O MAFUÁ NAS PARADAS DE SUCESSO Tem quem não goste de me ver escrevendo sobre mim mesmo. Peço que me tolerem, enfim, hoje é o último dia do ano e fui arrebatado pelos acontecimentos. Escrevo isso aqui teclando no celular, escapulindo do país bolsonarista, modo avião, sem conexão possível, só saindo publicado quando encontrar um wi-fi pela frente. Tenho todo o tempo do mundo, mais ou menos cinco horas pela frente e na memória, tudo junto, alguns afagos recebidos nos últimos dias. Conto para dividir a boa sensação com todos acompanhando essas mal traçadas.
Vamos aos fatos a encher de orgulho e contentamento. No primeiro fui conhecer de perto o paraíso do francês Eric Schmitt, sua casa na Colina, convidado há tempos, pois a cada reencontro me dizia ter acervo para doar ao Mafuá. Estava ficando chato, fui lá, filei a bóia e ganhei uns mimos: caixa cheia de escritos, CDs e livros em português e francês. Enaltecido, o mafuento enriqueceu o acervo de algo que, um dia ainda há de virar um Centro de Pesquisa e Memória, se as águas bostentas do rio Bauru permitirem e essas dores sentidas dia após dia não interromperem meus sonhos.
Num segundo momento, recebo ligação do Gilberto De Almeida Bessa, emérito tradutor de alemão, larga experiência em gastar sola de sapato mundo agora, envolvido com reformas em sua casa, faz oferta tentadora: tempos atrás, envolvido com sua tese de doutorado, pesquisas feitas na Alemanha, Brasil e muita coisa na Biblioteca do Congresso, quando teve acesso a raros documentos. Versava sobre essa eterna dependência brasileira, acreditando que instituições internacionais o defenda, quando na verdade o apunhalada. Escrevo mais da documentação deixada aos meus cuidados, primeiro em busca de quem dê continuidade na pesquisa. Me deliciei com o mimo, ainda não de todo degustado e digerido. Essa viagem interrompe meu orgasmo diante da preciosidade.
E na semana do Natal, me torno amigo facebookiano de uma jovem me propondo um bate papo sobre um tema bauruense, algo que seu namorado quer desenvolver como TCC, com um algo a mais, algo de envolvimento pra bom tempo da vida de ambos. A coisa gira em torno da Casa da Eni e a conversa a três se deu dia 29/12 numa das mesas da Padaria Pão Gostoso, ali na Duque de Caxias. Em mais de uma hora, creio eu, acendi mais o fogo do casal e só de vê-los com os olhos brilhando, creio estar dando o meu quinhão para alavancar boas e incandescentes pesquisas. Não declino ainda o nome deles e nem retalho mais do proposto e do conversado, para não ter surpresas com atravessadores de ideias.
Uma caixa de discos antigos, ir buscar CDs de alguém mudando, uma caixa de preciosidades musicais de alguém que, infelizmente virou evangélico neopentecostal e renegando MPB pede se posso ficar com seu acervo. Busco tudo e, por enquanto tento deixar a salvo na atual sede mafuenta. Planos diabólicos para 202, justamente neste momento de perdição conservadora e criminosa bolsonarista. Aos 60, ou beirando isso, quero insistir nesse sonho, não meu, mas coletivo, o de ter um espaço e local a mais na cidade para propor o novo, a subversão, conspiração e a desobediência civil. Cultura neles.
Por essas e outras, tenho comigo que, o Mafuá ainda tem uma missão não cumprida pela frente e pelos sinais recebidos, muitos acreditam nessa maluquice saída de minha cabeça e já conquistando a de outros tantos. Por isso tudo, enquanto segue me vôo pela aí, escrevo e viajo. Sonhar é preciso. O que seria de mim sem essa infinidade de gente crendo estar fazendo algo de bom, uma semente plantada, cuja colheita um dia há de ser colhida com fartura de frutos. Logo estarei de volta, recarregado e pronto não só prós embates futuros, como tirando água de pedra pra tocar a vida adiante. O Mafuá foi e é um achado em minha vida.