sexta-feira, 21 de setembro de 2018
BAURU POR AÍ (156)
UM CENÁRIO CADA VEZ MAIS FREQUENTE E O MEU ÓDIO AO RENTISMO
Circulo muito pelas ruas desta aldeia bauruense. Menos do que gostaria, pois as obrigações me obrigam a permanecer fechado entre quatro paredes, trabalhando e tentando continuar ganhando alguns caraminguás. O que mais ouço à minha volta é sobre o fim dos empregos como até então conhecemos. Hoje mesmo, um casal de corretores de imóveis conversando comigo me diziam: "Seu Henrique, estamos pela casa dos 60 anos, precisamos continuar trabalhando, mas veja só, essa profissão onde ainda conseguimos atuar, a da corretagem de imóveis, ela não vai mais existir daqui há bem pouco tempo". Quiz saber dos motivos de assim pensar. Me disse: "Simples. Hoje ainda somos úteis, precisam da gente, mas muito em breve tudo o que fazemos será feito pela internet. Não vão mais precisar de profissionais como nós. Talvez isso ainda demore alguns anos, o nosso tempo de vida, mas me diga, o que será dos nossos filhos sem emprego?".
Conversas como essa eu ouço por todos os lados. O capitalismo na sua versão neoliberal, uma que incentiva o rentismo, as leis do mercado prevalecendo sobre tudo o mais, os donos do dinheiro não querendo mais investir nenhum tostão em fábricas, dando emprego para as pessoas, mas investir a grana que arrebanharam ao longo de suas vidas (de que forma, hem?), vê-la rendendo altos dividendos e usufruindo tudo de dentro de um lugar com ar refrigerado, comes e bebes do bom e do melhor e longe da ralação diária que é a sobrevivência humana. Vivemos tempos insensíveis, onde os economistas de plantão defendem isso como o correto, esses poucos continuarem ganhando muito em detrimento da imensa maioria ganhando quase nada ou participando de uma fraticída luta para conseguir alguns caraminguás para a sua sobrevivência e dos seus.
Nos bairros os que mais vejo são as pessoas tentando inventar seus empregos. Nas calçadas são montadas bancas e ali expostos algo, numa tentativa de fazer algum, levantar os trocados para o sustento. Hoje contei, foram três com carriolas pelas ruas e cada um vendendo coisas diferentes, todos batendo palmas de porta em porta. Já contei por essas plagas a história de muitos, personagens sem carimbo, sem eira nem beira, verdadeiros heróis da resistência. Esse nosso povo é mesmo muito bom, pois inventa modos de sobrevivência, mas poucos são os que se organizam e lutam contra o estado de coisas vigente. Essa imensa maioria de desvalidos desconhece a força de que são possuidores. Juntando todos, fariam um barulho danado e virariam esse mundo cruel de pernas para o ar e imporiam mudanças para lhes favorecer, mas não, poucos lutam e a maioria luta de uma outra forma, criando as formas vistas pelas ruas, os modos pelas rebarbas ainda possíveis, permitidas pelos detentores do poder. Nenhum desses mais possui Carteira Profissional ou Emprego Fixo.
Um desses eu tirei uma foto. Parei o carro num pequeno congestionamento na descida da Araújo Leite, uma quadra pra cima da Joaquim da Silva Martha e ali, na frente de uma residência, área de classe média bauruense, diante de um portão aberto, uma faixa e produtos sendo oferecidos. Não perei para assuntar a procedência. Pressumo ser de um pequeno sitiante, agricultor de pouca terra e ali, dia após dia, expondo sua produção e oferecendo diretamente ao consumidor. Na leitura da faixa tenho esclarecido minha dúvida:: "Milho verde - Frutas - Legumes e Verduras - Direto do Produtor". São tantos na mesma situação. No caminho para a Unesp, bem defronte a Sorri, junto a um paredão de um pequeno prédio residencial de kitinetes outro com a mesma disposição. Lá ele vende de tudo. Já parei algumas vezes e sua história é comovente. Não tem os mesmos produtos todos os dias, pois traz pequenos lotes em promoção e a cada dia algo renovado. Na subida da Antonio Alves, duas quadras acima da Rodrigues Alves, um outro senhor trouxe para seu portão uma pequena churrasqueira e ali, todo final de tarde, assa espetos para os que saem do trabalho e passam ali defronte. Dia desses parei e comi um, eram por volta das 17h30 e ele todo feliz, pois quando pedi, ele me disse naquele horário ter poucas opções.
Essas histórias me comovem e quanto mais as vivencio, mais odeio o rentismo, isso obrigando o mundo atual a se reiventar e precarizar mais e mais o trabalho. Não voto em nenhum candidato que porventura demonstre qualquer aproximação na defesa das leis do mercado ou do rentismo, pois sewi serem defensores dos interesses de uma minoria e não os da maioria do povo brasileiro.
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