MARIANE, 21 ANOS, DESENHOU O “BELAS MENTIRAS” PARA O TOMATE E CONTA DA EMOÇÃO
Diante da escolha do tema para a folia de 2019 do BAURU SEM TOMATE É MIXTO, a cada ano um artista é convidado para confeccionar a arte que vai estampada na camiseta do bloco. Começamos com o Gonçalez, Fausto Bergocce, Junião, Maringoni, Fernandão, Greiffo e neste ano a primeira mulher, também uma tomatista, a MARIANE SANTINELLO LONGHI. Para apresentar a estampa decidimos também publicar uma entrevista com ela, onde irá nos dizer algo mais sobre si, seus estudos com estampas e isso de desenhar para o bloco mais criador de caso de Bauru e região.
1.) Fale de você, o interesse pelas Artes Visuais, a Unesp, o curso em si e se é o que queria fazer?
Resposta: Sou estudante de Artes Visuais com habilitação em Bacharel. Falar sobre a minha arte é falar sobre mim e eu me emociono muito quanto a isso... Eu estudava no CTI (Colégio Técnico da Unesp, minha primeira profissão é técnica em eletrônica), mas me sentia muito sufocada... E então comecei a pintar os muros nas férias, revitalizei duas bibliotecas ramais e fundei um projeto (entre amigos) era o "Projeto sem Cabresto", tinham até uma pag no face e foi assim que eu senti o que realmente amava fazer. Pintar... E utilizar a arte como uma ferramenta social. Ai prestei para artes Visuais na Unesp, passei e a partir dai, eu me apaixono mais a cada dia. Amo o que estudo, fico lá das 14 as 22h kkk com um sorriso no rosto. A arte é o que me mantem viva, uma forma de exteriorizar meus pensamentos de forma a dialogar com as pessoas.
2.) Como surgiu o interesse pelo trabalho alternativo com estampas de camisetas? Fale sobre esse processo e o que está vislumbrando com isso? Resposta: Quando eu estudava no Morais Pacheco (escola pública do Bela Vista), a professora Mariana Moura ensinou a pintar camisetas, mas eu estava apenas na oitava série, pintei a camiseta mas essa ideia ficou guardada... Depois de 4 anos, com mais consciência social e membro da comunidade LGBT, comecei a pensar em formas de levar a representatividade como uma forma de dialogar, estreitar a relação entre os sentimentos, a arte e as causas sociais, foi então que lembrei da ideia da camiseta. Iniciei uma pesquisa que se transformou em Iniciação Científica na Unesp com orientação da professora Patrícia. Eu representava através do trabalho artesanal símbolos que os portadores da camiseta queriam exteriorizar, fazer de uma camiseta um símbolo de luta e orgulho. Passei para a segunda fase do CIC e apresentei minha pesquisa em SP capital, além de uma ramificação aplicado a educação em Brasília na Confaeb.
3.) Como foi a proposta de juntar esse trabalho acadêmico com uma estampa para o irreverente bloco do Tomate?
Resposta: Inicialmente me chamou a atenção a prática do próprio Henrique em pintar camisetas kkk. Isso me lembrou muito meu começo. Então enviei a pesquisa e logo fui surpreendida com a proposta. A princípio fiquei receosa, uma vez que pinto de forma artesanal, e como se trata de um bloco inteiro, precisava fazer o processo todo digital... Então fui aprender kkkk, passei algumas tardes desenhando no photoshop... Fiz rascunhos em papel e finalizei no digital. Como tem uma pegada bem debochada e política, não me preocupei tanto com a perfeição do traço, uma vez que a própria dinâmica estremecida foi incorporada ao conceito... Bauru teve uma votação assustadora quanto ao desgoverno, então lembrei a quantidade de fakenews e fui desenvolvendo... Coloquei alguns detalhes pequenos também. Como a mão do sanduíche fazendo "L" de Lula Livre kkk.
4.) Como entende o espírito do bloco, essa forma crítica e mordaz de tratar os problemas públicos e como o artista pode dar sua contribuição para de alguma forma encaminhar soluções? Uma simples ilustração pode sugestionar para conscientização de muitos? Resposta: Eu sempre fui fã do espírito do bloco, pois utilizam de uma riqueza cultural (o próprio carnaval) para explicitar as críticas da cidade. Isso é genial, é sair da bolha, é de uma forma simples, alegre, e colorida colocar o dedo na ferida e dizer "estamos festejando, mas não estamos esquecidos, pelo contrário, olha para isso, estamos lutando".
5.) Fale de suas expectativas para o futuro. Sua arte ainda está em mutação, sendo construída e aqui no apresentado ao bloco algo disso, o seu momento, com a junção de tudo o que já assimilou. Como vê isso...
Resposta: A arte não tem nenhuma obrigação, ela é livre... Porém, eu como artista trabalho sempre as questões sociais na minha poética, seja em tela, em parede, em assemblagens e camisetas. É uma forma de falar sobre o que sinto, o que penso. Arte incomoda, o artista incomoda. Querem a todo tempo desqualificar nossa profissão, e não é por acaso. A arte tem uma força inimaginável, ela diz com o silêncio, ela sacode as pessoas, mesmo sem perceber, em algum momento ela muda caminhos e fronteiras, logo, é perigosa. Ela faz refletir, e infelizmente, isso é justamente o que muitos não querem... A arte não tem "certeza", não tem "razão", e a duvida, a subjetividade e o "talvez" faz com que a dualidade esteja sempre presente nos dizendo que tudo é relativo, por isso sua riqueza, por isso minha paixão. Minha arte esta sempre em mutação, assim como eu, como nós... Eu gosto de usar muitas colagens, já fiz uma exposição Solo na cidade e participei de várias coletivas nos espaços institucionais. Porém, ultimamente sinto uma vontade muito forte de sair das telas e das camisetas para voltar a pintar na rua (como eu comecei lá atrás, aos 16 anos kkk). Meu TCC será sobre a arte como uma forma de alteração da percepção urbana... Acredito que esse ano vou focar na arte urbana.
6.) Como será sair no bloco envergando uma camiseta cuja estampa foi feita por ti? Como espera reagir a esse novo sentimento?
Resposta: E ela ira refletir tudo que estamos vivendo, a camiseta do bloco é um começo... Mas com certeza as questões políticas das minhas futuras artes na cidade terão um pezinho no bloco rsrs Quanto as camisetas, eu dei uma parada na parte artesanal, não sei... Sinto que no momento preciso ir para fora... Tudo aconteceu muito rapido kkk, sou muito nova para um feito desse que admiro muito. Eu estarei com coração preenchido pelo que luto, acredito e faço. Bom... Gostaria de agradecer mais uma vez esta oportunidade maravilhosa. Dizer que estou aqui emocionada te escrevendo e passa um filme pela minha cabeça kkk.
RESPOSTA TOMATISTA: A coisa está lançada e com o devido atraso, como tudo o que o Tomate faz. No final tudo acaba dando certo e se não der, o recado acaba sempre sendo dado, incomodando alguns, cutucando outros, espezinhando poderosos de plantão e botando os bofes pra fora, com a ajuda coletiva, que felizmente, só cresce. O Tomate é uma ação coletiva, cada um faz algo, sempre de forma desorganizada, porém focados e cientes do papel cumprido pela sua manutenção e sobrevivência. Já temos a marchinha, já temos a estampa, já temos o Muso, já temos a ironia pronta, a vontade de se manifestar e daí, só falta a gente se juntar e cantar essas “BELAS MENTIRAS” pra todos ouvirem e cantarem conosco.
Agora só falta botar literalmente o bloco na rua...
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