quarta-feira, 1 de outubro de 2025

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (224)


tem quem ainda consiga apoiar o abominável
NÃO OUÇAM, SEMPRE TEM COISA MELHOR PRA SE FAZER
BAURU: as rádios que perderam a sintonia com a verdade
Bolsonarismo não é só uma preferência eleitoral: é uma máquina de distorcer realidade. Nasceu do amálgama entre moralismo seletivo, punitivismo de ocasião e um populismo que grita “ordem” enquanto sabota a lei. Em 2025, a coreografia ficou explícita: a Câmara acelerou a urgência do PL da Anistia para os condenados e investigados do 8 de Janeiro — o maior ataque institucional desde 1964 — abrindo caminho para limpar a ficha de quem tentou incendiar a República. Ao mesmo tempo, a pauta que aliviaria o bolso do trabalhador — isenção de IR até R$ 5 mil — virou novela: o governo enviou o projeto, o Senado (CAE) aprovou e remeteu à Câmara, mas a tramitação anda a passo de tartaruga enquanto a energia política se gasta em blindagens corporativas.

No front judicial, a narrativa do “nada aconteceu” ruiu. A PGR denunciou o núcleo golpista e descreveu, em linguagem nada ambígua, a trama para romper o Estado de Direito, com Jair Bolsonaro no centro da articulação — o enredo do decreto para intervir no processo eleitoral e da mobilização para deslegitimar o resultado vai muito além de bravata de palanque. Não bastasse, Eduardo Bolsonaro virou alvo de inquérito no STF por coação no curso do processo e tentativa de obstrução, após peregrinar nos EUA pela aplicação de sanções do tipo Lei Magnitsky contra ministros do Supremo — exportação de conflito institucional travestida de “patriotismo”.

E é aqui que entra Bauru — não como exceção, mas como sintoma. Enquanto o país enfrenta a anatomia de um projeto autoritário, parte da imprensa local faz de conta que não é com ela. Rádios que já foram sinônimo de serviço público preferem a curadoria da conveniência: editorializam a favor de “anistias camaradas”, relativizam a tentativa de golpe, e deixam para “depois” o debate que interessa ao assalariado — como a faixa de IR até R$ 5 mil. A pauta urgente vira irrelevante; e o irrelevante, manchete. Aí está o truque: esvaziar o fato, inflar o enredo. Enquanto isso, quem pagou imposto o ano inteiro continua pagando — e quem atacou a democracia ganha prioridade de agenda.

Em Bauru, a história se repete em escala local, com o beneplácito de microfones outrora altivos. A Auri-Verde, conduzida por Alexandre Pittoli, e a 96 FM, com o economista Reinaldo Cafeo à frente do programa Cidade 360°, tornaram-se ilustrações perfeitas desse fenômeno: seletividade editorial como método e conformismo como linha de conduta.

De Pittoli, esperava-se a tradição da rádio que já foi referência em agilidade informativa. O que se ouve, contudo, é a reprodução acrítica de pautas convenientes à direita nacional, a priorização de agendas bolsonaristas travestidas de “voz da cidade” e um noticiário onde a apuração cede espaço à militância disfarçada de prestação de serviço. É a reinvenção do papel da imprensa: de mediadora crítica a porta-voz de bolha ideológica.

a 96 FM, o cenário é mais sofisticado — e, por isso, mais grave. O programa Cidade 360°, apresentado como “plural” e “abrangente”, torna-se exemplo didático da apropriação seletiva do jornalismo. Ali, o economista Reinaldo Cafeo exerce uma função curiosa: analista econômico para a plateia conservadora, mas incapaz de dedicar a mesma energia crítica à Avenida Faria Lima, onde o PCC lavou bilhões, ou a políticos que aparecem sorridentes em fotos com suspeitos de vínculos criminosos. Café frio, servido em doses de catastrofismo seletivo: rigor para criticar governos progressistas, silêncio cúmplice quando os holofotes deveriam incomodar aliados de ocasião.

Assim como o bolsonarismo nacional recorta a imprensa para sustentar seu ethos negacionista, em Bauru a imprensa radiofônica pratica a mesma alquimia: destaca manchetes convenientes, ignora fatos incômodos e oferece respostas simplificadas à complexidade do real. A estratégia é idêntica: apropriar-se da credibilidade histórica da imprensa local — construída em décadas de serviço público — para transformá-la em insumo discursivo a serviço de um grupo político.

O resultado? O mesmo observado em escala nacional: a conversão sistemática de responsabilidades. Onde há desmonte institucional, culpa-se a esquerda. Onde há captura econômica por facções criminosas, a pauta desaparece. Onde há alianças espúrias, a notícia perde fôlego. Não se trata de informar: trata-se de reinterpretar, de domesticar a realidade para caber no estreito repertório de uma bolha que se desfaz, mas que ainda dita o tom dos microfones.

Se o jornalismo existe para confrontar poder, em Bauru há microfones que desaprenderam a fazer perguntas difíceis. É por isso que este texto existe: para lembrar que não há neutralidade possível entre a ordem constitucional e a anistia do golpismo; entre aliviar a vida de quem ganha até R$ 5 mil e aliviar a barra de quem tentou rasgar a Constituição. O resto é ruído — ou, como diria o próprio bolsonarismo, “narrativa”.

para distrair bocadinho a alma
FUI CONFERIR O QUE VENDE A SENHORA COM UM COLLER ALI NA AVENIDA PINHEIRO MACHADO - CURIOSIDADE MATA...
Em 20 de agosto publiquei uma foto tirada por mim, na avenida entre o Bela Vista e a Nova Esperança, quando por ali passava e presenciando uma solitária vendedora com seu coller. A curiosidade foi grande, alguns até ficaram de ir lá e verificar o que era ali vendido. Ninguém foi e a curiosidade cresceu.

Hoje, passado mais de um mês, passo por lá e a vejo com mais gente ao seu lado, um vendendo garapa e fico sabendo, outro venderá pastel já nos próximos dias. Ou seja, o lugar com uma boa sombra, atrai pequenos comerciantes. Minha curiosidade era descobrir o que era ali vendido. Dou a volta com o carro e ali paro. Conheço a DENISE e seu marido, ela a cozinheira, ele em alguns momentos, acompanhante de luxo nas vendas. Sua especialidade são os doces, fazendo bolos de pote - deliciosos, não resisti e comprei um, R$ 10 reais -, mais uva do amor e também o maorango do amor, além de brigadeiros e outros quitutes.

O casal é muito simpático e me dizem estar ali quase todos os dias, sempre na parte da tarde. Pela manhã ela cozinha e a tarde ficar ali até por volta das 18h, ou quando o estoque terminar. Moram há três quadras dali e em busca de um local para revender o que fazia em sua cozinha, passaram pelo local, viram a sombra numa espécie de pequeno bosque numa das margens e pensaram juntos: Por que não ali? E tudo tem dado certo. Enquanto estava conversando, um casal parou para tomar garapa e foi ali buscar um bolo de pote.

O cartaz foi a filha quem fez e presentou a mãe, dizendo que, já que estava com tamanha disposição, essa era sua ajuda. Provei e gostei, daí, como ja´elucidei a charada, convido outros a fazerem o mesmo, quando passando por ali, dar aquela parada. Vale a pena.

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