segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (52)


AS CIDADES PRECISAM QUERER PARAR DE CRESCER A TODO E QUALQUER CUSTO
                                   Texto em homenagem, a Eduardo Coutinho, falecido ontem.


As cidades brasileiras estão falidas ou em estado de falência. A falência acentuada por m
im, dessa vez não é a financeira, mas a necessidade urgente que muitas delas possuem de PARAR DE CRESCER e algumas delas, de não serem tocadas pelo dedo de Midas e quererem CRESCER A TODO E QUALQUER CUSTO. Tu do em nome de um tal de PROGRESSO. O QUE SERIA ESSE TAL DE PROGRESSO? Na imensa maioria das vezes, DINHEIRO, sempre ele, só ele. Pois, abaixemos a bola e toquemos ela de leve, na maciota, sem querer botar a pelota na frente de tudo, a qualquer custo. Fiquei tomado por esse tema semana passada ao ler um belo texto do professor da USP, VLADIMIR SAFATLE, o “PARAR DE CRESCER”, revista Carta Capital, edição 784, 22/01/2014. Clicando a seguir, o artigo e não só ele, mas juntos os deliciosos comentários propiciados pela sua publicação:http://www.cartacapital.com.br/revista/784/parar-de-crescer-5994.html

O tema do artigo é a cidade de São Paulo, hoje um paquiderme sem rumo e direção. A historinha contada por ele dos motivos do antropólogo Claude Lévi-Strauss, que esteve em São Paulo na década de 30, nunca mais ter tido vontade de pisá-la novamente é elucidativo. “Sua resposta indicava a tristeza de quem sabia que aquele era um lugar submetido a um ritmo marcial de crescimento e autodestruição. Retornar décadas depois seria apenas ir à procura dos escombros de lembranças prensadas entre os mais novos empreendimentos imobiliários neoclássicos”. São Paulo deu no que e não só ela, muitas outras tiveram o mesmo destino, inexorável devido a um crescimento desenfreado, quando o que dita a mente dos seus dirigentes é um tal de crescer, crescer, expandir, progresso, progresso, sem olhar e pensar em mais nada, muito menos no bem estar de sua população. Isso ocorre em cidades grandes e nas pequeninas também.

Bauru não é um primor, excelência para nada. Curitiba já o foi, hoje não mais. Regrediu. Aqui à nossa volta, anos atrás visitei muito a pequena Reginópolis e fiquei espantado em tomar conhecimento de que uma fábrica de bloquetes, criada para produzir o calçamento da cidade, totalmente sustentável, havia sido encostada, emprestada para outra e depois inutilizada totalmente. Os últimos bloquetes na cidade estão sendo substituídos pelo asfalto, piche por todos os lados. Em todas as outras onde isso ocorria, ocorre o mesmo, Gália, Garça, Pirajuí e Agudos. Agudos é sintomática nesse quesito de querer crescer mais do que deve. O curso inexorável de seu alinhamento junto ao tempo foi acelerado. Coisa de uns cinco anos atrás, a cidade se debatia com uma imensa área verde sendo dizimada junto à cidade, para construção de mais bairros e bairros. O progresso venceu e hoje em seu lugar casas e mais casas. Os mandatários daquela cidade sempre fizeram questão de apregoar aos quatro ventos que se não é possível instalar sua empresa aqui em Bauru, indo para Agudos lá terão uma rápida autorização.

Isso tudo é o que o professor Safatle resume numa só frase: “versão dramática desse conflito sem dialética”. Não pego no pé de ninguém, mas poderíamos viver melhor, sem ostentação, sem querer dar o passo maior que nossas pernas. “As últimas décadas, todas elas marcadas pela tentativa de desenvolver uma consciência ecológica global, parecem, em larga medida, longe de nossos governos. (...) Não é possível falar em desenvolvimento econômico sem uma regulação por um planejamento ecológico capaz de impedir que crescer signifique explodir as cidades com carros que não conseguem andar, adensar cidades com monstruosidades em forma de edifícios, jogar uma pá de cal nos rios, rasgar as cidades com condomínios fechados ou redesenhar a geografia para os interesses do agronegócio. No interior do modelo capitalista de desenvolvimento, crescer não poderia, porém, significar outra coisa”, escreve.

Toda vez que volto para Bariri, lá no centro da cidade um edifício. Pra que aquilo? Qual o sentido? Tentem me explicar, mas não conseguirão. Já existe condomínio fechado em Arealva. Tudo é feito para “levar populações a acreditar que crescimento é aumento de posses individuais”. A conclusão do professor é simples, DEVEMOS PARAR DE CRESCER. Isso é querer que as gerações futuras não tenham enormes problemas pela frente. “ Encerro com algo lindo demais da conta, dito por Safatle e servindo como uma luva para os administradores de todas cidades, quase sem tirar nem por e o faço em letra maiúscula para que fique cravado na memória de todos:“O VERDADEIRO DESENVOLVIMENTO NÃO É ALGO QUE VOCÊ DESCREVE USANDO UMA PALAVRA COMO MAIS, MAS SIM, EM LARGA MEDIDA, MENOS”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Excelente reflexão e escrita sempre agradável ... quem sabe se uma hora dessas conseguimos atrelar os termos ' crescer e progredir ' à qualidade de vida e acesso aos serviços públicos. E principalmente, agregá-los inteiramente ao conceito de conhecimento. Afinal, de que adianta criarmos gigantes, se ainda não sabemos nem como alimentá-los.
Paul Sampaio Chediak Alves

Anônimo disse...

Des-envolvimento é não querer se envolver. É o cada um por si, e deus contra todos. É o individualismo negando o cooperativismo, o coletivismo, os vínculos mais significativos e necessários para a sobrevivência do Planeta e de todos os seres viventes. É a grana, burlando o sentido de todas as coisas. É o xópin no lugar da praça, do museu, do bosque e da feira livre. Des-envolvimento: é o coração do discurso dos piores administradores, daqueles bem malvadões, mesmo. Mas, cara pálida cai de quatro com a possibilidade de viver no condomínio fechado, mesmo que rodeado de lixo por todos os lados.
"Menos é mais"... não temos "povo", ainda, com formação intelectual para compreender tal premissa. Abraço, Henrique!
Marta Caputo