1.) POPULAÇÃO RIBEIRINHA E AS ENCHENTES*
* Meu 44º texto inédito para o semanário DEBATE de Santa Cruz do Rio Pardo, edição nas bancas por $ 3 reais desde hoje pela manhã:Alguém de vocês já morou alguma vez na vida junto da população ribeirinha? Eu vivi boa parte de minha vida e tento descrever algo do vivenciado ao longo de décadas vendo as águas barrentas e bostentas do rio Bauru, cortando a cidade e vez ou outro, mediante fortes chuvas, transbordando e invadindo o lar que meus pais viveram até o final dos seus dias. Aprendi ao longo do tempo que, morar em beira de rio é dormir com um olho aberto e outro fechado, pois mesmo que o lugar fique sem ter uma enchente, ela um dia volta, inclemente e toda cheia de pompa: “Pensou que estava morta, né! Ói eu aqui traveiz”.
Quando meus pais compraram a casa, começo dos anos 70 (lembro de ter assistido a Copa de 1970 ali, dez anos de idade), o preço foi convidativo e só descobriram dos motivos, meses depois com a primeira enchente. Ninguém esquece da primeira enchente. Eu lembro da minha, onde eu e meus irmãos, todos pequenos fomos colocados sentadinhos em cima de um móvel e impedidos de brincar naquele mar diante de nós. Muita coisa foi perdida ali naquele lugar e a cada novo ano – sim, elas ocorriam, ao menos uma vez por ano -, tudo reconquistado, para logo mais ser perdido novamente. Essa saga é do tipo infindável.
Mais de uma dezena de prefeitos se alteraram no cargo, todos cheios de promessas para o lugar, mas nenhum deles conseguiu aplacar a força das águas, pois a danada quando decide vir além da conta, não vai ser um mero alcaide que vai impedir dela fazer sua penetração sem consentimento em tudo o que estiver pela frente. Alguns até tentaram fazer alguma coisa, com alargamento da margem, outro afundando-o mais, depois veio o que concretou o fundo do rio. Teve outro que ergueu a ponte e teve quem tentou fazer piscinões espalhados em outros locais, mas nenhum combinou com a mãe natureza e sem esse acordo tácito, o inexorável ia e voltava. Hoje, não tentam mais nada, desistiram e a alegação é a falta de dinheiro em caixa para algo definitivo e com solucionática garantida.
Aqui na região próximo da Baixada do Silvino, onde a cidade começou, todos sabem muito bem, cada um por si e deus por todos. Cada um fez ou tentou algo, como diques, comportas, muros de contenção ou como eu, depois que meus pais se foram, deixei por conta do Abreu – se nem ele, muito menos eu. Sei que mais dia menos dia a chuva vem, como neste final de sexta, 17/12, numa chuva nem tão forte, denotando que daqui pra frente, por qualquer coisa, estaremos recebendo a benção das águas. Enfim, quem mandou querer morar na beirada de um rio. Com tanto lugar distante, foi querer se meter logo ali, agora que pague o preço.
Eu não reclamo mais e a única providência que tomo foi a de levantar tudo dentro de casa. Minhas estantes de livros e discos estão todas com no mínimo metro e meio de altura. Hoje ela voltou, invadiu tudo numa data inesperada, pois das últimas vezes, vinha sempre entre fevereiro e março, não me pegou assim tão de surpresa. Gato escaldado olha pro céu e já ergue tudo. O bom desses acontecimentos – se é que tem coisa boa – é a solidariedade. Hoje, quem chegou tão logo a água baixou foram dois antigos inquilinos, morando duas quadras distante e cientes do apuro com minhas coisas, nem bem a água baixou, estiveram junto comigo no rescaldo e limpeza. Trabalhamos pra dedéu, mas rimos muito e por fim, tomamos algumas geladas, pois desta feita ela não chegou a derrubar a geladeira.
Quem não apareceu foi a prefeita, que aqui em Bauru aprendemos em menos de um ano de administração a denomina-la de incomPrefeita. Suéllen Rosim, chegou agora, não tem tanta culpa assim no cartório, mas não é dada a colocar o pé na lama ou entrar em dividida. Ela prefere orar – diz que o faz para tudo e todos -, mas até agora, tem conseguido mesmo é meter os pés pelas mãos, pois de gerência pública tem-se mostrado uma negação. Negacionista e fundamentalista, pensa só em seu futuro político e nem é louca de colocar suas madeixas com laquê debaixo d’água. Vê tudo de longe e nada faz. Como todo especialista nas artes do fingimento, é capaz de dizer que se assim se sucedeu, isso se deve aos desígnios divinos. Estava louco para vê-la nas barrancas do rio, para ser o primeirão a manchá-la com barro nas vestes. Esperta, nem deu as caras.
2.) SEM ASSISTÊNCIA, CIDADE NO DESAMPARO
Sem cobrança fica tudo sujo? Eita prefeita sem compromisso com a cidade!A enchente foi ontem. O barro já está endurecendo. Eis situação das ruas Inconfidência, Gustavo Maciel e Aparecida após e ecatombe de ontem. O tempo passa, o tempo urge e se não enviar recado pra incomPrefeita atuar, ela esquece e fica só nas suas lives. Na pressão...Publiquei fotos da lama depois da enchente nas quadras 1 das ruas Inconfidência, Gustavo Maciel e Aparecida, algo que antes, administrações anteriores, ruins ou não, imediatamente os caminhões pipas surgiam para limpar, ao menos as ruas e devolver aquele ar apresentável na paisagem local e hoje, com a incomPrefeita Suéllen Rosim no comando, já quase 24h, o barro secando e a cidade naquele tom horroroso de abandono. Em foto de Adriano Francisco - me enviou várias do aspecto marrom da cidade, lama tomando conta de tudo -, algo na rua Alfredo Maia, entrada das antigas oficinas da NOB. A mesma cena se repete sem que providências despontem no horizonte, ou seja, não basta oração se não vier acompanhado de ação, concreta, rápida e eficiente, algo em falta desde a chegada da atual alcaide.
HPA e moradores, população ribeirinha, margens rio Bauru, hoje 12h.
HPA e moradores, população ribeirinha, margens rio Bauru, hoje 12h.
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