domingo, 16 de setembro de 2007

UMA MÚSICA


A MPB embala minha vida. Não escrevo sem estar ouvindo algo. Acompanho os grandes da MPB desde a adolescência e da poesia deles extraio mensagens, que me tocam a vida. Algumas letras me tocam mais fundo. Coleciono LPs e hoje CDs, tendo ao todo mais de 3000 deles no meu mafuá. Compartilho algumas nesse espaço. A primeira delas está aí embaixo:

PROFISSIONALISMO É ISSO AÍ (João Bosco e Aldir Blanc)
Era eu e mais dez num pardieiro
no Estácio de Sá.
Fazia biscate o dia inteiro
pra não desovar
e quanto mais apertava o cinto
mais magro ficava com as calças caindo
sem nem pro cigarro, nenhum pra rangar.
Falei com os dez no pardieiro:
do jeito que ta
com a vida pela hora da morte
e vai piorar
imposto, inflação cheirando a assalto
juntamo as família na mesma quadrilha
nos organizamo pra contra-assaltar.
Fizemo a divisão dos trabalhos:
mulher – suadouro, trotuá
pivete – nas missas, nos sinais
marmanjo – no arrocho, pó, chantagem,
balão apagado, tudo o que pintar.

E assim reformamo o pardieiro.
Penduramo placa no portão:
Tiziu, Cospe-Grosso e seus irmãos
agora no ramo atacadista
convidam pro angu de inauguração.

Tenteia, tenteia...
com o berro e saliva
fizemo o pé-de-meia (bis)

Hoje tenho status, mordomo, contatos,
pertenço a situação
mas não esqueço os velhos tempos:
domingo numa solenidade
uma otoridade me abraçou.
Bati-lhe a carteira, nem notou,
levou meu relógio e eu nem vi
- Já não há mais lugar pra amador!

-Ri melhor
Quem ri impune.

OBS.: Aldir é meu letrista preferido na MPB e sempre esteve presente no meu mafuá. Rendo a ele a primeira homenagem aqui (outras tantas virão). A música aí está no LP, “Bandalhismo”, do João Bosco, da RCA, de 1980. Comprei quando tinha 20 anos, há exatos 27 anos a ouço regularmente. A foto aí de cima foi tirada no bar Estephano's e surripiada do blog do considerado Eduardo Goldenberg (www.butecodoedu.blogspot.com).

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