UMA MARCHA DESCE NA NAÇÕES E QUAL A PRIMEIRA IMPRESSÃO DA RÁDIO BAURUENSE
Bauru hoje acorda com uma imensa movimentação popular a ocupar sua via de maior movimento. Trabalhador quando unido em prol dos seus interesses proporcionam o que de melhor temos nos dias de hoje. O que está a acontecer aqui por esses dias, com a imensa massa a espera de um pedaço de chão para se fixar é reflexo desses nossos dias, quando uns poucos possuem muito e outros, cada vez menos. O Acampamento Morada da Lua está localizado numa área cujas terras foram legalizadas não se sabe como, ou seja, espertalhões conseguiram documentos e os mostram como verdadeiros e dessa forma fazem seus negócios. Quando o trabalhador descobre a declarada fraude, certos daquele pedaço de chão pertencer ao Estado e não aos poucos se dizendo legítimos proprietários, ocupam a área e se instalam, cobram uma definição.
Com uma decisão judicial já com data marcada para desocupar o local, nada mais resta ao trabalhador do que fazer uso da única força que possui. Organizadamente se concentram pela manhã, por volta das 6h nas imediações do Sambódromo e descem a avenida Nações Unidas numa Marcha a ocupar mais de um quilômetro de extensão. Acordam Bauru com sua movimentação. Alguns se espantam, outros apoiam, incautos renegam e o destino para eles todos é certo e sabido, decisão tomada dias antes, a de seguirem até o prédio da Prefeitura Municipal. O atual prefeito, Clodoaldo Gazzetta, em mais uma promessa de campanha, apregoava resolver a questão da terra no município e assim, como o despejo já é dado como certo, que ele cumpra o que prometeu.
Acompanhei à distância a Marcha e a cada dia me certifico de que, esses possuem uma organização de luta e resistência muito maior do que a do restante da classe trabalhadora. Não discuto aqui o que foi falado no microfone até a chegada para a reunião com o prefeito e nem o que foi resolvido desse encontro. Venho aqui por outro motivo. Quando a Marcha se pôs em movimento logo pela manhã, quase que imediatamente ouvintes das rádios locais ligaram e informaram o fato para o pessoal dos programas matinais. Normal isso, quando ouvintes colaboram com informações variadas. O primeiro impacto de quem está atuando nas rádios e vai retransmitir a notícia para o ouvinte é algo para ser estudado com mais detalhes. A notícia é recebida fracionada, parcial, sob a influência de quem a repassou e da mesma forma é repassada ao ouvinte, ainda sem nenhuma apuração ou filtro.
Comento o que ouvi e de onde ouvi. Estava com o rádio ligado na 94 FM, entre às 6 e 7h da manhã e o radialista Emerson Luiz, após receber a notícia de um ouvinte a repassa no ar: “Um grupo de trabalhadores rurais sem terra descem a Nações e com certeza atrapalham o trânsito”. Na sequência vem Netão, o manager no programa matinal e toca a mesma valsa: “Falta sensibilidade a esses, pois esse é um horário de pico e o trabalhador vai chegar atrasado no seu trabalho. Reivindicar pode, atrapalhar não”. A mensagem que queriam foi dita e ouvida do outro lado. Representava a verdade dos fatos? Não. E o que gera uma mensagem truncada ao ouvinte? Gera uma mensagem com defeito e uma informação idem. Favorece a quem? Nunca ao trabalhador.
Explico onde quero chegar. Poucos minutos depois, a direção da rádio desloca o mesmo Emerson Luiz para o local dos fatos, perto do prédio da emissora e ele fala ao vivo com uma representante da direção da Marcha. A verdade é restabelecida e todos ficam sabendo que, a marcha era mesmo grandiosa e ocupava mais de um quilometro de extensão, porém não ocupava as duas faixas da avenida e não impedia o trânsito, fluindo quase normalmente. Ou seja, o estrago já estava feito e a retificação ocorre sem ao menos uma desculpa ao ouvinte pela pisada na bola dada momentos antes. Podem me dizer que isso se deve a esse poder do rádio de dizer e desdizer num curto espaço de tempo. Sim, pode ser, mas quem detém o microfone às mãos poderia também ser mais cuidadoso nesse e em todos os momentos. Quando o quesito diz respeito ao trabalhador, sendo ele rural, e se o for sem terra, sem teto e sem condições, me parece cresce um pouco o preconceito.
Isso me faz lembrar algo ouvido hoje na boca do radialista argentino, o Victor Hugo Morales, no seu programa matinal na 750 de Buenos Aires, o "La Mañana" quando analisava algo lido no diário Clárin: “Que boa sorte existir o periodismo e ao mesmo tempo, que má sorte existir o periodismo”. Quando o mesmo, no caso do Clárin serve para repassar mentiras diárias aos leitores, presta um enorme desserviço à informação. Não é o caso do bauruense Emerson, advindo de uma família de experientes radialistas. Só acredito, deva existir uma precaução maior para não acirrar ainda mais os ânimos entre as partes em litígio e a população no outro lado observando e querendo interpretar tudo.
Por fim, reproduzo algo lido de outro jornalista, Rodrigo Ferrari, que já atuou aqui no Jornal da Cidade e hoje atua nesse mundão, como exemplo de como eu, ele e tantos outros já nos cansados de adular posicionamentos dos abastados à nossa volta. Logo pela manhã, sobre outra questão, mas servindo para tudo o mais ele escrevia: “Eu não gasto vela boa com defunto ruim. Guardo minha indignação para quem não está a fim de ser explorado. Quem se locupleta da exploração e vive de defender aquilo que não presta está apenas colhendo aquilo que plantou. Se, durante a Revolução Francesa, os jacobinos ficassem com peninha da Maria Antonieta, do Luís XVI e dos nobres, estaríamos ainda vivendo sob o Antigo Regime. Penso que estamos numa época em que não dá para ficar sonhando com diálogo com quem deseja nos destruir”.
E encerra um debate em sua página com algo mais do que contundente, já puto da vida com jornalistas das grandes redes e o papel que cumprem diante do golpe em curso: "Eu não sou mais de assistir a telejornais. Nos últimos tempos, contudo, como a Monise está ficando em casa e gosta de assistir, eu acabo vendo e ouvindo alguma coisa. Esse amaldiçoados que se dizem jornalistas passam o tempo todo atacando nossos direitos elementares. Querem acabar com aposentadoria, emprego, salário, direitos trabalhistas! Isso é questão de sobrevivência! Tira o salário de um casal que precisa sustentar dois filhos. Você está condenando-os a passar fome. Antes de ser pai, eu não fazia ideia de como era. Mas, hoje, eu percebo a sensação terrível de tristeza, frustração, derrotado, que é sua filha precisar de algo e você não ter grana para comprar. Enquanto isso, esses bostas ganham salários de centenas de milhares de reais, sonegando impostos, para defender o fim dos parcos direitos que o povo tem. Portanto, eu quero que eles se fodam em verde e amarelo. Eu não os considero meus colegas. Eu estou me lixando para o fato de que eles são ou não agredidos no desempenho de sua profissão parasitária. Eu quero que a liberdade de expressão desses merdas se lasque. Eles são meus inimigos, da minha família e das pessoas da minha classe social.".
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