ESCREVO ALGO SOBRE A MANIFESTAÇÃO NAS RUAS DE BAURU NA TARDE DE SÁBADO – A MANIA DE PERSEGUIÇÃO JÁ TOMANDO CONTA DE TUDO
Ela transcorreu dentro do esperado. Nenhuma novidade. Ali nas ruas vejo pela primeira vez e isso se fazia necessário, todos os partidos e agrupamentos políticos considerados de esquerda, unidos e coesos (pelo menos nesse momento) contra o avanço da direita no país, prestes a desembocar em algo mais que perigoso, não só a chegada de Bolsonaro e os seus ao Governo, mas o endurecimento do regime, talvez algo muito pior do que tivemos em 1964. O clima para isso já é sentido nas ruas, onde mortes e perseguições a quem não comunga da linha de pensamento do capitão estão a padecer nas mãos desses e já com a conivência dos órgãos ditos até então para proteger a coletividade. Ou seja, o perigo já não nos espreita, mas convive entre nós. Hoje na TV uma pesquisa na Rede Globo perguntava o que as pessoas achavam da tortura como método de interrogação e o que achavam de algo como a ditadura militar. Dizem ser isso algo já preparatório para os tempos que estão batendo à nossa porta.
Pensando nisso e ao sair da manifestação, escrevo esse texto pensando no que pode estar adentrando o campo de jogo. Não sou cagão, mas penso coletivamente e não somente em mim. Sempre tiro fotos de tudo e todos, um álbum de registro de todas essas atividades. Virou praxe em quase todos os eventos dessa natureza, logo após seu encerramento, volto para meu bunker, no caso o mafuá e dali baixo as fotos e sem nenhum tipo de filtro, tasco todas nas redes sociais em publicações que circulam pela aí. Sempre fiz isso sem a preocupação de causar nenhum tipo de problema para as pessoas fotografadas, pois até então acreditamos viver tempos onde as liberdade individuais e coletivas são respeitadas e garantidas. Pois sai do ato pensando em postar as fotos, hoje com aproximadamente umas 130, mas me coloquei a matutar em algo além disso: será que com a publicação e exposição de todos, com suas carinhas de fácil identificação, não seria uma forma de entregar de bandeja para quem pretende fazer uso desqualificado delas, como meios de perseguição futura? Não posso deixar esses todos numa suposta situação de risco por minha causa e devido a um ato impensado de minha parte.
Conversei com outras pessoas e no desenrolar da prosa, diante de algo ouvido num dos discursos, “talvez esse possa ser uma das últimas manifestações livres nessa cidade, pois se o dito cujo ganhar, com certeza, vai causar embaraços e ser violento com quem ouse protestar e levantar a voz contra seus atos”. Não se trata de neura, talvez precaução. Claro que, espero ver Haddad ganhando a contenda e consigamos todos vencer esse conflituoso momento. Vai ser difícil? Sim, muito difícil, mas não impossível. Aposto minhas fichas nessa recuperação a se manifestar, mas não posso também dar sopa pro azar. Diante disso tudo, eis a justificativa para não sair publicado hoje o álbum com as fotos tiradas por mim na manifestação de rua contra o que representa a vitória de Bolsonaro. Consulto a todos se o procedimento é o mais correto? O que acham, devo rever e publicar como sempre fiz? E se não o fizer, mantenho as fotos num arquivo ou deleto tudo? Encerro com algo mais que propício, um esclarecimento de minha parte: já escrevi textos recheados de muita jocosidade, ironia e galhardia, esse não, trata-se de algo muito sério e peço que me ajudem a pensar se estou agindo certo, se estou sendo precipitado ou se devo continuar a agir como dantes, como sempre o fiz, como se o perigo não rondasse nosso jardim?
Exposto os fatos, tento dormir e amanhã um ato na rua contra a pichação feita nas paredes externas do Bar do Barba, taxando o lugar de “nojento”. Lá também um álbum de todos e o mesmo questionamento rondando o destino das fotos ali tiradas: publicá-las ou não?
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