sexta-feira, 21 de abril de 2017

DIÁRIO DE CUBA (85)


NECESSIDADE DE RECARREGAR ENERGIAS – ARTHUR VAI PARA CUBA*
* Escrever de Cuba é um alento diante de tudo o que temos aqui pela frente nesses tempos destrutivos e sombrios. O faço tão alegre, de uma só vez, sem correções, do jeito que as coisas estão guardadas dentro de mim e prontas para serem colocadas pra fora. Pronto, despejei...

Dia desses vi aqui pelas redes sociais um foto que muito me entristeceu. Meu caro amigo, o advogado e militante social, Arthur Monteiro Junior estava hospitalizado. É sempre muito triste ver a fisionomia de quem está com a saúde debilitada. Eu mesmo, com a minha pela hora da morte, penso logo nas consequências todas de uma vida desregrada (não a dele, mas a minha) e sei que hospital, não é lá um lugar dos mais seguros para tratamentos variados e múltiplos. Sou adepto do que fez um dia bem lá atrás, o grande Darcy Ribeiro, que ciente de que sua cura não seria mais possível, fugiu do hospital e foi viver seus últimos dias ao sabor do vento. Mas o Arthur é novo e, sabíamos todos que, mais dia menos dia estaria de volta ao nosso convívio. E está. De lá para cá não tive mais notícia dele.

Nessa semana um amigo me diz ter se encontrado com ele pelas quebradas do mundaréu e a alvissareira notícia: “Domingo próximo ele embarca para Cuba. Vai participar de mais uma Brigada Cubana”. De imediato, a alegria pelo seu pronto restabelecimento, depois, outra alegria, também incontida, a de vê-lo participar de mais uma Brigada Anual, o encontro de gente do mundo todo para juntos, estudar, praticar decência, ajudar Cuba e ser mais humanos a cada reencontro. Se me perguntarem sobre um sonho de consumo, não me verão dizendo que desejo conhecer o coração do mundo capitalista, mas somente ter o prazer de voltar mais algumas vezes para Cuba (fui uma e quero fazê-lo em outras tantas). Conhecer a vivência possibilitada por uma Brigada deve algo indescritível para uma vida humana enfronhada dentro dessa concepção capitalista.

No post que leio do Arthur só isso: “Mala pronta. É hora de rever Cuba! "Havana-me / Não esqueço teu povo em momento algum / Havana-me / Bota uma cubalibre, limão e sal / Quero ouvir teu som caribenho / Teu par ainda é o Brasil, havana-me/ Havana-me / Acho mesmo que temos muito em comum / Cubana-me / É o povo, é a pele, esse batecum / Cubana-me / Me ‘havana’ de amor num abraço igual / Irmana-me / Mostra que nossa raça é sentimental, havana-me" (Joyce e Paulo César Pinheiro”.

Não precisa mais nada. Mas, alguns incautos ainda podem torcer o nariz e querer perguntar: Mas por que Cuba? Simples e é na simplicidade das respostas e das coisas que quero continuar vivendo o tempo que me resta aqui neste mundo. Não me canso de repetir: como não acredito em outra vida, tenho que aproveitar ao máximo desta. E aproveitar é não só deixar seu corpo a deriva, como venho fazendo, mas tentar leva-lo para lugares considerados paraísos terrestres. Cuba, para mim, um desses. O encanto de Cuba vem em primeiro lugar por mostrar a toda uma legião de sonhadores que, outro mundo é mais do que possível. Os cubanos ousaram e estão levando adiante uma experiência única neste planeta. Não quero saber das imperfeições e erros, pois nós os cometemos muito mais e sim, quero enaltecer das maravilhas de buscar algo diferente do trivial. E mais que isso, conseguirem, ao seu modo e jeito.

Por esses dias aqui em Bauru um juiz de Direito está com exposição aberta lá na galeria, hall de entrada da FM 94 e com fotos feitas após sua visita à ilha. Ainda não fui visitar, daí não posso escrever tudo o que penso do que já o ouvi falando daquele país. Em primeiro lugar, percebo que suas fotos são muito boas, tiradas com maquinetas do último tipo, aquelas que tirão água de pedra, mas isso só não basta.
Quem for pra Cuba e buscar com seus olhos encontrar a pobreza a verá e se o fizer centrado nisso, nem perceberá o que de melhor eles possuem. Ir com ideias preconcebidas é um saco, pois as conclusões são sempre as mesmas. Tenho o que saiu de suas impressões aqui e as comentarei melhor após minha ida pessoalmente. Eu sempre, ressalto sempre, vejo Cuba e os cubanos com meus olhos ainda libertários, os de quem ousou e conseguiu se contrapor ao Grande Irmão do Norte e debaixo de suas barbas. Passei trinta dias entre eles e são as melhores recordações que posso ter de um país e de um povo. Não me venham falar da pobreza cubana, pois isso é pífio argumento diante de tudo o mais por lá.

Arthur é um sortudo, desses que, dá muito duro o ano todo, mas não abre mão de algo bem simples, o de juntar sua graninha e ir todo ano para Cuba. Descarregar a carga juntada aqui neste país, hoje dominado pelo que de pior temos na classe política é mais do que necessário. E depois, o algo mais, o que lhe dá forças para continuar na lida no restante do ano por aqui: renovar a bateria e vir com ela recarregada. Ficaria horas aqui falando de Cuba, mas tenho outras coisas para fazer. Meu baita abracito para o Arthur e a certeza de continuar sonhando em retornar para a ilha, paraíso terrestre nesses tempos onde o neoliberalismo quer impor suas condições. Todos nós, os sonhadores, estamos um pouco contigo nessa viagem, meu caro.

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