quarta-feira, 15 de outubro de 2025


DIA DOS PROFESSORES, ESCREVO DE DOIS DELES, REENCONTROS DE ONTEM
Hoje é nosso dia. Enfim, também sou professor, porém, dei tão pouca aula na vida que, desconsidero ser homenageado como. Prefiro escrever de quem de fato está na labuta e tem algo pra contar sobre seu dia a dia. São tantos e tantas os que me surgem dom histórias edificantes para relatos, porém, escrevo de algo ocorrido ontem. Estive na Unesp na parte da tarde, um acontecimento na maior universidade bauruense e por lá, enquanto aguardava Ana Bia, fico lendo no carro e sou abordado por dois professores. Em ambos os casos, saio do carro e a conversa se estende por longo tempo.
Primeiro José Laranjeira, alguém por quem nutro especial carinho. Um quase uruguaio, defensor atento e intransigente de tudo o que se passa em nossa América Latina, versamos sobre vários países e acontecimentos recentes. Postei dois dias atrás os capítulos do documentário "Bauruzão - Cidade Sem Limites", onde ele é um dos entrevistados. Digo ter ficado feliz pela sua fala e algo me marcou, quando descreve sobre como foi possível a tal da Pomba da Paz, a da asa quebrada na Praça da Paz e num detalhe, arrebatador, só após a passagem de soviéticos em visita pela cidade, isso dentro do primeiro governo de Tuga Angerami. Que linda história e recordação. Algo que, considero, precisa ser contado em mais detalhes. Laranjeira tenta levantar um canto seu, perto de onde o BAC aínda possui um terreno, depois da vila Dutra. Suas mãos calejadas demonstram de como, além de empunhar o giz, também atua com enxadas e pás. Para construir e consolidar um sonho, se faz necessário enfrentar deus e o diabo, algumas vezes, os dois juntos e misturados. Ele é fonte de boa prosa, como deve ser suas aulas, todas envolventes e magnetizantes. Gente assim arrebata as pessoas e as convertem em dignas entendedoras de tudo o que se passa à sua volta.
Quando se vai, volto a ler dentro do carro e pouco depois, quem me aborda é Wellington Leite, professor na FIB e servidor da unesp, voltando semanas atrás a atuar com sua magnífica voz na rádio Unesp FM. Sempre é bom voltar a vê-lo e dizer da importância de alguém como ele, com sua sapiência sobre a História do Rádio e seus desdobramentos, atuante e pulsante. Suas aulas, como entendo, não ocorrem somente quando diante de alunos numa sala de aula, mas também quando explana com a devida sapiência algo pelos microfones. Isso, em alguns momentos é mais que uma aula, diria mesmo, uma conferência. Poucos conseguem juntar isso e expelir quando diante de uma possibilidade. Wellington é dessas pessoas mais que necessárias, pois não se deixa levar, sabe onde pisa, como pisa e de tudo o que faz, fica a nítida impressão, é dessas pessoas irresistíveis, imprescindíveis, sempre com algo a dizer e passar adiante. Ou seja, uma aula em cada esbarrão.
Por fim, Ana Bia se aproxima e junto dela, logo a seguir, desponta novamente Laranjeira. Os quatro juntos, quatro professores, eu o com menos experiência, fico a ouví-los e algo bem nítido. Somos todos da mesma cepa, os inquebrantáveis, resistindo neste mundo, onde tentam nos cooptar de todas as formas e jeitos. Resistimos e assim seguimos, algumas vezes dando murros em ponta de faca, porém cientes do nosso papel. Estes dois, mais Ana Bia, são dignos professores, atuando e se impondo, não por esbanjar conhecimentos, mas por saber tratar o semelhante e assim, diante de cada um, saber a dose certa de como fazê-lo entender isso tudo, este mundo nos envolvendo. São mais que necessários para irmos driblando as adversidades. Que seriam de nós sem a presença de professores deste quilate ao nosso lado? Devo muito do que sou a muitos deles.

ELE CAIU DO SÉTIMO ANDAR, 7H DA MANHÃ
A história é verídica, ocorreu hoje cedo em Bauru, mas muita coisa é ficção, da minha imaginação. Tento, ao meu modo e jeito, não só interpretar, como reviver os fatos. Imagino este senhor, meia idade, saindo bem cedo de sua casa, tomando um ralo café da manhã e chegando antes do horário de bater o cartão no seu local de trabalho. Chega e conversa com todos os demais. Dizem algo sobre o jogo de ontem, o Brasil ganhava de dois e depois os japoneses conseguiram virar o jogo. E o goleito era justamente o do Corinthians. Não podia ser pior. Alguns riram, outros não gostaram e cada qual foi para seu trabalho.
Este aqui subiu até o sétimo andar e lá se enroscou no cinto de segurança, o que sempre lhe deu sustentação, para ficar dependurado nas lateriais do prédio em construção. Neste dia, como nos demais, não ficou preso a detalhes, entrou dentro do cinto e foi trabalhar, enfim se trata de somente mais um dia de trabalho. E ele já pensava no que faria após o expediente, quando tinha assumido um compromisso de levar pra casa um rango diferente. Ele ainda não havia decidido o que levar, mas queria impressionar a cara metade. Decidiria ao longo do dia. Enquanto isso, tinha aquele andar do prédio para terminar e um trabalho do lado externo, o que estava mais do que habituado a fazer. Tudo tinha um prazo e, como sempre, estavam atrasados.
Travar o cinto junto ao corpo era meio que automático. Fazia até com os olhos fechados. A segurança ele sabia, sempre foi primordial. Os seus aparelhos até podiam estar um tanto desgastados, mas não estavam deteriorados, pelos menos assim o imaginava e desta forma, foi para a beirada do prédio e se pendurou nele. Porém, algo deu errado, algo estava errado, alguma coisa não teve o procedimento de segurança avaliado e desta forma tudo bambeou e ele, se viu despencando lá de cima. Talvez tenha se esquecido de travar direito a peça. Não deu nem tempo para pensar muita coisa. A trava não resistiu e ele caiu lá do sétimo andar.
Bateu com a cabeça no solo e isso é fatal. Sempre é fatal. Tudo acaba sendo fatal para o lado mais fraco, neste caso o do trabalhador, o que se expõe a este tipo de serviço. Dizem que, a segurança é sempre absoluta, mas por mais que ocorra, mais dia menos dia, algo sempre ocorre. Muitas vezes é reversível, dá tempo de premeditar, noutros, como este ocorrido hoje, não deu e o trabalhador caiu lá do sétimo andar. Todos os demais foram dispensados do trabalho no dia de hoje. Todos dizem da triste fatalidade, outros dizem que poderia ter sido evitado, mas isso é algo que as investigações poderão dizer, quando foram um dia concluídas, depois de meses de apuração. O fato é que este, cheio de sonhos e contas a pagar, filhos para criar, uma esposa o esperando em casa, nunca mais irá voltar, pois teve sua vida interrompida. Não se sabe seu nome, sabe-se que caiu e morreu. Mais um número para as estatísticas. É sempre assim. Quem de nós não fazemos parte de alguma forma de alguma estatística.

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