quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (174)


EU E A RUA
1.) NÃO PERCA MAIS TEMPO COM NENHUM DELES – TERÁ SIDO O ÚLTIMO?

Ela é vendedora de cartões de Zona Azul no centro da cidade de Bauru, portanto funcionária pública municipal da EMDURB, a empresa de desenvolvimento urbano desta aldeia. Bonachona, divertida, conversadora e muito popular, dessas boas de papo, um dos muitos tipos populares do centro da cidade. A conheço desde muito tempo, dessas entranhas bauruenses, em algo que, de tantas histórias passadas, a qualquer momento posso vir a me lembrar de onde e quando. Tem um defeito, desses sem cura nos tempos atuais: ama o Bolsonaro. Pobre, sofredora, trabalhadora espezinhada, ultrajada e desvalorizada, mas crendo sendo defendida pelos atos do presidente que ajudou a eleger. Ontem a reencontrei no quarteirão da Caixa Econômica, na rua Gustavo Maciel, entre a Ezequiel Ramos e a Primeiro de Agosto. Quando me aproximo, puxa conversa:

- Esse seu adesivo é provocador, hem?

Ela dizia do único do meu vidro traseiro, com um sargento Garcia dando um esporro no Recruta Zero: “Cadê o Queiroz”. Retruco ao meu modo:

- Sim, esse cara, se puxassem o fio da meada, o atual presidente já seria uma hora dessas ex-presidente, tal o que está de malfeitos por detrás dos atos deste cidadão, também miliciano.

- Eu conheço o sr, já o vi em várias manifestações aqui no centro da cidade, aquelas com bandeiras vermelhas. É petista, né? Não adianta tentar me convencer de nada, eu gosto de mais do Bolsonaro. Quando mais falam dele, mas enxergo ele como uma boa pessoa.


Foi o suficiente para me lembrar de conversa travada ao cruzar sem querer numa das esquinas da cidade com o professor aposentado da Unesp, Jeferson Rodrigues Barbosa, o Jeffé, hoje exilado na República Democrática do Arquipélago Nordestino, mais precisamente em Natal RN, onde agregou mais uma alcunha a tantos lhe taxados ao longo da vida, “Garoeiro”. Pois o Garoeiro me lê e me dá conselhos: “Não perca mais tempo com quem não tem mais recuperação. Eu só ouço e sento para conversar com quem me traz algo de positivo, do contrário não perco mais meu tempo. Você é um dos expoentes desta terra, muito lido, portanto deixe a perdição de lado e escreva, use sua verve para mostrar o que ainda nos resta de possibilidades”. Gostei demais, mas nesse caso da vendedora de Zona Azul, creio ter sido minha última tentativa e o fiz por ver nela o reduto da desinformação brasileira, o padrão do vilipendiada , sem que ao menos saiba o que fazem contra seus interesses. Ela queria falar e enquanto preenchíamos uma folha do talão comprado, dizia mais:

- Respeito o sr, mas não creio mais nos vermelhos. O país mudou, esse Bolsonaro é muito corajoso.

Falou mais algumas coisas que me arrepiam só de pensar em repetir, pois para mim são heresias, insanidades incutidas mente de gente como ela, algo de difícil reviravolta. Os argumentos usados por mim são os de sempre, tentando mostrar que seja de fato Bolsonaro, o que representa, o que é essa Lava Jato, Moro e as milícias. Ela arregala os olhos e lacra a conversa:

- Que posso fazer, gosto demais dele. É nele que confio. E antes que me diga mais alguma coisa vou lhe dizer uma só coisa, talvez para não continuar argumentando comigo. Eu sou evangélica.

Paguei e me despedi. Mestre Jeferson tem toda razão. Quem tem a cabeça feita, lavagem mais que cerebral, não existem argumentos convincentes que os façam mudar de ideia. Sigo meu caminho pensando em algo acabado de ouvir pelo rádio do carro. “15% da população é bolsonarista até a medula”. A tal vendedora uma delas.

2.) A HISTÓRIA CONTADA NA PRAÇA - MAIS UMA QUE SE FOI
A manchete ainda nem esfriou nos noticiários da imprensa regional: mais uma travesti brutalmente assassinada, desta feita em Marília. Eis um link: http://www.visaonoticias.com/…/dig-prende-homem-acusado-de-…. A notícia nua e crua é essa, mas algo dela tomei conhecimento na praça Rui Barbosa, hoje pela manhã, quando ao atravessar o descampado para pagar contas pendentes em meu nome, junto à casa lotérica e agência bancária no entorno, sou abordado por conhecida travesti, que anos atrás havia desfilado comigo em agremiações carnavalescas. Primeiro a tristeza de vê-la na praça, junto aos agrupamento ali existentes e depois pela história que me conta:

- Sabe quando desfilamos juntos e te disse de uma amiga que havia viajado pro litoral juntas e lá me contou de uma história dela, quando sacaneou com um cliente, uma maricona, dessas que se vestem de mulher e tudo. Correu muita droga entre eles, ela aproveitou para tirar fotos e quando do acerto, o cara estava tão grogue que lhe entregou o cartão para ela mesma fazer a operação. Ela o sacaneou de montão, algo que nem seu se deu em algo, pois o cara foi embora sem saber de quanto haviam debitado dele.

Sim, eu me lembrava da história, creio já contada por aqui. O que me chamou a atenção quando me contou foi o desfecho da viagem que juntas fizeram. Todo o dinheiro ganho, alto valor, da mesma forma como foi ganho, ela gastou tudo em compras, no dia seguinte, roupas, perfumes, sapatos. Voltou quase dura como chegou. Ela me relembrava a história e estava desolada, querendo desabafar:

- Não sei se você viu no jornal e na TV, essa minha amiga foi assassinada por um cliente, que lhe aplicou um golpe de karatê. Foi jogada no mato. Não havia reparado na notícia e só então fui consultar no google. Brutal e meu comentários não são moralistas, nem de aprovação. A vida que levam, diante de um outro lado onde existe o tudo e delas onde se encontram tudo tão difícil, a escolha por conseguir apressar o passo vai de cada uma. Umas se safam, outras, não e a maioria segue vida sem esses envolvimentos. Tento antes de me despedir, saber mais não da travesti assassinada, mas dela, que nem lembro o nome, mas a vejo em situação degradante, suja e provavelmente vivendo nas ruas ou bem perto disso. Ela desvia do assunto, diz estar tentando sair da praça, quer me contar histórias e me pergunta:

- Você estaria disposto a ouvir histórias de quem já viu de tudo nessa vida?

Eu topei na hora e marcamos de nos rever na mesma praça, em dias futuros. Nem sei como isso ocorrerá, mas creio, ocorrerá. Portanto, se me virem na praça por esses dias, bloquinho de papel nas mãos e no meio da galera, não pensem ser eu um deles. Tenham certeza.

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