recursos federais específicos para políticas de resíduos sólidos caso simplesmente ignore essa agenda. Ninguém sério discorda disso.
Mas é preciso dizer com todas as letras — e sem o terrorismo retórico usado pelo governo Suéllen Rosin:
a eventual ausência de taxa não bloqueia repasses gerais ao município, não congela verbas constitucionais, não paralisa convênios de outras áreas, nem transforma Bauru em pária federativo. O impacto está restrito às linhas de financiamento e investimentos voltados exclusivamente ao setor de resíduos sólidos.
Mas daí a afirmar que “ou você aprova essa tarifa, desse jeito, dentro dessa concessão de R$ 4,8 bilhões, ou o apocalipse jurídico cai sobre Bauru” vai uma distância do tamanho do aterro sanitário.
A exigência legal é de cobrança e sustentabilidade financeira do serviço.
A opção de acoplar a essa cobrança um pacote de concessão por 30 anos, com tarifa escalonada e dados escondidos, é escolha política – da prefeita, do seu grupo e da secretária incumbida de vender o produto. Não é obra do destino, não é imposição da Constituição, não é maldição da ANA.
Quando Estela Almagro diz que Cilene “veio para privatizar a coleta”, não está fazendo poema. Está descrevendo a função política de alguém apresentado como “técnico”: assumir o desgaste, blindar a prefeita, carregar o discurso da “obrigatoriedade” enquanto o governo tenta empurrar à população uma conta salgada, embalada em um "filminho" pasteurizado (pergunta - quem pagou?).
Repare na coreografia:
– O contrato é gigantesco: R$ 4,8 bilhões em 30 anos.
– A tarifa dobra com o tempo.
– A Prefeitura omite o estudo completo, apesar de cobrada.
– A secretária responde com altivez, fala em “exigências legais”, “renúncia de receita”, “riscos de punição”, mas não explica a engenharia econômica que levou àquele número para Bauru, nem as alternativas possíveis.
OS VEREADORES, se tiverem um mínimo de apreço pela cidade, não pode aceitar ser transformado em cartório de carimbo automático de estudos que não viu. O mínimo é exigir:
1. Abertura integral do estudo da FIPE, contrato, premissas, planilhas, taxa de retorno, cenários de risco.
2. Simulações por faixa de consumo e renda, para mostrar quanto pagarão os moradores dos bairros mais pobres, não apenas a classe média com jardim e piscina.
3. Alternativas de modelo: autarquia, consórcio, gestão direta com taxa, PPP com outro desenho. Se só há uma proposta sobre a mesa, não é política pública: é imposição.
A secretária Cilene Bordezan não é obrigada a responder por eventuais crimes atribuídos à gestão de Rodrigo Manga em Sorocaba. Mas não pode, em Bauru, repetir o padrão de opacidade: contrato bilionário, pouca transparência, muita retórica e a fé sincera de que ninguém vai ler as letras miúdas.
Porque a pergunta que não se pode deixar no ar é justamente a que mais incomoda o governo Suellen Rosin:
“Como pode o governo achar normal a ambição de, até aqui, abrir contrato de R$ 4,8 bilhões sem ‘abrir o jogo’?”
E a pergunta que fica para OS VEREADORES DA BASE é outra, ainda mais simples:
Quem vai se deixar omisso nisso?
FERNANDO REDONDO / Jornalismo Independente

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (209)


LEITURA DO MOMENTO, NO UM POUCO POR DIA, HOJE A "PIAUÍ" ESTÁ NO FOCO DAS ATENÇÕES
Hoje o dia foi pegado, corrido e atribulado. Chego em casa quase agora. Primeiro vou até a geladeira constatar o que ainda me cxabe neste cabimento. Assentada a fome, adentro o quarto onde escrevinho e leio, bem ali defronte de mim um emarenhado de coisas aguardando a leitura. É nisso onde irei estar enfurnado até o final do dia. Não quero hoje mais nada na vida além de poder desfrutar deste mareavilhamento que é a leitura até quando bater o sono e mergulhar na cama. A TV vai continuar desligada, o rádio eu já ouvi hoje no carro mais do que deveria. Ainda vou inventar um jeito de ler enquanto dirijo. Seria o supra-sumo do aproveitamento do tempo. Ler e dirigir, ainda mais em muitos quilometros, como rodei hoje.

Não tenho por costume guardar as revistas compradas antes da leitura e de grifar todas com a caneta marca texto. Tenho duas Carta Capital me aguardando e hoje já vi a capa da edição que sai neste final de semana e chega aqui em casa no sábado à tarde. Não quero juntar três, pois acumulando, tenho que depois pegar um dia quase inteiro para colocar a leitura em dia. A distração desta noite de quinta se dará com a revista Piauí, com uma capa absurdamente interessante, mostrando a cabeça do Cristo Redentor e no alto dele um urubu, este espreitando a podridão provocada pela matança indiscriminada promovida pelo insano governador daquela cidade, que para mim, mesmo com tdas as adversidades, continua sendo a mais bonita de todas que já tive o prazer de pisar os pés.

Do Rio eu poderia passar um dia inteiro aqui escrevendo e sobre essa capa, se me fosse dada essa imagem como prova de redação num vestibular, creio eu, tiraria DEZ. Faria uma viagem na maionese diante dela. E logo no primeiro texto, o de abertura, um mapa charge do Cássio Loredano, que tive o prazer de conhecer pessoalmente no Rio, na livraria do meu amigo Rodrigo Ferrari, a Folha Seca. Ele retratou a Baia de Guanabara e ao invés do mar, já não tão azul, o substituiu pelo vermelho do sangue, respingando até pro texto e tudo o mais. A Piauí deste mês não tem muita coisa sobre o ocorrido lá no Rio além dessas duas abordagens, mas no mais, tem tudo o que gosto. Sento agora, janela aberta, vento batendo nas ventas e escolho para começar a devorar sua leitura, o HQ do Alan Sieber, "Sobre ratos e bêbados", juntando o Jaguar e um rato que foi morto na redação, depois se transformando no símbolo d'O Pasquim.

Nada é trivialidade no todo desta bopa revista. Existiram outras no mercado editorial brasileiro, de textões que, a gente ia devorando pouco a pouco, consumindo em drops, mas nessa nhaca onde o papel perdeu prestígio, ela resiste bravamente nas bancas de jornais. Já tivemos umas cinco ou seis revistas semanais, hoje restam duas, a indefectível Veja e a que leio, a Carta Capital. Nessa existem bons ensaios, ótimos artigos assinados, mas igual a Piuaí, hoje só ela mesmo. Seus textos mais longos, reportagens que duram meses para serem concluídas, me fazem lembrar do passado editorial que já tivemos. Textão com profundidade é raridade. Não tem sequer um jornalão produzindo reportagem com profundidade. Na Piauí ainda encontro algo assim e diante de um bom texto, deito e rolo, diria mesmo, orgasmo total.

Começo a leitura por um texto desses, para mim arrebatadores. Antes de escolher por onde iniciarei a contenda, folheio e leio algumas legendas dos títulos. Na seção, "Vultos da Literatura", o "Estou desparecendo? - Os últimos dias de Dalton Trevisan", do jornalista curitibano Felippe Aníbal. Eu devoro tudo o encontro pela frente sobre Dalton Trevisan e isso aqui é para mim, motivo de parar tudo. Sintam o clima do primeiro parágrafo: "A agente literária Fabiana feversani posicionou seu notekook em uma mesinha ao lado da cama de Dalton Trevisan - e deu play no filme Amarcord, de Federico Fellini. Apesar de ser um dos prediletos do contista de 99 anos, ele logo se cansou, interrompendo a sessão. Nem prestou atenção à trilha musival de que tanto gosta, assinada por Nino Rota. Horas antes - naquele mesmo sábado, 7 de dezembro de 2024 -, com a saúde fragilizada, Trevisan havia recebido a visita de seu médico, João Carlos Folador. Diante da agente, o escritor comunicou ao médico, em tom sóbrio, uma decisão sobre a própria morte. "Ele disse: 'Não quero mais, tô cansado... Quero ter uma morte tranquila, quero ter uma morte em casa', conta Faversani".

Serão sete páginas pela frente e se possíveis, sem interrupções. Um texto dessa magnitude, sobre uma pessoa que admiro, algo como foram seus últimos dias, é para mim algo como uma droga, que injetada em minha veia, só volto ao normal quanto findar o texto. Leituras deste tipo me consomem. Quero ao terminá-las, divagar um pouco, escrever a respeito, saber mais, perco até o sono, que hoje sei virá mais cedo, pois o corpo todo dói. Volto das incursões pelas ruas cada vez mais cansado. Nada se dá como antes. Qualquer trabalhinho, como o de hoje, onde fui colher depoimentos de três ricos personagens para um trabalho sobre a história de Tibiriçá, são para mim, trabalhosos, desgastantes. Volto querendo uma chuveirada e se possível cama, mas diante do tanto de leitura já separada, temas destes muito envolventes, mergulho nisso e tento deixar o sonos para lá.

Eu poderia ter escrito isso que aqui hoje faço com qualquer outra revista ou mesmo um livro. Tenho alguns começados neste momento e ainda não me decidi em qual deles incidirei minha atenção no dia de hoje. Sei que o farei com algum e como todos, para mim, são uma delícia e como gostaria de ler todos ao mesmo tempo, até misturando tudo na cabeça, a história de um se fundindo com outras, a indecisão, me faz olhar para todos como faço diante de um bom bife, quando a fome me é arrebatadora. "Ler é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa, mas...", li isso e me lembrei, creio que misturei as bolas, pois neste momento, com a luz fraca deste cômodo onde me encontro, não quero saber de mais nada. Ana me chama para ver algo na sala e vou retardando de me levantar, pois não quero interromper essa escrita e nem o que virá pela frente. É isso, quando estou em casa, estou sempre envolto dos pés à cabeça em algo deste tipo. Sabendo que esatou em casa, estarei fazendo algo assim. Eu já não apronto mais quase nada, meu negócio mesmo agora é a leitura. Quer coisa melhor?
HPA - Bauru SP, quinta, 13 de novembro de 2025, 21h05

GENTE, ACABO DE LER ISSO E COMO GOSTEI DEMAIS, COMPARTILHO E QUERIA QUE MUITOS PUDESSEM TOMAR CONHECIMENTO*
* Viajo uma vez por ano para Buenos Aires, gosto demais daquela cidade e principalmente da atenção que o buenarista dá aos pequenos mercadinhos, instalados em quase todas as esquinas da capital. Em sua maioria são comandados por "chinos". Aqui a história de um deles. Eu me vi ali diante dele, pois em cada vez que adentro um daqueles mercadinhos, fico a imaginar a história de cada um daqueles chinos por detrás do balcão.

"Ninguém consegue tirar a China dos subúrbios", jornalista Marcial Amiel, diário argentino Página 12, eidção de12 de novembro de 2025:
Diego está zangado, e isso transparece. Ele não está apenas elevando a voz, o que é incomum para ele. Seu espanhol, geralmente bastante fluente, vacila. Quando ele se exalta, fica mais truncado e menos parecido com a gíria dos subúrbios de Buenos Aires. Seu tom é engraçado, e me obriga a morder o lábio para não rir, porque não quero irritá-lo ainda mais, e porque concordo com quase tudo o que ele diz.
Do seu ponto de vista privilegiado no caixa, Diego ocupa o vértice de um triângulo que lhe permite fazer contato visual com o pai, que administra a delicatessen nos fundos, para quem ele ocasionalmente grita algo em mandarim, e com Jairo, o peruano que gerencia a seção de frutas e verduras. Dessa forma, ele tem tudo sob controle.
Diego chegou aqui ainda jovem, na década de noventa, durante a grande onda de imigração de seu país, incentivado pelos dois Carlos, pelo presidente Menem e pelo ministro Corach. Ele nem se lembra há quantos anos é dono da mercearia, à qual dedica quase todas as suas horas de vigília.
"Expulsar os chineses da Argentina? E como eles vão fazer isso?", pergunta ele em tom arrogante, fazendo um gesto amplo com a mão, como se quisesse abarcar tudo ao seu redor.
Na loja do Diego, os vizinhos daquele bairro suburbano também compram; alguns a crédito, e ele anota tudo em seu caderninho azul. Mas as crianças também aparecem por lá; elas não conseguem imaginar o bairro ou suas vidas sem o Diego, que até lhes empresta caixas vazias para sentarem na calçada. A música é negociada: uma cumbia, uma canção chinesa. Às vezes, os acordos se desfazem e tudo toca ao mesmo tempo — cumbia do lado de fora e pop chinês do lado de dentro.
Eles tomam umas cervejas lá à tarde, quando o dia termina, e também fazem confraternizações antes dos jogos, com churrasco se possível, quando o time do bairro joga em casa pelo campeonato B Metropolitana. O escudo do clube enfeita a persiana metálica do Diego. Uma vez, perguntei a ele sobre a lenda urbana das cores das persianas metálicas. Ele riu sem parar por uma semana inteira.
A calçada em frente ao estabelecimento é uma espécie de extensão do clube, um ponto de encontro, um lugar onde as coisas acontecem, incluindo algumas festas infantis organizadas por entidades sociais com as quais Diego colabora fornecendo produtos.
“Me passa uma gelada, Dieguito”, diz um deles enquanto passa e pega uma lata grande e gelada. “Você tem uma vida fácil”, responde o dono da loja, mas isso não o incomoda. Na verdade, outras coisas o incomodam.
Quando não há clientes para atender, mercadorias para repor ou corredores para limpar, Diego se torna um voraz consumidor de mídia. Ele lê diversos jornais, daqui, dali e de diferentes partes do mundo. Diego, que sempre se interessou por geopolítica, está muito preocupado com as consequências que a interferência de Trump pode ter sobre a Argentina.
“Não gostei”, disse-me ele quando Milei ganhou, enquanto me ajudava a guardar alguns pacotes de erva-mate. “Não gostei do que ele disse sobre o meu país. Ele fala de comunismo, diz que não vai negociar com comunistas. Em que ano esse cara está vivendo? Meu país é o mais avançado do mundo”, gabou-se. “Os Estados Unidos não conseguem mais fabricar nada”, refletiu ele, sorrindo, um ano depois, quando Trump iniciou sua guerra comercial. “Pura besteira”, arriscou.
Agora, com Milei quase dois anos como presidente e Trump um, Diego parou de rir, assim como parou de trazer alguns dos produtos mais caros e, proporcionalmente, muito mais lucrativos. Seu mau humor não se deve apenas ao seu fluxo de caixa , à sua situação pessoal ou ao espaço limitado.
Diego engasgou com o café da manhã ao saber que o governo argentino havia paralisado a construção de barragens hidrelétricas no sul da Patagônia e de uma nova instalação de radar em San Juan. “E agora? Quem vai financiar as barragens? Donald Trump? Quem vai construir toda a infraestrutura que este país precisa? A China, paciente, mas e se a China ficar brava e parar de comprar soja?”
Diego sabe perfeitamente que, após os ataques de 11 de setembro de 2001 e as medidas de segurança tomadas em resposta pelo governo de George Bush (h), a islamofobia cresceu nos EUA e essa comunidade sofreu muito.
Ele também sabe que na Alemanha nazista houve uma tarefa paciente, prolongada e sistemática de demonizar os judeus, o que acabou normalizando seu extermínio aos olhos de grande parte daquela sociedade.
Nos últimos dias, Diego tem observado cada cliente, cada fornecedor e cada vizinho com outros olhos. Ele se pergunta se eles se deixariam levar pela retórica da sinofobia, se se permitiriam acreditar que ele, sua família, sua comunidade, são o bode expiatório perfeito".