ÍCARO BAURUENSE BATE AS ASAS NO PRÓXIMO DOMINGO E "BOTA (NOVAMENTE) O BLOCO NA RUA"
Calil Neto é essa pessoa inimaginável, pelas quais não existem palavras suficientes para designar sua grandeza e desprendimento das coisas. Fez e aconteceu mundo afora, desde ter fotografo de cabo a rabo esse país, suas chapadas todas, festivais de música (Águas Claras inclusive), movimento social e sindical, a flora e fauna em livros saudados mundo afora e muito mais. Sempre esteve no mundo, em lugares por onde todos tivemos sempre vontade de estar e pouca disposição e coragem para pegar uma mochila e se aventurar pela aí. Ele o fez e certa feita passou meses diante do Museu do Louvre em Paris, produzindo artesanato e sobrevivendo ali na calçada, com outros em igual condição e do mundo todo. Suas histórias são dessas para dar muito mais que um mero livro. Fiquei encantado, amor à primeira vista desde o primeiro momento em que bati os olhos em tão magnetizante pessoa. Queria ter tempo, disposição e sapiência para não fazer o mesmo que ele já fez até agora, mas para tentar escrevinhar sobre sua vida. Isso talvez não dê mais tempo, pois ele cai na estrada no próximo domingo, 07/04, mais de 60 anos no lombo, pedalando uma bicicleta, mochilão nas costas, barraca para ir se instalando pela aí, naquilo que um dia denominamos de "sem lenço e sem documento".
"E por que devo continuar aqui?", me pergunta hoje, quando diante de um mundo se desmoronando, com cada vez mais gente despirocada e tornando as cidades algo onde o que vale mesmo é o poder da grana, do ter, do juntar e não a do prazer de viver e isso conjuntamente, de forma humanitária. Ele não desistiu do mundo e das pessoas, da convivência humana, mas está indo em busca de viver o que lhe resta de tempo por aqui junto a lugares por onde sinta prazer e ao lado de pessoas mais simples, com mais calor humano nas relações. Ou seja, está indo em busca da vida, muito dessa coisa perdida nos grandes centros urbanos. A cada reencontro com ele, algo lá no fundo de mim me diz que, a estrada é salvação do homem, ali ele se reencontrará consigo mesmo.
Ele me conta que sua irmã fez de tudo para que ele ficar, até o momento em que compreendeu que, se viam muito pouco por aqui, mesmo morando tão perto, cada um com suas atribulações e se ela, aposentada, hoje se dedicando ao mercado imobiliário, trabalhasse 3 semanas no mês, uma poderia fazer como ele e pegar estrada, de ônibus, carona, trem, avião ou carro e se verem mais. Ela comprou a ideia e acreditam se verão mais daqui por diante. Estive com o Calil nessa manhã, ganhei mais mimos, coisas para o Mafuá e ele me conta dos preparativos e ao ver in loco sua empolgação, eu também me empolgo e tento me colocar em seu lugar. Ele é uma peça rara dentro da conjuntura do mundo atual e até por causa disso, nada o fará desistir de tentar ser feliz ao seu modo e jeito no que lhe resta de vida, essa que temos, talvez única, daí o melhor mesmo é aproveitá-la com toda a intensidade possível.
Algo mais dele contei no blog do Mafuá do HPA e clicando a seguir:https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=calil+neto.
Quero ver se consigo registrar sua partida no domingo. Sei que irei chorar, também de saudade, mas muito mais pelo sentimento de que viver mesmo é fazer o que ele faz, mas não tenho condição, nem coragem para tanto, pelo menos no momento. Daí, escrevo dele e fico na admiração. Enfim, fazer o que mesmo por aqui?
"BRASIL 2019
É o presidente do país dizendo que o nazismo era de esquerda; a ministra que viu Jesus subir na goiabeira e que menino veste azul e menina veste rosa; o laranja morrendo de câncer enquanto samba no hospital e que ninguém mais sabe e ninguém mais viu; o ministro da Justiça falando em "conge", "câmera dos deputados", "massachutes"; o promotor que quer ficar com 2,5 bilhões da Petrobras para controle dele e turma; o ator pornô que virou defensor da moral e dos bons costumes; o doido surtado nos EUA que virou filósofo, os seguidores falando que a Terra é plana; outros querendo que professores portem armas em sala de aula; o filho brincando de provocar taques terroristas, como um inconsequente de twitter e o pai comprando briga com os maiores compradores das exportações do país; banqueiros e lobistas, a começar pelo ministro, querendo destruir a previdência pública e solidária para lucrar bilhões com a previdência privada e individual, a tal capitalização, e tudo isso a olhos vistos e cínicos, tendo a mídia como comparsa; o ministério da educação sendo literalmente implodido por agentes públicos incompetentes e fanáticos, a começar pelo ministro, mas não só. Sinceramente, parece que parte dos brasileiros tomou LSD e não conseguiu voltar da viagem", Celio Turino.
Já cansei de escrevinhar por aqui de minha eterna saudade do bom e velho Pasquim, tão necessário nos dias atuais. Hoje, novamente nadaria de braçada diante do FEBEAPÁ reinante na insensatez do que ocorre na terra varonil brasileira. Difícil colocar no mercado editorial de hoje algo novo e do que resta, cito um (além de Carta Capital, claro), a revista mensal PIAUÍ. Com um forte grupo econômico por detrás, compro e leio inteira, de cabo a rabo desde seu número 1 (neste mês chega ao 151, façam as contas há quantos anos circula). Já a critiquei como de direita, coisa e tal, hoje o faço menos, mantendo a leitura. É tão difícil encontrar pela aí boas leituras nas bancas e as resistentes precisam ser enaltecidas, até para conseguirem sobreviver e seguir adiante. Na Piauí tem de tudo um pouco, desde algo da direita raivosa, como textos sobre a sobrevivente esquerda. O contraponto é conseguido na leitura de uns e outros. Suas últimas capas, um primor. Publico aqui a da últimas edição, saindo agora nessa semana. Essa última, creio que chegando nas bancas até o final dessa semana tem um Bolsonaro pelado, assim como já o fez com Temer e outros. Lá algo que devo ler com afinco, um perfil desse Ministro das Relações Exteriores, uó do borogodó elevado a sua máxima potência, tão saboroso como o texto sobre a história das milícias e de como executaram Marielle da edição de fevereiro. Corro atrás de boas leituras. Elas me embalam para prosseguir a labuta. Entre a recuperação do Mafuá, o serviço diário, atividades domésticas e extra-curriculares externas, leio desbragadamente e o faço até em filas. Não consigo mais adentrar um mero banco sem levar algo pra ler na fila de espera. A Piauí faz parte do seleto grupo ainda me arrebatando para as bancas da Ilda e do Cláudio, as duas escolhidas por mim para minhas investidas no formato papel, esse que, mesmo com toda modernidade, não consigo me desvencilhar.
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