quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

CENA BAURUENSE (117)


PARA CONSUMIR CULTURA EU PEGO MEU CARRO E RODO 450 KMs
“Há 46 anos ouvindo que Bauru precisa assistir bons espetáculos, conforme um colunista nesta semana escreveu. Jamais esse colunista foi assistir a um espetáculo meu. Mais de 15 peças em janeiro, e garanto e discuto com qualquer um, espetáculos muito bons e de muita qualidade... Agora tenho que ler que Bauru precisa assistir bons espetáculos. Basta e abaixo a mediocridade e esse colonialismo babaca e velho, só é bom o que vem da capital, dó é bom com a marca da Globo, só é bom essas porcarias. Basta! Não tenho mais estômago pra isso, pensei que aos 65 anos poderia ficar em paz, fazendo meu trabalho com meus alunos de teatro do Curso e aí leio essa nota... Vamos parar com isso que eu quero descer!”, desabafo do diretor teatral Paulo Neves (https://www.facebook.com/cursospauloneves?fref=ts).

Leio isso hoje e fico me remoendo por dentro. Quantas boas peças já aportaram por aqui, grupos de reconhecido valor, mas sem nomes conhecidos, os tais dos astros “globais”. Plateias vazias em quase todos. Por outro lado quanta porcaria baixa por aqui, stand ups horrorosos, mas com uma carinha famosa da TV e só por isso os lugares se esgotam. Esse negócio de santo da casa não fazer milagre não é de hoje. É a via de regra. Mas não é exclusividade de Bauru. O brasileiro não tem formação nenhuma para gostar de coisa boa, pois não está acostumado a presenciá-la com assiduidade.

Aqui duas histórias. O dono de uma FM só coloca música ruim para tocar em sua rádio, mas em sua casa só ouve MPB, clássicos, jazz, etc. Questionado, não se faz de rogado, diz isso: “Meu negócio é comercial. O brasileiro gosta daquilo, pois coloco aquilo para ele ouvir”. Na segunda história, tão ou mais trágica que a primeira, dizem e já ouvi isso de bocas que conviveram com a pessoa. Um alto (a) dirigente cultural de uma passado não tão distante, ocupando um cargo cultural de grande monta na cidade disse certa vez isso: “Quando eu preciso de cultura, pego meu carro e rodo 450 km”. Dizem mais dessa pessoa, que até chegar ao cargo cultural nunca antes havia posto os pés no Teatro Municipal de Bauru.

Isso mostra como somos e o que gostamos e o que lemos e o que propagamos como o bom, o correto e o recomendável. Um país que tem uma colunista dando pitacos políticos na TV ao estilo dessa Sherazade pode esperar o que? Que gostemos de Shakespeare? Nunca. O que esperar de alguém que assiste programas desse tal de Gentile, que estava na Band e foi para o SBT com passe valendo alta importância? O que vai ser discutido nesses programas? Merda. Só e tão somente isso. O Paulo Neves pode ser o cara mais ranzinza desse mundo (e é mesmo), ranzinza, rabugento, temperamento difícil, intratável e tantas outras coisas, mas tentem aguçar minha cansada mente. Quem ainda traz Plínio Marcos para nossos palcos? Vi esse ano jovens de 17 anos encenando esse autor e estavam todos maravilhados. Esse é só um exemplo. O que ele faz pode ser insipiente, pois trabalha com a formação, tanto juvenil como da terceira idade, mas ele faz. Eu também fico triste demais da conta quando leio algo assim. Começo a me lembrar das trapalhadas todas que já aconteceram no mundo do teatro na cidade quando peças grandiosas aqui estiveram e foram achincalhadas.

Encerro com algo que acabo de ler nos estertores do que ainda resta de Bom Dia Bauru circulando por aí. Li lá que esse ator global, esse barbudinho, um tal de Caio Castro (se me falassem só o nome nunca iria associar a nada se não visse uma foto dele), declarou não gostar de teatro nem de leituras. Gosta só de fazer TV e nada mais. Causou revolta entre os atores mais velhos. Isso é mero reflexo desse tempos, onde se lê cada vez menos, a informação está diante de nossos olhos, mas a distorcemos ao bel prazer e a todo instante. Bons espetáculos para que, né Paulo, com tanta gente pensando e agindo na contramão da verdadeira cultura? Mesmo assim Paulo não desiste, colocando seu tijolinho ano após ano nessa parede. A sua parte ele faz. Se é reconhecido são outros quinhentos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não sei quem escreveu o artigo, mas até por trabalhar há alguns bons anos na área, penso que o autor é desinformado, ou acha que espetáculos bons são sinônimo de famosos. Há em Bauru uma Mostra Paulo Neves com espetáculos de alto nível, uma Mostra Internacional de Teatro de Bonecos com espetáculos internacionais, o FACE com trabalhos de altíssimo gabarito e mais as frequentes encenações que acontecem no SESC. Desinformação pura e simples....
Silvio Selva

Anônimo disse...

Veja essa entrevista, Henrique e compare com o que vc escreveu...com o que o Paulo Neves teve q desabafar....veja quem fala!!! ela...a grande dama....

http://www.youtube.com/watch?v=KMQzG1jpavU

Madê Correa

Anônimo disse...

Bauru tem grandes produtores e cursos de teatro muito bons mas infelizmente existem pessoas que acham que santo da casa nao faz milagre vamos dar valor ao que e nosso ainda bem que a nossa secretaria de cultura sabe dar valor as producoes da nossa cidade.
Dora Gireli