sexta-feira, 11 de abril de 2025

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (239)


CARIOQUICES

1.) ANDARILHANDO POR SANTO CRISTO, GAMBOA E PROVIDÊNCIA
Como não sei quando e se um dia voltarei a pisar os pés por essas bandas, circulo rapidamente e vou registrando tudo o que vejo. E viajo no tempo, no que isso tudo já foi e no que representa hoje. Muita resistência em tudo o que vi. O olhar segue acompanhando o que me comanda algo dentro de mim: vá lá ver. Fui e pronto.



2.) AH, AQUELA ESCADA EM CARACOL...
Bem no centro do Rio de Janeiro, na avenida Rio Branco, seu nevrálgico coração, do lado de quem segue caminhando para a Biblioteca Nacional, uma escada em caracol e lá embaixo, reduto santuário desta cidade, antes dita e vista como Maravilhosa e hoje, guardadas todas as proporções e diante de todas as seguidas estocadas que vêm levando ao longo do tempo, segue resistindo. Neste local, algo de uma heróica resistência. Lá embaixo, feito o contorno todo com a descida da tal escada em caracol, três livrarias, uma mais sugestiva e interessante que a outra.

Começo, é claro, pela mais importante a LEONARDO DA VINCI. Essa é a, Sem Palavras, pois possui história de vida, já contada em verso e prosa, se mantendo por lá, nem sei direito como, mas ainda muito altaneira e saindo de suas portas e portos este algo mais cultural, existente em tão poucos lugares, muitos reservados como estes. Eu peço licença para adentrar este santuário livresco sulamericano. Do lado dela, a MARTINS FONTES, que tem vida mais curta por ali e deve ter escolhido o local a dedo para ali se instalar, pois estar de portas abertas e ao lado da Leonardo é motivo para orgulho e comiseração. E a Martins tem "pedigree" paulistano, onde é muito considerada, com história de resistência idêntica a da vizinha. Devem conviver numa boa, cada qual muito valiosa dentro do contexto atual do mundo do livro. E lá no fundo, canto direito de quem entra, uma dos mais famosos sebos variocas, o BERINGELA. Espaço único e divinal. Tenho história com estes. Quando meu sogro, seu Zé Pereira faleceu, eles foram convidados a vasculhar o acervo deste e foram várias vezes lá na casa no Anadarái, ver o que tínhamos. E tínhamos muita coisa. Algo dele ainda deve estar em suas prateleiras. Daí, tenho uma admiração mais que especial por eles e pela resistência. Vejo na entrada da loja, sacos e sacos de livros, acredito aguardando higienização, catalogação e colocação nas prateleiras.

Ou seja, aquele porão - se assim posso denominar o andar abaixo do piso da Rio Branco - é algo como o sujeito sair do plano real, lá na movimentada avenida e adentrando algo sideral, considerado até anets da descida, como impossível. Eu me sinto assim em lugares como estes. reverencio com todo respeito. E se possível, consumo, compro livros em lugares assim, pois é a forma que encontro para tê-los abertos. Essa escada em caracol e tudo o nela está contido, lá no saguão abaixo da calçada da rua é um dos "paraísos cariocas". Sempre que passo por ali, mesmo na correria destes poucos dias por aqui, dei meu jeito e tive que vir bater cartão. Se não o fizesse, voltaria frustrado. Desci, senti o aroma, cheirei profundamente, curti o máximo que pude e assim, escrevo com algo vindo lá do fundo do coração. Eles todos merecem.

3.)
SUJANDO LITERALMENTE AS MÃOS...

Foram dois dias seguidos, cinco num e mais cinco no outro, R$ 10 num e R$ 10 no outro, total de dez livros pescados, devidamente garimpados no monte, numa das quatro bancas existentes ali no centro do Rio, bem na saída/entrada do metrô Largo da Carioca. Antes tinha ali uma boa livraria portuguesa. Essa fechou e em seu lugar, foi sendo criado este local livresco de rua, hoje consolidado. Eu, na qualidade de assumido consumidor e também acumulador de livros, impossível passar por um lugar como este e não parar, mesmo que, como nos dois dias, muita correria e outras obrigações pela frente.

Na placa o tal do argumento irresistível, "Qualquer livro a R$ 2,00". Tinham os mais caros, expostos em outro local, mas fiz questão de me ater a estes, mergulhei fundo e com as mãos sujas, dez conhecerão Bauru nos próximos dias e devem se instalar por um bom tempo dentro do meu particular Mafuá. Dos dez, tem de tudo, Rubem Fonseca, Woody Allen, Michael Moore, Stefan Zweig, Ruy Castro e outros menos conhecidos do grande público.

Na algibeira, havia trazido um livro, a Carta Capital da semana e a Piauí do mês para ler nas viagens de coletivo cidade afora. Ate os li, menos o livro, que só viajou comigo e o lerei em breve, no retorno pra Bauru. Mergulhei mesmo no Rubem Fonseca e como em tudo que já li dele, devorando com muita sofreguidão e gosto. Quando terminar, descrevo algo por esssas bandas. Do lugar onde sujei minhas mãos, indico para os amantes de livros, que ali compareçam, nem que for para tirar uma foto. E por fim, uma historinha ali passada. Estava com uma vontade louca de urinar após a garimpagem, chego perto do dono da banca e pergunto: "Quando está apertado, onde é que urina?". Ele me aponta um bar em frente, R$ 5 pratas a urinada, escrito num cartaz. Adentro, mas diante do cheio, sento tomo dois chopps, como uma linguicinha básica, pago muito mais e também lavo as mãos sujas pelo manuseio dos livros. Tudo aproveitável.

4.) CONTO UMA SOBRE O "ITAJUBÁ" E O "RIVAL", UMA SÓ...
Vindo ao Rio há mais de 40 anos, tenho inúmeras histórias aqui ocorridas. Umas conto, numa boa, outras ainda omito. Talvez um dia abra o leque, pois nada é escabroso. Histórias vivenciadas numa outra época de minha vida. Vim ao Rio pela primeira vez junto de meu ex-cunhado, Arnaldo Geraldo, já falecido. Ele havia trabalhado na FRIAR e instalou muitos equipamentos Rio afora. Passei minha lua de mel por aqui, idos de 1984, eu com 24 anos, ano das Diretas Já. Arnaldo me indicou o Hotel Bragança, na rua Mem de Sá, hoje não mais existente, nessa época ainda ao lado de uma fábrica dee cerveja da Antactica e com resquícios da zona boêmia da Lapa.

Isso tudo é outra história. A que revejo aqui tem como pano de fundo o Hotel Itajubá e a casa de shows Rival, ambas numa rua escura atrás da iluminada Cinelândia, a Alvaro Alvim. Por muito tempo o Itajubá foi o hotel onde me hospedei por aqui e tendo o Rival do lado, inúmeros shows presenciados ali. Certa feita vi o João Bosco, sem o Aldir Blanc, devorando um cabrito numa madrugada por ali. Tiete, sentei numa mesa ao lado, pedi um cerveja, não me aproximei, mas curti adoidado aquele momento. Já vi de tudo naquele quarteirão, um dos mais movimentados da noite carioca. Hoje, o hotel continua resistindo ao tempo e o Rival idem, com shows divinais com a nata da MPB. Que assim continue.

Passo ali numa dessas noites atrás, quando por aqui vim a trabalho, algo em torno das 20h, furdunço começando e a ficha cai, ou seja, passa um filme diante de meus olhos. A história que lhes conto tem como personagem principal uma pessoa muiuto conhecida em Bauru, seu Guilberto Carrijo, o que dá nome ao hoje abandonado Sambódromo. Ele amava o Carnaval e vim em várias excursões para o Carnaval do Rio. Tudo ocorria ainda na avenida Rio Branco e nunca fui no Sambódromo, pois a festa se dava ali perto do Itajubá. No último ano em que veio, o carregamos no colo, escada acima para ser homenageado no carnaval do Bola Preta, quando ainda tinham sua sede em cima de uma agência do Banco do Brasil, quase ao lado do Teatro Municipal.

Ele estava com muitas dores, mas foi, pois sabia, seria seu último ano e queria receber a homenagem em vida. Ficou a maior parte do tempo dentro de uma banheira cheia no hotel, só saindo para poucas coisas. O carregamos para cima no dia da haomenagem e ele suportou tudo com um baita sosrriso estampado no rosto. Não me lembro de muita coisa, mas sim de sua felicidade. Isso me basta. No Rival, nessa excursão, assisti um show no Rival, junto de uma garota sueca que passava férias em Bauru e depois fomos num grupo assistir o filme "Pra Frente Brasil", com o Reginaldo Farias sendo torturado. Chorei copiosamente e ela, européia, lembro bem, tentou sensibilizar os brasileiros, todos comovidos. Isso tudo num Carnaval no Rio, todos hospedados no Itajubá, ao lado do Rival e do Bola Preta. O cinema era ao lado de onde um dia foi a loja da Mesbla, ali pertinho. Tempo mais que bom, pois ainda tínhamos esperança de mudar o mundo. Conseguimos vergar a ditadura militar e hoje, estamos tentando, com unhas e dentes exterminar o vandalismo de um bando de cdriminosos golpistas e fundamentalistas. A gente não tem um só dia de descanso neste país.

Guardo ótimas recordações de seu Guilberto Carrrijo. Ele deveria merecer uma boa pesquisa e talvez um livro, um documentário. Seu nome foi merecidamente dado ao Sambódromo de Bauru. É isso, por hoje é só, salve o Itajubá e o Rival, pois continuam resistindo ao tempo e se impondo aqui nos fundos da Cinelândia.

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