domingo, 25 de outubro de 2020

REGISTROS DO LADO B (17) e FRASES (201)


CHEGAMOS AO 17º AO VIVO LADO B, AGORA COM A PSICÓLOGA ROSE MARIA BARRENHA
A coisa avança a cada semana e em cada novo bate papo, algo das entranhas de uma Bauru pouco registrada, a história dos que resistem, insistem e persistem, os verdadeiros desbravadores desta cidade, os que a conduzem de fato. A casa semana me certifico de ter iniciado algo de grande vulto e estar trançando perfis substanciosos, enfim este o propósito principal disto tudo. Quando convidei a entrevistada desta semana, pensei em várias coisas ao mesmo tempo e aqui junto tudo, a de poder traçar um perfil de como se dá de fato as relações humanas enquanto funcionárias públicas deste munícipio, também conhecido como “Cidade Sem Limites”, depois alguém dentro de uma das secretárias mais emblemáticas da cidade, a de Saúde e por fim, um dos setores onde os problemas abundam e afloram, o da Psiquiatria. Levei também em consideração o fato de Bauru ter se tornado referência quando se fala em Luta Antimanicomial, pois tudo começou aqui na Unesp de Bauru e depois ganhou projeção nacional. Ou seja, a conversa promete e deverá render assunto para dedeu. 

Falar de ROSANGELA MARIA BARRENHA é discorrer sobre tudo isso e muito mais, pois Rose, como carinhosamente a chamamos, pouco tempo antes de se aposentar foi transferida, a seu pedido para a Cultura municipal e foi atuar em outra área das mais importantes, a das bibliotecas. Numa delas, a do Geisel, produziu junto de outra servidora, Neli Viotto, algo dos mais auspiciosos no quesito participação da comunidade num prédio público. Muitas histórias de pessoas abnegadas e prestando relevantes serviços, deixando uma marca mais do que pessoal no que fizeram. Rose tem mais, quando na Saúde ajudou a criar o grupo Loucos por Alegria, onde fantasiava os pacientes e desta forma, com muita responsabilidade e irreverência os ajudava a ir superando as adversidades e problemas. Todas as fantasias foram criadas por ela mesma, fora do seu expediente, em sua casa e graciosamente distribuídas entre os participantes. Tempos depois, quando já estava na cultura, ajudou desde o princípio noutro bloco carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é MiXto, não só costurando à mão o estandarte utilizado até hoje como carro chefe e vários outros adereços, algo saída de sua verve criadora e criativa. 

Enfim, Rose tem uma história intensa e pouco conhecida e ao entrevista-la, o antigo desejo de deixar algo registrado, mostrar para quem não a conhece, bocadinho dessa trajetória também feita de muita luta, resistência e confrontos. Na sequência algo do que já escrevi dela blog Mafuá do HPA:

- Em 15/02/2010 escrevi: “GENTE "LOUCA POR ALEGRIA" E UM DESFILE DE ONZE, JUNTANDO-SE AO TAMBÉM DOIDO "MOITARÁ" - Gente que me lê, peço perdão por antecipação, mas hoje, segunda de Carnaval, curtindo uma belíssima ressaca da noite magistral de ontem, quero divagar, escrevinhar sem compromissos ou obrigações outras. Quero relatar de minha felicidade interior e de tantos outros que ontem estiveram comigo lá no Sambódromo de Bauru, quando descemos o percurso de forma pomposa e cheia de brilho e contentamento. Não esperava tudo acontecer da forma maravilhosa como foi se sucedendo. Tudo foi se encaixando de uma tal forma, desembocando em reencontros pelos caminhos da vida, culminando com o desfile. Quem tiver paciência e disposição para ler um relato mais do que pessoal, algo emocionado, que prossiga e curta tudo, como fizemos ontem à noite. Nada programado com muita antecipação. De certo só alguns contatos e uma vontade de descer o Sambódromo num grupo de amigos e considerados. Muitos desistiram pelo caminhos (uns chatos), outros fizeram falta (de arrependimento também se morre) e alguns vão nos incriminar por não terem sido convidados (fica para a próxima). O fato é que havia um acordo prévio de passarmos na casa da amiga Rosa Barrenha (psicóloga da Prefeitura e integrante de um grupo de apoio denominado "Loucos por Alegria", ligado à luta antimanicomial) por volta das 19h, com alguns amigos dispostos a sambar na avenida. Tentei gente aqui e acolá, mas o único a acolher a idéia desde o início foi o Duílio Duka. Marcamos e nos encontramos no começo da noite, eu, ele, sua esposa, a Rosana, meu filho, também Henrique e outros que foram se juntando. Ana Bia, professora da Unesp liga e perdida numa cidade nova para ela, adere ao grupo. Na casa da Rose, ela nos aguardava com uma colaboradora (qual é mesmo seu nome?) do seu grupo. De uma hora para outra, dentro do inesperado da vida, surgem de um guarda-roupa, roupas e mais roupas, fantasias prontas e camisetas com estampas desse grupo, que juntando-se à vontade expressa na fisionomia de todos, tinha tudo para dar certo. Roupas escolhidas, um batom foi sendo usado como pincel no rosto de alguns, uma pintura era feita com um fino pincel em outras e até um spray com uma tinta verde era esparramada nos cabelos e barbas dos mais tresloucados”.

- Em 15/11/2010 escrevi: LEMBRANÇAS DO ALTERNATIVA BAR E UM PAPO COM DÉCIO BASSAN - Durante 12 anos fez o maior sucesso aqui em Bauru o ALTERNATIVA BAR, no cruzamento das ruas Virgilio Malta com Cussy Junior, primeiro sob o comando de um agitado trio composto por Décio, Fernando e Paulo Correia e depois só com DÉCIO BASSAN e ROSE BARRENHA. O bar/restaurante fechou no começo de 1997 e hoje revivi um amontoado de histórias, quando convidado para um inusitado almoço na casa da Rose, reuniu Décio, filhos de ambos (Bianca e Bruno), netos, sogra e alguns amigos, como eu, Ana Bia, Roque Ferreira e Tatiana Calmon. Primeiro algo que há quase uma década não acontecia, com Décio indo para a cozinha (com assistência de Tatiana) e revivendo um dos pratos do antigo cardápio do Alternativa, um "Joelho de Porco com chucrute", bem ao estilo alemão, com repolho e mostarda. O imbróglio começou cedo, bem antes do almoço e só terminou por volta das 20h de hoje. "Você não tem noção do que seja esse homem na cozinha", adiantava Tatiana. E tudo foi comprovado nos mínimos detalhes, com algo que nem imaginava, quando descobri, por exemplo, que no prato principal havia dois cravos, um para cada joelho, em detalhes que iam escapando aos poucos da cozinha”.

- Em 15/01/2012 escrevi: “ROSE BARRENHA, UMA SERVIDORA PÚBLICA NA ACEPÇÃO DA PALAVRA - Quando o assunto é funcionalismo público muitos torcem o nariz, pois os bons pagam pela atuação dos maus. Sempre foi assim na maioria das atividades profissionais. No funcionalismo, algo mais estignatizado. Muitos, mas muitos mesmo fazem das tripas coração para manter a aura da função pública com dignidade. Conheço muitos assim e aqui destaco ROSE BARRENHA, servidora pública municipal da Saúde, atuando no Posto de Saúde do Bela Vista, na função de Psicológa e desde o primeiro governo Tuga, uma pessoa das mas respeitadas e ouvidas no funcionalismo. Virou sinônimo de profissionalismo. Formada pela Unesp Bauru, foi durante muitos anos casada com Décio, onde juntos atuaram no Alternativa Bar. Na função pública é uma ativista social e política, sempre ligada às questões de sua profissão e às grandes nacionais. Vê-la em atuação nas envolvendo a Saúde é um alento e a certificação de que muitos dos que estão dentro do atual sistema, atuando no seu dia-a-dia continuam atentos e antenados, não deixando o bonde ser arrastado para caminhos tortuosos. Num momento crucial, cujos desdobramentos darão a cara do setor para as próximas décadas, Rose atua de forma consciente e necessária no Conselho Gestor da Saúde de sua unidade e acaba de ser eleita numa eleição direta, sem fazer campanha, para ser uma das representantes da CIPA junto à Prefeitura (eis um bom sinal do reconhecimento). Aroeira pura, resiste bravamente aos impulsos atuais privatistas na Saúde. Gente como ela são merecedores de todos os elogios, não só pela postura digna de trabalho, mas pela preocupação constante em não deixar o serviço público cair no degredo. Seguram o touro a unha. Com gente assim não existe como esmorecer, como permanecer estático e apático. Rose é do tipo inquieta e desse jeito toca sua vida, influenciando muitos a não esmorecerem pelo caminho”.

- Em 05/09/2012 escrevi: “COMO FOI O LANÇAMENTO DO LIVRO DO DÉCIO E COMO PROCEDER PARA CONTINUAR AJUDANDO NA SUA DISTRIBUIÇÃO - Relembro hoje como foi o lançamento do livro póstumo de DÉCIO BASSAN, o “Energia – Alternativas”, edição do autor (reunião de amigos), 300 exemplares impressos e sendo revendidos cada um a R$ 25,00. Uma verdadeira ação coletiva, onde cada um se doou um pouco, até a concretização final do sonho do autor, que era ver o livro impresso. Todos os que compraram a ideia fizeram algo e desse ajuntamento de ações, o parto foi possível. A obra em si já esmiucei aqui mesmo em textos anteriores no blog. Algo pensado inicialmente como um papo entre pai e filho, depois colocado no papel, numa linguagem acessível aos leigos, como eu e tantos outros. O tema foi um dos epicentros da vida de Décio, um entendido nas questões energéticas e seus desdobramentos. De uma observação do que venha a ser essa questão, os meandros dela no contexto nacional e depois, sua parte mais significativa, algumas propostas concretas de ação. Enfim, um saboroso e degustativo livro, com mais do que certa utilidade. Isso uma coisa. Depois, a morte do autor, tão logo conclui a revisão da obra. Na sequência, a reunião de amigos para viabilizar a concretização do sonho. E por fim, o grande dia do lançamento. Alguns detalhes anteriores são desnecessários, pois todos, indistintamente tiveram participação decisiva. Quero aqui tecer algumas considerações sobre o evento, a festa, o reencontro de todos com a obra pronta. O local escolhido foi a Casa Ponce Paz, cedido pela Secretaria Municipal de Cultura e numa noite de agosto. A Rose Barrenha, a esposa, desdobra-se para que tudo dê certo e pensa em cada detalhe. Enfim, uma festa de lançamento com tudo em cima. Até música tivemos com o saxofone de Leandro Silver Sax e a voz da inigualável Audren Victorio, ele num solo que durou o evento praticamente todo e ela, numa canja mais do que especial. Foi uma intensa reunião de pessoas próximas ao Décio, amigos, colegas, parentes e gente interessada na discussão do tema energético. Rolou de tudo um pouco, até uma teatralização com algo sobre o autor e seus escritos, como uma bela ideia de um livro, montado com uma foto do autor e a solicitação de que ali fosse registrado algo sua pessoa. Na mesa ao lado, o filho Bruno, dava os autógrafos em nome do pai, afinal, o livro fora escrito pensando num diálogo com ele. Tudo muito singelo, puro e simples, como devem ser as coisas naturais, com sentimento e feitas com algo mais, vindo de uma força interior só alcançada nesses momentos”.

- Em 27/04/2014 escrevi: “AMIGO 3 – Tem gente que trabalha adoidado e ainda encontra tempo para ser Louco por Alegria, esse o caso de uma abnegada pessoa como a Rose Barrenha, servidora pública municipal, hoje lotada na Secretaria de Cultura, fazendo acontecer por onde passe. Ontem junto de amigos e da neta foram até uma Casa de Idosos e deram um show, verdadeiro espetáculo brincante, onde ambas pintadas e rebuscadas, verdadeiros clows, levaram alegria para que mais precise de atenção, os nossos velhinhos clamando pela nossa (encontramos para tanta coisa, por que não para eles?). Gente como Rose não é fácil de ser encontrada em cada esquina, gente que para tudo o que está fazendo e parte para fazer algo pelo próximo, não esperando nada em troca, a não ser um abraço apertado de gente do lado de lá. Tem quem não entenda isso que ela faz, não seus verdadeiros amigos, esses que a apoiam em tudo e nunca vão querer se confrontar com nada que ela faça. Nunca”.

- Em 14/08/2014 escrevi: “Hoje, aqui e agora, escrevo dessa que está fazendo e acontecendo na Secretaria Municipal de Cultura, a servidora ROSÂNGELA MARIA BARRENHA, a ROSE, que até bem pouco tempos atuava nas hostes da Saúde Municipal, área de Saúde Mental. Hoje na Cultura, trouxe consigo a inquietação e isso já é demonstrado no que vem fazendo, primeiro lá na Biblioteca Municipal e agora com esse projeto. Sou suspeito para falar de Rose, pois ela é minha dileta amiga. Porém, impossível não enxergar nela essa irrefreada disposição de ser, fazer e acontecer. Nada feito para se mostrar, aparecer, longe disso, seu negócio é botar o bloco na rua. Se o que faz ainda passa desapercebido para alguns, peço que daqui por diante comecem a reparar nos envolvimentos e na sua atuação. Quando cito algo valoroso dentro do serviço público, gostoso mesmo é poder citar alguém com o quilate de envolvimento e desprendimento como o dessa tal de Rose. Não bajulo ninguém a toa, ela é merecedora disso tudo. Linda pessoa. E é claro que quando enalteço a Rose, existe junto dela muitas outras pessoas, pois ninguém é e deve ser uma ilha. Ela faz tudo em equipe, como tudo deve mesmo ocorrer. Pois bem, ele torna-se ainda mais grandiosa exatamente por causa disso, não se fecha em copas e está sempre ladeada de muita gente. Mais uma lindeza de sua pessoa”.

- Em 25/02/2020 escrevi: “ROSE BARRENHA E SEU PATINETE: Rose foi funcionária pública municipal, primeiro da área da Saúde (é psicóloga desde os tempos do bloco Loucos por Alegria) e depois, até quando se aposentou na Cultura. Acumulou irrerevência, picardia e o jeito de fazer tudo o que muitos outros achavam custoso demais. Encerrou suas atividades dentro de uma biblioteca de bairro, num dos tantos altos pontos dentro de sua nada conformada vida. Foi tentar algo novo pelos lados de Piraju, onde dá prosseguimento ao seu modo de tratar o semelhante dentro de uma igualdade não mais tolerada hoje. Por causa disto, seguidos murros em ponta de faca. O tempo passou, Rose sendo para-raios foi juntando energias diferenciadas em seus costados e chega neste momento de sua vida sem muitas condições físicas de descer o Calçadão da Batista junto do bloco Bauru Sem Tomate é MiXto. O pessoal do bloco, todos da mesma laia e lida onde ela navega e toca sua vida, não a deixou desistir. Ela disse daria seu jeito e desfilaria, mesmo cheia de dores, apregoando sem condições de bailar nas sete quadras do Calçadão. Dias antes do Carnaval visita parente e por lá vê dentre as coisas do filho do casal um largo patinete motorizado e o estalo surge assim de bate pronto. "É com isso que irei desfilar", pensa. E assim o faz, para deleite e alegria dos tantos amigos tomateiros. Ver Rose flanando, navegando, sobrevoando, pairando no ar junto aos demais foliões foi mesmo para ter a mais absoluta certeza: esse bloco é mesmo, não só desconsertante, como consertante. Rose, hoje passados três dias do desfile, reclama das dores, mas não se arrepende do feito e feliz da vida, dessa forma e jeito dá vai contornando os problemas, driblando as depressões e dores, tocando o barco, mesmo quando o vento sopra ao contrário. É de gente como Rose no e com o Tomate, o seu motor gerador, o grande motivo dele resistir, persistir e insistir por oito anos nas ruas de Bauru, sendo, fazendo e acontecendo. Sem gente como Rose não seríamos merda nenhuma”.

- Em 06/04/2020 publiquei frase dita por ela: “Saco cheio de colt convidando pra maratonas de namastê gratidão que aumentam em até 20 por cento a sua felicidade ( quem mediu?), encontros de luz ao módico preço de 300,00 pela internet... ó gente sem vergonha, viu! O mundo caindo, milhões morrendo, e esses oportunistas não perdem a chance de vender paz de espírito e alívio da culpa pra classe média metida a rica. Saco cheiooo”, Rosângela Barrenha”.


POEMA DA ROSE BARRENHA DENTRO DO ESPÍRITO DA COISA:
"Jovens, lindos, apaixonados,
carregando angústias e bandeiras
éramos soldados do amanhã
e da revolução...
Queríamos um novo mundo!
Sectários ou solidários,
nem sonhávamos que éramos nós
o mundo em construção..."

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