quinta-feira, 20 de setembro de 2018

CARTAS (192)


MUITO CORONEL PRA UMA SÓ ELEIÇÃO*
* Enviei carta de minha lavra e responsabilidade para a Tribuna do Leitor, do Jornal da Cidade - Bauru SP, em 17/09, após ver estampado na edição do domingo passado, 16/9 muito milico em suas manchetes. A carta é longa e não podia ser publicada, pelo tamanho nos dias da semana e talvez ainda saia na edição impressa do próximo domingo, mas já antecipo seu conteúdo aqui e agora:

Os coronéis chovem sob este insano país neste período eleitoral. Em Bauru a cena se repete e este final de semana foi algo mais do que surreal no insólito cenário, macabro e nefasto. Ter a participação destes seria algo natural, vivêssemos uma plena democracia, com igualdade de oportunidades e de ação. Deixamos de ostentar o título de normalidade política e diante do vácuo existente entre os poderes, os mais espertos se aproximam e ocupam os espaços vazios. O Judiciário faz isso hoje, invadindo e ocupando espaços até então não a eles destinados. Outros fazem questão de botar as manguinhas pra fora, vão chegando de mansinho, discurso pra lá de convencional, clamam pela moralização dos costumes, cagam regras de retorno à tempos macabros, onde as liberdades deixam de existir e o coturno/terço dominam o cenário.

Esses vicejam em tempos anormais, onde o desalento persiste e as pessoas perdem a noção do certo e do errado, do bem e do mal, confundem o algoz com aquele que irá salvá-lo. Diante de um vácuo político, surgem os salvadores da pátria, os que prometem o céu oprimindo seus semelhantes. Um perigo, pois em pouco tempo darão cabo da liberdade e soberania de uma nação, colocando em seu lugar um estado opressor, restritivo e tão ou até pior do vivenciado no momento. Momento mais que propício para surgirem no horizonte político discursos os mais descabidos, retrocesso evidente no que dizem e quando com algum poder, retrocesso difícil de ser revertido. O desalento humano dos tempos atuais é percebido na periferia das cidades com a quantidade de pequenas igrejinhas, uma em cada quarteirão, demonstrando que o povo anda acreditando em tudo o que lhe oferecem, não sabendo muito bem distinguir joio do trigo. A carência humana por solução para seus problemas leva a atitudes extremadas e daí votar as cegas só uma das possibilidades.

Abro o Jornal da Cidade edição de domingo, 16/09 e me espanta a quantidade de coronéis (militares de uma forma geral) ocupando as páginas do matutino. A quantidade gera não só espanto, mas apreensão. Enumerei alguns: major Olímpio, tenente-coronel Marcos Pontes, coronel Camilo, capitão Augusto, coronel Eclair, cabo Helinho, isso sem contar no coronel Meira, vereador, que neste final de semana, inesperadamente esteve no ostracismo. Num outro nível, também os Mourões, Villas Boas e Daciolos. O número de pastores também assusta. Às vezes me pergunto dos motivos desses todos insistirem em utilizar o título de sua função antes do nome, ao contrário do que fazem os ditos normais, simplesmente com o nome sem nenhum outro apetrecho. Esse não é o mais importante questionamento a fazer com esses todos, pastores e milicos, mas sim o fato de não vê-los, nenhum deles no campo progressista. Por que a imensa concentração desses todos se dá no campo conservador? O que os atrai e os move? São questões a serem respondidas pelos que vasculham os descaminhos da política brasileira e o que os levam a assim se posicionarem.

Não tenho o poder de desvendar assim de bate pronto como chegamos a esse descalabro, mas presumo alguns dos motivos. A democracia falhou ao se enfraquecer e permitir que os espaços fossem sendo ocupados por esses todos. Todos ligadíssimos com o golpe em curso, a venda do que resta de soberania do país, a reforma cruel da Previdência, a perda dos direitos dos trabalhadores, o arroxo aos movimentos sociais e pontuais posições mais do que conservadoras. Dizem-se defensores da família, dos bons costumes, mas na verdade apostam suas fichas nesse país cada vez mais perdido, sem rumo, sem informação adequada, medo da perda do emprego, acuados pela crise e esperando salvadores virem dos céus e com armas nas mãos surgindo assim do nada e resolvendo tudo a contento. Iludidos creem em histórias de carochinha. E desta forma, o país caminha desbragadamente para um poço sem fundo. Onde vai dar isso tudo? Vejo com esses um país pior, muito mais obscuro, daí não chegam para resolver nada. Para meu próprio bem, me mantenho distante desses todos.

Um comentário:

Anônimo disse...

quem deve teme. só tem medo de policial e militar quem é bandido.