VOLTANDO AOS POUCOS...
Fui com uma missão bem definida, a de observar e escrever sobre a eleição argentina, a que defenestrou o neoliberalismo predatório do basura Macri na Argentina. Observei muito, não sai das ruas e até agora, confesso, escrevi pouco. Quando você está no palco dos acontecimentos tem que tomar decisões rápidas. Ou continua nas ruas e vendo cada vez mais e mais ou se tranca num quarto de hotel e escreve. Tinha prazos, cumpri a maioria, mas noutros negligenciei, pois não resisti ao chamdo das ruas e delas não sai. O escrito foi deixado para depois e quando isso ocorre, outros já o fizeram com maior presteza e rapidez. Não me importo, eu não volto de lá com as mãos abanando, pois agora, mesmo com o devido atraso, tenho todo o tempo do mundo para ir olhando foto por foto, relembrando o significado de cada uma delas e desta forma tento reconstruir minha intensa passagem pela Argentina. Vi um povo antes triste, desconfiado e depois a explosão nas ruas. Participei junto deles, do lado vitorioso e trago junto comigo o que é você ter renovada sua esperança, acreditar num projeto sendo reinstalado e vê-lo ressurgir. Agora, sento a bunda na cadeira e batuco algo até não mais poder, porém, como em tudo na minha vida, outras obrigações me chamam e vou tentando colocar as prioridades em primeiro lugar. Tento, sou chamado para isso e aquilo, mas com tudo ainda bem pulsante dentro da mente, vão sendo reavivadas as histórias construidas nas ruas, essas as que tenho verdadeiramente para contar. As avaliações, considerações abailizadas, conceituações bem ajambradas, essas eu estou lendo em diversas publicações respeitadas e creio, as minhas, com aquela pitada da sarjeta pode ter um considerado aproveitamento.
ELE ME CHAMA DA PORTA DO RESTAURANTE...
Desço a rua Defensa, a da feira dominical de San Telmo, em Beenos Aires no domingo passado com pressa, pois era o dia do pleito e a feira turística era o local menos indicado para presenciar o que estava ocorrendo no país. Por ali, turistas, muitos brasileiros, enquanto o país pulsava sua transformação por outras vias e locais. Na porta do restaurante Desnivel, onde paramos para um rápido almoço, não resisto e clico esse senhor enconstado na entrada. Bem o tipo que me chama a atenção, um ser com comprovada vivência nas "calles", tudo ali encruado e encralacrado na sua postura, visual revelador. Esses me magnetizam e os persigo. Ele me observa, me vê tirando a foto e me chama com o dedo. Vou até ele preparadio para levar uma dura. Pergunta de onde sou. Sorri ao saber brasileiro, jornalista e professor, quer saber se gosto do seu país e me diz algo mais: "Faça bom uso de minha foto. Eu já fui um sujeito de bem, hoje desisti de o sê-lo. Vivo por aqui, muitos me conhecem, perdi tudo o que amealhei ao longo da vida, menos a dignidade. Eles aqui do restaurante me ajudam como podem, comida não me falta e o cheiro vindo de lá de dentro é sempre muito bom. Não quero mais me desgastar com brigas sobre esses ou aqueles. Claro que abomino a crueldade de alguns para gente como eu, os que desistiram de tudo por causa de gente como eles e mesmo sem votar, sem estar presente, continuo vendo tudo. Nada escapa ao meu olhar. Os da rua enxergam tudo com outros olhos, os olhos do sofrimento. Você nos vê de uma forma, cada um tem o seu jeito de nos enxergar e nós, os do lado de cá, temos o nosso jeito de também ver enxergar vocês todos. São os nossos olhos. Reflita sobre isso quando for escrever de nós, só isso". Fui comer meio que engasgado. Adorei a conversa e na saída não mais o vi. Creio sua comida ter chegado e ele saiu ruando cidade afora. Hoje, ao rever a foto, me veio a mente o diálogo na porta do restaurante. Creio ter escrito aqui nessas poucas linhas algo de grande proveito sobre tão digna e majestosa pessoa. Adoraria ter batido um papo mais prolongado.
COLETIVO BRASILEIRO PASSARINHO EM BUENOS AIRES - O QUE É, O QUE FAZ, SEUS OBJETIVOS Sábado passado, véspera de eleição na Argentina, uma reunião juntando jornalistas brasileiros e argentinos antes do pleito. O amigo bauruense, professor, escritor e jornalista Gilberto Maringoni me convida para participar e junto um currículo, o do Coletivo Passarinho. Fui, participei, gostei e agora divulgo o texto recebido junto do convite, pois nele, algo mais sobre o que ve ma ser essa proposta coletiva de ajuntamento de interesses de brasileiros residentes em Buenos Aires:
"O Coletivo Passarinho nasce com a proposta de construir pontes entre Brasil e Argentina. Nos nossos três anos de vida trabalhamos para superar as fronteiras, construir comunicação e experiências comuns e aproximar as lutas. E assim o fizemos na luta contra o golpe, no movimento pela liberdade de Lula e nas diversas jornadas de Diálogos de Resistência articuladas com movimentos sociais, feministas, territoriais e de Direitos Humanos. Passaram por tais jornadas Mônica Benício, a viúva de Marielle Franco; David Karai Popygua, liderança indígena da etnia guaraní-mbya; e Naiara Leite, militante do movimento de mulheres negras no Brasil e coordenadora de Comunicação de Odara – Instituto da Mulher Negra. Recentemente, somamos à nossa batalha cultural o podcast Pulso Latino que tem a proposta ampliar os canais de comunicação e debate com o Brasil sobre as lutas latino-americanas.
É neste contexto, de um subcontinente em ebulição, em que as lutas populares ganham centralidade, mas também marcado por amplos retrocessos, que consideramos necessário estreitar laços, experiências, informações e lutas. A experiência destrutiva do macrismo e do ajuste neoliberal na Argentina foi, até agora, pouco difundida no Brasil e não ganhou a proeminência que deveria ter adquirido no contexto das eleições de 2018. Isso sem desconsiderar obviamente os grandes esforços das canais alternativos e contra-hegemônicos.
A expressão eleitoral do rotundo não a Macri nos traz grandes esperanças e desafios. Esperanças por saber que o big data não pode ser maior que a experiência de empobrecimento e subalternidade de parcelas significativas de um país. Desafios por que uma vitória se dá sob a pesada herança de um endividamento extremo perante o FMI e em um contexto de uma economia real arrasada. Além disso, surge o grande imperativo de repensar os governos nacional-populares e a vocação extrativista que impera na região.
Nada mais importante para o momento que construir pontes e aproximar as lutas. Tais pontes serão fundamentais na construção da mobilização social necessária para superar o bolsonarismo no Brasil com a construção de uma alternativa à esquerda".
Mais detalhes no https://www.facebook.com/coletivopassarinho2016/
Creio já fazer parte, além de divulgador e nas próximas idas, com mais tempo, quero conhecer mais de perto algo que, na correria dessa viagem e diante de tantos compromissos, estive pouco ao lado dos atuantes membros do agrupamento brasileiro. Por fim, explico dos motivos da escolha do nome "passarinho" como denominação. Simples, homenagem para o poeta gaúcho Mario Quintana e sua famosa frase: "Eu passarinho, eles passarão".
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