A ALEGRIA EM REVER SEU ADELINO E O RECONHECIMENTO PARA COM ESTE HPASeu Adelino é dessas pessoas mais do que marcantes na vida de qualquer pessoa. Funileiro de profissão, tem sua oficina bem atrás do barracão da Pilícia Civil - onde antes estava situada a antiga Baurucar. Foi zagueiro do futebol amador bauruense, nos seus!áureos tempos. Enfim, não sei nem como se impunha na posição, pois é um doce de pessoa. Não o imagino descendo o sarrafo em nenhum centroavante mais atrevido. Desde que o conheci, amizade à primeira vista. Tem dias que vou lá em sua oficina só pra conversar, jogar conversa fora. Ele, toda vez, ao me ver, abre os braços e até esqueço do motivo de ali ter ido.
Hoje não foi diferente. O motivo era um retoque leve na pintura do carro, mas quase sai de lá sem tratar do assunto. Me viu, abriu aquele sorriso de boca a boca e me desconsertou, me fez bambear. Confesso, as pernas amoleceram. O danado, mesmo antes dos cumprimentos diz estar mesmo querendo falar comigo. E fala, despeja um falatório desses pelo qual tive que me encostar na parede. Sua fala: "Nessa eleição eu só pensava em você. Votei com tua imagem na cabeça e acompanhei a apuração pensando em ti em primeiro lugar. Você incorporou a candidatura do Lula com tanta antecedência, nunca mudou de lado, sempre o defendeu que, tentava imaginar o quanto deveria estar contente com sua eleição. Pode acreditar, falo com muita sinceridade, você foi e é pra mim um exemplo".
Me digam, não era pra amolecer dos pés à cabeça com tamanho reconhecimento? Disse mais. "Lembra daquele dia quando me levou numa cliente, indicada por ti e fomos tomar um café numa padaria lá perto de sua casa. Você foi com a camiseta do Lula. Eu vi olhares de aprovação e muitos de reprovação. Você não arredou pé, se manteve altivo, enfrentou tudo e assim, quando vi Lula eleito, pensei logo em ti, meu amigo lulista". Rimos quando lhe contei ir na padaria com aquela vestimenta, exatamente para provocar, pois sabia ser o dono e muitos clientes, todos bolsonaristas.
A conversa foi longa. Falamos de muitas outras coisas, inclusive de nossas diabetes, tratadas como o diabo gosta. Sempre me pergunta de Ana Bia. Por fim, quando já tinha até esquecido o que ali me trouxe, acertamos data para voltar e trazer o carro. Na hora da despedida solta a definitiva: "Você pode não perceber, mas representa muito para muita gente. Eu sou um deles. Tenho em ti mais do que um amigo, adoro parar tudo o que estou fazendo para prosear contigo. Não fique muito tempo sem vir aqui". Tive que sair rápido pra não chorar. Eu vou fazer 63 este ano, ele já passou dos 75. Nunca ia imaginar ouvir isso dele. Saio de lá em estado de graça. E para demonstrar que nem tudo é perfeito, de lá vou ao médico, esse bem mais novo que eu e também muita conversa, só que ao contrário. Ele muito bolsonarista, eu lulista. Não nos altercamos, ele até esqueceu dos demais pacientes, mas estava diante de algo inespugnável, irredutível e incontornável, o fato da ultra-direita estar bem fincada por essas plagas. São os dois polos da mesma moeda.
Um fatídico e triste incêndio tomou conta, na manhã de hoje, das instalações da Escola de Samba Cartola, altos do PVA. Incêndios são sempre um horror, assim como as enchentes. Só quem padece desses males escreve com a devida propriedade. Hoje foi o dia da Cartola e entristecido revenrencio e dou minha força para o Paulão Madureira e sua turma de bamba. Divergimos em muita coisa, linha ideológica bem distinta, mas como estive por lá nestes últimos dias e por várias vezes - auxiliando o bloco Estrela do Samba, do distrito de Tibiriça, da amiga Dulcinéa Cosmo, no trestrinchar da documentação necessária para incrição e legalização para desfilar e receber verba pública -, escrevo com propriedade sobre o que vi. Paulo Madureira é duro na queda, desses de dificilmente se vergar, mas o danado, até por gostar demais de Carnaval, acaba se transformando num de coração mole no quesito de união de todos pela realização da festa. Ele fez e aconteceu por estes dias, ajudou muitos que sem seu auxílio nem se inscreveriam. Vi isso se desenrolando por lá e não é porque divirjo dele, que não possa elogiá-lo. O faço sem problemas. Ele foi a própria personificação do que deve ser de fato uma Liga das Escolas de Samba. Foi grande nos bastidores e sabemos, este Carnaval só irá acontecer - se é que irá - por causa de sua intervenção nos bastidores. Levou advogado seu pra destrinchar o edital e, a partir daí tudo deslanchou. Paulão deve estar hoje mais nervoso do que o habitual e se o que escrevo serve de consolo, mesmo em campos opostos, rendo homenagens a ele no dia de hoje. Ele sabe como dar a volta por cima. E dará. Era tudo o que tinha a dizer.
E como fazemos há 11 anos, no primeiro sábado de carnaval, levaremos nossa irreverência, alegria e o humor crítico e politizado pro calçadão.
Concentração a partir das 10 horas, na praça Rui Barbosa, pra irmos temperando o molho do tomate e aquecendo o gogó.... Desceremos, como sempre as 12 horas. Antes do nosso desfile, faremos a entrega do tradicional Prêmio Desatenção.
Venha, participar... Temos camisetas com o tema para os que quiserem usar, só encomendar, mas a fantasia é livre. Fantasie-se como quiser. Nosso bloco não pipoca e não tem cordão de isolamento.
Anota aí - 18/02/23 concentração a partir das 10 na Rui Barbosa e as 12:00 a descida pelo calçadão até a Machado de Melo.
Num dou conta de marcar todos os tomates, tomatinhos e tomatenses, marquem e compartilhem por favor.....
Nois tá puto mas faz festa!!!!! Compartilhei da Tatiana Calmon , afinal eu sou Tomateiro
No dia de hoje, terça, 31/01, fui em dois médicos. Retornos de rotina para calibrar o impoderável e este futuro incerto de cada vez mais nebuloso de quem adquire idade. Num o papo foi só médico e trivialidades, mas no outro, ele muito jovem e já me conhecendo, puxou conversa e me vendo com uma camiseta de Marx, começa me instigando e dizendo se iria viajar por estes dias. Ao lhe responder positivamente, disse que um dos lugares por onde não poderia ir era na Rússia. Respondi na lata: "Iria sim, pois por lá, pelo que sei, os comunistas não são perseguidos tão acontosamente". Foi o suficiente para ter minha consulta interrompida e o começo de algo perdurando por uns vinte minutos, ininterruptos de idas er vindas. Ele estava desconfortável pela eleição e por Lula ter resistido ao golpe. Despejou algo sem conhecimento de causa: "Lula é um dos caras mais ricos que temos". Pedi pare ele me citar suas fontes e o tal motivo da riqueza e aproveito para dizer de como repetem algo sem nenhuma certeza. Daí me diz também que um dos piores personagens do mundo, levando pra falência seu povo foi Fidel Castro. Mostrei a ele o quanto existe de inverdade nisso e me repete a mantra de sempre: "Por que então fogem tanto de lá?". Resposta simples de minha parte: "E por que fogem tanto do Brasil pros EUA?". ele me diz ser diferente, eu dou risada e fala da pobreza, fala do cerco norte-americano. Quer me falar do Porto de Muriel e lhe mostro o investimento brasileiro, todo pago e dando emprego para empresa e trabalhadores nossos, além da utilidade do porto para o mundo. Falo que lá todos são pobres, mas não passam fome, vivem sim com salário ínfimo, mas tem de tudo subsidiado, desde passagens e alimentação. Ele não compreende e diz dos motivos do cubano estar impedido de sair do país. Digo que isso não existe, cito o caso da professora cubana que mora em Bauru e trouxe a mãe quatro vezes para cá. Ou seja, o motivo é o mesmo nosso, tendo dinheiro se viaja, não tendo não se viaja. "Quando não tem grana, não volta pra Nova York, ok? Quando tem volta, não é assim? Lá a mesma coisa", lhe digo. Ele surta. Tenta falar da Nicarágua, de Daniel Ortega, tudo repetido, um discurso pronto e sem sentido, fácil de ser rebatido, ou seja, patinam sempre nos mesmos textos e narrativas. Num certo momento, ao defender "abomino Boilsonaro e Lula, mas Bolsonaro é muito melhor", me diz que nas minhas respostas só defendo Lula e lhe jogo na cara o contrário, ele só defende Bolsonaro. Declara amor por Alckmin ("um traidor"), que segundo ele vai sacanear com Lula e assumir o governo, depois pelo atual governador paulista e enfim, também por Moro, Guedes, Zema...Se diz isento, mas me chama de radical. Sorrio e lhe digo que, "dentro da mesma concepção, afirmo ser ele muito radical, beirando o fascismo". Foi um papo nesse nível, encerrado com algo pelo qual percebi, ele arregalou os olhos: "Você sabe, sou jornalista, estou encerrando agora uma matéria onde busco identificar quem financiou o golpe doa dia 8, pois os presos são todos a ralé, os enviados para executar o serviço sujo, daí se faz necessário identificar e punir quem financiou, organizou e instigou não só a quebradeira, mas o golpe. Está fácil de pegar todos, basta seguir as pistas e algo assim vai sair com os nomes de gente de Bauru". O homem avermelhou e diz que assim este país não avança, pois se faz necessário compreensão, apaziguar e esquecer, para avançarmos. Afirmei exatamente o contrário, que para avançar enquanto nação se faz necessário punir os golpistas. Discutimos mais um pouco, ele me passa a receita e já na porta, com cliente do lado de fora, meio que de olhos arregalados, ainda pergunta: "Então me vê como um radical?". Respondo sem pestanejar: "Sim, tudo o que não precisamos neste momento. Um radical de direita, diria mesmo, um ultra-direitista. Tão jovem e só entendendo o mundo pela sua concepção, sem ler mais nada sobre o outro lado, para a partir daí tirar suas conclusões". Em marcamos retorno para daqui há três meses, quando a contenda deve continuar. Eu não fujo destes embates, cada vez mais significativos para mim. No mais, meus exames deram tudo bem e não tive que alterar meus medicamentos. Vida que segue. Eu nem preciso procurar por diálogos como estes, eles pululam pela aí, basta ir de encontro a eles e com uma pequena provocação, se mostram por inteiro.
PS.: Por outro lado tenho outro médico, o único dentre todos frequentados por mim, que enxerga tudo com outra visão, votou em Lula e abomina o Bolsonaro, os seus e o golpe. Dentre todos, encontrei um e com ele também divago e muito, ele cada vez mais não entendendo os seus colegas, num desencanto de dar gosto: "não consigo mais travar um mero diálogo com a maioria, pois se me posicionar, serei visto como lulista e não sou lulista. Simplesmente entendi não ser mais possível o país avançar com a mentalidade bolsonarista. Muitos não me compreendem". Entendo perfeitamente.