sexta-feira, 5 de outubro de 2018
RELATOS PORTENHOS / LATINOS (56)
UM SUÍCIDIO, UMA ENTREVISTA NUM PROGRAMA DE RÁDIO E A EXPOSIÇÃO DO QUANTO DE MAL O NEOLIBERALISMO PRODUZ NA VIDA DO SER HUMANO Tenho por hábito, desde os cueiros de ouvir muito rádio, principalmente as antigas AMs, onde se fala muito. Programas de bate papo, conversa fiada (e outros com muito fio), papo indo e vindo. Os de opinião caem logo na minha preferência. Hoje, pela bestialidade de todas as nossas rádios praticarem a bestialidade do pensamento único, não tenho mais encontrado programas palatáveis, daí, fuço pelo dial (hoje pelas ondas internéticas) a programação em castelhano de diversas rádios latino-americanas. Peguei gosto em ouvir o falatório em castelhano. O programa que mais tenho encantamento no momento é o La Mañana, na 750 AM de Buenos Aires e com a apresentação de Victor Hugo Morales. Tive o prazer de ser recebido por ele por dois anos seguidos, adentrando o estúdio, conhecendo o ambiente em que trabalham, o que resultou num texto para Carta Capital, aqui reproduzido: https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=La+Ma%C3%B1ana.
Virou não só vício, como válvula de escape. Pelas manhãs, ou estou ouvindo MPB na Unesp FM ou, de segunda a sexta, das 9 às 12h plugado no La Manãna. Descobri como faço para plugar o site da rádio ao vivo no celular, daí jogo pelo Bluetooth e fico ouvindo pelo som do carro. Um luxo. Ontem, 04/10, algo me fez literalmente chorar. Leio neste momento um livro comprado também na Argentina, o “Prontuário – No hay neoliberalismo sin traición”, do já amigo Gustavo Campana (ele um dos articulistas do programa) e essa sua frase estampada como título do livro se comprovando em tudo que diga respeito ao neoliberalismo. São cruéis até a medula, não se importando nem um pouco com as agruras do povo. Tudo se confirma numa matéria ouvida ontem pela voz de Victor Hugo e hoje já encontrada reproduzida no site da rádio.
Conto algo do ouvido e me tocando profundamente, ainda mais nesses tempos odientos, onde o ódio cava espaços e quer se estabelecer como norma de conduta entre tudo e todos. A insensibilidade de gente como Maurício Macri, o presidente basura argentino é conhecida por todos, até pelos que ainda o apoiam e o fazem por necessidade, grana, migalhas concedidas em tempos difíceis de conseguir o sustento. Macri é insensível para tudo em relação às relações trabalhistas, toma atitudes insanas, sem notar e se importar que por trás dos atos de gabinete, os favorecendo uma minoria, os grandes prejudicados são o povo, que na imensa maioria das vezes, tendo suas atividades precarizadas vão para as ruas e sem condições de arrumar novos empregos, vivem num estado de mendicância. A situação vivida hoje pela Argentina é calamitosa e estamos muito perto disso, com as reformas das leis trabalhistas e da Previdência. E muitos votam nesses, os que lhe danam as vidas.
Revejo a história me fazendo chorar (Ana me pega em fragrante, em prantos com o rádio do carro ligado). Um professor argentino de 58 anos, perde o emprego quando Macri decide fechar algumas unidades escolares públicas, no meio do ano letivo, deixando professores e funcionários desempregados, alunos sem aulas e num beco sem saída se suicida. Estudantes e funcionários estavam mobilizados, ocupando a escola por meses, resistindo e tentando ser ouvidos, entendidos, mesmo sabendo da insensibilidade neoliberal. Victor Hugo consegue o telefone de um dos líderes estudantis mobilizados dentro da escola e conversa com ele ao vivo durante o programa. Eis o título da matéria no site da rádio: “Se suicidó un docente deprimido tras el cierre de todas las escuelas de Vialidad”. A gravação da entrevista é disponibilizada com a chamada: “Hace un día por Mauro Brunt, presidente del Centro de Estudiantes de la Escuela Técnica Nº 2 de Vialidad de Trelew”. Eis o emocionante diálogo travado no link a seguir: https://750.am/…/2624-se-suicido-un-docente-deprimido-tras-…
São tantas coisas no entorno de algo dessa natureza. Primeiro um jornalismo corajoso por demais da conta, num país com portas praticamente fechadas, alguns conseguem buscar brechas e continuar expondo ao povo o que nossas rádios não mais fazem. As daqui, todas indistintamente defendem o neoliberalismo, são omissas, caladas e preferem falar de trivialidades do que enfrentar o “touro a unha”. Programas como o La Mañana são mais que valorosos e hoje no Brasil, só pelos meios alternativos, transmitidos pela via virtual, ainda com baixa audiência. Nada, mas nada mesmo pelas ondas das rádios disponíveis pela mídia tradicional massiva. Depois, isso que acontece na Argentina, acontece também no Brasil. Basta andar pelas ruas e ver como o povão se vira em inventar seus próprios empregos. O que vem a ser isso? As portas se fecham, se cansam de entregar currículos e não se virando, acabam cometendo loucuras, como furtos e até suicídio. A história contada pelo jovem Mauro Brunt, ainda com esperança de sensibilizar o político neoliberal, no caso o presidente Macri é a mesma dos daqui quanto tentam se fazer ouvir por gente da laia de um Michel Temer, Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Paulo Skaf, Aécio Neves, João Dória, Bolsonaro, Marina Silva... Com esses no poder o povão sempre estará perdendo e cada vez mais num beco sem saída. Daí, como votar nesses quando sabemos que nos cravarão a estaca com a maior crueldade tão logo detenham algum naco de poder. Cegos votam sem perceberem estarem antecipando seu próprio suicídio.
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