segunda-feira, 2 de março de 2020

AMIGOS DO PEITO (171)


150 ANOS DO CONFLITO DA GUERRA DO PARAGUAI - FERIDAS AINDA ABERTAS

Eu sempre tive muita vergonha da participação brasileira na Guerra do Paraguai. Nos meus tempos de escola, sempre li muito a respeito deste conflito, tentando o esmiuçar a contento. O papel brasileiro foi o de, a serviço de interesses que não os seus, fazer o serviço sujo para o Império da época, Inglaterra. Fomos lá e executamos, com o Duque de Caxias à frente, o massacre de uma outrora pujante nação. Solano Lopes, ditador ou não, comandava um país diferenciado em toda a América Latina, soberano e altaneiro, exemplo para o restante dos países, todos subjugados e dependentes. Destruimos com o Paraguai, devassa total e absoluta e foi num 1º de março, quando o país finalmente se entrega com a frase de Solano, "Morro com meu país" e o tiro que lhe tiraria a vida. Essa Guerra, 1864/1870 é desses acontecimentos históricos, quando revividos ruborizam qualquer pessoa sensata. Diante de tantas atrocidades sendo cometidas por toda essa América Latina, em nome dos poderosos e a serviço destes, triste sina a nossa, servindo sempre de quintal para impérios fazerem experimentações, não permitindo nunca um avanço além da linha do sinal. Agora mesmo, algo de igual teor na Bolívia, outrora com o conluio golpista de 2016 a mudar os rumos deste Brasil.
Sob o ignóbil manto desse cruel patriotismo, até hoje é destruído um ideal libertador e é dada vazão para o que de pior temos, o autoritarismo cruel e insano, desses que, não só saca do poder seus adversários mas os quer mortos, ideal enterrado junto deles. No Paraguai do pós guerra o que o prevalesceu foi a partilha entre os vetustos fazendeiros locais, acordos espúrios onde o povo sempre esteje alijado, resultando no que vemos hoje, persistindo as enormes diferenças e opressão de uma casta sobre tudo o mais. Dizimar quem se opõe a confrontar interesses das grandes potências, eis o mote a mover até hoje as peças deste tabuleiro. Defender interesses nacionais quando diante de uma guerra passa a ser algo inadmissível, pois fere o que prescreve o mentor de tudo, o poder imperialista externo. No Brasil de hoje, algo assim em curso, quando se observa como são encurralados os defensores da liberdade deste país, em detrimento dos que a entregam de mão beijada para interesses das grandes corporações internacionais. São tantas guerras perdidas, essa a maior de todas por essas plagas, também vergonha que nunca se apagará. Já são 150 anos e me ruborizo toda vez que toco nesse assunto. E os insanos continuam praticando algo de igual teor, sempre nos nossos costados. Vez ou outra é tentado criar algo novo, de curta duração, chegando a "cavalaria" para restabelecer a ordem e o ordenamento de uma minoria sempre nos deixando de quatro. Eu abomino o papel de Caxias, como o faço hoje com Bolsonaro e tantos outros, perveros por natureza, insensíveis até a medula. Essa guerra não termina nunca...

DESTRINCHANDO UMA FOTO
Eu no Noroeste - encontros e reencontros - O jogo em si não foi grande coisa, 0 x 0 com o Velo Rio Claro, domingo, 16h, estádio Alfredo de Castilho, Bauru SP, 3 mil pessoas para lá se deslocando, mas as pessoas que a gente vai reencontrando, trombando e encontrando pela frente, isso vale a saída de casa e a ida ao estádio. Na foto, Thiago Navarro, Aurélio Fernandes Alonso, Plinio Scripitori, eu, Gilberto Truijo, Reynaldo Grillo e Cláudio Lago. Eu tenho uma história noroestina e outra bauruense com cada um deles e conto bocadinho, pequena particularidade de cada um desses diletos amigos. Isso é o que vale mais nas escapulidas para ir ver o time de nossa aldeia jogar, a possibilidade de juntar novas histórias, relatos que vão se juntando uns aos outros, formando ao final de tudo um mosaico do que acontece nas arquibancadas de um estádio de futebol no interior paulista, num campeonato envolvendo times da terceira divisão do futebol desse estado.

THIAGO NAVARRO é muito jovem, formado em Jornalismo pela Unesp Bauru, hoje assume importante função dentro dos quadros do Jornal da Cidade, aquele que vai na ponta ver e depois escrever sobre as atividades esportivas ocorrendo na cidade, sendo a mais importante o futebol, depois o basquete e volêi. No time que restou dentro do JC, bate nas onze, pois sua participação não se resume mais ao futebol e sim, a tudo o mais, desde política local, como matérias sobre temas gerais, essas pipocando no dia a dia. Boa cabeça, tenta produzir algo dentro do vivenciado na universidade com a realidade, essa nua e crua, a das atuais redações, quando se faz necessário ser mais que coringa, jogar nas onze posições, porém nada como dantes. Os tempos são bem outros para os profissionais da imprensa e vê-lo em atuação, eis algo quase em extinção no interior paulista no quesito jornal impresso. Thiago é desses que leio sem pestanejar, pois o sei não tendencioso e atuando num jornal conservador, porém dentro da verdade factual dos fatos.

AURÉLIO FERNANDES ALONSO é jornalista rodado, cepa calejada, tendo vivenciado desde seus tempos de assessoria de imprensa na Prefeitura, depois incursões em sua terra natal, Santa Cruz do Rio Pardo, no bravio e resistente O Debate, depois no Jornal da Cidade, onde fez de tudo um pouco, até o dia em que conseguiu se aposentar. Num acordo entre as partes, saiu e hoje ajuda a filha num projeto inovador, mas sua cabeça continua antenada com o jornalismo e não descarta a possibilidade de montar um jornal virtual pela internet, ou seja, o possível nesse novo formato de jornalismo. Enquanto amadurece a ideia, frequenta os bons bares, conversa muito, ouve bastante e segue na lida, filtrando tudo em algo feito a vida inteira, produzir matérias jornalísticas. Inesquecível seus últimos momentos no JC, quando produzia textos memoráveis para o Caderno Regional, dominical e sempre com algo instigante, reportagens ao velho estilo de bom e salutar jornalismo.

PLÍNIO SCRIPITORI não comparece em todos os jogos, sendo este o primeiro deste ano. Foi diretor da Rede Ferroviária Federal, áureos tempos, cargo importante, onde se aposentou e deita histórias, alguns impublicáveis, outras merecedoras de belos relatos, pois como testemunha ocular da História, viu muita coisa da história desta terra sem limites. Jogou bola no Noroeste, chegou a estagiar no Flamengo, indicado pelo escritor José Lins do Rego, atuou como diretor nos tempos do general Goretta e hoje, 87 anos, vez ou outra volta ao estádio, desta feita junto a mim, meu vizinho, o trago e vou absorvendo as histórias de antanho, muitas delas só na memória de gente como ele, quase nada transcrito para o papel. Memória viva ambulante, tanto das histórias intestinas da ferrovia, seus bastidores, como do time desta aldeia. Um senhor olhando o futebol de hoje com aqueles olhos saudosistas, numa comparação quase impossível, ainda mais quando foi ao estádio com a expectativa de ver o líder, seis vitórias e dá de cara com jogo sofrível.

GILBERTO TRUIJO é o causídico que não nos abandona. Fazemos uma troca, espécie de permuta, eu o trago para os jogos, busco e levo em casa, mas ele sempre de prontidão para o que der e vier com uma turma da pesada, rueira, barulhenta e causando pelos descaminhos fora dos trilhos. Ele, após alguns revezes da vida, dá a volta por cima, encontrou uma turma para chamar de sua, vive com o filho e nas horas vagas adora um boteco e noroestar. Pessoa por demais conhecida por onde circule, não se liga em andar alinhado, mas está mais do que alinhado nos encaminhamentos para manter todos dentro enquadrados dentro da lei, pois sabe que, todos sendo do avesso, os cuidados são sempre além do normal. Ele é nosso anjo da guarda e sabe muito bem que para andar junto do grupo se faz necessário carregar consigo a carteirinha da OAB, pois algo sempre pode acontecer a algum logo na curva da esquina e ele precisa estar preparado.

REYNALDO GRILLO é o mais noroestino de todos, mesmo morando nas cercanias de New York, mais precisamente em New Jersey. De lá, se transformou no embaixador noroestino no planeta, espécie mais que rara de torcedor, desses que todo time precisaria ter, incansável defensor e a acompanhar tudo, sempre dando aquele incentivo mais que necessário. Bauruense exilado nos EUA, quando vem para sua terra, um dos lugares onde bate cartão é nos jogos do time do coração e como ontem, revê pessoas queridas e outras, como eu, amigos de longa data, mas pela via internética. Sou até íntimo dele, quase o visitei em sua casa norte-americana, mas conhecer mesmo o fiz neste domingo, quando se aproximou e ao mostrar a cara, todos o identificaram assim de bate pronto. Gente assim é um maravilhamento o Noroeste ter como torcedor.

CLAUDIO LAGO além de toda sua história com bancário, dos seus tempos de Banco do Brasil, agitação começando em Cuiabá e seguindo pro aqui, depois a militância nunca abandonada no PT, culminando com sua eleição para presidente do atual Diretório Municipal. Desses a militar nas 24h do dia, com pequenas refregas, folgas, para se juntar aos amigos e conversar, prosear, bebericar algo. Jogou bola quase sua vida toda, sendo muito conhecido nos torneios internos do Luso e na qualidade de são paulino meio que doente, viaja por aí quando lhe dá na telha para ver seu time em campo. O arrasto para ver o Noroeste e ele vem, mas assim como eu, quando me dou conta, o danado não está sentado na arquibancada, bate asas e ao encontrar alguém para nova conversa, lá está e assim perde até de ver os melhores lances da contenda.

Esses os meus companheiros da foto, os que vez ou outra trombo pelos lados do Noroeste, sempre escolhendo a arquibancada junto aos eucaliptos, chão duro de concreto. Com eles me junto a outro tanto e assim, além dos jogos, papos que se deixar, se prolongam para muito além das partidas.

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