quarta-feira, 30 de outubro de 2019

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (72)


CONSIDERAÇÕES VARIADAS FEITAS NA CORRERIA DE AGITADOS DIAS*
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Este texto deveria ter sido publicado em 29/10, sem tempo sai no dia seguinte, mas fica valendo como se fosse de ontem... 

BATALHA DAS IDEIAS É A MAIS IMPORTANTE DAS BATALHAS
Cenas como essa da foto aqui postada se espalham como mato aqui pelas calçadas de Buenos Aires, quiçá de todo este país. Muito triste observar a repetição da mesma cena em cada nova esquina ou marquise. Muito já de disse e escreveu sobre seus motivos e consequências. Por sorte, o país se uniu e logo no 1º Turno mandou paras as cucuias o desGoverno neoliberal que aprofundou não só a crise, mas insensível até a medula, atuou beneficiando uma minoria rentista deixando todo o resto do país na penúria. A percepção existentes na fala e provável ação dos novos governantes deve levar muito em consideração as necessidades do povo argentino e não a das tais leis de mercado, uma que nunca irá beneficiar a maioria da população. Vejo isso não só nas declarações por aqui, mas também no que já fizeram um dia lá atrás e estão neste momento, prontos para dar continuidade. A pobreza e a miserabilidade deve diminuir, mas não tão rapidamente como se necessita, pois ninguém faz mágicas e quem o faz merece toda desconfiança. Sinto no ar lendo tudo o que me cai nas mãos aqui na Argentina, algo sobre a parcela da população, em torno de 40% defendendo não só Macri como seus atos, na maioria das vezes, contra seus próprios interesses. O mesmo acontece no Brasil. A classe média, tanto de um país como de outro, são parecidas neste quesito. Sofrem na pele as consequências de uma política, não só equivocada, como criminosa, mas o defendem assim mesmo, jogam contra seu próprio patrimônio. São, em sua maioria, gente que é naturalmente contra o peronismo, possuem interesses conflitantes a beneficiá-los pessoalmente, conservadores por natureza ou, em última hipótese, perversos mesmo. Esses, desgraçadamente, parecem pouco se importar com a cena a se repetir nas ruas. Pensam somente em si e nada mais. Alberto e Cristina, os eleitos, possuem a sensibilidade para não deixar isso continuar a acontecer. A Argentina mudou e isso traz ventos positivos para tudo o mais nessa insólita América Latina. A Pátria Grande ganha força, vigor, para voltar a prevalecer e se firmar novamente no continente.

AEROPORTOS LATINOS DEVEM ACHAR QUE ESQUERDISTAS NÃO LEEM NADA...
Explico. Não sei só eu reparei nisso, mas algo chama a atenção na imensa maioria dos aeroportos latinos. Nos brasileiros isso ocorre e aqui na Argentina idem. Dentro das áreas de embarque só revistas de futilidades, essas todas infestando as bancas dos tempos atuais, onde ler não é o maior negócio e sim, somente folhear e se distrair. No quesito jornais idem, pois nos grande aeroportos brasileiros para você encontrar alguma revista ou jornal palatável tem que pedir pra alguém trazer de uma banca em outra localização, nunca nas áreas de embarque. Aqui em Buenos Aires a mesma coisa. No Aeroparque, o aeroporto localizado na área central da cidade e atualmente atendendo mais o público local, tem uma banca ótima, mas nenhum na parte interna. Em Ezeiza, nem pense em encontrar por exemplo o diário Página 12 em alguma banca, pois isso não ocorrerá. Já o Clarín e o La Nácion, os ditos conservadores e comandantes por aqui da imprensa massiva, esses em todos os lugares. Nas salas vips só dá eles. Eles privam o acesso para uma informação mais confiável assim na cara dura, sem nenhum escrupúlo. Claro que sabem, mas a esquerda que lê também viaja e creio eu, lê até mais que a direita, porém, pelo menos para quem administra esses locais, privar o acesso é não melindrar os "donos do poder", esses que se sentem mal vendo os menos favorecidos nesses locais e fazendo uso das instalações aéreas, já jornais e revistas ditas esquerditas, seria demais da conta. Na Europa, quando lá estive, achei de tudo, desde o Charlei Hebdo, The Economist aos diários de pequena e grande monta. Será que eles sabem que nós, os esquerdistas gostamos e muito de ler? Se não sabem, informo algo mais, pois meu procediimento quando me dirijo para esses locais é muito simples e tem a mesma vertente daqueles que trazem o lanchinho pronto de casa. Venho pro aeroporto já preparado e antes, como sei que posso esperar horas nesses lugares, compro antes e trago na algibeira minha leitura predileta, pois passar horas vendo Caras ou afins é de matar a boiada inteira. Eu me preparo antecipadamente...

CONHECI UM LUGAR, A COOPERATIVA BAR CASONA HUMAHUACA, BUENOS AIRES
Em cada viagem, além das andanças de praxe, nada como encontrar um porto seguro. No sábado passado, um dia antes do pleito argentino, foi marcada reunião para jornalistas brasileiros assentarem a poeira e conhecem um pouco da realidade do país, como de fato é operada, algo como um bom guia de cegos para iniciantes. Convite feito por outro agrupamento dos mais interessantes e instigantes, o Coletivo Passarinho (escrevo deles nos próximos dias) e para o local indicado lá fui, calle Humahuaca 3508, rua bem atrás do shopping Abasto. O lugar é desses que, só de bater os olhos desponta aquela empatia para sempre, amor à primeira vista. Lugar acolhedor, verdadeira cooperativa, bem diferente dessa tal de Unimed e outras mais. Uma casa que se transformou num agrupamento coletivo e junta pessoas com ideias e propostas parecidas, libertárias e afins. O espaço serve para finalidades múltiplas e variadas, desde um simples bar/restaurante, como para ponto de reuniões e tudo o mais que se possa imaginar. Com a crise atual vivem num aperto danado e apelam para o coletivo, para os apaixonados pelo lugar para que colaborem e mantenham acesa a chama.

Lugares idênticos padecem desse mal, fazem algo para o coletivo e sofrem no quesito sobrevivência. Por ali se respira e transpira união de interesses. Sinto-me bem, entre iguais e logo na entrada, já sentindo a empatia, pedi se podia fotografar. Depois conversei com alguns dos que comandam a casa, os que pegam no pesado e a certeza, conheci mais desses lugares imprescindíveis em qualquer lugar. Fotografei inclusive o cardápio, pois nele, além do declarado diferencial ali exposto, a postura me encanta. Percebam os detalhes, talvez desorganizados, mas muito bem colocados. Virei fã e prometi voltar, trazer os meus da próxima vez, difundir, espalhar a ideia e se possível, copiá-la nos mesmos moldes para algo sendo pensado dentro de minha aldeia, Bauru. Acessem os endereços virtuais todos aqui reproduzidos, conheçam a proposta e vejam se não é disso o que precisamos quando continuamos por esse mundo, cada vez mais dispersos, separados. Quero mais é continuar na lida, mas ao lado de gente pulsando os mesmos interesses que os meus. Tenho profundo prazer em passar adiante algo dessa natureza. Fui arrebatado... Link com 31 fotos do lugar: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/posts/2995505550479434.

MAFUENTA ENTREVISTA DE RUA COM JORNALEIRO ALESSANDRO, SUA VISÃO DO MOMENTO NO PAÍS E SITUAÇÃO DOS JORNALEIROS EM LAS CALLES
Ao meu modo e jeito, gravando de soslaio, voz rouca, barulhos de carros passando e pessoas circulando ao lado, enquanto ele discorre de forma límpida e transparente sobre a situação argentina. Aprendi a gostar deste senhor, pensamento de esquerda, um tanto desiludido/desencantado, após tantas crises e transições, mas com um fio de que, com certo tempo, algo mude e melhore, inclusive para o seu negócio, hoje numa encruzilhada, sem muitas perspectivas. Todo dia de manhã, antes mesmo do café, desço para comprar o Página 12 e bater um papo. Hoje me apresentou também outro jornal, esse verdadeiramente de esquerda, o Prensa Obrera, órgão do Partido Obrero, do dirigente Jorge Altamira, conhecido dos amigos Paulo e Cláudio Lago, quando esteve em Bauru, época em que esses dois eram dirigentes do Sindicato dos Bancários. Enfim, uma fala bem lúcida, algo pelo qual, até pela vivência que mantive com o Alessandro, não podia deixar de fazê-lo. Eis o registro... Link da entrevista feita nas calles: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/2994855860544403/

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