domingo, 25 de novembro de 2007

UMA DICA DE LEITURA (9)

FAUSTO WOLFF NO JB E O CASO CHÁVEZ/REI DA ESPANHA

Fausto Wolff é um escritor da velha cepa. Seus textos me atraem desde que deles me aproximei no velho e bom (insubstituível) O Pasquim, no final dos anos 70. Lá, logo de cara, com algo contundente, não parei mais de me enveredar por seus escritos. Dele, tenho aqui no meu mafuá alguns livros, como “Matem o cantor e chamem o garçom”, “O dia em que comeram o ministro” e “O acrobata pede desculpas e cai”. Quando o jornal terminou, ainda o encontrei na revista Bundas e logo a seguir n’O Pasquim 21. Com o fim desses, só mesmo num site, que uns amigos lhe propiciaram, mas nem sempre possuía textos atualizados. Voltei a ler diariamente, como um operário obrigado a bater cartão todo santo dia, quando o Jornal do Brasil, ou simplesmente o JB do Rio o contratou e ele abrilhantou o famoso Caderno B, um dos culturais mais famosos do Brasil. Abro o site do jornal (http://www.jb.com.br/), viro todas as páginas, amplio a onde está sua crônica diária, dou aquela lida rápida, imprimo, só depois desligo o computador e vou trabalhar. Imprimia grande maioria delas e as tenho aqui, como um livro, tudo na seqüência, guardadinhas e aguardando a encadernação. “Coisa de velho metódico”, isso quem me disse foram as amigas Maria Luiza e Gi, que já se depararam com o amontoado de folhas e folhas.
Hoje, o velho e bom Faustão (o verdadeiro) continua melhor que antes, igual vinho. Quanto mais se lê, mais quero continuar mergulhando em seus escritos. Saiu dele recentemente um livrão desses grossos, tipo tijolões e tão logo junte grana suficiente, o trago para o mafuá, junto aos cupins e traças, que insistem em não querer abandonar meus estimados papéis. Os títulos de suas crônicas são os mais inusitados possíveis: “O dr mandou todo mundo dançar”, “Se todos os trouxas do mundo”, “No fim da história o índio morre”, “Amenidades tropicais em desfile”, “Psicopatas em desfile”, “Satisfações aos que me sustentam”, “Olhem a burrice subindo à cabeça!”, “Top, top, top !” e “Corações, pulmões, tiróide, hérnia e outros parentes”. É ler e não querer parar mais, tanto que emeleio direto para a direção do JB, pedindo para o perpetuarem na função de cronista mor daquelas páginas. É tipo um embaixador da inquietude, do qual sou servo, um reles e remediado porta-voz. Encho o saco do coitado, tanto que já me citou umas seis vezes nos textos. Num domingo, dia nobre, fez uma bela crônica sobre Tito Madi por indicação minha.

Meio adoentado, sem poder tomar suas biritas em paz nos pés sujos de Copacabana, ele se debate violentamente, atira para todos os lados e resiste bravamente, como deve ser mesmo a vida da gente. O seu ressentimento maior nos dias de hoje é com o presidente Lula, que ele acidamente chama de sr Luiz Silva e até de molusco (chama FHC de F.C. de M., F.H. do vosso C. e Cardoso Argentoso). Ele não perdoa Lula, talvez pela traição eleitoral (afinal, era nosso depositário de muitas esperanças, de anos e anos). Particularmente o acho um pouco injusto com Lula, pois do país herdado por FHC, demos uma baita de uma positiva caminhada, não nos encontrando mais naquela situação de pires eternamente na mão e subserviente até a medula. Não discuto com meu mestre. Leio, assimilo o que gosto, tanto que passo para frente muita coisa e guardo só para mim o que não gosto muito. Agorinha mesmo, enquanto os jornalões (viciados em bajular nossa elite predadora) batem no venezuelano Chávez, por causa do bate boca com o rei espanhol, Fausto me alegrou por demais com as palavras publicadas em duas belas crônicas: “O inca e o rei(15/11)” e “O gesto atrás do gesto(19/11)”. Alguém tinha que fazer a defesa do índio latino, contra 500 anos de espanhóis, portugueses, ingleses e norte-americanos a nos calar. Ele foi impecável, dizendo tudo o que ficou engasgado na minha garganta. Para aqueles que, ainda ousaram ficar ao lado do rei, leiam o que foi profetizado por Fausto
Com exceção de alguns gênios (talvez mil), a história do mundo sempre foi uma grande palhaçada. (...) Sempre considerei o rei da Espanha um homem certo para exercer tal papel. Por isso me surpreendi com sua atitude. Rico, poliglota, culto, conhecedor de quase todas as etiquetas do mundo, bem apessoado, casado com a filha de um rei liberal. Não eram muitas as críticas em relação a ele. Quanto ao índio venezuelano, que, como Spartacus e Jesus, viu como seu povo era tratado, podia-se esperar algum deslize cerimonial. (...) Eu, que não concordo com a política de Lula, nem com o da sua oposição, seria um dos primeiros jornalistas a levantar minha voz se algum chefe de Estado o mandasse calar a boca. Um rei chama a atenção publicamente de um presidente reeleito pela maioria de seu país como se ele fosse um índio trazido à força numa galera espanhola. Imaginem o contrário: Chávez manda o rei calar a boca. A mídia daria a isso a mesma interpretação que deu à queda das Torres Gêmeas. Mas como o mal educado foi o rei – convido-te para minha casa, mando-te calar a boca, depois me ergo e vou embora!!!! – era preciso transformar a vítima em algoz. E foi assim que tentaram humilhar um índio na Espanha outra vez. Só que esse índio é um homem informado dos hábitos europeus. E, além disso, o rei mandou que calasse a boca no momento em que dizia duas verdades: a Espanha extra-oficialmente incentivou o golpe contra ele e o ex-presidente tomava atitudes fascistas.

Não importa se o plano deu inteiramente certo. O que importa é que, para os mal-informados, Chávez cometeu um pecado mortal, pois meteram na cabeça dos católicos que os reis são reis pela gracia de Diós. Começou o plano para derrubar Hugo Chávez, o aventureiro que recuperou a economia da Venezuela (o PIB atual mais elevado da América Latina), convocou e convoca referendos sobre temas importantes para ouvir a opinião do povo. Acabou com os abusos dos bancos; sofreu um golpe de Estado tendo à frente uma rede de TV que tem liberdade para criticá-lo diariamente e assim o faz. Finalmente, a gasolina custa cinco centavos de real o litro. O novo golpe contra Chávez começou essa semana em Madri. Para dar certo depende das nações como a nossa, onde por enquanto, a Espanha já e dona das nossas estradas e campeã em número de agências bancárias no país. Alguém precisa fazer alguma coisa em relação a este inca. Acho que se o Brasil declarar guerra à Bolívia, à Venezuela e ao Equador e acabar com essa farra, receberá uma boa ajuda do Tio Sam."

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