* Eis meu 71º texto para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição chegando nas bancas hoje.
Acabo de voltar de viagem à Argentina, doze dias de intensas andanças e “assuntamentos” sobre os destinos de um dos países mais instigantes desta América Latina. Buenos Aires é um dos meus destinos preferidos de viagens, a cidade que mais visitei fora do país em toda minha vida. Não só volto – quando posso -, uma vez ao ano, como me interesso pela sua vida intestina. Ouço quase diariamente uma rádio dentro da perspectiva que, acredito ser a mais saudável para este nosso continente, a libertária 750 AM (https://www.pagina12.com.ar/am750/radio-en-vivo), programa diário com Victor Hugo Morales, o La Mañana. Não existe nada igual no Brasil, pelo menos nas ondas de rádios ao antigo estilo. Leio também diariamente o diário Página 12, em sua edição virtual (https://www.pagina12.com.ar/) e neles textos envolventes de muita esperança de libertação dos povos latinos. Estive na cidade quando da posse de Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner e junto com outros brasileiros, dentre os quais o então senador Lindbergh Farias, marcamos não só presença, como realizamos belos atos em prol da necessária resistência de nossas nações e povos.
A temática da disputa hegemônica na América Latina passa necessariamente pela resistência peronista dos Kirchners, como da eleição de Lula este ano aqui no Brasil. Faço pouco turismo por lá, pois quero estar junto das transformações sociais, algo inerente a todo escrevinhador em busca, não só de boas histórias, mas também da realidade nua e crua, como se apresenta hoje. Certo que, a Argentina passa hoje por dificuldades muito sérias, mas na maioria dos lugares onde busco informação por aqui, essa vem sempre truncada e parcial. Na verdade, com o país dolarizado, o rico de lá sonega descaradamente. Suas transações comerciais não são mais feitas via banco ou instituições oficiais. Ele guarda seu dinheiro em cofres e assim apunhala o próprio país. Exigem muito, mas fazem pouco pela recuperação. Sua área rural é de uma insensibilidade, quase idêntica a do agronegócio brasileiro. A grande mídia de lá, como a de cá, age em defesa desta minoria, mente muito e encobre suas falcatruas.
A Argentina não sairá da situação atual sem uma tomada de consciência coletiva. Como aqui, muito difícil sensibilizar o endinheirado. Aqui, apunhalaram a nação com uma reforma trabalhista miserabilizando o trabalhador. Mais uma tentativa em curso, com a chegada de um superministro, Sergio Massa, até dias atrás presidente da Câmara dos Deputados. Ele foge da linha nacionalista peronista, pois dialoga muito com entidades como o FMI e representantes do mercado e dos EUA. Com ele, alguma possibilidade sem rompimento brutal entre os lados em questão, pois o rico ainda lhe dá crédito. O trabalhador, certamente, terá arroxado sua situação e talvez ganhe lá na frente. Uma aposta de risco. Ou ela, ou o inevitável choque de interesses entre os que possuem e os que estão na penúria.
Por aqui, na maioria do que vejo sendo publicado, a defesa da minoria abastada. “A Argentina segue com altas de preços, estão afundando, mas o que importa é que o governo passará a usar linguagem neutra em documentos”, publica o bauruense André Duarte, um promoter de eventos bolsonarista, portanto, sempre puxando a corda para algo dentro de sua linha de pensamento. Temos o costume de escrever e analisar tudo segundo o que vemos sendo divulgado pela TV Globo. Difícil encontrar algo isento só buscando uma fonte de informação. Eu fui lá e antes de sair, meu médico me disse: “Lá está pior do que a Venezuela”. Tenho certeza, ele nada sabe sobre a Venezuela, pois estes estão em recuperação e em Buenos Aires, muito pouca gente morando nas ruas, bem diferente da capital paulista. Por lá, os programas sociais não deixam ninguém passar fome e a escola pública é exemplo de qualidade, algo já capenga por aqui. Sou mais pelo que vi, do que pelo que dizem por aqui. No Brasil viceja um estado onde as fake news dominam a informação, mentem muito e enganam o povo. Tanto lá, como cá, uma disputa fraticida de interesses bem antagônicos, os que lutam por algo para a maioria pobre da população e os que só pensam em seus anéis e cofres. Eu tenho um lado e luto, escrevo e defendo o lado do trabalhador.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
Lembrei quando ouvi e o interlocutor me pediu discrição, pois ainda faltava a cereja do bolo, de algo dito pelo falecido político Tancredo Neves, quando alguém no interior de Minas Gerais querendo lhe contar um segredo, pede sigilo. Ele, com sua sapiência mineira desfere: "Pô, se é segredo, por que vem contar justo para mim? Se for assim tão segredo, guarde para ti e não conte a mim, pois não vou conseguir me segurar". Na festa de ontem, creio eu, ninguém conseguiu se segurar e o fato novo correu de boca em boca. O que ninguém quer é ser o divulgador, colocando embaixo sua chancela, sua assinatura, pois em caso de não ser lá assim tão verdade, assumiria sózinho os percalços processativos. Daí, tudo ficou somente no "passe adiante, mas o faça discretamente e não diga que fui eu que te falei".
Chego em casa, vou contar a novidade para minha cara metade e para minha surpresa, ela já sabia a história, até com mais detalhes do que havia ouvido. Uma amiga, que não estava na tal festa, havia lhe ligado só para contar a novidade. Ela me diz, que se verdade for, é para derrubar o caminhão de melancia inteiro e não sobrar uma sequer pra contar a história. Dias atrás, quando ouvi uma outra denúncia sobre as tais viagens turísticas com ônibus público e com cobrança de passagem, me confessaram: "Creio estar diante do batom na cueca dessa administração". Pode até ser, pois o lá ocorrido é mais do que grave, diria mesmo, gravíssimo, mas nas audiências semanais tudo é revelado em conta gotas, em drops, aos poucos e a cada novo embate entre as partes, algo mais estarrecedor, porém lento. Já nisso ouvido, seria algo que se comprovado por A + B, um daqueles socos incontornáveis abaixo da linha da cintura e provocando imediato nocaute.
O escrevinhador precisa saber se, o ouvido é fofoca ou se existe de fato verdade por detrás do relato. Pela forma como ouvi, tem muita consistência, mas ninguém quer se antecipar sem antes ter a mais absoluta certeza. Com isso tudo na cabeça vou hoje cedo ao supermercado e reencontro dileto amigo. Quando esboçava algo e lhe perguntei se sabia da mais nova história circulando pelos corredores da cidade, ele ri e me diz: "Será que não é o mesmo que queria te contar?". Era, ou seja, ele já sabia e também estava espalhando. Pelo que me diz, a comprovação já está formalizada, cita até nomes de receptor e receptador, mas não não ouso ser o primeiro a revelar. Me aquieto, venho para casa, desligo o computador, com medo de cometer algum inconveniente revelativo e resolvo aguardar os acontecimentos. Será que vai dar na Entrelinhas do JC de amanhã?
BAURU, DA PEÇA COM O CRUCIFÍXO DE MARÍLIA PERA NO BTC À ENTRADA DE SUÉLLEN E SUA IRMÃ NO MEIO DO SHOW DO DANIEL
Passar vergonha sempre fez um pouco de parte das entranhas desta isnólita Bauru. A cidade, mesmo com o passar de algumas décadas, não consegue superar o feito de um dito como "força viva" destas plagas invadindo a peça teatral de Marília Pera acontecendo no BTC e por causa de umas questões religiosas sendo tratadas em divergência com sua obtusa linha de pensamento, fala horrores para a atriz. Viramos por muito tempo motivo de chacota nacional, quando éramos mencionados pelos artistas como terra de um conservadorismo atroz e doentio. Entendível o fato de vivermos naqueles tempos um nefasto período civil militar, onde as mentes foram condicionadas a ter mêdo e aceitar o falso moralismo como norma de conduta.
Dizem que, Bauru nunca abandonou de vez essa sua veia rídicula de encarar o mundo. Nesta semana, tudo se repetiu e como farsa. Acontecia no parque Vitória Régia o show de aniversário da cidade, com o cantor Daniel. Pelo informado, ele entra no palco e faz uma homenagem a Nossa Senhora Aparecida, sua santa de devoção, inclusive direcionando que a imagem que tinha em mãos fosse entregue para uma senhora, indicada por ele na platéia. O show corre e a nossa incomPrefeita não se segura, prepara e apronta das suas. Interrompe o show, como dona do espetáculo e entre uma canção e outra, pede um aparte ao artista, dizendo que uma pessoa quer muito "louvar a deus". Ele atônico, calado, nada diz e se posta ao lado, tendo início a tal louvação, feita à capela pela irmã de Suéllen Rosim. Não se pode dizer que nunca antes ocorreu algo igual na cidade - Marília Pêra que o diga -, sendo o ocorrido a continuação do show de horrores dessa atual administração. Ela, a cantante irmão da alcaide, ora ou canta, sei lá, duas peças louvatórias, que certamente, não tem espaço num evento como o realizado. Tudo obra de quem se acha Dona da Cidade. Entre vaias e aplausos, a vergonha estava concretizada, repetindo-se como farsa.
Daniel recomeça seu show quando saem do palco e ao final, parece ter dado o devido troco, ao seu modo e maneira, sem precisar dizer uma só palavra de desagravo pela deselegância transcorrida no meio de sua apresentação. Como última canção de seu show canta "Ave Maria", símbolo de religião oposta a da Dona da Cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário