UM LIVRO, UM BAR, AMIGOS, TUDO JUNTO COLOCADO NO LIQUIDIFICADOR DA VIDA Por favor, não me peçam mais para sentar à mesa de quem joga contra os interesses deste país. Não dá mais para tapar o sol com a peneira e nem tergiversar: quem apoia gente como Bolsonaro, Moro e continua defendendo a manutenção da prisão injusta e arbitrária do ex-presidente Lula, defende a reforma da Previdência como apresentada não merece continuar sendo meu amigo. Não dá mais, ontem foi a gota d’água com mais uma confirmação do que o ex-homem forte de Temer, o Jucá havia dito muito lá atrás: “Com Supremo com tudo”. Lula não será solto, nem com a explicitude de sua inocência e como a bestialidade continuará grassando por essas plagas, ser radical com esses todos, eis o que nos resta fazer.
Sai de casa assim mesmo e estive ontem à noite no Bar da Rosa, conhecido reduto estudantil destas plagas e o fiz para presenciar o lançamento de um instigante, provocante e revelador livro, o “Fronteira Infinita – Índios, bugreiros, escravos e pioneiros na Bahurú do século XIX”, do professor de História Edson Fernandes e do jornalista Luis Paulo Domingues. Essa obra é daquelas a encher de orgulho quem milita pela História real dos fatos, não a oficial, a contada sob a ótica dos vitoriosos ou a engrandecer grandes vultos de uma cidade, os poderosos que na verdade a apunhalam, pois jogam somente à favor dos seus interesses. Como foi a tomada das terras onde hoje está fincada a aldeia bauruense, eis o mote para o livro e com ele, algo mais desvendado, revelado de forma límpida, transparente e honesta. Já li tanta baboseira sobre a história dos primórdios bauruenses que, quando sai algo realmente valendo a pena, tenho que me deslocar e ir lá, não só abraçar quem o produz, como divulgar aos quatro ventos e clamar: nos informemos antes de pronunciamentos bestiais, como os vistos hoje pipocando pelas redes sociais. Na dedicatória feita a mim, o que sei encontrarei quando terminar a leitura: “Ao amigo Henrique, nossa obra vista de baixo”. Não preciso dizer mais nada.
Ir a um bar no dia de ontem foi algo para revirar minhas entranhas. Era o único com um vistoso botton a favor do “Lula Livre” no lugar, mas o alento veio pelas abordagens, feitas desde alguns dos funcionários do lugar, até clientes de todas as matizes. A imensa maioria sabe da incomensurável sacanagem feita contra Lula e, na verdade, não estamos, nenhum de nós, sabendo como reagir e virar logo essa mesa. Com o livro nas mãos, botton na lapela circulei e só não o dei o mimo ostentado no peito, por não ter outro para colocar no lugar e como não saio mais sem o amuleto, preferi mantê-lo comigo. Sentei junto de diletos e queridos amigos, Gilberto Truijo, Aurélio Fernandes Alonso e Fernandão Dias, todos em busca de ares arejados, lugar onde a respiração ainda não esteja contaminada. Mesa localizada bem na entrada do estabelecimento foi portal de entrada e de conversas mil. Sentar num bar hoje é recapitular isso tudo acontecendo nas entranhas deste país. Desopilamos o fígado conjuntamente e coletivamente. Nossas histórias e relatos, versões de um dia-a-dia acabrunhado encheria essas páginas e diante de algo impublicável, me reservo na postagem de nossas fotos, todos sorridentes, como se estivéssemos felizes da vida.
Eu e gente da minha laia, sabemos muito bem onde ainda pisamos os pés e com quem parlamos, trocamos confidências. Mesa de bar é para isso mesmo, desancar poderosos de plantão, estejam onde estiverem. Isso foi feito ontem, desde o momento em que tirei a foto junto dos autores do livro e ao lado de mais dois escrevinhadores, o jornalista Nelson Gonçalves e do escritor fotógrafo João Correia Filho. Já na mesa, por ela passaram gente de todas as estirpes. Um deles foi Ivo Fernandes propagandeando um show, o Arraiá Cultural para 30/06 na praça Machado de Mello, em prol da revitalização de prédio histórico tombado, construído em 1912, Hotel Estoril, na avenida Rodrigues Alves, para abrigar Coletivo Cultural. Depois veio também o gaúcho Murilo Nunes, convidando todos para estar nesta quarta, 26/06, no bar Orates, Duque 10-26, numa exposição, a “Mujica 2009: Cotidiano e Vitória - Exposição Fotográfica Coletiva”. Ela vai ocorrer de hoje até este final de semana e já está em seus planos estender a visitação para outro bar, o do amigo Fabricio Genaro, lá subida da Falcão.
Até para as costumeiras, rotineiras e hoje, cada vez menos constantes escapulidas pelos bares da cidade, o faço em companhia de diletos amigos. Não tolero mais gente pipocando meus ouvidos e cerebelo com maledicências contraditórias, principalmente as de cunho conservador. Espiei quem cantava ontem lá no Bar da Rosa, mas não me dignei a cumprimenta-lo, muito menos me aproximar, pois ando cada vez mais colocando em prática o exercício da tolerância zero para os que, cientes do grande conluio em marcha, se posicionam ao lado da destruição da nação. Não consigo mais parlar com gente cantando maravilhosamente a obra de um Chico Buarque e agindo no seu dia-a-dia na contramão de tudo o que aquelas letras espalham com o vento. Desses mantenho distância. Foi o que fiz e faço, farei daqui por diante, pelo bem do que me resta de fígado, baço, bom senso. Lucas Melara, um outro com livro no prelo, esse com divinal registro fotográfico, de grande monta com o pessoal da vila Vicentina, me abre o livro comprado e mostra dois mapas da época do genocídio bauruense e paulista, na parte final como era conhecido o estado paulista por volta dos idos de 1850 e na parte frontal, o grande vazio no mesmo, representando todo o espaço que ia sendo ocupado pelos invasores, esses que chegam com o dito progresso e arrasam com tudo o que encontram pela frente. Vide hoje o que fazem com a área de APAS, já praticamente sendo desmontada pelo bem do dito progresso.
Conversei, bebi muito pouco, comi uns bolinhos de arrasar quarteirão (preciso descobri o nome, são com carne seca), paguei minha conta, recepcionei minha esposa, que chegando de uma banca acadêmica sobre tatuagem, a “Pele Tinta Preta”, do estudante de Design André Porces. Sentam à nossa mesa, ela e a mãe do gajo, essa vindo de Sorocaba para presenciar a apresentação de TCC do filhão e já entronizada na noite bauruense. Eu resisto desta forma e jeito, talvez a não mais adequada para o momento, pois o que na verdade deveria estar entronizado da cabeça aos pés era numa brava resistência, da qual não me afasto, mas me limito dentro de minhas possibilidades. Da luta não arredo pé, escrevo dia após dia das maldições onde estamos metidos, coloco a cara para bater, assino embaixo dos meus escritos e assim sigo o jogo, colocando a cara a tapa, mostrando a que vim, expondo meu ponto de vista e botando o bloco na rua. Não consigo permanecer retido entre quatro paredes, daí me ver nas ruas é rotina, pois delas não gostaria de mais me afastar. Estou aqui, pro que der e vier, aprontando das minhas, gerenciando minha vida desta forma e jeito, sempre ao lado do que me foi ensinado desde antanho, primeiro por meus pais, depois meus amigos, antigos professores,enfim, minha linha de pensamento parece a mais ajustada para atravessar esse Rubicão. Porém, nem sei se ainda sei nadar ou se tenho forças para continuadas braçadas...
HPA - Bauru SP, quarta, desejando um bom dia para tudo, todas e todos, 7h04, 26 de junho de 2019.
Um comentário:
Texto maravilhoso, que nos emocionou. Essa é a postura correta de quem luta, e acredita, por um mundo melhor em especial nossa terra. Pessoas oportunistas, que sabem o perigo que representa o governo Bolsonaro para as instituições democráticas , continuando a defendê-lo e seus asseclas, não merecem ser amigos, nem, ao menos, conhecidos. Há os incautos, cabendo a nós, a tarefa de esclarecê-los e mostrar-lhes a verdade dos fatos. Textos assim, "lavam a alma" e fortalecem a consciência. Um grande abraço.
Hélio Lobato
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