DROPS – HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (54)
UMA MARCHA PELA LIBERDADE, COMO PARTICIPEI E ME POSICIONO NELA
Sou daqueles que não omito minhas opiniões, muito menos me escondo na hora de por a cara para bater. Estou por aí, expondo minhas opiniões de forma clara e contundente, sem medo do ridículo e nos erros, de ser chamado a atenção. No último sábado algo assim, quando mesmo corroído por dentro não me furtei em participar da denominada “MARCHA DA LIBERDADE” pelas ruas de Bauru. Ela me dizia muito respeito, pois não possuía no seu bojo somente a defesa de uma bandeira e sim, de várias, todas irmanadas e com o mesmo objetivo, a busca de um país mais livre, soberano, senhor de si, onde ocorra o predomínio das liberdades, tão buscadas, faladas, discutidas, mas pouco executadas. Como ficar em casa num momento desses?.
A organização foi toda montada por jovens estudantes universitários e aplaudo tudo o que foi feito por eles. Com pouco tempo para mobilização buscaram fontes alternativas de divulgação, uma vez que não encontrariam espaço na maioria dos meios de comunicação. Fizeram muito e para o que se propuseram estiveram ótimos. Não me venham dizer que ali estava sendo realizada uma Marcha somente na defesa da liberação da maconha, que isso é intolerável e inaceitável. Sim, a data foi marcada após uma repressão ocorrida num ato ocorrido na Grande SP, quando de uma manifestação com essa bandeira, mas o movimento cresceu, encampou muito mais que isso e algo que não vemos mais hoje em dia, a reivindicação do povo nas ruas, com faixas, bandeiras e com megafone na mão. Vi isso e acompanhei tudo, desde a mobilização ocorrida no Parque Vitória Régia, a trajetória pela Nações Unidas e Rodrigues Alves e o ato final na Praça Rui Barbosa.
Tudo estava marcado para 14h. Cheguei tarde, por volta das 15h e notei que o atraso estava sendo considerado normal, esperavam a chegada de mais pessoas. Os jovens estavam ali, poucos dentro do universo estudantil bauruense, em torno de uns 200, mas vieram. E o restante dos interessados? Estou prestes a completar 51 anos e da minha geração contei nos dedos de uma mão os que ali estavam. Eu, o advogado Arthur Monteiro, a professora Nilma Renildes, o francês libertário ____ (esqueci seu nome. Me ajudem) e uma pessoa das mais inesperadas e motivadas, o pintor Walter Mortari, que com seus quase 87 anos fez questão de percorrer todo o trajeto, mesmo mancando de uma das pernas. Na praça outros se juntaram, como o artesão Celsão, o assessor do vereador Roque, Fabrício Genaro e o religioso umbandista Ricardo Barreira. Do nome dos jovens prefiro não citar nenhum, todos estavam lá, com garra, disposição e um afiado grito engasgado na garganta. O batuque do Ouro Verde 100% foi decisivo para animar e embalar a marcha, junto ao um megafone passado de mão em mão.
O que mais me entristeceu no ato foi ter ouvido de um amigo jornalista algo totalmente inesperado. Ele não poderia vir, tinha outro compromisso, mas havia ouvido uma justificativa de alguém a representar uma associação representativa de movimentos sociais que não estaria presente, pois não queria ver o nome de sua associação vinculado ao tema maconha. Pera lá, que merda é essa? A luta coletiva é deixada de lado por causa de um não vinculamento com uma das muitas bandeiras sendo hasteadas no ato. Faltou comprometimento e com isso notei claramente ter sido esse o pensamento predominante na maioria dos que não lá estiveram. Não vi nenhuma entidade sindical, não vi movimentos sociais, não vi associações de classe com seus slogans expostos, nada disso. Vi jovens entoando aos berros e nos cartazes feitos ali na hora, com tinta, guaxe e pincel e sendo carregados sem medo de exporem suas caras aos holofotes.
Vi sim, além dos jovens da Unesp, uns com uma faixa. São os secundaristas da ETEC Rodrigues de Abreu, que empreendem uma luta das mais dignas contra uma instituição arcaica e andando para trás. Fizeram o que todos ficaram sabendo, tomaram conhecimento do ato e para lá foram marcar presença. Entendo que nesses atos não se faz necessário um convite formal e sim, qualquer um que tenha o engajamento social, a vontade de transformar esse país em algo mais palatável, ao tomar conhecimento de que algo assim irá ocorrer, nada mais natural do que lá estar. Foi o que fizeram.
Ressalto aqui o mais bonito da movimentação, os cartazes, todos feitos momentos antes do ato ocorrer, no chão ali do Parque Vitória Régia. Os jovens se mostraram muito criativos e falaram de tudo um pouco, demonstrando claramente que estavam ali em algo que transbordou o negócio inicial, a pecha de Marcha da Maconha. Falaram da educação, do passe nos ônibus, da Amazônia, de espaço para andarem de bicicleta, de liberdades, condições de trabalho, de criminalizar delitos da ditadura, etc.
Reproduzo um pouco de tudo o que vi aqui nas fotos e confesso ter voltado aos meus tempos de juventude ali ao lado deles todos. Os meus ideais do passado continuam os mesmos, pois se conquistamos uma suposta liberdade, muito falta para termos a plenitude de sua real utilização. E continuar nas ruas, mobilizado e atento e mais do que necessário. Nas costas de um jovem algo pintado a guache me chamou a atenção: “Liberdade LST”. Seria apologia a um novo tipo de droga? Fui perguntar a ele e sua resposta: “Essas são as iniciais do nome de um amigo meu que está preso injustamente. Estava na garupa de uma moto roubada, cujo condutor estava envolvido, mas ele nada sabia e acabou pagando pelo pato. Faço isso para ajudá-lo a se livrar dessa injustiça”.
De tudo, reproduzo para finalizar algo que me foi passado via e-mail pela Renata Takahashi, uma das organizadoras do evento, quando ao me ver interessado em participar escreveu: "Henrique! E ouvir isso de alguém que tem a idade do meu pai é lindo (não estou sendo indelicada, o que quero dizer é que, normalmente, o tempo passa e vai apagando a esperança do coração das pessoas, até levá-las ao conformismo, à inércia). Abraços". Nós, os velhinhos de hoje, jovens de ontem, pelos menos os conscientes, continuamos na luta e de armas em punho. É o que procuro fazer, pois não estou satisfeito com muita coisa que vejo por aí e não consigo me segurar nas calças vendo a perpetuação de injustiças seculares. “O povo nas ruas jamais será vencido”, o refrão da letra de uma linda música de Geraldo Vandré continua sendo um lema mais do que atual. Continuo “caminhando e cantando e seguindo a canção...”.
OBS.: Eu tenho muitas outras fotos lindas do evento e foi um "doloroso parto" ter que fazer a escolha de só algumas para este texto. Penso em utilizar outras tantas em outros. Veremos. Cliquem nelas e as verão grandes diante dos seus olhos.
terça-feira, 21 de junho de 2011
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3 comentários:
Eu adoro a estudantada, mas quantos desses não estão só esperando o final dos seus cursos para ingressarem de vez nesse mundo pasteurizado? Vontestadores hoje, mas amanhã, logo no dia seguinte da formatura, estarem inseridos de mala e cuia no sistema. A contestação é temporária. Eu tô com 60 e tô aqui na labuta.
Pasqual
Meu amigo: parece mentira ver gente na rua pela liberdade.
Eu, que estou com 53 anos, ainda acredito no grito do povo pq funciona! Veja o recente movimento contra a privatização da saúde...ou acha que foram os lindos vereadores que decidiram o assunto???
Entretanto, sabemos que com uma canetada se destroem anos de movimento popular.Que fazer???HAY QUE SE MARCHAR, PORTANTO...mesmo que pareça ridículo.
Eu queria estar lá.
Iria desfraldar as bandeiras da saúde mental.
Das mulheres vítimas de violência doméstica e depois de desrespeito pelo sistema.
Queria pintar a cara contra os safados de plantão.
Não fui. Cuidado, aí gente, vem nova investida contra o SUS. Agora é uma ong de nome ESTATAL (gente, isto é uma afronta á inteligencia do povo...) de carater regional...sacanagem no atacado...Só quero ver a moçada nas ruas de novo...Abracitos.ROSANGELA BARRENHA
O Pasqual está certo, é bem por aí mesmo, o grande problema chama-se juventude, quando acabaram com a juventude do passado que fervia com o mundo e envelheceram naquilo que mais combatiam ficou tudo muito vazio falar em movimentos, marchas quando na verdade não se ataca o efeito de causa de todos os problemas que é único, não há consistencia ideológica, olhar agressivo para mudar e formação da organização na base popular como se tinha no passado, como a grande marcha na China liderada por Mao, fora a perda das referencias, reais pensadores, hj quando a empolgação de alguns jovens passa e entram para o mercado de trabalho, deixam a juventude para atrás esse é um dos piores vicios deste sistema, por isso exemplos como esse do sessentão Pasqual é perfeito, ele assim como na canção dylanesca, é um eternamente jovem, não deixa os ideais apodrecerem, a reflexão passa por aí.
Marcos Paulo
Comunismo em Ação
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