sábado, 2 de fevereiro de 2008

MEMÓRIA ORAL (21)
VIAJANDO PELO MUNDO DAS ANIMÊS

Para quem só conhecia o mundo dos animês de tanto o filho ficar lhe martelando sobre o assunto, mas nunca teve coragem suficiente para se aventurar a assistir um simples episódio de Naruto, ir ao 5º Anime Dreams foi um salto dos mais inusitados. Quem tem filho na faixa dos 13 anos sabe muito bem o que estou querendo dizer. Os mangás invadiram o cenário adolescente, tanto que ouvia sobre o assunto diariamente, sem dar a devida atenção. Até o momento em que o filho, Henrique Aquino viu na revista Crash o anúncio de mais um Anime Dreams, a ser realizado em São Paulo, entre os dias 25 e 27/01, numa promoção da Yamato Eventos. Ele queria por que queria ir, pois esse seria seu primeiro evento desse tipo, sendo umaoportunidade de encontrar pessoas com os mesmos gostos que os seus. Tanto fez que, acabamos embarcando no meio da madrugada do dia 26, numa excursão bate-volta de van, promovida por Pablo Cunado, 22 anos, aficcionado por animês e jornalista da rádio Auri-Verde de Bauru.
Eram 15 pessoas, mais o motorista. Viagem animada, com distribuição de brindes, jogos de perguntas e respostas e filmes pelo DVD. Dentre os animados, Afrânio, 15 anos não pára de falar um só instante e demonstra conhecer de tudo um pouco do universo dos animês, ganhando a maioria dos brindes. A chegada a UNICSUL – Universidade Cruzeiro do Sul, ao lado do Shopping Anália Franco, no Tatuapé, local do evento, ocorre pouco depois das 8h. Os portões foram abertos às 10h, mas muita gente circulava pelolocal desde cedo, onde duas filas foram formadas, os com e os sem ingressos. Duas horas de fila, R$ 18 reais o ingresso e um belo contato com uma fauna de jovens travestidos como se fossem os seus personagens preferidos. Presenciei uma galera animada, colorida e fazendo muita festa, sem incidentes e excessos. Não vi, em nenhum momento bebida alcoólica, muito menos qualquer tipo de droga no local. A diversão parecia ser outra e já lá dentro, fui percebendo a amplitude do local e a boa distribuição das diversas atividades. O fato é que o espaço, muito amplo, foi lotando e mesmo assim não parava de chegar gente
Janeiro, férias escolares, a maioria deve achar temerário fazer um evento desse porte nesse período. A Yamato deve ter refletido sobre isso, mas hoje, vendo aquilo tudo lotado, devem sorrir de orelha a orelha. É um mundo totalmente diferente e o que mais chama a atenção são os tais Cosplays, que vim a saber pelo filho ser: "São as pessoas que se fantasiam iguais a personagens da cultura visual, como os animês, desenhos, filmes e outros". Eles estão por todos os lados e posam para fotos a cada instante. "É normal pedir para tirar fotos com um Cosplay, dificilmente eles se negam e ainda posam iguaizinhos aos seus personagens", diz o filho. Pablo, com a experiência de outros eventos, abre caminho na multidão com uma frase feita: "Viemos em paz, somos de Bauru". Adentramos o auditório da Universidade quando rolava o Animekê Livre, com inscrições feitas na hora. Bastava pegar o microfone, colocar um play-back e soltar a voz. Pablo bem que tentou increver o grupo, mas estava tudo cheio até o final da tarde. Assistimos por um tempo e fomos caminhar pelas dezenas de salas instaladas em três andares. Logo a seguir uma parada rápida para um lanche, uma mistura de guloseimas trazidas de casa ("Tragam comes e bebes, pois assim, terão mais para gastar", havia aconselhado Pablo) e outras comprados na hora. Nos stands de mangás e livros, um conselho de um senhor que, também acompanhava o filho: "Não comprem logo de cara, andem um pouco, pois irão carregar peso até na hora de ir embora e poderão encontrar preços mais baixos em outros stands".

Tudo o que se tenta fazer é interrompido com a aparição de um novo cosplay e sua convincente caracterização. Dentre eles, desponta um Austin Powers, com seu terninho vermelho, cheio de trejeitos. Dá-se um breque em tudo até terem sido tirados fotos e mais fotos. Ele, simpático, se retorce todo diante das câmeras. Na verdade, tudo é uma grande farra, diversão de ambos os lados. A expressão mais ouvida ao se deparar com um inusitado é mais ou menos essa: "Nossa! Por essa eu não esperava". E dá-lhe fotos. No pico da festa é muito difícil circular pelos corredores, pois está tudo praticamente entupido de gente, muita gente. Os poucos locais vazios são os gramados na àrea externa da universidade.
Num outro espaço, muitas barracas são montadas para revender os produtos ligados a isso tudo, desde posteres, botons, adesivos, camisetas, bonés, miniaturas, chaveiros e adereços mil. É uma verdadeira babilônia, encontrando-se todos os adereços vistos no visual do pessoal que frequenta os animês, sendo um dos mais requisitados uma tiara com uma placa de metal na região da testa.. Outra coisa que faz o maior sucesso são umas plaquinhas de madeira, revestidas com um material liso, idêntico ao de retro-projetores, onde vão sendo passados recados dos mais variados, escritos a caneta pilot. Essas plaquinhas são comercializadas por R$ 8 reais. Ali pede-se beijos, doações, são enviados recados, sugestões e até feitas pesquisas de opinião, sugerindo a preferência de um ou outro personagem, com a anotação dos votos. Numa delas estava lá: "Permitido me beliscar, mas só para mulheres", noutra algo assim: "Sasuke é mesmo gayou só um eno?" (um personagem meio andrógino). Algumas sugerem: "Contribuam com R$ 0,10 para juntar e poder voltar amanhã" ou "Ajudem, pois não sobrou nem para o ônibus".
O grupo de Bauru, em momentos está todo unido, noutros separado. No meio da tarde alguns param numa sala para jogar RPG e recebem uma verdadeira aula de um mestre, Diego, 23 anos, que reúne seis pessoas numa mesa e com um dado, vai direcionando tudo com palavras fortes: "Ela sente o mesmo carma seu, porque você tem cativado ela como pessoa. (...) O corpo dele vai se desintegrando na sua frente e lentamente o de vocês também vai sumindo". Jogo demorado, pois foram quase duas horas para levantarem-se da mesa. Numa outra sala, tudo referente aos personagens do Chavéz, não o venezuelano, mas o mexicano. Por ali, quem faz sucesso é o seu Madruga, que está caracterizado até no cosplay que atende na entrada. Fotos e mais fotos.A diversão continua solta. Alguns estandes são para revenda dos mangás e HQ's e estão cheios o tempo todo. É impossível não sair com algo, pois os preços iniciam-se a R$ 1 real e tem para todos os gostos e preferências. No estande da Comix, a maior delas, os vendedores mal podem te atender, pois o fazem a vários clientes ao mesmo tempo. O que mais se vê ma mãos das pessoas são os saquinhos dos sucos à base de soja da Mupy, vendidos aos montes, feitos em sabores variados e que fazem tanto sucesso que, três garotos estão vestidos em formato cosplay como se fossem embalagens dos mesmos, confeccionadas numa colorida caixa de papelão.Final da tarde uma grande maioria se dirige para o palco montado num gramado, onde irão presenciar o concorrido Yamato Cosplay Cup Internacional 2007 – Grande Final, com participantes de vários paíseslatinos, como Argentina, México, Paraguai e é claro, Brasil. Tem para todos os gostos e no caso do Brasil, não poderia faltar o capitão Nascimento, do Tropa de Elite, que "pegou geral", além de outro grande sucesso, um Chuky Norris, bem ao estilo da truculência norte-americana botando pra quebrar. Valeu pela ácida crítica ao tipo de filme desgastante e repetitivo produzido pelo rei do genêro bateu/levou .Acabou recebendo mais aplausos do que o próprio "Pede para sair". Antes da apresentação dos resultados, num vácuo não previsto, todos são obrigados a suportar um "sargentão" da segurança se fazendo passar por apresentador, tentando ser engraçado ("Me acham parecido com Tim Maia, que bom!"), tudo para que o público não ficasse sem nada para fazer. Tudo foi válido e suportado, pois o evento havia preenchido as expectativas de todos. Não escutei reclamações num só momento.
Corpos cansados, a viagem de volta se inicia por volta das 21h e os 350km não são nem percebidos por todos que, entusiasmados na vinda, estavam mais do que cansados na volta. Nem deu para ninguém aguentar assistir mais um filme, pois o sono bateu geral. Por volta da 1h da manhã de domingo estávamos de volta. Trocamos e-mails e marcamos possibilidades de novos encontros. Ao final, acabo dando o braço a torcer para o filho e confesso a ele, ter vindo achando que passaria um dia de tortura e acabei gostandoda alegria contagiante do que presenciei. Valeu!

Henrique Perazzi de Aquino, Bauru SP, 30 de janeiro de 2008.

Um comentário:

Unknown disse...

Olha Pai adorei o relato da nossa viagem, a historia é fiel, e você tem razão, foi alegria do começo ao fim!
Adorei!
(só que devo lhe dizer o Sasuke não é meio hermafrodita não, ele é apenas alvo das bocas implicantes pelo seu jeito fechado).

abraço!