EU VIVO NUM PAÍS DOENTE
Em cada novo ato a ocorrer neste desGoverno do Bolsonaro & Cia uma só certeza: este país está muito doente, "lelé da cuca, zuretão, ranzinza", como diz a música. Já passei da fase do desalento, para a do descrédito e hoje me encontro na da desesperança total e absoluta. A cada nova notícia que leio pelas redes sociais, as repercussões mais absurdas, totalmente fora da casinha e a decrepitude em ascendência, ganhando corpo e crescendo, tomando conta de tudo.
Viajando, entro pouco na internet, pois as ruas tomam meu tempo, ocupam boa parte do meu dia e em cada ligada no computador, seja pelo celular ou nos hotéis por onde passo, basta ligar para ver novas bestialidades expostas como uma fratura mais que exposta desse momento, que até bem pouco tempo, não imagina um dia acontecer. A última foi a da morte do jornalista Boechat. Tenho uma pá de divergências pelo jornalismo como praticado por ele nos últimos tempos, mas nem por causa disto posso concordar com a imbecilidade de um ser humano vir a público dizer que, ele foi mexer com um ser purificado, santificado, no caso o nefasto pastor Malafaia, que já deveria estar preso faz tempo, pois a ira divina recaiu sobre sua pessoa.
Ou o país é mesmo essa ignorância sendo despejada como descarga de dejetos constantes, onde todos enlouqueceram e se deixam levar ou quem enlouqueceu fui eu, pois não consigo mais ver nenhuma possibilidade de recuperação. Sai hoje da França e adentro a Alemanha, um país onde não sei uma só palavra do idioma e já sou convidado para ir ao Festival Internacional de Cinema de Berlim, onde ocorrem lançamentos de importantes filmes brasileiros de resistência. Tento nesse momento comprar ingresso para pelo menos assistir a um deles, estava até animado, mas bastou abrir o facebook e ler o que se publica por ali de imbecilidades e há exatos seis dias de voltar para meu país, bateu um desânimo desses de se prostrar e não se querer fazer mais nada.
Fazer o que num cinema, vendo um ainda bom filme brasileiro, se a realidade sendo imposta à fórceps ao país é algo a trucidar, não só o bom senso, mas com qualquer possibilidade de esperança? Vejo cada vez mais as instituições se deteriorando, mentes até então com algo de sadio, já descompostas e viciadas, dando sua contribuição para continuar levando o país para o buraco. Aqui longe, por onde passo, as pessoas deste lado do mundo estão meio sem saber o que se passa com o Brasil, um país até bem pouco tempo entre os grandes, propositivo e altaneiro, soberano e acolhedor, porém, hoje exatamente o contrário. Me perguntam o que ocorreu para se dar essa reviravolta e não consigo esboçar uma resposta que também me convença.
Chegando o momento de voltar e arregaçar novamente uma disposição bem lá do fundo de mim para resistir. Onde buscar forças diante de tanta perversidade? Se isso que está aí é algum de esperança de mudança, creio eu, vivo no lugar errado. Não quero entrar no clima atual vivido pelo país e sei, terei problemas daqui por diante. Aos 58 anos não tenho mais como voltar atrás e apagar o que fui e sou. Enquanto muitos, até para sobreviver daqui por diante, tentam apagar o passado, eu não tenho como e nem quero. Que venha o touro, pois sei, não serei o único. Estou pronto para o que der e vier. Nesse mundo de loucos, não sei até quando será possível resistir, sem ser denunciado, espezinhado, caluniado e até judiado, mas sem resistência e enfrentamento não sairemos tão cedo da situação onde estamos metidos. Não busco culpados, busco ver como ainda existe alguma possibilidade de sair disso tudo, mesmo que pague um preço alto. Eu topo seguir adiante de cabeça sempre pra cima.
Um triste e dolorido desabafo antes de tentar dormir e começar tudo de novo amanhã, enfim, ainda creio no tal do novo dia, num outro mundo possível.
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