segunda-feira, 16 de março de 2020
O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (123)
QUANDO IREI PRESENCIAR NOVAMENTE A CENA? - JERÔNIMO E SEU SOM AMBULANTE NA FEIRA DOMINICAL: ATÉ BREVE... Ana, a companheira de todas as horas já foi taxativa comigo: "Você faz parte do grupo de risco e se quiser viver mais um pouco deve seguir à risca as recomendações de precauções para com o coronavírus". Voltava das ruas, numa manhã dominical auspiciosa, como faço desde sempre, circulando de peito aberto pela Feira do Rolo, sentado numa sombra atrás da Banca do Carioca, local onde se comercializa livros, CDs e LPs. Ali comi, bebi e conversei animadamente com amigos, fui apresentado a outro tanto, ou seja, tive um contato estreito, muito próximo com uma pá de gente. Com a TV ligada no jornalismo o dia todo, revista e jornais sendo devorados com a devida avidez, chegamos na conclusão mais simples diante de tudo: os dias de rua estão contados, ou seja, pelo que ela me diz, encerrados. Entristecido, acabrunhado, concordo, pois quanto mais ouço, vejo e leio, tudo deverá ter uma complicação a mais daqui por diante. Se na Itália, a propagação se deu pelo descuído generalizado, não seria recomendável, diante de minha diabetes, cometer os mesmos descuídos. Aceito seus conselhos e, devo permanecer mais recluso, pelo menos por enquanto. A rua sempre me chamou, possuindo um poder atrativo de grande valia e intensidade. Terei que resistir, abdicar e ficar muito mais em meu casulo caseiro, sob os cuidados de quem se preocupa comigo.
Ainda ontem, lá na Banca do Carioca, um som emanava por todos os poros, espalhando junto ao burburinho local a música do grupo Pholhas. Curti muito eles quando de minha mocidade, tendo já assistido shows com eles, um inesquecível no Clube dos Bancários. Ontem ouvi aquelas vozes vindas de uma caixa de som ambulante, a do Jerônimo, um senhor que sai todo domingo do jardim bela Vista, trazendo para a feira seu som e espalhando o que gosta em alto e bom volume. Tem dias que é difícil de suportar, mas hoje, creio eu, mais receptivo diante das proibições pela frente, ouço com o ouvido mais aberto, quase sorrindo. Me aproximo e o assunto sobre isso de estar todo domingo na feira, em cada dia com um pen drive diferente, espalhando música. Ele fala pouco, sorri muito e diz gostar de música e de propiciar isso a todos ao seu lado. Quem sou eu para discordar do que faz. Ele vem de longe, a pé, arrastando um carrinho de compras revestido com uma saco plástico preto e pendurado nos ombros o som ambulante. Circula por toda a feira, escolhendo sempre um local à sombra para estacionar e ali permanecer por mais tempo. Nesse domingo parou junto dos que conversavam ao fundo da banca de livros. Todos fomos obrigados a curtir Pholhas e para não ter o dia estragado, falamos sobre o grupo musical e também sobre Jerônimo. Precisam ver sua fisionomia de contentamento ao circular pela feira com o som ligado no seu mais alto volume, como a propiciar algo de inolvidável valor para todos por ali. Deve se achar um prestador de serviços.
Na feira existem muitos tipos como ele, todos saindo de suas casas aos domingos em busca de sol, distração e estar junto de outras pessoas. O fazem isso para viver, ou melhor, para continuar vivendo, pois trancados dentro de suas casas, teriam, com toda certeza, diminuidos seu tempo de vida. Esses se esbaldam na feira e os vejo sorrindo por todos os poros, alegres, como não é possível em nenhum outro dia da semana. O que será desses sem essa diversão dominical, se algo os impedir de sair às ruas e mostrar a cara, balançar a roseira? Primeiro vai ser difícil convencer a esses da obrigação de não poder sair de casa. Jerônimo e outros tantos fazem desse lugar, a indomável e irretratável Feira do Rolo, um lugar mais que único, denominado por mim de o lugar mais democrático desta cidade "sem limites". Aquele burburinho é uma espécie de libertação semanal dessa gente mais simples da periferia, quando saem para as ruas e se mostram para tudo o mais, de uma forma não mais possível em tantos outros momentos de suas vidas.
Eu já estou com impedimento decretado, abalizado por todos à minha volta, muito preocupados com meu estado e minha condição perante a crescente pandemia. Publico essas fotos deste propagador de som e vejo que, talvez permaneça um bom tempo sem estar na feira, sem roçar com outros pelos seus corredores. Faço minha despedida com esse escrito sobre Jerônimo e desta forma, sem muitos argumentos para fugir do a mim prescrito, estarei me recolhendo aos meus aposentos e lá trabalhando, fazendo tudo de forma individual, sem sentir esse cheiro das ruas, algo a me inebriar os movimentos. Irei tentar ler mais, assistir o que até hoje não consegui fazê-lo, conversar mais com quem divide comigo o espaço doméstico e colocar o trabalho em dia, minhas vendas e escritos. Se por um lado, abdico de tanta coisa coisa boa, sei, outro tanto estará surgindo, basta enxergar sob esse prisma. Assim sendo, ATÉ BREVE (assim espero).
ALGO SOBRE AS FEIRAS MUNDO AFORA:
O que estaria acontecendo com todas as feiras populares espalhadas mundo afora? Como está a participação popular nesses lugares? A resposta de uma delas eu leio hoje num texto primoroso do melhor jornal do nosso mundo, o diário impresso argentino Página 12, quando no dia de ontem estiveram verificando in loco exatamente isso, na maior buenarista, a de San Telmo. Eis o link para o texto "UM DOMINGO COM FEIRANTES DE SAN TELMO": https://www.pagina12.com.ar/253162-un-domingo-con-feriantes-en-san-telmo
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