segunda-feira, 10 de setembro de 2018

FRASES DE UM LIVRO LIDO (131)


FACHADAS, O LIVRO DO OLHAR FEITO DAS CALÇADAS BRASILEIRAS ME ENCANTA NA BIENAL QUADRINHOS DE CURITIBA

Tudo o que envolva a rua como tema me chama a atenção. No último final de semana, de sexta a domingo passado aconteceu em Curitiba mais uma Bienal de Quadrinhos (http://www.bienaldequadrinhos.com.br/), onde quadrinistas do país inteiro e até da América Latina ali se reuniram no Portão Cultural, junto ao Museu Municipal de Artes, bairro do Portão num grandioso evento. Fui um devorador e colecionador de quadrinhos, tive tudo desde todas as edições da revista Circus, como a Chiclete com Banana, Rê Bordosa e Piratas do Tietê... Sabe o que fiz com tudo juntado ao longo de muitos anos? Encontrei a melhor solução deste mundo: dei tudo para o filho. Esse, para meu orgulho e contentamento, guardou o que de melhor existia e prossegue minha saga. Nas idas à sua casa, além dos livros de tudo quanto é natureza, a estante reservada ao quadrinhos é meu maravilhamento. Se antes emprestava livros para os outros, hoje ele quem me empresta vez ou outra algum. Sou daqueles sabendo reconhecer todos os que desenharam pro Pasquim pelo traço. Bato os olhos e sei que é o autor. Aprendi isso dessas época.

Dessa geração atual estou um tanto desatualizado, mas dou meus pulos. Circulo bem entre eles e conheço todos os mestres, os papas do assunto, quase todos da minha geração. Os novos, quando meu filho já não me apresentou, nesses lugares como a Bienal, vou assuntando e na aproximação me inteirando do trabalho e dos temas prefenciais. Lugares onde quadrinhos estejam em evidência muito me agradam. Na Bienal curitibana fui com Ana Bia Andrade, não tínhamos muito tempo e o local era bem ampolo. O espaço interno do Centro Cultural abrigava muitas stands, mas do lado de fora o filé, a nata, tudo ali num imenso barracão de lona, com quase cem metros de comprimento e dentro, mais de centena de quiosques. Uma perdição. Tinha de tudo um pouco e para todos os gostos. Literalmente viajei no pouco tempo ali passado sábado passado. Algo me espantou, a quantidade de gente muito nova com belas produções e numa sequência, muitos na floor da idade e já tendo muitas publicações. Tive que ser contido pelo freio da companheira, pois traria muita coisa. O peso máximo de nossas malas estava no limite, tudo por causa dos livros adquiridos em promoções e compras variadas. Como a Bienal ficou por último, a grana já estava também no limite, fui contido pela necessidade, por não mais poder, mesmo querendo muito.

Fiz essa introdução, somente para descrever algo a me cativar, me chamando muito a atenção e escrevendo dele é como se o fizesse de todos os demais. Um livrinho em formato de sanfona, ou seja, você abre e suas páginas dobradas se abrem formando um grande mosaico. O título é bem a cara do mesmo, FACHADAS, seu autor um gaúcho de Pelotas, Rafael Sica. Não é um livro para ser lido, mas para ser visto, revisto, revisitado, curtido pouco a pouco, detelhe por detalhe. Quem é rueiro e gosta de enxergar tudo o que vai numa cena de calçada se encanta com o que os olhos do Rafael enxergaram. Muito sutil, em cada fachada desenhada algo novo, uma cena bem diferente da outra. Eu poderia muito bem fazer uma redação de vestibular, uma crônica com cada fachada do livro. O enxerido como eu, olha uma fachada dessas e já imagina o conteúdo inteiro da casa ao fundo. De um lado a fachada e do outro, algo remetendo para o que está desenhado na fachada. O negócio pode passar desapercebido por muitos, mas não para mim, pois esse livro além das imagens possui um cheiro, um cheiro de rua, de cocô de cachorro na calçada, de lixo deixada por dias na soleira da porta, de uma camisinha jogada num cantinho ou mesmo de uma linda flor vicejando num canteiro bem cuidado. A telha quebrada, a casa abandonada, a pintura cheirando a nova, a trinca na mal cuidada, tudo é motivo para um longo olhar e até um escrito. Divago nisso tudo.

O livro não tem palavras e sim imagens, possui 64 páginas, editado pela Lote 42, tamanho 10 x 15 cm, imagens todas em preto e branco, sem cores, mas deixando fluir a imaginação. Na apresentação descolei isso: "Fachadas é uma série sobre uma cidade que existe. Ou, então, é uma série sobre uma pequena cidade dentro de uma grande cidade. Ou é uma série sobres as casas de uma rua mal iluminada. Ou, enfim, Fachadas é uma série sobre uma cidade imaginária. O quadrinista Rafael Sica nasceu em Pelotas, em 1979. Cronista do cotidiano e da sociedade, seu trabalho é silencioso, mas permeado de sutilezas, humor e significados. Publicou diversos livros, entre eles Ordinário (Cia das Letras, 2011) e Fim (Beleléu, 2014), teve mostras individuais e venceu duas vezes o Prêmio HQ Mix". Vi o livro e já me imaginei, eu e minha inseparável máquineta fotográfica saindo pela aí, aqui mesmo em Bauru ou qualquer outro lugar e pipocando flashes de fachadas variadas. Daria um belo trabalho, isso em cada cidadela, em cada lugar por oinde pise. Juntaria a foto e algum escrito. Mais uma ideia dentre tantas fervilhando pelo cerebelo.

Selecionei três vídeos sobre esse trabalho: 1) https://www.youtube.com/watch?v=Jw4b6qiOLcw, 2) https://www.youtube.com/watch?v=DARXwgRniMw e 3) https://www.youtube.com/watch?v=w2TYxFvVhG4. Neles uma ampla ideia do projeto do autor. O Rafel me autoprizou de boca a reprodução das imagens e assim o faço com a devida louvação, por ter gostado muito e servindo de inspiração para viagens outras, que devo fazer em breve. Ele o fez através do traço, mas como nada desenho, tiro alguma mequetréficas fotos e escrevo alogo dos lugares por onde ainda consigo circular. Vou me ater mais a detalhes como os vistos nos desenhos dele e me inspirar para divagar, algo que tenho feito com louvor e contentamento. O que nos resta num país destriçado e sendo dilapidado senão divagar e resistir ao seu modo e jeito? É o que encontro para fazer a vida seguir adiante diante das agruras desses bestiais tempos neoliberais. Deixo a dica: vamos viajar juntos pelas páginas dessa FACHADAS?

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